CAPÍTULO 04
PÂMELA
Oh, merda! Eu preciso mesmo parar de ser uma maldita impulsiva do cacete!
Mordo a pontinha da unha, chutando minha bunda mentalmente por destruir a facada que paguei para colocar as benditas de gel, mas o momento pede. Onde eu estava com a cabeça ao mandar uma mensagem para o homem de gelo, impenetrável, duro na queda, gostoso e fodão de uma figa? Mas preciso dizer que estou arrependida apenas porque não obtive resposta. Sacana! Ninguém me ignora!
— Pâmela, presta atenção em mim, égua! — minha irmã protesta, largada na cama, com os cotovelos apoiados no colchão, observando-me com as grandes íris negras iguais às minhas, só que as dela estão cheias de tristeza por alguém que não a merece.
— Desculpa, Polli. Estou distraída. — Solto um suspiro longo, dramático e fingido, e me agito no colchão, arqueando as sobrancelhas de um jeito malicioso para ela. — Sei como resolver esse lance do seu ex-namorado! Você precisa de amor-próprio, minha irmã. É uma moça linda de dezoito anos, inteligente para cacete, cheia de atributos, meiga, doce, dedicada. Não vai ser o último homem que vai partir o seu coração nessa vida.
— Obrigada...? Ah, Pam, para você é fácil dizer — diz, a voz ameaçando mais choro. — É linda, confiante, faz o que gosta e pisa em qualquer homem que sequer pensar em te magoar.
Dou uma piscadela para ela, que me cutuca quando não desminto os elogios. Eu não! Não deixa de ser verdade, oras.
Puxo seus ombros para mais perto de mim e deposito um beijo na bochecha da minha irmã mais nova. Não é a primeira vez que ela aparece no meu apartamento para reclamar do filho da putinha sacana que chamava de namorado, e sei que não será a última, mas, hoje pelo menos, ela não irá sofrer por ele.
— Eu te amo, Popo — digo, e ela me dá um tapa por eu usar o apelido de infância que ela odeia. — Não vale a pena. Um dia, você vai perceber isso e falar "nossa, minha irmã linda tinha razão", mas, enquanto isso... Quer ouvir minha ideia de animação?
Levanto-me da cama e bato palminhas de empolgação, indo até meu guarda-roupa para procurar alguma roupa que sirva nela. Polliana é mais alta que eu, então, provavelmente meus vestidos de farra ficarão muito curtos nela, já que ficam até mim.
— O que está aprontando, Pâmela Cruz? Não quero sair! — resmunga, virando-se na cama e olhando para o teto, apática.
— Ah, vai sair, sim! Você me procurou para curar fossa e esse é o meu jeito de te ajudar. O que acha de amarelo?
— Argh! Odeio.
— Para de ser chata, pentelha! — Jogo a peça na sua cara. Ela reclama, mas ri logo em seguida. — Confia em mim? Eu estou confiando em você neste momento. Vou te levar a um lugar mega secreto, que ninguém da minha vida, frise isso... da minha vida todinha, sabe que frequento.
Minha irmã volta a ficar com os cotovelos no meu colchão da cama gigantesca posicionada no centro do maior quarto que um apartamento já viu. Estou exagerando, claro, mas me orgulho das minhas conquistas. Dinheiro ralado que chama, não é?
— Fiquei curiosa... — Ela me encara, e viro a cabeça, olhando-a por cima do ombro com um sorriso maroto.
Sabia que a venceria pela curiosidade, e nem precisei mentir para isso. É verdade. Ninguém da minha vida conhece esse meu... lado.
A verdade é que gosto de sexo. Gosto de sexo para caralho. Sexo sem compromisso, bruto, suado, dolorido. Só de pensar nisso... Ui.
Mas onde eu estava? Ah, sim. Sobre a verdade. Não sou nenhuma viciada, longe disso. Mas gosto das coisas que sinto ao me entregar completamente ao ato e...
— Pâmela! — grita Polliana, com os olhos revirados. — Para onde é que vai me levar? Responde, égua! Não me mata de curiosidade.
— Ah, para descobrir você terá que levantar seu traseiro gigante daí, tomar um banho e me deixar te fazer de Barbie.
Ela parece pensar um pouco, analisando minha expressão arteira, sempre presente nas minhas feições, porque sou dessas. Polli suspira e se levanta, rendendo-se pela curiosidade.
— OK, OK. Se estiver mentindo para mim só para atiçar meu lado curioso, eu chuto sua bunda.
— Me respeita, pirralha! — Quando ela está prestes a sumir pela porta do banheiro da minha suíte, eu a chamo: — Polli! Terá que me prometer que a noite de hoje jamais, nunquinha mesmo, chegará ao ouvido de ninguém, principalmente dos nossos pais e do nosso irmão.
— Tudo bem — ela concorda, e sei que posso confiar nas suas palavras.
Nós temos segredos demais guardados uma da outra. Toda uma lista de coisas cabeludas que acabaria com as nossas vidas caso decidíssemos abrir o bico.
Quando ela finalmente some para tomar banho, fico em frente ao espelho e seguro um vestido azul cheio de brilho em frente ao meu corpo. Levanto meu cabelo preto, que agora está batendo nos ombros porque me revoltei com a vida e meti a tesoura, e encaro minha figura, considerando se uso um coque no alto da cabeça como penteado para hoje à noite.
Gosto do que vejo no espelho: dos cabelos hidratados, do corpo malhado, do meu tom de pele que aparenta um belo bronzeado, mas é natural mesmo, das sobrancelhas grossas e arqueadas e do nariz fino e pontudo que me deixa com cara de rica e plastificada. Obrigada, Deus! É natural, juro.
Decido ir com esse vestido azul mesmo e escolho um mais comportado para minha irmã. Acho um vermelho, sua cor preferida, sem grandes decotes e brilho, e separo em cima da cama. Acho dois pares de saltos altos, ainda nas caixas, e sorrio ao ver que combinam com os dois vestidos.
Sentindo-me corajosa, ou completamente louca e trouxa, vou até o celular enquanto espero Polliana sair do banho e vejo se o homem de gelo respondeu a mensagem tosca que mandei mais cedo. Meu Deus, como sou burra!
O homem provavelmente nem ligou para a minha frágil existência. Sei que me observou durante minha pequena brincadeira de mais cedo, mas pode ter sido só isso mesmo.
Marcelo pode ser dono daquela boate, mas eu tenho minhas amigas no meio do seu pessoal. Sei todos os passos do homem ali dentro. Cruzes, pareci uma perseguidora louca agora. Juro que não sou, mas, como diz mamãe, quando coloco algo na cabeça, vou até o final. Sempre fui assim com todos os aspectos da minha vida; com a minha carreira, com meu financeiro, com todas as relações que tive. Digamos que sou determinada e não tenho paciência para esperar que as coisas caiam do céu.
Mordo o lábio e digito outra mensagem corajosa.
"Hoje está uma noite linda para observar as estrelas, não acha? Ou corpos, se preferir".
Ousada! Ponto para mim. Se ele estivesse se importando com isso.
Quero aquele homem todinho na minha cama, ou em qualquer outra. Não sou tão exigente. Já o vi em ação e... Meu amor, não estou preparada para aquilo tudo. Quer dizer, estou! Pode mandar aqueles quase dois metros de músculo direto para o colo da mamãe aqui.
Só de me lembrar do Ice Man com aqueles olhinhos pequenos, verdes e gelados, aqueles cabelos loiros curtos, meticulosamente arrumados, aquele terno perfeitamente alinhado, com as gravatas todas combinando com seus olhos.
E o corpo? Ah, aquele corpo.
Eu sonho com um homem grande daquele em cima de mim, com aquelas mãos gigantes que caberiam dois peitos meus em uma só. E o pau? Ah, sem comentários.
É meio estranho desejar um homem que você já viu nu, mas não pôde tocar. Frustrante até. Mas fazer o quê? Não fui a sortuda a estar em um dos joguinhos com ele. Posso dizer que tive o privilégio de vê-lo, porque Marcelo é bem discreto na sua boate. Ele é mais do tipo observador, mas, como eu disse, tenho contatos.
— Acabei! Pode ir tomar banho, Pam. Ai, que lindo!
Minha irmã me desperta dos meus pensamentos sacanas, e me ergo do colchão de uma vez. Vejo-a indo certinho no vestido vermelho e aponto o sapato preto para ela antes de ir até o banheiro.
Mordo o lábio e volto a pensar em Marcelo. Preciso explicar aqui que não sou obcecada por ele, antes que alguma alma por aí me julgue. Só estou ligeiramente — muito, muito e muito — encantada. Ele é meu tipo e não me nota. Fazer o quê?
Eu o conheci — deixo claras aqui as muitas aspas em conhecer, porque trocamos breves palavras — na academia que frequento e dou aula de zumba no meu tempo livre, às quintas. O lugar é de Marco, irmão de Marcelo e meu... amigo? OK, eu transei com ele mesmo querendo seu irmão, mas ele é lindo! Não resisti. Mas agora está fora dos meus limites porque a mulher dele está de volta, é lindíssima e dá para ver nos olhos do homem o amor que sente por ela. Deus me livre me envolver com um homem apaixonado. Quero mais é a felicidade verdadeira dele. Agora posso, finalmente, trocar de irmão. Se ele me notar.
Marcelo vai ao lugar com frequência, exibindo os músculos malhados e destacados, a pele branca de quem não pega muito sol por ficar enfiado em um escritório, as coxas grossas, igualmente malhadas. Sinto a mão arteira descendo pelo meu ventre e dou um tapa na safada por querer brincar sozinha.
Eu preciso de foco para continuar falando o xis da questão! Voltando ao assunto, ele frequenta o mesmo lugar que eu, mas se mantém sempre focado nos exercícios, sem dar corda para ninguém ali, completamente inacessível e sério. Meu tipo. Adoro quebrar a resistência desses homens workaholics. Adoro invadir e destruir cada bloquinho do gelo. É meu hobby. Sou boa nisso.
Alguém pode me perguntar: e se você é uma mulher cheia de atitude, bonita, confiante, engraçada, simpática, por que diabos não toma uma atitude e vai lá falar com ele ao invés de mandar mensagem que nem criança ou tentar chamar a atenção do homem transando com outro? Deus, sou patética. A verdade é que tenho medo daquele olhar da mesma forma que sou instigada por ele. Tem algo naquelas íris que me diz que aquele homem pode ser a perdição de alguém, no bom e no mau sentido da coisa.
Suspiro alto, irritada por ter alguém que mal conheço infiltrado na minha mente, e termino meu banho direito. Saio enrolada na toalha, deixando a maior bagunça no banheiro e no quarto com as gotas de água que pingam do meu cabelo.
Primeiro deixo minha irmã pronta, ajudando-a com a maquiagem e cabelo, para depois cuidar da minha arrumação. Já é de madrugada, mas não estou com pressa, porque é aí que a noite na boate começa de verdade.
Polliana me ajuda a secar meus cabelos. Hoje será a primeira vez que irei ali sem uma das minhas perucas, mas provavelmente ninguém vai me reconhecer. Minha meta hoje é tirar a fossa da minha irmãzinha e não me divertir. Não preciso me preocupar em ser discreta quando estou indo apenas para dançar.
Tenho planos para hoje: divertir minha irmãzinha e observar o terreno. Apenas isso desta vez.
— Está linda, Pam. Um dia, eu terei a disposição que você tem para ficar com um corpão malhado desses — ela diz, ficando atrás de mim, enquanto nos olhamos no espelho.
— Você não precisa disso. Um dia, eu que terei coragem para colocar um silicone para ficar com uns peitões que nem os seus e com um rabo desse tamanho — brinco, e ela ri, batendo na minha bunda. — E aí, pronta para balançar o traseiro e partir uns corações?
Ela sorri animada, e pego meu celular de cima da cama para sairmos. Ando até a saída do apartamento, acompanhando minha irmã, quando vejo que tenho uma resposta do homem de gelo.
"Uma bela noite para observar, mas não sei se as estrelas. Prefiro os corpos, definitivamente".
Meu estômago dá uma revirada. Ele me respondeu!
Ah, Ice Man, estou doidinha para me queimar nos seus olhinhos gelados.
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