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Capítulo 03 - E que os jogos comecem.

Olá meninas, mais um capítulo saindo. Espero que curtam a leitura.

Música para ouvir: Found you – Ross Copperman

Alice

 — Relaxa! Você está linda, Alice.

Sarah, minha melhor amiga tentava me acalmar depois que esvaziei todo meu guarda roupa procurando uma roupa que combinasse para ir a uma entrevista de emprego.

— Como relaxar?! É a primeira vez que faço uma entrevista de emprego. E se não gostarem de mim? — Questionava, enquanto decidia se prendia o cabelo em um coque ou em um rabo de cavalo.

Trabalho como fisioterapeuta, e antes mesmo de me formar já vinha trabalhando como voluntária em ONG'S. E os meus estágios da faculdade foram, na maioria, realizados em instituições de caridade. Dediquei-me tanto a ajudar os mais necessitados, que quando obtive meu diploma decidi adquirir mais experiência e continuei trabalhando lá. Cheguei a ser coordenadora da ala de fisioterapia de uma instituição infantil para portadores de câncer. Recebi até condecoração por dedicação e empenho.

Emendava uma pós-graduação atrás de outra, durante três anos seguidos minha rotina semanal era uma loucura. Ajudava meu irmão, Levi, de manhã nas Confeitarias do nosso pai aqui no Brasil, a tarde trabalhava nas ONG'S e a noite estudava feito uma doida. Fora as especializações que fazia nos fim de semanas, uma vez por mês.

 Foi uma das melhores épocas da minha vida. Doei-me e ajudei aqueles que necessitavam de apoio. Fiz amigos inesquecíveis e ouvi histórias de superações que levaria comigo por onde fosse. Porém, já estava mais do que na hora de buscar minha própria independência. Claro que não abandonaria de vez meu apoio as ONG'S, buscaria uma forma de poder ajuda-los. Mas sentia a necessidade de sair debaixo das asas dos meus pais e meu irmão.

— Tenho medo de dar um branco na hora e não conseguir falar nada. — Confessei à minha melhor amiga.

Sou uma pessoa muito ansiosa. Já estava comendo meus dedos, porque unhas já não existiam mais, todas já haviam sido roídas.

— Ei! Cadê a Alice decidida que eu conheço há quase dez anos? — Sarah falou tentando me animar.

— Será que ela está escondida debaixo da cama? — Retruquei dando um sorriso sem graça.

Sarinha se aproximou de mim, segurou firme meu rosto com as duas mãos e encarou-me seriamente.

— Ali, você irá arrasar na entrevista. Dedicada e profissional como é, eles serão uns estúpidos se não contratarem você de imediato.

— Isso se eu não estragar tudo com o meu lado desastrado e andar de pata choca. — Disse sorrindo para suavizar meu nervosismo.

— Mas é a sua marca registrada. É a coisa mais linda quando fica envergonhada por suas artes. — Sarah me abraçou. — Vai dar tudo certo. Eu tenho certeza.

 Minha melhor amiga nunca me deixava desanimar. Sempre foi assim. Sempre esteve ao meu lado.

— E o moreno sedutor de sábado? — Mudei de assunto para relaxar. — Você sumiu com ele da boate, não te vi no domingo e chega aqui hoje, não fala nada. Anda! Desembucha! — A puxei e sentamos de frente uma para outra na cama.

— Depois conto todos os detalhes, mas posso adiantar que ele me quebrou, literalmente. — Sorriu com malícia. — Além do sábado à noite, passamos o domingo inteiro juntos. E ele já me enviou uma mensagem hoje, bem cedinho. — Suspirou.

— Isso que dizer... — Inqueri curiosa.

—Ahram! Isso que dizer que, ainda teremos segundas, terceiras e quartas rodadas. — Gargalhamos juntas.

Enquanto terminava de me aprontar, Sarinha me contava pequenos detalhes da sua nova isca. Ela é uma mulher decidida, foi obrigada desde cedo a batalhar para conseguir tudo que almeja. Morena da cor de jambo, olhos e cabelos pretos, boca carnuda, um corpo sedutor e uma alegria que contagia a todos ao seu redor. Quem vê não imagina o que ela teve que superar na sua infância. Perdeu a mãe muito nova para as drogas, tendo que ir morar com um tio e sua família que mal a conhecia. Foi humilhada de todas as formas possíveis que uma criança nunca deveria suportar, por uma mulher enciumada pelo o marido. Cansada de tanto sofrimento, aos 18 anos saiu da casa do tio sem olhar para trás.E nunca mais soube notícias deles.

— Estou vendo uma paixão se aproximando. — Zombei, pois sabia que ela corria pro lado oposto ao que o amor vinha.

— Eu hein! Sai pra lá, Ali. — Xingou. — Está me agourando é?! — Fuzilou-me.

Sarinha lutava contra seu próprio coração para nunca se apaixonar. Ela sempre tinha o cara que quisesse para esquentar seus pés. Doava-se intensamente para a pessoa, mas a partir do momento que ela via que as escovas de dente estavam prestes a se juntar, Sarah os dispensava. 

Sempre era assim.

Às vezes eu tinha até dó dos pobres rapazes desiludidos. Muitos dariam a lua por ela, mas a fobia de amar que ela sentia era bem maior para aceita-los. Nunca sequer conversamos sobre esse seu medo. Sabia que mais cedo ou mais tarde seria inevitável. O amor chegaria para ela. Chega para todos afinal. Chegaria para mim também. Eu só pedia a Deus que fossemos correspondidas. E não machucadas pelo caminho, quando realmente encontrássemos o amor verdadeiro. 

— Filha, o Danilo chegou. — Mamãe gritou do corredor que dava para os quartos do nosso apartamento.

— Já estou indo, mamãe. — Avisei.

— Apresse-se, Ali. Temos tempo, mas lembre-se que o trânsito nunca está ao nosso favor. — Sarinha avisou levantando-se da cama.

Olhei-me mais uma vez no espelho e sorri meio sem graça. Acabei decidindo por uma calça jeans escura reta, uma blusa sem manga em gola V, branca, um blazer azul marinho acentuado e botas pretas. Completei com um brinco de pérolas, que tia Lilian tinha me dado na minha formatura, um colar comprido, com um pingente de âncora e um relógio simples, que pertencia à mamãe, e que amo desde que ela comprou e sempre pego emprestado. O cabelo deixei em um rabo de cavalo para combinar com a maquiagem bem suave. Blush, rímel e gloss. E por fim acrescentei meu perfume favorito, que tinha um aroma suave e adocicado, porém de uma fragrância marcante.

Seria hipocrisia minha se dissesse que me acho feia. Quando era mais nova me odiava por sempre ter sido a maior da turma da escola, até conhecer a Sarah e o Danilo, minha sobrevivência não tinha sido nada fácil no colégio e minha autoestima era lá embaixo. Depois deles tudo mudou para mim.

Recebi várias propostas para ser modelo, mas papai me daria uma surra de chicote e depois me deserdava se encontrasse alguma foto minha de lingerie estampada em algum Outdoor da cidade. O Sr. Ely Schneider imagina que sua filha é pura e imaculada, pois nunca apresentei um namorado a ele. Não imagina que perdi minha virgindade aos 20 anos, na festa de boas vindas do Levi ao Brasil. Por ele já teria me casado com algum judeu de Besançon e ter lhe dado netos. Graças a Deus eu tinha a minha mãe para tirar essa insanidade da sua cabeça.

Meus pais não admitiam, mas ainda existia algo inacabado entre eles. Tanto eu como o Levi e a Sadrinha percebíamos, mas a mágoa e o orgulho ainda dominavam os dois. Mamãe por ter sido enganada e papai por ter perdido 16 anos de convivência comigo.

— Bom dia! Como estou? — Perguntei assim que adentrei na cozinha.

— Linda! — Falou Mamãe orgulhosa.

— Apetitosa. — Danilo meu amigo respondeu.

— O vestido preto era melhor. — Sandrinha disse mal humorada. 

O que me fez dar a língua para minha irmã mimada.

— Venha filha, tomar seu café. Sua tia Lilian já ligou e confirmou a entrevista para as 9h30.

Para dona Laura sempre seria uma criança.

Segui em direção a mesa, mas antes tive que esbarrar com o armário de canto do lado esquerdo da cozinha. Era minha sina esse armário. E ninguém tinha a coragem de mudá-lo de local.

Merda!

Sou desengonçada devido a minha altura, e muito estabanada, nunca lidei muito bem em ser tão alta, e foi um dos motivos para servir de chacota na minha infância. As louças de porcelana da minha mãe que o diga. Já quebrei várias. Danilo diz que não tenho senso de direção e tamanho.  

— Você não tem jeito, Alice. — Sandrinha falou com desdém.

— Cuidado, querida!  — Danilo disse como sempre atencioso.

— Babão! — Os santos da Sandrinha e do Danilo nunca se bateram e eles sempre se bicavam.

Na verdade a maioria dos meus amigos achavam a Sandrinha metida e abusada. Só a aturavam por minha causa. No entanto Danillo nunca escondeu seu desafeto da minha mãe.

— Dois anos livre de você. Aqui será uma paz. — Danilo continuou alfinetando-a.

Minha irmã está de viagem marcada para a França por dois anos para estudar. Um presente meu e da mamãe a ela. Lá ela ficará hospedada na casa de Abgail até se estabilizar e procurar um apartamento para alugar ou dividir. Papai tinha oferecido um emprego em uma das suas confeitarias em Paris, mas Sadrinha tinha recusado. Ela sonha em trabalhar em alguma boutique de algum estilista famoso e ficar por lá mesmo.

— Eu que estarei respirando o ar puro de Paris e não precisarei olhar para essa sua cara de bicha mal comida.

— Maria Sandra Ventura! Olha a boca suja. — Mamãe interviu.

— Foi ele que começou. — Sandrinha acusou Danilo soltando fumaça de raiva por ter sido chamada à atenção.

— Dani, é melhor irmos. A Ali não pode chegar atrasada para sua entrevista. — Sarah se pronunciou evitando uma briga que nunca teria fim.

Terminei de tomar meu suco de laranja e saímos todos em direção ao estacionamento.  Morava com minha mãe e irmã em um apartamento térreo de condomínio fechado, com três quartos. Era simples, mas muito aconchegante. Mamãe ainda estava pagando as prestações do financiamento. Quando completei 22 anos, papai havia comprando dois apartamentos em um bairro próximo. Um para mim e outro para o Levi. Como sempre, fomos só nós três, mamãe, Sandrinha e eu, não tive coragem de deixá-las para ir morar sozinha. Então aluguei meu apartamento e com o dinheiro do aluguel mais o salário que recebia quando trabalhava na Confeitaria de papai, ajudava nas despesas de casa, mesmo com as reclamações de mamãe, ela jamais permitiria que o meu pai a sustentasse. Mas era o mínimo que eu podia fazer.

— Que Deus te abençoe, meu amor.  Vai dar tudo certo. Ficarei aqui orando. — Mamãe se despediu.

— Obrigada, mamãe. Eu te amo. — A beijei no rosto.

— Vê se não chega muito em cima da hora para me levar ao aeroporto. — Sandrinha gritou da porta do nosso apartamento, pois ainda estava de camisola.

— Não se preocupe, Sandrinha. — Tentei tranqüilizá-la. O avião dela só sairia à meia noite.

Como tinha vendido meu carro, escondido do meu pai e do meu irmão, Danilo se prontificou em me deixar na Clínica Estevão Alencar, a qual provavelmente seria meu mais novo local de trabalho.

— Como eu odeio a sua irmã, Ali — Dani falou todo irritado. — Egoísta até para desejar boa sorte. Não vê o quanto você e sua mãe se sacrificam para dar o melhor a ela.

— Ela só está ansiosa com a viagem. — Interrompi, mas recebi um olhar furioso dele.

— Ali, apesar de achar muito infantil as trocas de farpas entre o Dani e a Sandrinha, devo concordar com ele. Ela abusa demais de vocês. — Sarah expressou se aproximando no meio entre os bancos do carro. Ficando entre Danilo e eu.

— Não quero falar da minha irmã agora. Estou ansiosa demais para debater com vocês sobre os caprichos dela. — Resmunguei séria olhando para os dois.

— Você está certa. Positividade. É nisso que temos que pensar. — Danilo proferiu entusiasmado. — Veja só, Sarinha, nossa menina está crescendo. Buscando novos ares. Quem sabe não conhece um médico delicioso que abrirá o coração peludo dela. — Sorri com sua piadinha.

— Ei! Eu não tenho coração peludo. Quem pisa sem pena nos homens apaixonados aqui, é a Sarah. — Impliquei. — Você errou o alvo.

— Quem te falou que eles não gostam de ser pisados? — Sarah se pronunciou.

— Você. — Danilo olhou pelo retrovisor para Sarah. — É pior que a Malévola. Tenho até pena do homem que conseguir perfurar seu coração. Ou te deixará arriada e loucamente apaixonada por ele ou sofrerá demasiado.

 Sarinha o xingou e socou seu ombro.

— E você, Ali. — Olhou em minha direção quando paramos em um sinal vermelho. — Eu até tento entender a Sarah e o seu pavor em se apaixonar, mas você princesa... — Suspirou. —Você sempre quis o Valentim, desde a primeira vez que o viu.  E agora que o cara está louco por você, dispensa-o. Explica-me isso?

— É bem simples. Cansei de esperar o Valentim querer algo mais sério. Cansei de ter sexo casual só com um cara, enquanto ele fodia várias piriguetes. — Dei de ombros. — Enfim, cansei.

— Cansei só de você falar. — Sarah proferiu tentando desviar do assunto.

Ela sabia o quanto tentei chamar a atenção do Valentim. Eu achava que ele era o homem certo para apresentar ao meu pai, era educado, gentil e trabalhador. Mas com o passar do tempo percebi que eu era mais um no seu álbum de figurinhas. Não que ele me tratasse mal, mas ele nunca quis nada sério com ninguém. Ele é o tipo de cara que gosta de ser livre e sem amarras, e eu naquele momento queria algo sério com ele. Mas agora quem não queria namorar era eu. Passei a recusar seus convites, o que não o agradou. Azar o dele, iria viver minha vida.

 Danilo torcia pelo nosso relacionamento dar certo, ele admirava o Valentim por ser uma pessoa determinada e batalhadora. Eram sócios de uma construtora e amigos de infância. Esse era o defeito do Dani, quando gostava de alguém não conseguia enxergar os seus defeitos. Era assim comigo e Sarah, ele nos defendia com unhas e dentes, mesmo estando erradas. Eu sempre dizia que Sarah era a minha razão e Danilo o meu coração.

Eu ainda não havia comentado com Sarah e Danilo sobre o que aconteceu sábado na boate. Na verdade, eu não saberia como começar a contar, eu mesma ainda não acreditava que tinha transado com um cara assim que o conheci quando saia do banheiro feminino. Foi loucura, eu sei, porém naquele momento pareceu tão certo, tão nosso. Tinha sido diferente de qualquer sexo casual que já tive. No entanto, a realidade veio bater na porta logo em seguida, quando o vi agarrado tão em sintonia com outra garota na pista de dança. Naquele momento me senti vazia.

Até chegar a Clínica fomos conversando amenidades. Os dois tentavam me distrair para não deixar meu nervosismo e a minha ansiedade me dominarem. Danilo nos contou sobre seu mais novo caso. Ele não era de ter longos relacionamentos, mas nunca deixava de procurar o amor. Agora o cara era um advogado que ele conheceu em um barzinho de Happy Hour. Meu amigo era lindo, alto, magro, mas bem definido. Tinha olhos verdes que hipnotizavam. Seu cabelo era cortado baixo, quase raspado. Vestia-se sempre elegante e arrebatava os corações da mulherada por seu jeito sedutor.

Ele foi o primeiro rapaz que tinha chamado a minha atenção na adolescência.  Fazia de tudo para atrair seus olhares para mim. Até que um dia cai e torci o pé. Danilo veio me salvar, levou-me ao Pronto Socorro e ficou comigo até ser atendida, e depois me levou para casa. Desse dia em diante, todos os dias me acompanhava até em casa no final da aula. Nossa amizade foi crescendo e se vinculando, ate que um dia perguntei por que ele nunca tentou me beijar. E foi quando me confessou que era homossexual.

*******

Cheguei prontamente às nove horas na Clínica. Minhas mãos já suavam e eu tentava andar sem esbarrar ou tropeçar em algo. Uma moça gentil e sorridente chamada Pamela me atendeu. Identifiquei-me e falei que tinha uma entrevista marcada com a senhora Isabela Alencar. Esse era o nome da pessoa que tia Lilian havia me dito que me entrevistaria.

— A Dra. Isabela atenderá você em instantes. — Pamela comunicou assim que falou com alguém pelo telefone. Pediu-me que sentasse e aguardasse.

Agradeci e caminhei lentamente até um sofá confortável, marrom, em couro. Enquanto esperava ser chamada passei a observar o local. Era uma Clínica luxuosa e gritava modernidade pela sua decoração. Era visível que estava passando por uma reforma.

Ainda pensei em avisar a tia Lilian que havia chegado, mas antes mesmo de pegar o meu celular avistei-a entre os corredores ao lado de uma moça pequena de pele clara que tinha um sorriso reluzente. Assim que me viu, tia Lilian acenou e veio em minha direção.

— Olá, tia Lilian.

— Oi, minha princesa. Que saudades! — Tia Lilian me abraçou carinhosamente.

— Nos vimos há dois dias, tia. — Disse sorrindo.

— É verdade, mas como amo minhas sobrinhas, queria poder vê-las todos os dias.  — Abraçou-me mais uma vez. — Ali, quero te apresentar minha amiga e na torcida para ser sua futura patroa, Isabela Alencar. — Apresentou a jovem que estava ao seu lado e até o momento só observava sorrindo lindamente a interação da tia Lilian e eu.

— Nada de patroa, amigas de trabalho. Meu pai que é o dono da Clínica, eu apenas o ajudo. — Isabela falou docemente me abraçando delicadamente, mas com firmeza.

— Nossa! Você é linda. — Soltei admirada por sua beleza.

Isabela tinha uma carinha de menina, com um ar de mulher sedutora. Meu nervosismo diminuiu bastante. Ela transparecia tranquilidade. Tinha certeza que iriamos nos dar muito bem.

— Achei que você era bem mais velha. — Continuei tagarelando.

— Será que pensou que eu era uma velha corcunda, de cabelos bagunçados, mal humorada e com uma verruga enorme no nariz? — Isabela interrogou curiosa.

— Isso parece mais uma descrição de uma bruxa, Isa. — Tia Lilian completou, fazendo nós três rimos.

        — Alice, a Lilian me falou tanto de você, que sinto que somos amigas há bastante tempo. — Isabela agarrou minha mão. Era pequena e delicada. — Uau! Você é linda e gostosa demais, Alice.  — Soltou de repente me olhando de cima abaixo. — Sua tia não exagerou em nada quando disse que tinha uma sobrinha linda... E gostosa. — Ressaltou novamente o "Gostosa".  — Se continuarmos contratando só deuses e deusas, em breve aqui não será mais uma Clínica médica, e sim uma agência de modelo. 

Tia Lilian,e Isabela continuavam conversando comigo, mas minha mente bloqueou no momento que ela pronunciou a palavra "Contratando".

Será que eu seria contratada?

Uma mistura de alegria e medo bateu-me de repente. Era uma sensação nova que me invadia. Como se a qualquer momento o inesperado acontecesse. O pior era que eu não fazia ideia do que viria pela frente.

******

— Alice, você tem um currículo incrível. Três pós-graduações e vários cursos de atualização. Isso mostra o quanto é estudiosa e esforçada. Tenho uma mina de ouro em minhas mãos. — Isabela tagarelava animadamente avaliando meu currículo.

Eu apenas sorria orgulhosa de mim mesma, demorei ao tomar a decisão de escolher uma profissão, mas quando decidi foi por amor. Para ajudar ao próximo. Não tinha recompensa melhor que ver o sorriso de uma pessoa ao vencer uma etapa do seu tratamento.

— Obrigada. — Agradeci apenas.

— Vou te confessar um segredo. — Isabela debruçou sobre a mesa.  — Não tenho talento algum para fazer entrevistas. — proferiu graciosamente. — Normalmente essa parte burocrática quem faz é o meu pai e o meu marido me ajuda, mas papai pediu afastamento sem data para retornar e Leo teve uma cirurgia de emergência.

— Se preferir, marcamos para outra hora para fazer a entrevista. — Informei tristemente por ter quer voltar outro dia.

— Não! Acho que me expressei mal, Alice. — Interrompeu-me. — Gostei muito de você. E seu currículo, como havia dito, é incrível. — Recostou-se na poltrona e me analisou em silêncio. — Não sei se a Lilian falou qual será seu cargo. — Questionou-me.

— Imagino que seja para trabalhar com reabilitação e Pilates. — Deduzi.

— Também. Acho que você percebeu que a Clínica está passando por algumas ampliações...

 Balancei a cabeça confirmando.

— Haverá uma ala apenas para fisioterapia e ortopedia. E eu precisarei de pessoas de confianças para me ajudar a coordenar essa ala.

Uma adrenalina de emoções acelerou meu coração. Será? Não! É verdade que tenho vários cursos e especializações, mas Isabela não conhecia meu trabalho.

— Gostaria de saber se tem interesse? — Perguntou. — Nos conhecemos há poucos minutos, mas confio demais na sua tia Lilian. E ela teceu maravilhas sobre seu profissionalismo e principalmente sobre você. Sei que foi coordenadora em uma das ONG'S que trabalhou. O que me faz acreditar que você tem a experiência que eu preciso para o cargo. O que acha?

— Eu não sei o que dizer. — Ainda não acreditava no que Isabela estava me propondo.

— Eu compreendo se não aceitar. Coordenar uma ala médica não é um trabalho fácil, mas...

— Não! Eu quero tentar... — Quase gritei interrompendo-a.

— Maravilha! — Isabela bateu palmas. — Assim que te vi, a quis para ser minha substituta.

— Substituta? Co... Como assim? — Indaguei confusa.

— Bem, como posso explicar. — Parou e analisou uma maneira. — Não irei deixar de trabalhar na Clínica. Reduzirei a minha carga horária de trabalho e permanecerei atendendo somente os pacientes mais antigos que tenho. — Sorriu. — Tentarei ser o máximo presente na Clínica, e se precisar de ajuda não duvide em me chamar. No entanto você será responsável por todo o quadro de funcionários e estagiários da ala de fisioterapia.

— Nossa! — Estava em choque.

Entrei aqui para um cargo de fisioterapeuta comissionaria e, iria sair como chefe da ala de fisioterapia e ortopedia. Quase me belisquei para ver se não estava sonhando.

— Vamos discutir o seu salário inicial? — Isabela perguntou empolgada.

Ficamos por mais alguns minutos conversando. Acertamos meu salário, que mataria de inveja minha irmã, e os horários de trabalho. Solicitou que eu entregasse minha documentação à tia Lilian para enviar ao setor de recursos humanos. Em seguida me apresentou a Clínica pessoalmente. E a cada funcionário, enfermeiro e médico que passava por nós, era apresentada como Coordenadora Chefe da Ala de Fisioterapia e Ortopedia. E todas as vezes que era cumprimentada por alguém meu rosto ruborizava.

Adorei as pessoas do refeitório. Pessoas alegres e engraçadas foram logo me apelidando de Anjo, diziam que me parecia com um. E que seria disputada pelo "Trio do Pecado". Não hora não entendi o que isso significava, mas quando falaram quem seriam os primeiros a me cantarem entendi a piada. Até Isabela caiu na brincadeira e apostou em um tal de Dr. Igor. Eu apenas sorria e ficava cada vez mais curiosa para saber se esse trio era mesmo do pecado como diziam.

— Bom dia, Chefa. Que honra tê-la conosco. — Um moreno de sorriso safado adentrava ao refeitório.

— Olá, Gabriel. Vim aqui apresentar Alice Schneider. A nossa mais nova Coordenadora Chefe da ala de fisioterapia. — Isabela apresentou-nos.  — Alice, esse é Gabriel Brito. Nosso Nutricionista.

— Alice? Nossa! acho que estou no país das Maravilhas. — Disse com um olhar malicioso. E ali deduzi que este era um componente do Trio do Pecado.

— Na verdade já a apelidamos de Anjo.  — Alguém, cujo nome ainda não tinha aprendido, comentou.

— O apelido caiu como uma luva. — Completou sem tirar os olhos de mim.

Tive a sensação que o conhecia de algum lugar, mas não lembrava, devia ser loucura da minha cabeça. Um gostosão como esse não deixaria passar despercebido. Fiquei observando-o enquanto sugeria a Isabela algo relacionado ao cardápio semanal dos funcionários.

Puta merda!

Tirei na loteria, só pode. Dr. Gabriel era um pecado em forma de homem. Tinha a pele bronzeada, seu rosto parecia ter sido moldurado a mão, usava barba rala que escondia duas covinhas, olhos claros, ombros largos e um porte físico daqueles que suava a camisa todos os dias para manter a forma. Apostaria minhas calcinhas de renda, que seu abdome daria para contar os gominhos que tinha. Iria matar Sarah e Danilo de inveja. Não via a hora de encontra-los.

— Espero que tenha apreciado a paisagem. — O desgraçado falou descaradamente, percebendo que explorava seu corpo.

Tentei mostrar seriedade, mas meus olhos denunciavam o quanto estava envergonhada por esse pequeno deslize.

— Prazer em conhecê-lo. — Cumprimentei formalmente, fingindo não perceber seu comentário.

Ainda sem se contentar, pegou minha mão e levou ao lábio beijando-a.

— O prazer é todo meu, Anjo.

*****

O dia passou que nem percebi, só me atentei para o horário quando tia Lilian entrou, na que seria minha nova sala, e perguntou como e que horas iria para casa. Foi então que percebi que passava das dezoito horas. Ainda tinha que ligar para o meu irmão e contar a verdade sobre a venda do meu carro e pedir que fosse comigo levar Sandrinha ao aeroporto. Ele me esculacharia quando descobrisse que vendi o carro por um valor muito inferior. E depois faria picadinho quando contasse que o motivo da venda, foi para ajudar a minha irmã a pagar uma dívida que fez escondida com um agiota. Na hora não pensei duas vezes e cedi meu carro como quitação do dinheiro.  Mamãe jamais poderia sonhar que Sandrinha havia pegado dinheiro com esses urubus. Ela já tinha sofrido demais por causa do meu padrasto, Otávio, e seus vícios por jogos. Não permitiria que sofresse novamente. Foi unicamente por minha mãe que fiz essa loucura.

Recolhi meus pertences e sai conversando animada com tia Lilian. Comentei sobre minha equipe de trabalho e o quanto todos se mostraram dispostos a contribuir para o funcionamento da nossa ala. Assim que chegamos à recepção, Isabela conversava toda sorridente com um homem alto de cabelo loiro escuro. Ele estava de costas para mim e não vi o seu rosto, e pela sua animação e o jaleco branco que vestia, conclui que seria o Dr. Leonardo Menezes, seu marido. Quando nos viu, Isabela acenou e nos chamou.

— Alice, venha conhecer o Dr. Igor.

Caminhei a passos largos toda sorridente. Conheceria o tal Dr. Igor do Trio do Pecado, que tinha sido o mais solicitado na aposta da cozinha. O tal que, seria o primeiro a me fazer render aos seus encantos. No mesmo instante parei abruptamente.

Como que em câmera lenta, o Dr. Igor virou sorridente buscando com o olhar a minha direção. Meu coração gelou ao reconhecê-lo. Era, "Ele". O homem que vinha preenchendo meus sonhos de sábado pra cá.

Deus! Eu estava perdida.

— Essa é Alice. A nova coordenadora que te falei. — Isabela saudou-nos.

Seu olhar era como brasa sobre mim. Senti seus olhos percorrerem cada centímetro do meu corpo até parar fixando em meu olhar. Ele parecia tão surpreso quanto eu, no entanto se mantinha mais contido.

Senti um calafrio percorrer por toda a minha coluna, quando um pequeno sorriso malicioso surgiu no canto dos seus lábios. Sem dizer uma palavra, pressenti que estava em apuros.

Deus! Por que comigo? A carne é fraca. Serei pecadora.

Estendi minha mão, em sinal de cumprimento, assim como fiz com o Dr. Gabriel.

— É um prazer conhece-lo, Dr. Igor.

A princípio ele me olhou sem entender minha saudação. Contudo percebeu que não diria nada, nem que havíamos nos conhecidos por acaso em uma festa.

— O prazer é todo meu, Alice. — Tocou a minha mão e apertou fortemente. Enviando choques por todo meu corpo, ao lembrar-me dos seus dedos dentro de mim.

Se contenha Alice! Foi por culpa dessa voz sedutora e safada que você caiu em desgraça. Não terei uma recaída. Não terei uma recaída. Repetia mentalmente. 

— Se antes vinha trabalhar só para olhar para você, Minha Deusa. — Passou os braços sobre o ombro da Isabela sorrindo amavelmente para ela. — Agora terei mais motivos para estar na Clínica a qualquer momento. — Voltou seu olhar ao meu. — A todo instante. — Repetiu frisando bem cada palavra.

— Tire esse seu olhar de cachorro pidão da minha sobrinha, Igor. — Tia Lilian se manifestou virando-se para mim.  — Ali, não caia na lábia desse ai!

 Agora tia Lilian me encarava avisando sobre o cachorro.

Tarde demais, Titia. Já cai e me lambuzei toda.

Oh Deus!

Forcei um sorriso para ela.

— Alice, já foi apelidada de Anjo pelo pessoal do refeitório. — Isabela, inocentemente, eu acredito, instigava ainda mais. — Até aposta rolou em cima da Anjo contra o Trio. Você está na liderança, Igor. — Ela o cutucava, sem imaginar nossa briga e acusações por olhar. — O que acha? Ela poderia ser sua nova Deusa.

Juro! Perdida era pouco para a minha situação.

— Ah! Você sabe que quando entro em uma aposta nunca é para perder. — Respondeu com um sorriso de conquistador barato. — Principalmente quando a minha reputação está em jogo.

Filho da puta!

Pegou na mão da Isabela e a beijou calidamente.

— Você sempre será a Minha Deusa. — Proferiu retornando seu olhar para mim.

No mesmo instante, Isabela e Lilian foram chamadas na recepção para assinarem alguns documentos que precisariam ser enviados com urgência por fax para o Dr. Estevão Alencar. Deixando-nos sozinhos, para a minha ruína.

Por favor! Não me deixe aqui. Voltem.

— Você fugiu. — Cuspiu assim que elas saíram. Acusando-me por ter saído de repente daquele labirinto onde havíamos transado.

— Foi melhor assim. — Retruquei.

— Ah! Tem certeza? — Perguntou sarcástico se aproximando discretamente de mim. — Porque para mim não acabou, Minha Diaba. — Pronunciou quase inaudível para que apenas eu escutasse. — Agora é que os jogos irão começar.  

Puta que pariu! Seria game over pra mim.

Gostaram? Espero que sim. 

Quero desejar a todos, que as comemorações do Natal sejam marcadas pelo desejo de um novo viver e de um novo caminhar que nos conduza a um só objetivo: semear o amor e a paz. Feliz Natal! Muito obrigada por todo o carinho.

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