História
Jake Ballard-Hunt
Vejo embaixo do carro e franzo as sobrancelhas enquanto tento apertar mais o cilindro de nitrogênio embaixo dele, não sei o que me deu para gritar com James desse jeito. Fiquei um pouco alterado quando ele começou a falar aquilo.
Eu não estava suavizando para a novata, eu estava apenas querendo saber se alguém ali sabia fazer o que eu queria. Ele podia não achar que os treinos eram importantes, mas os caras precisavam aprender isso para o próximo trabalho.
Ouço algo no final da oficina e me arrasto para longe do carro, sento no carrinho e vejo que é Emma que está aqui. Franzo as sobrancelhas quando ela afasta algumas coisas de um carro meio detonado e começa a abrir o capô.
Aquele carro estava ali há tento tempo que meu pai já tinha desistido de tentar refazer ele. Estava apenas de enfeite para mostrar que algumas vezes a gente não conseguia concertar os carros e era melhor jogar no lixo.
-Veio roubar ele?- pergunto e ela fica parada.- Pode levar. Essa sucata é horrível.
-É horrível por que está quebrada.- ela vira para mim e me observa.
-Do mesmo jeito que seria horrível quando estivesse concertada.- sorrio.
-Então é aqui que de esconde como uma criança quando não consegue o que quer?- pergunta.
-Quase isso.- não deixo ela me atingir.- E você? Onde se esconde?
-Eu não me escondo.- ela mexe os ombros.- Se esconder é para os covardes.
-Senti uma indireta.- começo a me levantar.
-E foi mesmo.- Emma tira o casaco e observo o movimento.- Vou tentar dar uma olhadinha nele.
-Pode olhar quanto quiser.- começo a ir até ela.- Mas o carro está quebrado desde que eu me lembro.
-Só precisa de peças novas.- ela começa a ver o motor.
-Precisa de um carro novo.- corrijo.
-Rá-rá, muito divertido.- murmura.
-Sabe...- falo bem perto dela e vejo os ombros de Emma ficarem tensos.- Você é o tipo de garota que bateria em mim se eu pedisse.
-Isso é um pedido?- ela vira e encaro os olhos verdes claros.
-Talvez seja.- apoio minhas mãos no carro e tranco ela entre meus braços.- O que me diz?
-Ficaria muito feliz em bater em você.- ela fala.- Mas não na situação que está pensando.
-Que situação?- decido provocar.
-Na situação de eu, por um milagre, ir para cama com você.- explico.
-Bom, doce Emma.- me aproximo mais.- Eu faço milagres.
Ela ri e então empurra meu ombro, observo Emma abrir a porta do carro e ligar enquanto ainda olha para mim. Sorrio quando o carro não pega e Emma bufa tentando de novo, mas esse carro nunca pegou.
-Que tal um trato?- afasto a porta e me agacho ao lado dela.- Eu forneço as peças para concertar o carro e você me deve um favor.
-Um favor a cada peça?- ela franze as sobrancelhas.
-Tentador, mas não. Um favor e vai ganhar todas as peças dessa sucata.- bato na porta.
-Qual seria o favor?- ela parece muito cautelosa.
-Ainda não sei.- mexo os ombros.- Quer me dar uma sugestão?
-Posso dar sugestões?- ela me encara.
-Sim, mas eu posso ouvir ou não.- sorrio.
-O que você vai pedir, Jake?- pergunta.
-Não sei ainda.- cantarolo.- Então? Sim ou não?
-Sim.- ela se ajeita no banco.- Mas se você passar a perna em mim, eu vou bater em você igual bati naquele cara.
-Aceito.- me levanto.- Quer companhia ou...
-Pode voltar a concertar o seu carro.- ela aponta e sai do carro.- Eu vou fazer a minha lista.
-Ótimo.- me afasto e observo Emma se curvando sobre o capô.
Estou me divertindo com isso.
𑁍
Emma Green
Abro a torneira e começo a lavar meus braços, o óleo espirrou nos meus braços e na minha camisa. Me olho no espelho e bufo com raiva tendo que tirar a blusa de forma bruta, jogo na pia e começo a lavar onde está suja de óleo.
-Emma?- ouço a voz de Jake.
-Não entra.- mando.
-Eu tenho uma camisa aqui.- ele fala.- Você apertou no canto errado, sabia?
-Agora que você e diz....- murmuro.
-Aqui.- ele entra e para antes de chegar em mim.- Grande cicatriz.
-Ah.- tem uma cicatriz saindo do meu abdômen, passando pela cintura e chegando perto de trás das minhas costelas.- Nada demais.
-Cicatrizes assim só são de bombas ou tortura.- explica.- Então?
-Curioso demais para seu próprio bem.- pego a camisa.- Obrigada pela camisa, agora pode ir.
-Tortura?- ele pergunta.- Bomba? Bomba.
-O que?- franzo as sobrancelhas.
-Você mexeu o lábio quando falei bomba.- ele toca o próprio lábio.- Não lembro de nenhuma bomba recente, então foi algo não documentado.
-Jake...
-Facilitaria muito se contasse a história.- ele me observa.
-A história é minha para que eu conte.- falo baixo.- Você vai sair ou...
-Posso ver mais uma vez?- aponta.
-Acha que eu sou uma atração turística?- pergunto indignada.
-Emma...
-Vai embora, seu imbecil.- empurro ele.
-Eu não quis ofender você.- ele nem sai do canto.- Eu só quero ver de novo.
-É uma pena, por que eu não vou mostrar.- visto a camisa.- Acho que já está na hora de ir para casa.
-Claro.- ele murmura.
Passo por ele e começo a ir até minhas coisas, pego a jaqueta e minha bolsa. Não quero nem olhar na cara de Jake, quem ele acha que é para me pedir aquilo? Quem ele acha que é para querer ver minha cicatriz?
Assim que pego minhas coisas vou até a saída da oficina, pego as chaves do carro e começo a abrir a porta. Uma mão empurra e a porta fecha de novo, olho para o lado e vejo Jake já com a jaqueta.
-Desculpa, Emma.- é a primeira vez que o vejo sério.
-Ok, tudo bem.- mexo a cabeça.
-Você quer companhia para ir para casa?- ele pergunta baixo.
-Não, eu me cuido.- abro a porta do carro de novo.
-Certo.- ele mexe a cabeça.- Vejo você amanhã.
-Ok.- entro no carro e ele fecha a porta para mim.
Dou a partida e subo o olhar para Jake, ele sorri e se afasta enquanto eu dou a ré, engulo em seco e me sinto menos com raiva dele do que há minutos atrás. Tudo por culpa de um pedido de desculpas idiota e um olhar de arrependimento.
Precisa mais que isso para me agradar.
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