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40 - O Tempo de Deus

— Oh, por favor, pode deixar esse rapaz entrar. — disse Grace Marie ao passar pela portaria do prédio com uma bíblia em uma das mãos. — Eu conheço ele, é o namorado daquele menino do décimo quinto andar. O que não é casado com o índio. — explicava ao porteiro que interfonava para o apartamento de Alexander, mas não obtinha qualquer resposta.

— Obrigado, senhora. — Fredrick disse enquanto caminhava ao lado dela até os elevadores. — Vou ligar para ele e aguardar aqui embaixo. — informou. — Pode ser que Alex não esteja em casa e...

— Ah, ele está sim. Pode subir! — Grace Marie falou animadamente. — Fui na casa dele hoje à tarde para levar um bolo que fiz. Meu filho diz que os doces fazem bem para o humor, sabe? Ele é médico. — Sorriu. — Pode ir lá, seu namorado deve ter ido dormir. Parecia cansadinho, coitado... — Suspirou e fez o sinal da cruz. — Vai lá, bata na porta até ele atender. A Bíblia diz que há tempo para todas as coisas e todos os propósitos. — Voltou a sorrir e entrou no elevador, sendo acompanhada por Freddy. — Imagino que agora seja tempo de acordar... — gargalhou.

— Boa noite, dona Marie. — Fredrick cumprimentou a senhorinha antes que ela descesse do elevador em seu próprio andar. — Obrigado. — Mal terminou de dizer e já estava no décimo quinto andar. Então, respirando fundo e desejando que Alex não estivesse de fato dormindo, bateu na porta.

Minutos depois, foi recebido por um Alexander com nítida cara de sono. — Você dormiu o dia todo? — indagou e percebeu que seu próprio tom estava impaciente demais. Sorriu para disfarçar a atitude que reprovava.

— Não. Acordei para atender a vizinha, que me trouxe bolo de chocolate, comi, comecei a assistir a uma série e depois caí no sono outra vez. Desculpe ter demorado para lhe atender. — Alex falou e deu espaço para que Freddy entrasse em sua casa. — Como foi seu dia? — Seu jeito de falar era calmo, mas havia tensão em sua voz.

— Bom. — O doutor considerou positivo o saldo do dia. — Saí com Allie e as amigas dela, passamos no seu estúdio para pegar o Jean, comemos lá perto... Depois, Louise ligou e pediu para eu a ajudar no hospital. — Se sentou no sofá e recebeu o copo d'água que o fotógrafo lhe trouxe.

— Ela tá bem? Foi tudo bem no hospital? — Alexander perguntava enquanto andava para lá e para cá, apressado para preparar algum jantar. Sabia que Fredrick considerava seu cansaço anormal, assim, queria provar para ele que se sentia bem e tinha muita energia.

— Louise está bem sim. Voltamos a nos falar... quer dizer, mais do que o básico, sabe como é. — Fredrick se levantou e foi até Alexander na cozinha. — O que tá fazendo aí, hã? — Ainda estava sem graça pelo jeito seco com o qual falara com ele, por isso, tentava demonstrar afeto para deixar o fotógrafo à vontade. — Não precisa se preocupar em fazer comida, deus, a gente pede uma pizza hoje, o que acha? — Abraçou-o por trás e beijou o topo da cabeça dele.

— Não, nada de pizza hoje, estamos tentando comer bem, lembra? — Alex sorriu e retribuiu o carinho do médico com um beijo no rosto deste. — Que tal uma guacamole e alguns nachos caseiros? — Sugeriu e viu o doutor concordar.

— Você realmente manda bem na cozinha, na verdade, cê manda bem em tudo o que faz. — Fredrick não poupou o elogio. — Já que cê quer fazer comida, me deixe te ajudar. O que eu faço?

— Pode picar as cebolas e o coentro. — Alex informou. — E tem um monte de coisa que eu faço mal.

— Ah é? Tá aí, me conta mais de você, quais são suas habilidades? — O médico perguntou com um sorriso.

— Hm, vamos ver, sei cozinhar, sou fotógrafo, cinegrafista e professor...

— Cinegrafista? — Fredrick interrompeu Alexander.

— É a minha formação mais recente, uma pós que fiz um pouco antes de me mudar de Dakota do Sul. — Alexander descascava abacates enquanto falava. — Como a ideia era ir morar na Califórnia, ser habilitado para trabalhar com direção de fotografia em filmes era uma ótima ideia. Acabei passando a usar o conhecimento para gravar eventos quando me mudei com Lucas para essa cidade.

— Legal, então você queria trabalhar em Hollywood? — Freddy se interessou pelo assunto.

— Não exatamente. Eu queria tirar fotos. Era minha paixão, não importando o quê eu fotografaria ou para quê... — Alex comentou e depois suspirou de um jeito triste. — Quando descobri que podia ganhar dinheiro com fotografia, eu... bem, eu soube que era isso o que queria para minha vida. Hoje, trabalho pedindo dinheiro para investidores chatos enquanto tento garantir que os projetos em que eles investem trarão o retorno esperado. — Riu. — É engraçado, o caminho que segui na vida é tão diferente daquele que tinha imaginado...

— No meu caso, foi o contrário. — Freddy reservou o coentro e as cebolas picadas. — Decidi que faria medicina, então me formei, me especializei e, hoje em dia, trabalho com isso. — comentou. — Continuo com os investimentos, seguindo a tradição familiar e só... Nunca precisei me arriscar profissionalmente, tudo sempre foi muito certo, muito de acordo com o plano.

— Ah, me ajuda a fazer o que planejo dar certo? — Alexander choramingou brincando. — Sou todo perdido na vida, planejo "a" e faço "b". Pode ver, fui te encontrar para te explicar porque não poderíamos ficar juntos e o que aconteceu? Faz duas semanas que reatamos. — Sorriu e olhou para o médico de soslaio.

— Se ter voltado comigo é o resultado do fato de você ser perdido, pode continuar perdido, meu amigo. — Freddy respondeu a fala alegre do namorado. — E agora, o que posso fazer? — perguntou, referindo-se ao jantar.

— Junte os ingredientes da guacamole enquanto preparo os nachos. — Alexander pediu e o médico obedeceu. Cerca de uma hora depois, os alimentos estavam prontos, sendo levados pelos dois homens para a sala de estar onde o fotógrafo tinha prometido mostrar o seriado que havia começado a assistir. Sentaram-se juntos e trouxeram cobertores. Comeram, assistiram TV, riram e quando estavam prontos para irem para o quarto, o fotógrafo indagou: — Agora que está bem alimentado, vai me dizer o que houve? Não parece estar muito feliz...

Fredrick foi pego de surpresa pela questão, por isso, não respondeu logo de cara. — Não aconteceu nada... pode ficar tranquilo. — Decidiu que não queria preocupar seu deus.

— É por minha culpa, não é? — Alexander se encolheu no sofá e puxou os cobertores para si. — Eu sei que ando meio sem energia pra fazer nada... deve estar sendo entediante pra você...

— Já que tocou no assunto, não vou mentir dizendo que não me preocupo, mas você não está me entediando, deus, não quero que pense assim. — Fredrick tratou de tranquilizar o amante, se aproximando dele e abraçando-o pelos ombros. — É só que tenho medo de não conseguir te ajudar como gostaria.

— Freddy... não queria te dar trabalho, eu...

Um beijo interrompeu a fala do fotógrafo. — Me fala dos seus pesadelos... — Encerrou o assunto anterior antes que Alexander começasse a se culpar por não estar bem o suficiente. — Tem tido vários esses dias...

— Comentei com a psicóloga sobre eles e ela disse que pesadelos são um dos jeitos possíveis de reviver meu trauma, quer dizer, as sensações que tive e tal... — Alex se pôs a explicar. — Ela acha que meu estresse e ansiedade se potencializaram porque voltei a me relacionar sério, isto é, deixando tudo às claras e, por consequência, expondo minhas fragilidades, enfim... É engraçado, pois, ela diz que ter voltado contigo é uma boa coisa, já que me expor a uma situação semelhante aquela que gerou meus traumas pode me ajudar a ver que... — Respirou fundo. — Que o que aconteceu entre mim e meu ex não vai se repetir em todo relacionamento que eu tiver.

— Eu sinto muito pelo que esse monstro fez com você. — Fredrick apertou o abraço que dava em Alex. — E fico feliz por sua psicóloga achar que minha presença pode te ajudar. — Sorriu. — Saiba que eu jamais faria algo para te machucar, física ou emocionalmente, eu...

— Eu acredito em você. — Alexander falou e virou a face em direção a Fredrick, se esticando levemente para lhe dar um selinho nos lábios. — Eu queria poder mostrar isso. — Sorriu. — Você não acha estranho, Freddy, a maneira como nos conhecemos e como nós ficamos ligados? De repente, me vi misturado a sua vida, trabalhando com Allie, com Jean e contribuindo com o livro que escreveu com a dra. Louise...

— Mesmo longe, era como se estivéssemos perto. — O médico concordou.

— Eu, todo triste pensando em ti enquanto estava loucaço no ácido na Parada LGBT. — Alex riu de si mesmo.

— E eu confuso pensando em você quando estava no Brasil, no enterro da minha ex-sogra. — Fredrick confessou.

— Às vezes, não acredito que fiz você se descobrir bi, sabia? Fui te pedir aquele isqueiro morrendo de medo de você ser hétero e surtar por ser abordado por um gay. — Alexander se afastou um pouco do médico e riu ao se lembrar. — Sorte minha que cê tem a mente aberta...

— Mesmo que eu não tivesse, Alex, sinto que não tive muita escolha quando te vi. — Freddy segurou uma das mãos do fotógrafo. — Meu coração literalmente parou de bater.

— Ah, não fala bosta...

— Não tô falando bosta, eu tive uns quinze infartos naquela noite. Todos por sua causa. — Fredrick brincava com as palavras e com os dedos do amante. — Como Allissa costuma dizer: foi eita atrás de eita.

Alexander gargalhou e Freddy amou escutar aquela risada. — Foi tão bom sentir o que senti naquele dia... meu corpo inteiro queimar de desejo...

— Sabe, eu quero... — O médico se interrompeu antes que se deixasse levar pelo desejo. — Dormir... é isso. Está tarde. — Olhou para o próprio relógio. — Já passa da meia-noite...

— Vamos levar as coisas para a cozinha. Depois, podemos tomar um banho e deitar. — Alex achou estranha a mudança de assunto, mas não demonstrou. — Só de pensar que amanhã ainda temos que ir na clínica, já fico cansado. — Riu e se levantou do sofá, apanhando os pratos e os copos.

Freddy seguiu Alexander até o outro cômodo, se recriminando por desejar que o banho sugerido pelo deus fosse compartilhado entre os dois. O médico tinha perdido o chão ao ouvir o fotógrafo dizer que seu corpo queimava de desejo. Como ele podia falar aquilo daquele jeito? Com um sorriso nos lábios, tratando do assunto como se falasse da chuva que cai ou do café que se toma em um domingo de manhã.

— Quer que eu lave a louça? — Fredrick indagou, imaginando que a água fria pudesse apagar o fogo que começava a se acender em suas entranhas.

— Se quiser, fique à vontade. — Alexander respondeu e se virou para sair da cozinha. — Eu é que não vou lavar nada agora... — comentou rindo. — Vou para o chuveiro e fico te esperando na cama, ok? — Passou pelo médico e lhe deu um beijo não tão inocente. Ou foi assim que Freddy percebeu.

A fera estava desperta.

E lutava para escapar da prisão que se chamava razão.

Depois de secar e guardar os pratos que lavou, Fredrick seguiu para o quarto que compartilhava com Alexander. Lá, se sentou na cama, removeu os sapatos e as meias, se deitou e ficou observando o teto enquanto esperava o namorado sair do banheiro. Nesses breves instantes, sua mente viajou para o dia em que o conheceu, rindo por tê-lo conhecido primeiro no "sentido bíblico" e depois no tradicional. Se lembrava ainda de como se estremecia diante dele. Seus joelhos tremiam, seu coração errava o ritmo das batidas, borboletas dançavam em seu estômago... Ah, que misto mais incrível de sensações! E que surpresa, não? Quem diria que Fredrick Warren, mais de um ano depois, ainda estaria caído de desejo e amor pela mesma criatura vil que roubou seus batimentos cardíacos?

— Bissexual... — A palavra escapou sussurrada pelos lábios do doutor. Só um ano havia se passado desde que fora capaz de reconhecer outros aspectos da própria sexualidade. Ainda restava um longo caminho de autoconhecimento e aprendizagem, um que nem de longe se resumia aos gêneros pelos quais Fredrick se interessava. No entanto, já tinha começado sua jornada, vislumbrando-se capaz de ser não apenas um amante casual, mas namorado, se possível, marido. — Marido do meu marido... — Sorria ao pronunciar as palavras. Era incrível como a ideia soava surreal e, ao mesmo tempo, natural.

Surreal porque o médico já tinha ouvido falar de pessoas maduras que assumiam uma identidade transgênero ou uma sexualidade não hétero, mas jamais havia imaginado que tal pessoa a surpreender a si própria e ao mundo poderia ser ele mesmo. Para Fredrick, essas coisas aconteceriam com os outros, nunca consigo.

Natural porque nunca internalizou o ódio que diziam que deveria sentir. Não se sentia ofendido pela sexualidade alheia, tampouco pelas maneiras com as quais as pessoas se apresentavam em sociedade. Que diferença fazia? Para Freddy, nenhuma.

Nunca associou amor com reprodução. Como tais coisas poderiam estar ligadas? Sendo que até os animais irracionais adotavam estranhos como parte de seus bandos? Privado da capacidade de gerar filhos, como poderia crer que um sentimento tão sublime como o amor seria dependente de uma simples habilidade biológica?

Se os pais não somente amavam o sangue de seu sangue, por que então um ser humano amaria apenas aquele que consigo pudesse se reproduzir?

— "Dois iguais não fazem filhos." — diziam os que se recusavam a compreender que quem ama não precisa querer se multiplicar. Até porque, a natureza não removia dos que estavam em relações homoafetivas a capacidade de procriar. Não. Pelo contrário. Fosse por querer ou por necessidade, filhos seriam gerados e a humanidade não se extinguiria. Aliás, se a humanidade tivesse que se acabar, provavelmente, seria pelo mal que causava ao planeta em vez de por causa da escolha consciente de não se reproduzir.

Sim, Fredrick acreditava nisso. O amor não estava restrito a reprodução e, como ele, o sexo era livre. — Livre... — Naquele instante, sentiu-se como se estivesse flutuando. Liberto até mesmo da gravidade que o prendia ao chão. Amar quem queria era tão melhor do que amar quem deveria... Ah, que deliciosa sensação. E sabe-se lá porque seu coração quis amar o homem problemático no chuveiro.

Era como dizia aquela música que Elenice gostava. Como era mesmo o nome dela? Eduardo e Mônica, da banda Legião Urbana:

"Quem um dia irá dizer

Que existe razão

Nas coisas feitas pelo coração?

E quem irá dizer

Que não existe razão?"

Era em momentos como este que Freddy começava a considerar a existência de ordenamento maior que previa todas as coisas. Uma razão pela qual tudo acontecia como acontecia. O momento em que o médico cogitava levar à sério a existência de um deus.

Um que colocou Elenice em seu caminho, providenciando à ela uma vida melhor antes que viesse o câncer. Um que trouxe uma filha sem pai à um pai sem filhos. Talvez, houvesse mesmo alguém que puxasse as cordas, que pudesse responder porque, às vezes, criancinhas morriam. Alguém que fazia florescer amor em um mundo cruel.

— Deus... — sussurrou o médico, referindo-se a hipótese da existência de um criador.

— O que foi? — Respondeu Alexander, achando que Fredrick o estava chamando pelo apelido carinhoso. — Freddy...

— Hã? — O doutor deu de cara com um Alex meio deitado na cama, curvado sobre seu corpo. — Eu dormi?

— Parece que sim. — O fotógrafo sorriu e acariciou a face do médico. — Saí do banheiro e você tava deitado aqui, de repente falou "deus" e eu achei que fosse comigo. — Apoiou uma mão no peito de Freddy e lhe deu um beijo mais comprido e profundo que o normal, colando o próprio corpo no do doutor..

— Convencido. — Fredrick brincava com as mechas de cabelo molhado que caiam sobre a face de Alexander enquanto, disfarçadamente, saia de debaixo dele. Tentava resistir ao anseio por mais daquela intimidade.

— Ora, você que começou a me chamar de deus. — Alex se levantou e voltou até o banheiro, onde apanhou um creme para cabelo e começou a passar.

— Eu tava pensando na gente, como nos conhecemos e como minha vida mudou desde então. — Seguiu o fotógrafo e o abraçou por trás, mas logo o soltou, se arrependendo ao perceber que o corpo dele se eriçou e estremeceu, sedento por uma carícia mais profunda.

— É como eu tava dizendo... quando penso naquela noite, custo a crer que fui seu primeiro homem. — Alexander comentou enquanto olhava para o espelho, vendo o reflexo de Fredrick ficar mais vermelho. Sorriu. — Não costumo ranquear esse tipo de coisa, mas se eu tivesse um top 10 melhores primeiras fodas, a nossa estaria no pódio.

— Eu aqui todo romântico e você sendo um grosso, ranqueando fodas. — Fredrick repreendeu o amante em tom de brincadeira, dando ênfase à palavra foda.

— Eu sou grosso, mas você é mais. — Alex retrucou e piscou um dos olhos, deixando óbvio o duplo sentido da frase.

— O que tá acontecendo contigo hoje? — indagou um Freddy falsamente indignado.

— Eu também tava pensando na noite em que a gente se conheceu. Lembra? — Alexander se virou de costas para o balcão da pia do banheiro. Com uma mão, puxou Fredrick para mais perto, enroscando ambos os braços no pescoço dele. — Tava tendo que me segurar para não subir em ti ali mesmo, no meio de todo mundo. Sério, me senti escravizado pelos meus próprios instintos. Normalmente, eu ficava com quem fosse apenas... vamos dizer... atraente, mas você... acho que se a gente não tivesse ficado naquela noite, eu teria voltado triste para casa. — Fez cara de decepção e depois sorriu. — Faz tempo desde que a gente...

— Alexander... — Fredrick segurou os dois braços do fotógrafo, se soltando do abraço dele e se afastando. Respirando fundo, percebeu que sua temperatura corporal havia subido. Estava ofegante e sentia toda a pélvis queimar. — Você disse que não... que nós não faríamos isso...

— Ah, claro. — O sorriso de Alex murchou e ele abaixou a cabeça. — É... você sabe que minha decisão não tem nada a ver com o que sinto por ti, não sabe? Quer dizer, até tem, mas não de um jeito ruim... pelo menos não pareceu ruim quando pensei, eu... — O fotógrafo se desencostou da pia e suspirou. — Todas as vezes... com todas as outras pessoas, o que eu fiz... bem, o que eu fiz não tinha significado, era vazio, satisfazia uma necessidade física, mas hoje vejo que... que o que eu fazia só ajudava a aprofundar ainda mais tudo o que me afastava dos outros e de mim mesmo. Não quero que seja assim com a gente, Freddy...

— Não será, deus... — Fredrick se aproximou novamente de Alexander e segurou suas mãos. — Nunca foi assim com a gente.

— Esse é o ponto. — disse Alex e Freddy ficou confuso. — Tenho me segurado perto de você, resistido a vontade e a saudade que sinto de você. Mas a verdade é que a gente... a gente sempre pareceu certo pra mim. Nunca foi sem sentido com você e, sendo bem sincero, se antes já era certo, não sei porque pensei que agora não seria. — Alexander foi sincero.

As mãos de Fredrick trilharam um caminho ascendente dos pulsos até os ombros de Alexander, de lá partiram ainda mais para o alto, passando seus dedos pelo maxilar de ângulos suaves e entrelaçando-os nas mechas dos cabelos que cobriam o pescoço dele. Ali, as mãos se fecharam, segurando os fios castanhos com força, fazendo com que o fotógrafo inclinasse a cabeça para trás. O movimento fez com que o cheiro dos produtos que Alex usava nos cabelos e na barba em crescimento - cheiro de zimbro - tomasse o ar. O mesmo aroma da noite em que se conheceram e que enlouqueceu o médico, cheiro de gin, perfume inebriante...

Fredrick puxou Alexander para perto de si e, abraçando-o, enfiou o nariz em seus cabelos, aspirando o aroma de sua pele limpa misturado ao cheiro da bebida alcoólica produzida a partir das mais finas especiarias. Sentiu os braços do fotógrafo o envolverem, seus dedos compridos agarrando a gola de sua camisa social. E então veio o calor, irradiando a partir de seu peito e sua pélvis, forçando o doutor a empurrar esta última parte de seu corpo contra os quadris do deus que já se encontrava totalmente entregue.

Abrindo a boca, tentou beijar o pescoço de Alex, mas a fome que sentia dele era tamanha que, ao invés disso, sugou sua pele, deixando uma marca avermelhada no lugar. Não queria correr o risco de reviver os traumas de uma pessoa que já havia sido sexualmente agredida. — Desculpe, eu... — Começou a falar em tom preocupado até que foi interrompido por dedos que agarraram seu queixo e se infiltraram em sua boca.

— Não se envergonhe, doutor. — A voz de Alexander soou rouca. — Eu sei que você tá louco pra me comer. — Voltando a segurar o queixo de Fredrick, olhou nos olhos dele. — Não preciso da sua pena. — disse com firmeza. — Se vamos fazer isso, não admito que se segure, me entendeu?

E lá estava o deus encarnado em toda sua glória. Sabendo exatamente o quê e como desejava.

Freddy não conseguiu fazer nada além de sorrir. Satisfeito por sentir a vida pulsar no corpo de Alex. Então o espírito dele não estava morrendo, afinal. Ainda havia uma luz que brilhava, uma chama que queimava mesmo estando sob um véu de dores. Bem-aventurado era aquele que tinha a chance de ver a dádiva do amor que se guardava como uma pérola que se escondia no interior de uma ostra.

— Ah é? — O médico indagou com um sorriso maldoso. Se sentia desafiado. — Espero que tenha descansado bastante hoje, e que tenha se alimentado bem, pois eu vou acabar contigo agora! — Prometeu e no mesmo instante agarrou o fotógrafo, beijando-o na boca, no pescoço, nos ombros e onde mais houvesse pele exposta. Erguendo-o levemente, colocou-o sentado sobre o balcão da pia e começou a desatar o nó que prendia do roupão branco e felpudo que ele usava.

Aquela noite estava longe de acabar.

Notas Finais: Agradeço a leitura! Espero que esteja gostando. Antes de ir, não esqueça de clicar na estrelinha e deixar o seu comentário para me ajudar, ok? Abraços

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