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Capítulo 6 - Parte 1

—Por que ele sempre faz isso comigo? – questionou Luna, com olhos tristes.

— Isso, o quê, minha criança?

— De uns tempos para cá não conseguimos conversar sem que ele brigue comigo!

— Hiago é muito apaixonado por tudo o que faz, inclusive brigar... – respondeu a mãe dando um sorriso divertido. — Agora, vamos dormir. Amanhã o dia será cheio. – E com um último beijo em seus cabelos, ela apagou a lamparina.

O dia amanhecera ensolarado e prometia ser quente. Antes mesmo de o sol despontar no horizonte, os trabalhos no acampamento cigano já estavam a pleno vapor. Diversas mercadorias eram colocadas nas carroças e os cavalos que seriam negociados naquele dia, eram preparados por seus tratadores. As mulheres, por sua vez, enfeitavam-se com esmero, colocando seus melhores vestidos, caprichando na maquiagem e nos óleos essenciais. Naquele dia começava o Festival del Verano, um evento anual promovido por um nobre chamado Conde de Aquivadir que, segundo diziam os boatos, servia para provar de vez aos mouros que haviam dominado a região por mais de oito séculos, que seu reinado havia se acabado.

Milhares de pessoas vinham de diversas partes do reino de Castela para as festividades o que fazia com que a cidade fervilhasse de vida e, para os ciganos, de negócios. Embora fossem um povo tradicionalmente desprezado pelos demais, as pessoas sempre se encantavam por suas mercadorias diferentes, frutos da vida nômade que levavam: tecidos finos como seda e cetim, perfumes, óleos, tapeçaria, joias, pedras preciosas, cavalos, enfim, tudo o que atraía principalmente os nobres e comerciantes ricos.

A festa era realizada nas imediações do mercado, na Plaza de Abastos dentro dos muros da cidade e além das diversas tendas e bancas de comércio, havia apresentações de dança e bailes particulares no castelo do Conde, exclusivo, claro, para os mais abastados. Para o restante da multidão, restava divertir-se ao som de músicos que tocavam pelas ruas da cidade.

Luna havia colocado a roupa que mais gostava: uma saia e blusa vermelhos com babados negros. O vermelho escuro, cor de sangue, era uma cor que sempre lhe assentava bem em contraste com sua pele e cabelo claros e combinava com o lenço que trazia amarrado na cabeça. Observou-se uma vez mais no espelho, girando em torno de si mesma e rumou para a arca a fim de colocar seus colares e anéis. Embora não pudesse ler a sorte como as outras ciganas por não ter o dom da vidência, Luna ajudava seu irmão mais novo, Juan, na venda das joias que ela confeccionava e às vezes, quando o tio permitia, se apresentava tocando a castanhola.

Ao virar-se para a mãe, viu que ela estava recostada na cama, coisa pouco comum à Carmem que era uma mulher muito ativa. As costuras que tinha que aprontar para aquele dia estavam amontoadas em uma pilha ao lado do banquinho onde ela costumava se sentar. Luna não pode reprimir um suspiro desanimado ao ver a pequena montanha e com passos lentos, rumou até a cama. Das outras vezes em que sua mãe ficara indisposta daquela forma, Luna tivera que tomar a costura ela própria e para isto, teria de deixar de ir à feira e aquela realização era como um balde de água fria em seu ânimo.

Ela esperava ansiosamente pelo Festival del Verano todo ano: adorava ver o colorido, os diversos dialetos que eram falados e sobretudo, gostava de ver os nobres em suas roupas pomposas e seus gestos finos. As mulheres eram tão delicadas! Adorava o colorido das construções em mosaico únicas em Sevilla pela longa dominação moura...Tudo transpirava alegria naqueles três dias de festividades.

— Eu estou bem, minha filha. Vá com seus irmãos. – disse Carmen exibindo um sorriso tênue. — Vou descansar um pouco e já estarei nova em folha.

Em outras circunstâncias, ela ficaria sem pensar duas vezes, mas naquele dia...Novamente olhou para a pilha de roupas e para a mãe, considerando suas opções. Sabia que devia ficar e ajudar, mas ao mesmo tempo...Bem, poderia voltar mais cedo e terminar a costura, nem que tivesse que passar a noite em claro. Sim, era isso! Voltaria mais cedo!

— A senhora vai ficar bem? – indagou, segurando a mão da mãe.

— Sim. Vá, minha filha. E que Santa Sarah lhe proteja!

Luna deu um beijo na mão da mãe e saiu com o coração apertado. Ficou assim, sentindo-se culpada durante algum tempo enquanto Juan conduzia o carroção, mas ao vislumbrar as muralhas da cidade ao longe e ouvir os barulhos que vinham da festa, sentiu seu espírito mais alegre.

Deixaram os carroções do lado de fora, próximos à uma das portas de acesso à cidade. Retiraram as mercadorias e demais objetos necessários na montagem das bancas e dirigiram-se para dentro dos muros através de ruas que já estavam cheias de gente. Começaram a montar suas diversas bancas em um trabalho sincronizado, rápido e eficiente, todas alinhadas em uma das ruas principais. Era fácil reconhecer as bancas ciganas por suas tendas coloridas e mercadorias exóticas.

— Luna! Você viu a caixa dos anéis? – perguntou Juan, terminando de arrumar os colares sobre a banca.

— Estava com você, não? – retornou a jovem, parando ao lado do irmão que buscava entre as arcas que estavam no chão.

— Ah, porcaria! Acho que deixei no carroção! – praguejou Juan, fechando a cara.

— Eu vou buscar. – disse Luna, começando a refazer o caminho de volta até os muros.

— Cuidado!

Luna percorreu as ruas estreitas de pedra até a saída da cidade, encontrou a caixa de que precisavam e com ela embaixo do braço, desceu do veículo e voltou. Não conseguia deixar de admirar toda a agitação e alegria que tomava conta das ruas. Era tudo tão alegre! Mas, mesmo dentre tanta animação podia ver os olhares desconfiados de alguns nobres e pessoas ricas que passavam perto dela. Algumas a olhavam com curiosidade, provavelmente tentando entender o que uma loira fazia usando roupas ciganas, e muitas mais a olhavam com desaprovação. Ciganos sempre despertavam sentimentos contraditórios por onde passavam: ao passo que eram desejados por suas mercadorias exóticas ao mesmo tempo eram temidos, tidos até mesmo como ladrões, o que não era verdade.

Ela estava tão perdida em seus pensamentos que sequer percebeu dois meninos que se aproximaram e jogaram um líquido em cima dela, molhando quase completamente suas roupas. Surpresa, Luna parou abruptamente em seu caminho ao passo que as pessoas próximas afastavam-se, tapando o nariz. Com os braços abertos, Luna olhava desconcertada para a enorme mancha que havia se formado em boa parte da blusa e de sua saia, sentindo o odor terrível que emanava dela. Urina de bode! Aquela realização fez com que sentisse vontade de chorar! Precisava se livrar daquelas roupas com urgência, do contrário, acabaria afugentando todos os clientes! Mas, o que poderia fazer? Girou nos calcanhares, olhando para o caminho de saída da cidade...Poderia voltar ao acampamento e trocar-se, mas aquilo iria demorar muito e quando conseguisse voltar, já seria o final da tarde. Sentiu o desânimo tomar conta de si ante àquela realização: não teria outra opção a não ser ir embora, mas então, seus olhos pousaram em uma tenda de roupas e, fitando a caixa que trazia nos braços, uma ideia lhe surgiu.

Após uma longa negociação com o dono, finalmente Luna conseguiu trocar dois anéis por um belo vestido azul e ainda conseguiu convencer o comerciante a usar o interior da loja para lavar-se e trocar de roupa. O modelo tinha um corpete fechado por cordões dourados, mangas que desciam justas até próximo o pulso quando então se abriam em forma de asa ao passo que a saia era larga e drapeada, com uma pequena cauda. Assim que terminou de atar os cordões, Luna foi até o espelho para ajeitar os cabelos. Embora a moda fosse usar adornos na cabeça, ela optou por colocar uma guirlanda com pequenas flores secas que encontrou jogado num canto do pequeno depósito. Ajeitou o colar sobre o decote do vestido, recolocou os anéis e saiu.

O dono da tenda a olhou assombrado quando Luna passou por ele, em direção à rua, o que a fez sorrir. Talvez tivesse percebido que a guirlanda não fizera parte do negócio, mas por dois anéis, estava mais do que paga. Com um sorriso no rosto, Luna caminhou pelas ruas alegremente, notando que desta vez, os rapazes pareciam olhá-la com interesse o que a fez corar ligeiramente. Era, no mínimo, interessante passar pelas ruas e não ver as mães protegendo seus filhos, achando que ela poderia levá-los. Até os comerciantes aproximaram-se dela para oferecer seus produtos! Será que era assim que uma dama da nobreza se sentia?

Quando estava quase chegando à banca do irmão, um florista entregou-lhe uma flor silvestre, convidando-a para conhecer sua tenda. Luna agradeceu e virou-se para seguir seu caminho, abanando-se com a mão na tentativa de afastar o calor que sentia com aquela roupa. Entretanto, seu caminho foi bruscamente interrompido por uma garota que avançou em sua direção com olhos arregalados.

— Olhe só que colar mais lindo!! – exclamou a moça com admiração e tocando o colar que Luna levava pendurado ao pescoço. — Diga-me imediatamente onde você conseguiu tão deslumbrante peça!

Luna ficou sem ação por alguns segundos, observando a garota parada à sua frente. Ela trajava um vestido vinho muito escuro com um decote em V e saia drapeada. Seus cabelos eram castanhos assim como seus olhos e a cútis, muito pálida o que fazia ressaltar ainda mais o escuro de seus olhos. Ela trazia um adorno na cabeça em forma de cone e a julgar pela qualidade da roupa, sem dúvida, vinha de uma família abastada.

— Soledad!! Venha ver este colar! E olhe esses brincos! – continuou a moça, gesticulando para uma outra que estava a alguns passos, no meio da multidão.

— Você tem razão, Candela! São maravilhosos! – respondeu Soledad, parecendo ter a mesma idade que a primeira, porém, com cabelos mais claros e olhos verdes.

— Ali! Naquela banca! – respondeu Luna, escondendo a caixa atrás do corpo e apontando para a banca do irmão, onde o sobrinho tentava atrair alguns clientes.

— Ah...mas...são ciganos. – observou Candela com uma pontada de desânimo.

— E o que tem demais? – indagou Luna com curiosidade.

— Dizem que eles...são maus... – começou Candela.

— E ladrões, trapaceiros... – continuou Soledad, aproximando-se de Luna e cochichando em seu ouvido: — Dizem que eles sequestram crianças e as sacrificam...

— Isso é um absurdo! – retrucou Luna com veemência e chamando a atenção das garotas. Procurou se controlar, antes de prosseguir de forma mais branda: – Quero dizer, não passa de boatos e além do mais, aquele cigano tem peças lindíssimas e preços honestos. Veja a qualidade!

Luna novamente mostrou as peças para as garotas que animaram-se mais uma vez, mas ainda pareciam ressabiadas.

— Eu mesma possa acompanhá-las, se quiserem. – ofereceu-se.

As damas olharam-se entre si e então, com um sorriso e um aceno de cabeça, seguiram Luna até a banca.

— Candela, olhe esses brincos!!

— Esses rubis combinam perfeitamente com o seu vestido. – observou Luna com um sorriso enquanto via seu sobrinho encaminhando-se até onde elas estavam.

Ele a olhava com espanto e estava prestes a falar alguma coisa, quando Luna pisou violentamente em seu pé, fazendo-o curvar-se de dor.

— Por que fez isso? – perguntou ele entredentes, olhando-a com mágoa. — E porque está vestida desse jeito?

— Só finja que não me conhece. Depois eu te explico tudo.

— Soledad, procure Lúcia! Veja este pingente! Que primor!

E num instante, a banca estava cercada por uma multidão de mulheres querendo adquirir as joias de Luna. O sobrinho estava até tendo dificuldade em conter tantas mulheres que pareciam enlouquecidas, ao passo que Luna aproveitava-se de todo aquele entusiasmo para vender o máximo que conseguisse.

— Rodrigo! Estava mesmo à sua procura! – exclamou Candela, mostrando um anel com um leão esculpido. — Você ficaria muito elegante com essa peça, não acha, senhorita...

— Vásquez. – completou a moça, virando-se para o rapaz que estava parado ao seu lado. — Luna... Vásquez.

Quando ergueu os olhos, Luna sentiu como se carregasse o mais intenso dos invernos dentro do estômago. O rapaz era magro e alto, com cabelos castanhos que se encaracolavam levemente na altura das orelhas. Como a moda da época, ele trajava um gibão, um tipo de casaco abotoado na frente de um verde muito escuro, com mangas bufantes e gola alta sobre uma calça de um verde claro, ajustada às pernas bem torneadas e sapatos pretos de bico fino. Embora seu rosto fosse finamente delineado, como se tivesse sido esculpido por algum artista, tinha olhos grandes e castanhos que a observam com tal intensidade que a fez corar.

— Jovem dama. – disse ele por fim, cumprimentando-a com uma mesura.

— Meu senhor. – retribuiu Luna com os gestos que já havia visto outras damas utilizarem.

— E então, o que acha? – insistiu Candela. — Não importa! Vou comprá-lo para você!

Aquilo gerou tamanha estranheza em Luna que ela não conseguiu esconder. Entre os ciganos, jamais vira uma mulher comprar algo para algum homem, exceto, a mãe para o filho pequeno. O rapaz, porém, não pareceu sequer ter ouvido o que a moça dizia pois continuava a olhar fixamente para Luna que sentiu-se constrangida.

— Acho que nunca a vi por aqui, certo? – observou Rodrigo com sua voz melodiosa.

— Não. É a primeira vez que venho. - mentiu Luna sentindo o olhar do sobrinho cravado em suas costas. Ela nunca conversava com nenhum gajô e aquilo certamente chamara a atenção do garoto.

Sem perceber, Luna deixou a flor que havia recebido cair no chão. Começava a se curvar para pegá-la, mas Rodrigo fora mais rápido e num instante estava de pé próximo a ela. Ele tomou sua mão e depositou a flor em sua palma, fechando delicadamente os dedos de Luna.

Aquele breve toque fora o suficiente para fazer com que o coração de Luna batesse mais rápido. Sentia-se completamente hipnotizada pela figura elegante e gentil de Rodrigo.

— Ao que parece, já tenho um concorrente? – indagou ele, com um sorriso ansioso no rosto.

Luna imediatamente pensara que aquele sorriso parecia ter o brilho de mil sóis, ofuscando sua mente e fazendo com que se sentisse ligeiramente zonza. Era o calor e aquele vestido quente...tinha que ser! Não era possível que um simples toque, um elogio e um sorriso poderiam ter a força devastadora de uma explosão sobre ela...ou poderia?

— Com licença! Senhorita, poderia me ajudar? Gostaria de comprar um colar para minha esposa e não sei qual. – Um homem alto, magro e calvo puxou seu braço delicadamente, tentando chamar sua atenção.

— Tenho certeza que o garoto pode ajudá-lo, senhor. – respondeu Luna automaticamente, sem conseguir desviar os olhos de Rodrigo.

— Minha cara, não me leve a mal, mas eu realmente preciso de uma opinião feminina. Sabe, as mulheres são muito exigentes e tenho receio de errar... – continuou o homem, interpondo-se entre o casal, olhando de um para o outro: — E se eu levar algo de que ela não goste, pode ser que ela me ponha para fora do quarto por uma semana! – finalizou o homem soltando uma gargalhada e esperando que o jovem casal partilhasse de sua piada.

Luna permaneceu parada no mesmo lugar, parecendo hipnotizada, ainda que o homem tentasse obstruir sua visão.

— Venha, distinta senhora! Realmente, preciso de sua opinião. – insisitiu o homem, desta vez, arrastando-a pelo braço para longe de Rodrigo.

Antes mesmo que pudesse se dar conta do que estava fazendo, Luna puxou o braço de Soledad que ainda escolhia algumas peças e pediu a ela que ajudasse o homem. Sentia uma necessidade irracional de voltar para junto de Rodrigo que permanecia no mesmo local, acompanhando-a com o olhar.

— Senhorita, poderia auxiliar o nobre senhor na tarefa de encontrar uma joia a altura de um bom presente para sua esposa? – perguntou rapidamente, empurrando o homem sutilmente para junto da outra dama.

— Sim, claro! – respondeu a moça, puxando-o pelo braço em direção à banca.

— Não! Senhorita, eu acho que tem... – protestou o homem, tentando puxá-la novamente, mas Luna habilmente se desvencilhou de seu braço e afastou-se.

— O senhor está em mãos muito hábeis! Confie em mim! – disse ela, retirando-se para o local onde Rodrigo estava.

— Mais um concorrente? – zombou Rodrigo alçando uma sobrancelha, tão logo Luna o alcançou.

— Como se isso fosse possível! – respondeu Luna no mesmo tom zombeteiro. Nunca ninguém havia lhe feito a corte.

— Com uma beleza dessas, acho que terei de tirá-la daqui imediatamente antes que tenha que lutar com metade da cidade pela sua atenção, milady.

Luna sentiu as bochechas corarem imediatamente, ao mesmo tempo em que sorria sem-graça. Ninguém jamais havia falado daquela forma com ela. Elogios, aliás, não era algo a que os homens ciganos fossem muito dados...

— Posso levá-la para um passeio, em algum lugar mais calmo onde possamos conversar?

No instante em que ela pousou sua mão sobre a que ele mantinha estendida para acompanha-lo, Luna sentiu seu estômago se contorcer em expectativa. Estava saindo de perto do clã na companhia de um gajô que jamais vira antes em sua vida e, embora uma vozinha no fundo de sua mente insistia em dizer que aquilo era um erro, seu coração parecia dar piruetas dentro do peito.

Como prometido, Rodrigo a conduziu pela multidão, sempre mantendo sua postura altiva e sua mão firmemente presa na dele, o que fazia com que Luna se sentisse estranhamente segura. Mais segura do que jamais havia se sentido até então e com passos rápidos, ele a guiava por meio da multidão que apinhava as diversas ruas até que finalmente as músicas e os sons da festa começaram a ficar mais distante a movimentação diminuía. Após passarem por uma porta em forma de arco conhecida como Puerta del Perdón, entraram em um pátio ajardinado com diversas laranjeiras enfileiradas e uma grande fonte no centro. Ali, durante a dominação árabe, os muçulmanos faziam as abluções (lavagens antes das orações) antes de adentrarem a grande mesquita que ficava ao lado, mas que, após a reconquista cristã da região, agora estava sendo convertida no que seria a futura catedral de Sevilha.

Sentaram-se à beira da fonte e Rodrigo mergulhou a mão na água fria, passando-a gentilmente na face de Luna que fechou os olhos para apreciar melhor tanto o frescor proporcionado pelo líquido quanto o toque suave das mãos do rapaz. Diferente dos ciganos, as mãos de Rodrigo eram claras e finas, sem traços de calosidades tão comuns aos homens acostumados aos trabalhos manuais.

— Melhor?

O som de sua voz melodiosa a fez abrir os olhos para encontrar os de Rodrigo que a observavam com um misto de preocupação e curiosidade.

— Sim, bem melhor. – respondeu Luna, levando as mãos ao rosto e constatando o quão fresco estava naquele momento.

— Suas bochechas estavam tão vermelhas que, por um momento, achei que você pudesse vir a desfalecer. – Ele exibiu um sorriso torto antes de mudar de assunto. — E então, está sozinha?

— Sozinha? Não... Estou com a minha família. – respondeu timidamente. — E você? É daqui?

— Ah, não...Minha família é de Salamanca, uma cidade na região oeste. Meu pai é o Barão de Zarzuelo e ele é muito amigo do Conde de Aquivadir. Meu pai costumava vir sozinho ao festival, mas este ano resolveu trazer a família também. – Ele inclinou-se e cochichou próximo ao ouvido de Luna. — Acredito que ele queira aproveitar a reunião de um monte de gente endinheirada aqui para arrumar um casamento vantajoso para uma das minhas irmãs.

Luna sorriu ante o olhar maroto do rapaz que prosseguiu falando com animação sobre a viagem até Sevilha, as pessoas que havia encontrado, as festas a que tinha ido, os banquetes, a comida e tudo o mais que fazia com que Luna ouvisse sua narrativa com evidente encantamento. Ela observava atentamente as belas feições do rapaz e seu sorriso amplo, de dentes muito brancos e alinhados, seus gestos delicados e ao mesmo tempo, espontâneos. Ele conseguia ser elegante sem perder a jovialidade, provavelmente, fruto de uma criação em uma família abastada.

— E você, senhorita?

— Eu?

— Sim. Qual a sua história?

Luna considerou o rapaz que a olhava em expectativa por alguns instantes. Também ele torceria o nariz para ela tão logo descobrisse sua verdadeira origem? Aquele simples pensamento fez com que seu peito se apertasse ante à mínima possibilidade de perdê-lo. Deveria mentir?

— Minha família é de Valência. – começou Luna lentamente, mas sendo interrompida pelo som de cornetas e outros instrumentos musicais que a fez olhar intrigada para Rodrigo.

— A parada! Eles devem estar passando pela rua. – explicou o rapaz.

Ambos olharam-se com um sorriso divertido antes de saírem com passos apressados para a rua. Sim, a parada composta por algumas trombetas, violões, castanholas e outros instrumentos percorria as ruas da cidade convocando as pessoas para se reunirem, seguindo atrás dos músicos, cantando, batendo palmas e dançando. O casal imediatamente se juntou ao festejo e acompanhou a multidão, cantando e rindo sem se separar um único momento durante o tempo em que estiveram ali. Percorreram uma boa parte da cidade até que finalmente passaram na frente dos jardins do castelo do Conde, que eram gigantescos e perfeitamente aparados. Rodrigo, então, puxou Luna pela mão e os dois saíram do cordão em direção ao palácio.

— Onde estamos indo? – perguntou Luna enquanto Rodrigo a puxava atrás de si.

— A um baile. Toda garota adora um baile, não é?

Luna não pode reprimir uma gargalhada legítima enquanto cruzavam os belíssimos jardins do castelo com o vento a agitar-lhe os cabelos soltos. Quando finalmente chegaram à entrada do palácio, a cigana sentiu um gelo no estômago ao ver os guardas que controlavam a entrada, logo imaginando que eles jamais a deixariam entrar. As festas ali eram para um grupo seleto e não seria ela, uma "zé ninguém" que conseguiria ser admitida àquele evento, mas, para sua surpresa, Rodrigo simplesmente disse que estavam juntos e os homens se afastaram, sem emitir um único ruído.

Atravessaram correndo um imenso saguão todo em mármore, com imponentes colunas alvas em direção ao salão, desviando-se das pessoas que circulavam pelo espaço. Ali, ao som de uma música alegre vinda de alaúdes, tiorbas, violões, flautas, tambores, címbalos e castanholas, diversos casais dançavam no centro para onde Rodrigo a puxou. Ele fez uma mesura à sua frente, como era o costume e então integraram-se ao grupo, dançando alegremente, ora trocando de par, ora voltando a se encontrar. Embora soubesse apenas dançar o flamenco, não fora difícil para Luna aprender rapidamente aqueles passos e assim, acompanhou com maestria seu parceiro até o final da música quando recebeu um convite para dançar de um outro rapaz.

— A senhorita já está acompanhada, meu caro. – respondeu Rodrigo por ela, interpondo-se entre os dois e endireitando o corpo numa evidente postura de desafio.

Luna não conseguiu conter o riso, lembrando que Rodrigo, com aquela pose toda, parecia o pavão que tinham no acampamento.

— Mais candidatos? Definitivamente, precisamos ir para um local mais tranquilo antes que a fila de admiradores chegue aos portões! – comentou ele em tom zombeteiro e arrancando uma risada de Luna, sentindo o rosto ruborizar o que lhe provocou uma onda de calor que a fez abanar-se. — Venha! Vamos arrumar uma bebida para nos refrescar!

Novamente, ele a puxou pela mão, levando-a até uma das amplas janelas que davam para o jardim exterior. No caminho, passaram por um garçom de cuja bandeja Rodrigo retirou dois copos, entregando um à Luna. Por todo o caminho, ela podia ver os olhares interessados que os homens lhe lançavam e os intrigados e curiosos vindos das mulheres. Elas, em especial, a olhavam com algo mais do que curiosidade: a invejavam. Desceram os degraus que davam para o gramado quando finalmente Rodrigo diminuiu o passo até quase pararem na entrada de uma gloriosa alameda arborizada.

Luna levou a taça aos lábios e saboreou gratamente o frescor do vinho que lhe descia pela garganta. Ele tinha um gosto adocicado e suave que a fez sentir-se melhor quase que imediatamente. Sentaram-se em um banco na alameda, à sombra de uma árvore frondosa e ficaram observando alguns pássaros que buscavam comida no gramado logo à frente. Ao longe, podiam ver alguns casais que passeavam por ali, embora a grande maioria dos convidados estivesse reunida no salão.

Próximo ao banco em que estavam, havia diversas roseiras em flor e Luna curvou-se para sentir o perfume delicado que emanava delas. Estava de olhos fechados enquanto aspirava as pétalas delicadas, mas ainda assim, tinha consciência do olhar penetrante de Rodrigo em sua direção o que a fez corar novamente. Num momento de distração, acabou espetando o dedo em um espinho, recolhendo a mão imediatamente e levando-a aos lábios com uma expressão de dor.

Mas antes que pudesse alcançar seus lábios, Rodrigo tomou sua mão entre as suas e encarou fixamente o pequeno filete de sangue que descia pela pele clara de Luna. Levou o dedo da jovem aos lábios, sugando-o levemente para interromper o sangramento o que provocou sensações completamente desconhecidas pelo corpo da garota. Seu coração havia disparado novamente e o corpo todo tremia de uma forma incontrolável, deixando-a ofegante. Ele repetiu o processo mais duas vezes até que finalmente o ferimento não era mais do que um minúsculo ponto vermelho, mantendo a mão de Luna entre as suas. Rodrigo estreitou a pouca distância que havia entre ambos e, delicadamente deslizou a palma da mão pelo rosto da jovem para, no instante seguinte e puxando-a gentilmente pelo queixo, tomar-lhe os lábios rosados.

Os lábios do rapaz eram quentes e úmidos, fazendo com que Luna pensasse que poderia desfalecer a qualquer momento, fazendo-a concentrar-se apenas em como não sufocar no meio daquele mar de emoções que a invadira. E então, sentiu a língua de Rodrigo passar languidamente sobre seus lábios o que a fez instintivamente entreabri-los ao mesmo tempo em que ele a envolvia em seus braços, formando uma barreira de proteção ao seu redor. Naqueles minutos, Luna simplesmente se entregou às sensações que ele lhe provocava, desfrutando o suave sabor de vinho que jazia em seus lábios, ao passo que suas línguas se enroscavam em um balé sincronizado. Desejava ficar ali para sempre, presa naquele encantamento, imersa no oceano de emoções que ele lhe provocava ao mesmo tempo em que pensava se era assim que todos se sentiam em seu primeiro beijo.

Quando finalmente Rodrigo interrompeu o contato, ambos estavam ofegantes e Luna podia sentir as bochechas queimarem como brasa. Virou-se para as roseiras, buscando recompor-se e, ao mesmo tempo, temerosa de mirar o semblante de Rodrigo e constatar que ele não havia sido tomado por emoções tão violentas quanto ela. Por alguns instantes, ambos permaneceram em silêncio, até que finalmente Luna ousou lançar um olhar de soslaio ao rapaz que mantinha os dedos esguios sobre os lábios, mirando o chão como se dele pudesse obter alguma resposta para o que quer que lhe fosse na alma. Ele parecia tão abalado quanto a própria Luna, o que a fez sentir-se um pouco mais aliviada e muito lentamente, seus olhares se encontraram uma vez mais.

— Tão doces.... – sussurrou ele, fitando-a com olhos brilhantes. — Seus lábios são tão doces... – ele novamente estendeu a mão e tocou o rosto de Luna. — Você é diferente de qualquer outra garota que eu já conheci...Você é... — Rodrigo a puxou para si novamente, e com o rosto muito próximo ao dela, indagou: — Quem é você?

E novamente a beijou, tão docemente como da primeira vez, mas assim que se afastaram, Rodrigo levantou-se e estendeu a mão para ajudá-la. O sol começava a se pôr no céu e ela sabia que era hora de voltar. O rapaz havia insistido para acompanhá-la de volta até a família, mas Luna insistiu em ir sozinha e assim, os dois se despediram na saída do castelo prometendo encontrar-se no dia seguinte, no Pátio de los Naranjos.

Quando regressou ao local da banca do irmão viu que ele já começara a recolher as mercadorias.

— Desculpe, senhora. Só amanhã. – disse, guardando alguns anéis na caixa de madeira.

— Perdeu o juízo, irmão? Sou eu! – respondeu a garota, parando a seu lado e ajudando-o na tarefa.

Juan ficou perplexo quando a reconheceu e Luna teve que lhe contar toda a história sobre como viera parar naquele vestido. Já havia se preparado para levar um sermão por ter sumido durante toda a tarde, mas ele estava tão contente pelos bons negócios que havia feito naquele dia que sequer se incomodou com a ausência da jovem. No caminho de volta ao acampamento, Luna observou sonhadoramente a paisagem que aos poucos era envolvida pela noite quente que se aproximava, reconhecendo que estava exausta após tantas emoções.

Pensavasomente em tomar um banho e deitar-se, mas assim que se deparou com a pilha decosturas quase intacta, a realidade se chocou violentamente contra ela. Haviase comprometido a voltar mais cedo para ajudar a mãe, mas tanta coisaimprevista acontecera naquele dia que ela simplesmente havia se esquecido dacostura. Novamente, com um suspiro resignado, acendeu a lamparina e,sentando-se no banquinho, começou a costurar, observando a mãe que pareciadormir tranquilamente.    

Hello, people!!

Surpresa!! Capítulo extra hoje porque estarei offline nos próximos dias. =)

Este festival ainda promete muitas surpresas. Eeeee...não esqueça a estrelinha! ;-)

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