Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

1

Kenzie
A noite em que tudo começou

Como um vinho tinto, seres humanos evoluem sutilmente ao longo dos anos. O frescor jovem vai desaparecendo, cedendo lugar a sabores mais complexos e elaborados. A garrafa de vinho mais valiosa da história foi guardada por nada menos que 198 anos.

Quão lindo, trágico e irrecuperável é o tempo?

Caminhos cruzam, águas correm, estações mudam, pessoas morrem. A flecha nunca volta ao arco, a folha nunca volta à árvore, e nós nunca voltamos a ser quem éramos no passado.

Memórias se tornam vultos, são engolidas por nuvens de tempo e espaço. É o mesmo fim calamitoso para o qual todas as histórias de amor parecem ter sido elaboradas: residir no eterno lamento do tempo irrecuperável, assombrando as noites silenciosas com sussurros temerosos de "e se?".

Era o outono do meu último ano no colégio. Antes do grande boom das redes sociais, as opções de entretenimento eram limitadas. O shopping do centro era onde os adolescentes costumavam se aglomerar aos finais de semana, dividindo-se entre o cinema e o boliche barra sorveteria e lanchonete.

Não tinha nada de grandioso ou cinematográfico. Eram quatro pistas, uma ao lado da outra, com mesas dispostas nas laterais. Ainda que odiássemos jogar, foi lá que Kiara escolheu comemorar a noite do seu décimo sétimo aniversário.

— Olha quem chegou! — Ela comemorou, saltando do sofá vermelho ao me ver chegar acompanhada de Agnes Han. Vermelho também era a cor do batom e da tinta em seu cabelo escorrido. — Quase pensei que você não viesse!

— Só mesmo um aniversário para tirar a Kenzie de casa — Becka provocou sem desviar os olhos do celular cor de púrpura.

Minhas amigas estavam cansadas de saber o motivo das minhas costumeiras ausências, então fez mais sentido explicar a presença e não o contrário.

— A minha mãe está de folga hoje, e eu não perderia o aniversário da Kiki por nada! Aliás, parabéns, amiga!

Envolvi Kiara num abraço apertado, do tipo que os corpos se sacodem de um lado para o outro. Com os saltos nos pés, eu não ficava tão mais baixa que ela, então nos encaixávamos perfeitamente.

— Obrigada!!!

Depois foi a vez de Agnes. As duas se abraçaram numa confraternização interrompida por Kaíque — mascote do grupo — que puxou o braço da irmã dizendo:

— Quando a gente vai jogar, Kiki? — Ele parecia impaciente. As bochechas infladas, o cenho franzido e uma lufada de ar escapando dos seus lábios tão finos quanto os da irmã. Eles tinham uma semelhança física evidente, mas personalidades contrastantes.

Enquanto o garoto era a personificação da rabugice em forma de criança, Kiki era daquelas pessoas cujo tom de voz é naturalmente alto e muito animado, esbanjando energia e alto astral.

— A gente já vai jogar, calma. — Ela colocou o braço no pescoço do irmão. Ele, por sua vez, fez uma careta mostrando a língua.

— Quero jogar boliche — insistiu.

Agnes revirou os olhos descaradamente. Não falaria na frente de Kiki, mas eu sabia que ela odiava quando o irmão mais novo da nossa amiga vinha para os encontros. Sempre acontecia quando a mãe de Kiki tinha algum compromisso de trabalho, e ela acabava ficando de babá.

Agnes era filha única, não entendia a relação entre irmãos. Eu entendia. Ver os dois juntos me lembrava de quando eu era a garotinha pequena, mamãe pegava os plantões noturnos, e Miriam sempre me levava para sair com as amigas dela.

Ao contrário de Kaká, eu ficava num canto quieta e reclusa, venerando a minha irmã e suas amigas como se fossem seres celestiais, tão aquém da minha humanidade tola e infantil. Nunca parei para imaginar que um dia eu estaria do lado oposto da moeda que nunca para de virar.

— Tudo bem. — Kiara pegou dinheiro do bolso. — Paga a Estrela e pede para ela liberar a pista pra você, ok?

— Posso pegar o troco em chiclete?

Kiki assentiu, parecendo aliviada depois que o garoto foi para o balcão fazer o pedido. Nós nos sentamos ao redor da mesinha redonda no canto mais recluso do lugar. Agnes ao lado de Kiki, eu, ao lado da Becka que ainda vidrava no celular. Tinha sido assim desde que ela começara a namorar.

— O que a gente vai comer?  — Kiki perguntou distribuindo as cópias do cardápio impresso.

— Sundae de morango — anunciei depois de uma rápida leitura.

— Para mim chocolate — Agnes completou.

— O que você vai querer, Becka?... Becka?... Becka! — Ela subiu os olhos castanhos, cercados de lápis preto.

Ãhn?... Ah! O que vocês quiserem para mim está de bom tamanho.

Escorregou uma mecha dos cabelos descoloridos para de trás da orelha e voltou a digitar no aparelho, fazendo Agnes revirar os olhos.

— Deprimente — Ness anunciou. — Namorar é uma coisa deprimente.

Becka fez careta, demonstrando que podia escutar quando tinha vontade.

Detestava concordar com a Agnes em algumas coisas, mas tinha que admitir: Becka passava dos limites do tolerável quando se tratava de dar atenção ao namorado.

— Eu vou primeiro! — Avisou Kaíque, voltando com um monte de chicletes que deixou sobre a mesa. — Ninguém toca no meu chiclete.

— Ninguém vai tocar no seu chiclete, pivete — Agnes ralhou antes que Kaká fosse escolher uma bola. — Não olha agora, mas a turminha do barulho está chegando aí.

Instintivamente, fiz justamente o contrário. Olhei.

O grupo preencheu o ambiente tão rápido quanto as suas vozes fizeram, com risadas altas e empurrões desnecessários. Os garotos vestiam moletons escuros e calças largas, misturando-se uns aos outros como um tipo de camuflagem, mas meus olhos foram atraídos para um em específico: Dylan Damian.

Com o skate embaixo do braço, Dylan tirou o boné e sacudiu os cachos escuros, que despencaram sobre o rosto de um marrom pálido. Se fosse a cena de um filme, ele estaria em câmera lenta, umidificando o lábio moderadamente espesso como se estivesse prestes a beijar alguém. Lindo era a palavra para defini-lo, mas quando os olhos intensos de âmbar me encontraram, desviei os meus tão rápido quanto uma presa foge do caçador.

— Você não acha essa garota deprimente, Kenzie? — Agnes chamou minha atenção.

Olhei outra vez. O grupo se ajeitava na terceira pista, fazendo barulho sobre quem ia se sentar aonde. Maria Augusta, a única garota no meio de cinco rapazes, usava um par surrado de tênis e short jeans. O cabelo de lavandário se espalhava em ondas rebeldes pela pele fulva enquanto Theodoro enroscava o seu ombro estreito com o braço largo.

— Todo mundo sabe que os caras só pegam ela porque deixa eles fazerem o que bem quiserem — minha amiga comentou. — Ouvi dizer que alguém viu ela chupando a banana do Theo atrás da quadra. Aposto que não era mentira, porque olha só...

Olhei discretamente. O garoto de dreads longos estava dando um beijo na boca dela.

— Que nojo! — Agnes concluiu com uma careta. — Essa garota deve ter todo tipo de DST.

Não conhecia Guta o suficiente para fazer um julgamento, mas os boatos sobre o seu comportamento corriam desde o primeiro ano no colégio, quando alguém contou para alguém, que contou para Agnes, que contou para mim que Maria Augusta deixava os garotos passarem a mão nela. Não que isso fosse da conta de todo mundo, ou que invalidasse o seu caráter, mas era difícil esperar uma reflexão profunda de um punhado de adolescentes tentando sobreviver ao último ano do ensino médio em meados dos anos 2000.

— Anda, Kenzie, é a sua vez! — Kaíque ralhou, impaciente.

Distraída com a cena, sequer tinha reparado no andamento do jogo. Ao pegar a bola, dei uma última conferida em Dylan. O maxilar era reto, como um diamante bem lapidado, contornando um sorriso de dentes grandes e brancos, tão bem alinhados, que compensavam os anos que ele passou ostentando uma porção de quadradinhos metálicos no fundamental.

De longe, Dylan movimentou a cabeça, lançando em minha direção um cumprimento discreto. Instantâneo assim e o meu coração deu um salto. A bola pesada correu para a canaleta tão rápido quanto eu para o meu lugar, sentindo o coração bater na garganta.

— Você tem mais uma tentativa — Kaíque avisou.

— Mais uma!? — Fiz aquilo soar como tortura.

Sem escolha, peguei outra bola e voltei para a pista. Não olhei, mas uma parte de mim tinha certeza que Dylan estava observando, então eu queria dar o meu melhor. Agachei. Mirei. Afastei a bola. Tentei me concentrar, mas era difícil quando podia sentir o olhar dele em minha direção.

— Anda logo, Kenzie! — Kaíque era impaciente.

Então lancei.

Para o meu azar, entretanto, os dedos engancharam nos buraquinhos, o salto titubeou e eu perdi o equilíbrio, me estatelando bem no meio da pista.

O boliche fora preenchido pelo som de risadas altas que eu sabia exatamente de onde vinham. Sem coragem de espiar e descobrir se Dylan estava se divertindo tanto quanto os amigos babacas, apenas levantei e corri de volta para o meu lugar com o rosto vermelho e pulsando vergonha.

Agnes e Kiki estavam rindo também. Até o Kaíque se deliciava com o meu vexame. Desejei que um buraco se abrisse na terra e eu pudesse desaparecer.

— Desculpa, Kenzie. Foi muito engraçado! — Kiara tentava se conter. — Acho que todo mundo viu a sua bunda, amiga.

— O que aconteceu? — Becka subiu os olhos, parecendo tentar pegar a piada.

— A Kenzie caiu como um monte de bosta do chão.

— Kaíque! — Kiara repreendeu a boca-suja do irmão.

— O que foi? É verdade!

O meu rosto ainda estava fervendo. Perguntei baixinho:

O Dylan estava olhando?

— A Kenzie gosta do Dylan! A Kenzie gosta do Dylan! A Kenzie gosta do Dylan! — O garoto-pentelho cantarolou alto, fazendo o meu rosto arder ainda mais.

Cobri a sua boca com a mão, mas Kaíque se debateu, me obrigando a soltá-lo. Ainda que fosse sete anos mais novo, o garoto tinha a minha estatura e era bem mais forte e pesado que eu.

— Todo mundo gosta do Dylan — Kiki rebateu o irmão.

Seu argumento era bem verdadeiro.

Nos filmes, os garotos populares normalmente eram babacas inacessíveis que se sentiam no centro do mundo e por isso tratavam mal as outras pessoas. Dy sempre foi o contrário do estereótipo. Ele era extrovertido, engraçado, e era amigo de todo mundo. Era impossível conhecer Dylan e não gostar dele assim: imediatamente. O que não significava que eu estivesse interessada nele (talvez só um pouquinho). Mas namorar não estava nos meus planos para o último ano do ensino médio.

Imaginava que iria pensar em namoro eventualmente, mas primeiro eu estava focada em passar na faculdade de medicina e aquele era um projeto que exigia entrega em tempo integral. Eu tinha sonhos e planos, e nenhum espaço neles para garotos de sorrisos bonitos e cachos fofos.

— Eu não gosto — Agnes declarou. — Acho esses garotos todos deprimentes... Mas ao menos a Kenzie faz mais o tipo dele. Sem ofensa.

Foi notável o desconforto de Kiara, que pigarreou sem dizer nada. As suas inseguranças com o próprio corpo não eram nenhum segredo de estado.

Eu não era particularmente magra, mas, fosse o metabolismo ou a estrutura óssea, eu simplesmente não engordava. Kiki não comia compulsivamente, tinha tentado perder peso várias vezes, mas sempre acabava voltando ao corpo de antes. Aquele era o peso saudável, natural e, diga-se de passagem, lindo dela.

Às vezes Agnes era muito dura na sua maneira de falar. Não pensava que a sua intenção era ser cruel, mas sabia que ressentia Kiki, então eu desviei o assunto desconfortável:

— É a sua vez de jogar, Becka.

— É! É a sua vez! — Kaíque concordou comigo.

— Pode jogar no meu lugar — respondeu com descaso, ocupada demais trocando SMS com o namorado.

O garotinho comemorou a vez extra e partiu para a pista.

— Não olha agora, mas Dylan Damian está olhando para cá.

Fiz de novo. Olhei. Ele estava comprando comida, os cotovelos apoiados no balcão de madeira, e desse ângulo eu podia traçar uma linha reta da sua testa até a ponta do nariz alinhando-se ao queixo proeminente. Nossos olhares se cruzaram só por um instante, mas dessa vez foi Dylan quem desviou, atendendo uma chamada no celular.

— Vai lá, Kenzie! — Kiki me incentivou animada, dando um empurrãozinho. — Eu acho mesmo que ele gosta de você, e ele é bem bonitinho.

Até Becka tirou os olhos da tela por um instante para espiar sobre os ombros.

— Honestamente... acho ele bem mais ou menos — declarou.

Mais ou menos. — Soltei um grunhido, chegando à conclusão de que namorar devia fritar o cérebro das pessoas. — Ele é uma graça.

— Quem vai agora? — Kaíque perguntou alto.

— Pode usar a minha vez, pivete — Agnes anunciou, indiferente.

— A minha também — disse Kiki. O garoto comemorou em dobro, nos dando mais alguns minutos de paz e privacidade. — É sério! Você devia ir lá e falar com ele.

— Aproveita e pede os nossos sorvetes.

Eu bufei, sabendo que elas me convenceriam a fazer qualquer estupidez.

— Estou bem? — Quis checar, dando uma ajeitada na saia curta.

— Está linda! — Kiki me encorajou.

Equilibrei-me no salto Anabela até perto do balcão principal. "Estrela" era como estavam chamando a nova moça do caixa, por causa da pequena estrela tatuada no lado interno do seu pulso, mas não era o seu nome real. Miriam tinha uma tatuagem idêntica à dela. Elas costumavam ser próximas na adolescência, mas perderam o contato depois que Mi começou a trabalhar com viagens.

Eu me lembrava de Estrela como uma das amigas de Miriam que eu costumava venerar na infância.

— Espera... você não é a Mini-Mi? — Ela também me reconheceu enquanto trocava o dinheiro por fichas prateadas. Os longos cabelos negros faziam contraste com a pele clara, mas uma única lateral era raspada à máquina. Os olhos eram grandes e escuros, como um par de jaboticabas. Assenti. — Você está enorme... Quer dizer, não enorme-enorme, mas da última vez que te vi você era desse tamanho.

Apontou para a altura do seu quadril. Eu só dei risada.

— Como a Mi está?

— Bem — respondi tímida. Conversas triviais com pessoas pouco chegadas sempre me deixavam desconfortável. — Você sabe... ela não tem parada.

— Ainda rodando o mundo numa canoa?

Aquilo era força de expressão. Minha irmã era camareira em navios de cruzeiro, passava temporadas longas no meio do mar e tinha conhecido o mundo inteiro nesse trabalho. Raramente voltava para casa.

— Da última vez que eu chequei, ela estava na Nova Zelândia.

— Uau! Da próxima vez que checar, diga a ela que a Vivian mandou um 'oi'.

Assenti.

Eu não falava tanto assim com Miriam. As ligações internacionais custavam uma fortuna, seus fuso-horários eram variáveis, e ela sempre estava com muita pressa, então mudei de assunto e fiz meu pedido. Cinco sundaes, três de morango e dois de chocolate.

— Pra já.

— E aí Big Mac? — Dylan me cumprimentou só depois que Estrela deu às costas. Ele mordeu o lábio de um jeito despretensioso, passando a mão desajeitadamente pelos cachos castanhos desfeitos.

— E aí? — Rebati, um pouco embaraçada.

O apelido tinha a ver com o meu nome, Mackenzie, e o fato de eu sempre ter sido muito pequena. O correto seria "Mini Mac", mas Dylan gostava do trocadilho, e eu gostava dele. Imagino se ele fez isso de forma consciente, se sabia que muito tempo depois eu ainda não poderia passar num fast food sem lembrar da sua existência na minha vida.

— Um tombo e tanto, hein. — Deu um risinho. — Machucou?

O tom claro da minha pele era propenso a corar com facilidade, de um jeito que eu raramente conseguia controlar e achava isso muito irritante.

— Não — foi só o que consegui responder, deixando a franja castanha cair sobre o olho para disfarçar o constrangimento.

Estrela colocou o pedido dele no balcão: dois grandes baldes de batata frita com queijo e cinco copos de refrigerante.

— Legal te ver por aqui — concluiu. — Eu te chamaria para jogar com a gente, mas o meu pai acabou de ligar e do jeito que ele falou parece que alguém morreu. — Deu risada. — Vou ter que me mandar.

Tentei não demonstrar meu desapontamento. Era raro nos encontrarmos assim, fora da escola. Esperava ter a chance de conversarmos mais que o trivial pela primeira vez, mas não estava com tanta sorte.

— Espero que ninguém tenha morrido — falei, educada.

Nah... Relaxa. É só o meu pai. Ele age assim toda vez. Então a gente se vê?

Apenas concordei. Claro que nos veríamos diariamente até o fim do ano, estávamos na mesma turma desde o primário sem jamais transcender aquele limbo esquisito: estranhos demais para sermos chamados de "amigos", mas conhecidos demais para sermos chamados de "estranhos". Dylan era só um colega. Um colega com um sorriso bonito.

— Até amanhã — falei.

Só que ele não apareceu no colégio no dia seguinte.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro