04
❤️ GUILHERMINA ❤️
É difícil vê-lo tão de perto e não poder me aproximar como antes. É doloroso demais, mas não tenho muito o que fazer. Marco está certo em cada palavra dura que me disse e pelo sentimento de ódio que carrega. Eu fui embora de um jeito completamente cruel e egoísta, no meio da noite, sem deixar um bilhete, sem uma explicação. Nada. E eu sabia que ele me procuraria na casa da minha mãe, por isso a avisei com antecedência para dizer a ele que tinha acabado. Como uma maldita covarde que sou...
Não que isso tudo tenha sido fácil para mim, pelo contrário. Foi de longe a coisa mais difícil que fiz na vida e nem estou exagerando. Acho que nem ser aberta por bisturi na sala de parto e passar meses dolorida depois da cesariana foi tão difícil assim.
Marco e eu nos conhecemos desde a adolescência, e namoramos desde aquela época também. Com altos e baixos, términos e voltas, nosso amor sobreviveu a tudo. Ele era meu amigo, parceiro, amante. Meu tudo. Um homem carinhoso, dedicado, divertido e batalhador. Ele é perfeito. Mesmo agora, quando tudo que recebo são olhares de puro ódio, palavras ácidas e um mau humor infinito, eu consigo vislumbrar o homem que amo ali, inteirinho. Deus, como é difícil ter que reprimir amor e desejo.
Os dezoito meses — que Marco faz tanta questão de enfatizar — em que fiquei fora, só serviram para ter certeza de que jamais encontrarei nenhum homem que me preencha como ele, que seja tão maravilhoso como ele. As únicas alegrias da minha vida foram meus bebês. Saber que eu os terei para sempre comigo, amando, cuidando, dando todo o amor que eu puder, aquece meu coração. Nunca achei que fosse me sentir tão feliz assim por ser mãe, ainda mais depois de todos os apuros que passei para dar o mínimo que Luna e Mateo precisavam. Não foi fácil. Descobri que a palavra "sofrimento" nunca tinha de fato feito parte da minha vida. Não até eu ter precisado ir embora.
— Oi, amor. Você já acordou tão cedo? Shii, sem acordar sua irmã — falo com Mateo e o pego da cama enorme de casal do quarto que Vanda me colocou.
Acordo descansada depois de muito tempo. O colchão macio foi um grande responsável pelo sono tranquilo e gostoso apesar de minha cabeça ter ficado uma pilha de nervos depois da conversa com Marco. Estou sem saber como reagir daqui para frente. Tenho medo, confesso.
Ter procurado Marco depois desse tempo todo só me fez ter a certeza de que não sou mais a antiga Guilhermina. Ela ficou perdida naquela noite...
Quando nós viramos mãe, descobrimos que não existe meios esforços ou orgulho quando se trata dos filhos. Eu não podia deixar que meus gêmeos passassem necessidade só por medo ou covardia, e muito menos por orgulho. Então, parti no meio da madrugada da casa do Caio para vir parar no Jardim Paulistano em busca do Marco. Não foi difícil achá-lo mesmo que ele tenha se mudado do apartamento pequeno que nós dividíamos. Bastou uma busca no Google para achar o chique consultório a uns trinta minutos da nova casa dele.
É triste e ao mesmo tempo bom saber que ele não deixou que seus pais atrapalhassem seu sonho de ser psicólogo para virar um advogado como eles queriam.
— Que guloso, príncipe — sussurro com Mateo, acariciando a bochecha vermelha enquanto ele busca meu peito como se sua vida estivesse em risco. — Já te disse que você é lindo como o seu pai, amor? Você é mesmo.
Sorrio quando ele balança a cabeça rapidamente para voltar a pegar o seio que escapuliu da pequena boca. Espero que Mateo mame enquanto converso com ele, sem deixar de olhar se Luna não se mexe.
Sinto meu estômago protestando de fome e faço uma careta. Eu preciso decidir o que será da minha vida. Pensar na perda da minha mãe já é doloroso, e é ainda mais quando penso nos meses de quase miséria que passei. Fui demitida, o dinheiro que ela deixou para mim está quase acabando e não dava para continuar pagando o aluguel. Sem falar que ninguém contrata uma mãe solteira com dois bebês. Situações extremas exigem medidas extremas. Exatamente por isso estou aqui.
— Alecrim, alecrim dourado que nasceu no campo sem ser semeado... — canto após Mateo largar do peito e adormecer de novo. Embalo-o enquanto espero que arrote para colocá-lo na cama novamente.
Vejo as horas no celular — uma das poucas coisas de valor que me sobrou — e noto que ainda é cedo. Luna irá seguir o ritual de acordar duas horas depois do irmão, então coloco Mateo na cama e encho de travesseiros ao redor dos dois, morrendo de medo de que caiam. Provavelmente não vai acontecer porque eles acostumaram com a cama minúscula de onde estávamos morando, mas vai saber... Mães são meio griladas com as coisas.
Arrumo os seios e abro a porta do quarto devagar, deixando aberta para o caso de eles chorarem. Pela primeira vez posso admirar a casa de Marco com mais atenção. Tudo aqui é luxuoso demais, muito além dos padrões que ele levava quando estávamos juntos — que já eram altos apesar do lugar ser pequeno. O piso de madeira faz barulho enquanto ando, analisando as paredes com quadros pequenos expostos.
Sigo pelo corredor e me pergunto qual é quarto de Marco, mas sacudo a cabeça porque isso não me interessa. Ando devagar, procurando pela cozinha para ver se consigo algo para comer. Encontro Vanda já aqui lavando a louça e dou "bom dia". Ela resmunga algo e eu mordo os lábios. Não foi só Marco que ficou bravo comigo, pelo visto.
— Quer ajuda? Posso fazer o café — falo, tentando puxar assunto.
— O café já está pronto, menina. Tem pão com queijo, roscas e tem fruta ali se quiser — responde, sem me olhar, enquanto esfrega um copo com muito mais brutalidade do que é exigido.
— Obrigada, Vanda. Vou aceitar. Estou morrendo de fome. Amamentar dois não é fácil.
Ela não me responde. Faço uma careta sem graça sem que a mulher veja, mas deixo isso para depois. Nós éramos muito próximas e sempre adorei Vanda. Ela sempre mimou Marco e o deu muito carinho e amor. Talvez até mais que os próprios pais dele. Não que Marco note isso. Para ele, os pais sempre faziam o que podiam para o seu bem, mesmo que isso resultasse em longos dias sem ver ele e seu irmão Marcelo. Já eu discordo que tenham feito sequer o mínimo. Mas quem sou eu agora para discordar de alguma coisa?
Pego um alimento de cada e como soltando expressões de deleite pela manteiga derretida no pão quente.
— Fiz seu café sem açúcar, do jeito que gosta — ela fala. — Está separado ali.
Termino de mastigar o pão e paro por uns segundos, sentindo-me com o coração apertado pelo gesto. Faz tempo demais que alguém não se preocupa com o que eu gosto dessa forma. Minha mãe era maravilhosa, mas ela sempre trabalhou demais e nunca foi de me paparicar, mesmo eu sendo filha única.
— Muito obrigada, Vanda. Não precisava se preocupar. Faz tempo que deixei de tomar assim. Sabe, não tinha muita opção — digo e ela acena.
— Não é preocupação.
Sorrio mesmo que ela esteja me tratando de um jeito frio. Senti saudade dela.
Falando em saudade...
Marco escolhe este momento para aparecer na cozinha. Não consigo desviar o olhar quando noto que ele está usando apenas uma calça folgada de malhação. A peça está tão baixa que mostra o V muito bem acentuado na sua virilha e tenho certeza de que ainda mantém o costume de dormir sem cueca. Uma pequena trilha de pelos, indo direto para o paraíso, fica visível e sinto meu rosto esquentando, mesmo que eu tente disfarçar. Ele está sem camisa e consigo ver que está ainda mais bonito e malhado do que antes. Como isso é possível?
O peitoral sem pelos está mais bronzeado e vejo a pequena marquinha de nascença perto da barriga, que Mateo teve que puxar para completar o pacote de "idêntico ao papai".
— Bom dia — fala, olhando para mim pela primeira vez desde que entrou na cozinha e eu sorrio e respondo, meio tímida. — Bom dia, Vandinha, gostosa da minha vida. Já tem café?
Sorrio quando ele a esmaga em um abraço e ela lhe dá um tapa forte na cabeça, rindo. Marco me pega olhando e sorrindo e fico séria de repente, desviando o olhar.
— Fiz. O café doce do jeito que você gosta. Está ali na cafeteira.
— Obrigada, Vandinha. Você é o máximo, mulher! — exclama e abre um sorriso radiante.
Não resisto e volto a encará-lo, notando os traços diferentes. Ontem, eu já o avaliei, mas não me canso de admirar. As fotos que eu passava o dia babando não fazem jus à sua beleza. Os olhos verdes vivos e sagazes estão sempre com um brilho que faz com que a gente se sinta iluminada. A pequena covinha do lado direito quando ele sorri de um jeito delicado ainda está ali, mais charmosa do que nunca. Nem mesmo a barba cheia consegue esconder isso.
Deus, tinha me esquecido os pecados que essa barba desperta na mente feminina.
Os cabelos estão um pouco grandes e agora estão caindo molhados na testa. O que faz com que o simples gesto dele de colocá-los para trás seja ainda mais sexy.
— Os bebês dormiram bem? — Marco pergunta e só aí noto que ele está sentado à minha frente, já comendo.
— Sim, obrigada. Mateo acordou para mamar, mas já dormiu de novo.
Ele acena e volta a devorar um pedaço de queijo de um jeito faminto. Sorrio pela paixão que ele tem por comida e volto a comer também.
— Vou pedir para o Marcelo cuidar do exame de DNA e do reconhecimento de paternidade esta semana ainda. Enquanto isso, se você quiser sair para comprar coisas para eles e para você, fique à vontade. Vou deixar meu cartão com a Vanda e ela te acompanha.
Ela se vira e vejo o segundo em que a expressão de raiva aparece no rosto da mulher. Vanda tenta escapar da saída comigo, mas vejo o olhar de súplica que Marco lança para ela. Vanda suspira e abre um sorriso fraco para mim. Não gosto muito desse clima ruim, mas não tenho escolha. Abaixo a cabeça um pouco constrangida com o fato de não ser querida por ninguém aqui.
Tudo pelo bem de Luna e Mateo...
Poderia protestar e dizer que não precisa gastar com eles, mas as coisas que os gêmeos têm foram todas ganhadas. Eu ainda consegui comprar algumas coisas com o salário que recebia como secretária em um órgão público, mas fui exonerada do cargo logo que voltei da licença-maternidade e coisa de bebê se perde rápido demais. Aí as coisas ficaram mesmo feias...
— Obrigada, Marco. Hoje mesmo vou atrás de emprego. Muito obrigada por tudo.
Ele não responde e apenas acena, voltando a comer em silêncio como se eu nem estivesse aqui. Sem vergonha nenhuma, mato minha fome. Marco come e se levanta, sem se despedir de mim. Apenas dá mais um beijo em Vanda e sai da cozinha, fazendo-me seguir com os olhos sua bunda apertada na calça. Ele sempre teve um corpo invejável, mas agora... Infelizmente para meus hormônios e sanidade mental, Marco só melhorou.
— A hora que quiser sair, me avisa.
Meus pensamentos são interrompidos pela voz de Vanda. Concordo com a cabeça e recolho as coisas de cima da mesa, mesmo que a mulher proteste. Lavo tudo o que sujei e digo que só terei que passar no muquifo que estou hospedada antes para terminar de pegar as poucas coisas que tenho. Claro que não falei para ela que moro em um buraco...
Volto para o quarto e noto os bebês dormindo ainda. Nem se mexeram. Nisso não tenho do que reclamar. Eles sempre foram muito bons para dormir. Luna sentia muita cólica no meio da noite quando era mais nova, então somente por isso acordava. Mas bastava a dor passar e ela mamar que o sono logo vinha de novo.
Pego a toalha e o kit higiene que Vanda deixou na suíte e sigo para um banho quente. A água está uma maravilha e estou até sorrindo de tão emocionante que é. Ontem sorri que nem uma boba antes de dormir. Tinha desacostumado até com uma simples água quente. Lavo meus cabelos com o pequeno potinho que parece até de hotel e saio após enxaguá-lo. Limpo o espelho embaçado e faço uma careta como sempre é quando vejo minha aparência de agora.
As veias dos meus seios estão enormes e destacadas pelo tanto de leite. A barriga possui pequenas estrias quase perto da virilha. Consegui perder totalmente a gordura, mas as marcas ficaram e me incomodam muito. Assim como o pequeno corte da cesariana. E a bunda? E o quadril? Prefiro nem comentar. Quer dizer, preciso compartilhar sim. Você aí também já passou por isso, não é? Deve me entender. Se você ficou com um quadril imenso e uma bunda maior ainda, bate aí. Passo os dedos pelas estrias claras no traseiro e solto um suspiro de frustração. Nem todo mundo tem coragem de dizer que a gravidez é supervalorizada. A única coisa boa é o filho, porque todo o resto é doloroso, sofrido e quase desumano.
Marco jamais olharia para mim desse jeito. A antiga Guilhermina costumava ser ativa, costumava malhar e comer as coisas na medida certa para não engordar muito. Agora? Como tudo o que vejo na frente e sedentarismo é meu sobrenome. Se é que isso é possível sendo mãe de dois bebês que estão aprendendo a andar agora.
Paro com o momento de autocomiseração e volto para o quarto. Uso o mesmo vestido porque não trouxe nada comigo. Espero os bebês acordarem, observando-os com um sorriso bobo no rosto.
Eles são minha vida... Aguentarei o que for para que eles vivam bem, para que jamais sintam falta de nada. Nem que eu tenha que enfrentar o ódio e o nojo do pai deles.
Oi, meninos e meninas! A lerda aqui esqueceu que ontem era sexta e acabou apagando antes de postar hahaha Sem falar na dor de cabeça que meu notebook tá me dando. Mas antes tarde do que nunca. Chegou um pouquinho atrasado, mas chegou!
Me sigam o que acharam da nossa mocinha agora que entraram na cabeça dela!
Até terçaaa <3
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