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34 - Maldita Salvadora

ESTADOS UNIDOS - NOVEMBRO

— Caralho! — Lucas vociferou e correu para a cozinha a fim de desligar a boca do fogão — Diz que cê não queimou, diz... — destampou a panela com tiras de batatas, cebolas e bacon que fritavam na manteiga temperada — Ufa!

Ok. Estava tudo sob controle. Ainda.

Malditos fogões novos que bagunçavam toda a noção de tempo de cozimento dos alimentos! Maldito apartamento novo em que todo mundo era obrigado a reaprender os lugares das coisas! Ao perceber que quase havia deixado as batatas queimarem, Lucas decidiu que era melhor ficar por perto do fogão até tudo estar pronto e, só então ir para o quarto se aprontar. Olhando para o relógio, contudo, suspirou com impaciência. Alexander estava quase chegando e a mesa sequer tinha sido posta. Que belo anfitrião o índio era, não? Incapaz de oferecer um simples jantar para o homem de sua vida.

Homem de sua vida?

É, desde que Alexander mudara de cargo, deixando de ser professor na escola de artes para se tornar diretor de projetos na Freeman's Fairy Tale Co., Lucas vinha percebendo que sua relação com o fotógrafo poderia ser e talvez até já fosse mais complexa do que o que era sugerido pelas noções de amizade e fraternidade.

Tudo começou na noite em que Alex e Freddy brigaram. Depois de assistir Alexander vomitar as tripas no banheiro, Lucas encheu a banheira e ajudou o fotógrafo a se despir para tomar um banho e relaxar. Ficou parado, embasbacado, observando o homem caucasiano a caminhar quase completamente nu pelo pequeno espaço do cômodo e precisou que ele estalasse os dedos diante de seu rosto para sair do transe em que se encontrava.

— Lu, pode me dar licença? — a mão pálida e ainda trêmula de Alexander pousou sobre o ombro do maior.

— Eu te amo, Lex! — a frase saiu por entre os lábios de Lucas antes que seu cérebro pudesse processá-la. Segurou o rosto de Alexander com as duas mãos e, se aproximando muito dele, teve que desviar os próprios movimentos no último instante para evitar que selasse os lábios do fotógrafo com um beijo. Ao invés disso, beijou as bochechas dele e aí a testa, repetindo que o amava e pedindo desculpas por tê-lo magoado.

Os braços de Alex se enroscaram na cintura do índio e a cabeça dele encostou em seu peito — Tá tudo bem, Lucas. Eu acredito em você... me desculpa por ter gritado e te acusado e... cê sabe que eu te amo também, não sabe? Eu só...

Nada no mundo poderia descrever o sentimento que ardeu no coração de Lucas enquanto esteve com Alexander em seu abraço. Não era uma sensação de todo estranha, não mesmo. Na verdade, o indígena já havia sentido aquilo outras vezes. Todas elas, em momentos nos quais se encontrava a envolver o corpo de Alex com seus braços fortes.

Talvez aquela fosse uma das diferenças entre o tempo em que vivia completamente chapado e o agora, em que estava limpo há muitos meses. Sim, provavelmente era isso mesmo. Lucas não se sentia mais anestesiado como antes. Pensava com mais clareza, não sofria mais de arroubos eufóricos ou de melancolia, não tremia de vontade de se picar e as marcas em seus antebraços já tinham desaparecido quase completamente. Ele gostava de estar assim, capaz de encerrar seus dias sem pensar na heroína que, apesar do nome, era a vilã de sua jornada. Porém, o que mais lhe agradava era poder falar para Alexander que ele podia ficar tranquilo, pois, o vício estava superado. Em resposta a isso, o fotógrafo sempre sorria e dizia que estava orgulhoso. Aquele reconhecimento era suficiente para garantir por muitos dias a alegria e a força de Lucas para se manter firme.

A sobriedade, entretanto, era incômoda no ponto em que fazia o índio pensar nas razões que o levavam a gostar tanto da companhia de Alexander. O ardor no peito que esquentava o corpo inteiro e deixava Lucas sem jeito tinha sido percebido já após as primeiras semanas de convivência, logo quando deixaram Dakota do Sul e vieram à Chicago, e se repetia todas as vezes em que ficavam fisicamente próximos ou quando Alex parecia triste, ou quando ele o encarava com intensidade (normalmente e infelizmente por estar bravo com algo que o amigo fez).

Era estranho.

Era estranho porque aquele ardor fazia com que Lucas sentisse a necessidade de tocar as mãos de Alexander, de beijar seu rosto e de puxá-lo para perto de si, como se precisasse envolvê-lo com o próprio corpo a fim de protegê-lo do mundo. Poder saciar tal necessidade, graças à sensibilidade do de olhos azuis, que, por debaixo da casca arisca, escondia uma alma sedenta por afeto, era uma das coisas que tornava o sentimento de Lucas mais simples e, ao mesmo tempo, mais complexo.

Simples, pois tinha a oportunidade de realizar o desejo e se livrar de uma vez por todas daquela insana necessidade. Complexo, porque, quanto mais saciava sua fome por Alexander, mais dele ansiava. E sentia que poderia tocá-lo e o beijá-lo para sempre e, ainda assim, não se cansaria e quereria mais... e mais... e mais...

Mais vezes...

Mais intimidade.

Quando Alexander se reconheceu pronto para retornar à vida em sociedade e voltou a trabalhar, assim como sair, Lucas ficou, obviamente, muito feliz. Se alegrava em ver o amigo a sorrir de novo, a se arrumar e sair para dançar. Ele merecia, não? Merecia aproveitar a vida livre daquele marido horrendo, merecia fazer amigos e... Alexander não precisava de mais nada, precisava?

Bem, precisando ou não, a verdade era que Alex não estava interessado em amizades, tampouco em algum relacionamento mais profundo. Sexo era seu único objetivo e, em nome dele, se deitava com qualquer pessoa que parecesse tão desinteressada em intimidade quanto ele parecia estar. Lucas se sentiu estranho quando o amigo lhe contou sobre o homem com quem tinha saído na primeira vez que foi à balada sozinho na metrópole. Não soube explicar para si mesmo o que era aquele incômodo, aquela raiva que lhe dava vontade de gritar e dizer que aquilo era proibido, que Alex não podia simplesmente sair por aí e fazer sexo com outras pessoas.

— Você não acha perigoso agir assim? — perguntou certa vez.

— Se refere a chance de eu acabar sendo vítima de um assassino maluco? — Alex indagava em tom de desdém — Vai ser como voltar com o ex... — e ria uma risada amarga — Sei me cuidar na rua, Lu. Pode ficar tranquilo.

Tranquilo o caralho! Lucas jamais conseguiria sentir paz com aquele ardor que lhe corroía de dentro para fora. A imagem de outros homens tocando com volúpia o corpo do fotógrafo não saía de diante dos olhos de Lucas. Homens que fechavam seus punhos ao redor do pescoço de Alexander, encostando-o numa parede e fodendo-o com força, fazendo-o gritar, gemer, chorar e (na pior das hipóteses, para o índio) gostar.

Gozar.

Tal imagem: o sorriso safado que provavelmente se formava nos lábios dele; a pele nua e suada, marcada de tapas e arranhões típicos do sexo selvagem; os movimentos firmes e levemente descoordenados que balançavam seu quadris para frente e para trás, chocando-os contra a parede pela frente, e contra os quadris de outro homem enlouquecido, por trás. Homem que metia nele com extremo vigor, segurando o pescoço dele com uma mão e prendendo seus pulsos atrás das costas com a outra. Lucas via aquela imagem e ficava tão duro, tão ensandecido que queria ser ele o homem a foder Alexander com vontade, sentindo o calor daquela pele suada, vendo as cores vermelhas dos arranhões e devorando o sorriso dele com beijos vorazes.

Mas que merda era essa agora? Lucas não era heterossexual?

Não era. Contudo, achava que era, então, como podia estar de pau duro para outro cara? Como era capaz de sentir inveja do homem que tivesse a oportunidade de usufruir daquele tipo de intimidade com o fotógrafo? O que estava acontecendo? Então Lucas também tinha entendido errado sua sexualidade desde o início? Também era bissexual? Ou seria exclusivamente gay? Não importava. Nada daquilo importava. Pois a questão era que precisava bater uma punheta pra se livrar da ereção que tinha conseguido enquanto pensava em Alexander.

Lucas, na privacidade de seu quarto, com o amigo há apenas alguns passos de distância, fingiu que eram os lábios dele a envolverem seu falo até que o gozo quente viesse em jatos de um prazer que, aos olhos do índio, era vergonhoso.

Vergonhoso porque Alex era seu amigo, seu irmão. Não era certo que Lucas o visse de outra forma.

Ou era?

As dúvidas, infelizmente, trouxeram para o índio uma crescente inquietação. A cada vez que aquele ardor era sentido, que aqueles desejos impuros se transmutavam em imagens que o endureciam, Lucas se repreendia e se reprimia, buscando parar de sentir o que sentia e de pensar no que pensava. Como proceder? Como poderia vencer um sentimento que queimava suas entranhas? Como? Seu cérebro doente lhe deu a sugestão. Já que não era capaz de se salvar sozinho, que buscasse então uma heroína.

E veio a primeira recaída.

Depois disso, passou cerca de dois anos brigando consigo mesmo, buscando compreender o que teria possibilitado o surgimento e o crescimento do que sentia por Alexander. Conheceu o conceito da demissexualidade na clínica de reabilitação, numa conversa com uma psicóloga. Achou que fazia sentido se descobrir parte do grupo de pessoas que só se sentiam sexualmente atraídas por indivíduos com quem compartilhavam um vínculo emocional.

Era verdade. Passou a vida inteira se sentindo estranho por não desejar se envolver sexualmente com alguém. Forçava-se a sair com mulheres para não ganhar a alcunha de virgem e esquisito, mas sentia que não precisava daquilo. Queria estar com alguém, mas não com qualquer pessoa. Por isso fazia sentido que fosse Alexander. Seu melhor e único amigo.

A tentativa mais recente de ignorar os próprios sentimentos tinha sido o relacionamento com Amanda, colega de reabilitação com quem ficou algumas vezes, após breves conversas. Com ela, Lucas se sentia preso a uma estranha. Literalmente, precisava que a loira rebolasse em cima de seu pau para conseguir sentir alguma vontade de transar. E, mesmo na cama, precisava se concentrar para manter o ritmo, para chegar e levar a namorada ao orgasmo. Chegou a pensar que tinha algum problema, entretanto, bastava idealizar a imagem de Alexander e pronto: coração disparado, pau duro, porra quente... A questão não era se a libido estava lá, mas por quem ela se manifestava.

— Pensando em mim, claro. — disse Alexander certa vez, sugerindo que o amigo se masturbava enquanto pensava nele.

Ah, se o fotógrafo soubesse quão certo estava. Que Lucas realmente só se excitava quando via sua imagem.

Anos depois, no novo apartamento que Alexander tinha comprado com seu novo salário, um Lucas nervoso preparava o jantar. Queria que tudo estivesse perfeito para quando o amigo chegasse. Pretendia aproveitar o clima alegre daqueles dias de inverno, onde o fotógrafo sorria contente por ter conquistado tanto em termos profissionais e onde ele parecia não se lembrar mais do que o fazia sofrer.

Lucas sabia o que Alex gostava de comer, então, em sua simplicidade, preparou um prato com batatas e bacon fritos, grelhou frango temperado com alecrim e fez uma receita de arroz com cogumelos, cardamomo e pimenta preta. Também sabia que tipo de música ele gostava de ouvir, assim criou no próprio smartphone uma lista com as canções preferidas do fotógrafo. O índio se lembrava, ainda, quais as peças de roupa que Alexander dizia que valorizavam seu corpo, portanto, as vestiu. Pois, naquela noite, contaria a verdade ao amigo, diria que o amava, que sempre o amou, só nunca tinha possuído a sobriedade e a maturidade para aceitar e admitir isso.

Wicked Game, de Stone Sour tocava...

— Menino tonto, o amor transcende essas questões! — disse a avó de Lucas, semanas antes, quando o neto pediu à ela conselhos sobre os sentimentos que carregava no peito — Pode ser que esse seja o único homem que ame na vida, pode ser que, se não fosse ele, não seria qualquer outra pessoa. Saber se deve ser chamado de demissexual, gay, hétero ou de bissexual é mais importante do que, de fato, ser qualquer uma dessas coisas? Ou todas elas? Ou nenhuma delas? Enquanto perde tempo se perguntando o título do amor que sente, esse rapaz está, como você mesmo me diz, se destruindo a cada dia. Vai esperar ser tarde demais para ir falar com ele?

É, Lucas não pretendia perder mais tempo. Sabia o que sentia. Teve cinco anos para aprender a aceitar que, sendo demissexual, seu coração podia sim transcender aos limites impostos pela heteronormatividade. Afinal, por mais que agora desejasse o corpo de Alexander, o índio não havia, de fato, se apaixonado pelo que estava por fora, mas antes, aprendido a amar a alma que se escondia sob o brilho dos olhos e atrás de cada sorriso ou no interior de cada lágrima. Lucas amava algo que não cabia dentro das definições biológicas ou sociais de gênero e sexualidade. Não era sobre corpos, nem sobre sexo, por mais que o sexo também fosse parte de tudo o que aquilo era. E nisso, nesse amor que ama a alma, já sabia que era correspondido. Pois seu precioso Alexander, o homem de sua vida, não mentia quando dizia que também o amava.

A pergunta agora era: estaria o fotógrafo nutrindo pelo índio um sentimento mais complexo que a amizade? Do que a irmandade?

A porta se abriu e Alexander entrou. Morto de vontade de usar o banheiro, ignorou a mesa de jantar arrumada e as garrafas de vinho postas sobre ela, indo direto para a própria suíte — Nossa, Lu. O cheiro tá bom, o que você fez pra gente comer? — indagou após deixar o quarto e vir caminhando até a cozinha — Tava pensando em pedir umas pizzas, mas já vi que o negócio tá bom aí na cozinha. — o fotógrafo tentava ser mais gentil, após o episódio com o LSD.

— É uma ocasião especial... — Lucas informou quando viu o amigo se aproximar da entrada do cômodo — É em sua homenagem...

A face de Alexander enrubesceu e a expressão dele era de dúvida e surpresa.

— Homenagem pra mim? — olhou ao redor e viu a mesa posta e só aí prestou atenção ao fato de que Lucas estava vestido com roupas não casuais. Os cabelos soltos desciam brilhosos sobre os ombros largos cobertos pelo tecido grosso do casaco cinza escuro que vestia sobre a blusa vermelha de manga comprida. As pernas grossas e trêmulas vestiam uma calça jeans preta que cobria a parte superior do tênis também preto — Você tá todo produzido, nossa... bem, eu tô todo jogado com essa roupa de roqueiro falido. — riu — Deixa eu ir me trocar...

— Não! — Lucas impediu que Alexander se afastasse ao segurá-lo pela mão — Você é perfeito. Quer dizer, você tá perfeito... — sua voz começou a falhar — Sou eu que tô te homenageando... você não precisa fazer nada, é só... é só aproveitar. — incerto de seus passos, guiou o fotógrafo até a mesa, onde o convidou a sentar e então o serviu com vinho tinto seco.

— A que devo a honra dessa homenagem? — indagou o de olhos azuis.

— Eu só queria... — Lucas não tinha coragem para encarar a face do fotógrafo — Queria que... soubesse o quanto me importo com você... e queria deixar claro como eu te admiro e...

— Ah, Lu, não começa vai! — Alex interrompeu a fala do amigo — Cê sabe que eu viro uma cadelinha com essas paradas sentimentais.

Lucas sorriu em resposta a brincadeira do fotógrafo.

— Tá bom, vamos comer, pois eu também tô morrendo de fome...

E assim foi. Os amigos comeram e conversaram sobre inúmeros assuntos. Lucas fazia questão de lembrar dos bons momentos que viveram juntos. Quando a comida acabou, ficaram bebendo vinho e, quando as duas garrafas estavam vazias, Alexander decidiu que era hora de tomar um banho.

Parou no meio da sala para prestar atenção na música que tocava: Blood and Muscle de Lissie.

Alexander ergueu as mãos em um gesto dramático que debochava da forma com a qual a cantora recitava os versos do refrão da música. Sorrindo, tentou voltar para seu quarto, mas perdeu o equilíbrio, graças ao álcool, e precisou se sentar no braço do sofá para não cair.

— Lex, cê tá bem? — Lucas voou da mesa até o lugar em que o amigo estava, fazendo questão de o colocar adequadamente sentado.

Alex demorou para conseguir responder, pois se sentia tonto e mole.

— Eu bebi antes de voltar, aí o vinho fez tudo bater de uma vez... — se explicou.

— Cê tá bebendo no trabalho, Lex? — indagou o índio que franziu a testa enquanto se abaixava para tirar os sapatos do amigo — E cê veio dirigindo pra cá?

— Foi depois do trabalho e eu... eu vim de Uber. — a risada de Alexander foi mais longa que o normal — Ainda não sou tão irresponsável assim...

— Você tá bebendo muito, deveria dar uma maneirada.

— Tá tudo sob controle, Lucas...

— Eu dizia isso também. — Lucas retrucou em um tom carinhoso e puxando o fotógrafo pelas mãos, convidou-o a se levantar. Seu intuito era levá-lo até o quarto.

— Sabe o que eu tô pensando? — Alex ignorou a fala de Lucas e, ao invés de segui-lo para a suíte, parou no meio da sala — A gente nunca dançou. Dança comigo?

De fato, nunca tinham dançado. Agora, Lucas sabia que tinha sido por um bom motivo. Foi puxado bruscamente para trás, sendo imediatamente agarrado e envolvido pelos braços de um Alexander bêbado que, ao mesmo tempo, fazia com o que o índio o segurasse pela cintura.

Lucas estremeceu ao sentir seus dedos se encaixarem na curva das costas do fotógrafo que colava o próprio corpo em si, apoiando a cabeça em seu ombro para logo depois levantar o rosto e gargalhar.

— Você nunca dançou com um cara, né? — indagou em meio às risadas nitidamente descabidas — Imagino que deve ser estranho ter um corpo tão semelhante ao seu tão próximo a você...

Sim. De fato era estranho. No entanto, não pelas semelhanças biológicas que possuíam, mas pelo calor que ambos emanavam e que passava de um para o outro enquanto balançavam ao som da música lenta.

— Eu não ligo que você seja um cara. — a frase saiu, outra vez, sem pedir permissão do cérebro — Só gosto de ficar perto de você... — tomou coragem e apertou levemente o toque na cintura do de olhos azuis.

— É por isso que te amo, sabia? — disse o fotógrafo, extasiado por enxergar em Lucas um amigo mais chegado que um irmão.

Abaixando a face até a altura do rosto de Alexander, Lucas o beijou, sendo tomado por ondas de adrenalina ao perceber o que estava fazendo.

A demonstração de afeto romântico foi recebida, primeiro, com surpresa. O fotógrafo sequer se movia enquanto tinha os lábios cobertos pelos do amigo, ainda perdido no torpor do álcool. Depois, o beijo ganhou harmonia e sincronia, e as línguas dançavam juntas, como seus corpos voltaram a fazer. Uma alegria intensa tomou Lucas de assalto e seu coração batia acelerado e eufórico por mais daquilo, justificando o aumento da velocidade e volúpia daquele gesto.

As mãos de Alex ainda estavam ao redor do pescoço de Lucas e este segurou sua cintura com mais firmeza e começou a empurrá-lo em direção ao sofá. O ar dos dois estava acabando quando o fotógrafo foi erguido e acomodado no colo do índio que agora jazia sentado, se inclinando para frente a fim de não deixar a boca dele escapar. As mãos rápidas de Alexander procuravam as beiradas das roupas de Lucas e, quando achavam, invadiam os espaços entre elas e a pele dourada do amigo que soltava pequenos gemidos de prazer por sentir o próprio pênis endurecer sob o estímulo ondulante dos quadris do fotógrafo.

Os sons das respirações pesadas dos homens se misturaram aos estalos dos beijos que entregavam um ao outro. Lucas se maravilhava com a explosão de sentimentos e sensações que lhe tomavam. De fato, não dava a mínima para o fato de estar beijando um homem, o formato daquele corpo não importava desde que continuasse a conter a alma daquela pessoa tão amada.

Oh, quão amado ele era...

E não fazia ideia...

— Eu também te amo... — disse o índio entre beijos — Sempre amei... — admitiu e sentiu as mãos de Alexander apertarem seus ombros, empurrando-os com firmeza, interrompendo os beijos e se levantando.

— Pera, quê? — indagou Alex ao dar um passo cambaleante para trás. Olhou para o amigo ainda sentado no sofá, com as roupas amarrotadas e pele enrubescida de desejo — Calma aí, é... a gente... caralho... — levou uma das mãos à própria boca — Lucas, caralho... me desculpa, eu... caralho, caralho, caralho... — deu mais alguns passos para trás até ter seu caminho interrompido pela parede que levava da sala para o corredor.

— Lex, qual é o problema? — o índio se levantou e foi até o fotógrafo embriagado — A gente se conhece há anos, não existem segredos entre nós, você sabe que eu nunca faria algo para te machucar... — se lembrou das vezes que o feriu deliberadamente e considerou que seu argumento não era o mais convincente — Eu te amo, Lex... de verdade, e... eu venho pensando nisso há um bom tempo, acho que a gente... que a gente daria certo juntos. — alcançou Alexander encostado na parede.

— Você é hétero! — Alexander usou o primeiro argumento que sua mente entorpecida pôde pensar. — Você disse, disse por todo esses anos que gostava de mulher e agora... agora...

— Eu cresci achando isso... cresci pensando que era hétero e que havia algum problema comigo, pois eu nunca tinha me interessado por alguém, nem mesmo na escola... me zoavam, dizendo que eu era "viado" e eu... eu não entendia essas coisas e ficava malzão... — Lucas viu o amigo se esquivar e andar para perto da janela da sala — Eu já te disse como foi a minha primeira vez com... com as drogas... eu queria algo que me desse coragem para chegar numa mina... e fui fazendo isso até não conseguir mais parar... mas a heroína, a cocaína, a maconha ou qualquer outro veneno que eu pudesse usar nunca mudaram o fato de que eu não consigo ser assim... eu não gosto de mulher... ou de homem, ou de qualquer outro tipo de ser humano... eu gosto de você! — viu a face de Alexander se contorcer em confusão — Demissexual! Esse é o nome, pelo que me disseram... eu só gosto de gente com quem possuo uma ligação emocional... Você é essa pessoa pra mim, Lex... você é...

— Sou seu irmão, seu irmão de outra mãe... é assim que eu sou pra você, foi o que... foi o que você me disse por todos estes anos! — transtornado, o fotógrafo caminhou até a mesa de jantar ainda posta — Você planejou isso? Planejou esse jantar pra me... pra que pudesse transar comigo?

Lucas ficou confuso diante da reação adversa de Alex. O que faria agora? Já que sua ideia de aproximação tinha sido um verdadeiro desastre? Idiota! O que esperava? Que fosse conseguir levar o amigo para cama e depois seriam felizes para sempre? Achou mesmo que o homem que, até então, jamais o tinha visto como mais do que um amigo iria, simplesmente, se tornar seu o quê... namorado? Marido? Só podia ser brincadeira.

— Não fala assim... — pediu Lucas — Não fala como se eu fosse um dos caras de quem você vai atrás na noite. — as palavras saíram mais ferinas do que o índio pretendia — A verdade, Lex, é que nunca te vi como só meu amigo... eu... comecei a te curtir desde os primeiros meses da gente juntos e eu só não te contei porque... porque eu não sabia como lidar com o que eu sentia e porque também não queria que você pensasse que eu tava... que eu tava te cobrando pela estadia na minha casa. — foi sincero — Qual é o problema, Lex?

— Eu não...

— Você nunca se firma com alguém. Achei que fosse pra frente com Freddy, mas ele tava atrás de você e cê nem quis saber dele. O que cê quer da vida, Lex? Pensei que poderia arriscar, que... porra, se você diz que me ama, talvez... talvez a gente pudesse ser mais, sei lá... eu queria que a gente fosse mais do que só amigos. Esses caras com quem você fica... eles te tratam mal, eles te machucam pra sentir prazer, eu não sei como você aguenta isso, eu não aguento ver você sair noite após noite e voltar trilouco e com o nariz sangrando de tanto cheirar pó... Cê pode não ser viciado como eu, mas essas merdas estão acabando contigo e eu tô cansado de não fazer nada... então, planejei esse jantar e quis dizer pra você que te amo, primeiro porque é verdade e depois porque talvez assim você parasse de buscar lá fora o que pode encontrar aqui comigo. — Lucas desabafou.

Alex permaneceu em silêncio, parado de pé e olhando para o amigo com uma expressão ilegível.

De repente todo o espaço do novo apartamento, que era maior que aquele em que moravam, pareceu diminuir, começando a sufocar Lucas que precisava se afastar de Alexander imediatamente.

— Vou sair um pouco... — falou e saiu do apartamento, deixando o amigo sozinho, seguindo pelo corredor que levava até os elevadores.

— Olá, você é o novo vizinho, não é? Bem-vindo! — uma senhorinha grisalha, baixinha e gordinha jazia no elevador com uma bíblia nas mãos — Como está o seu marido? Alexander é o nome dele, não é?

O índio suspirou ante a inconveniência da mulher.

— Nós não... — titubeou ao falar — Nós não somos um casal, senhora...

— Grace Marie. — ela sorriu — Oh, me perdoe então, é que me disseram que o novo proprietário do andar quinze era...

— Era o quê? — Lucas interrompeu irritado — Quem você ou quem lhe disse qualquer coisa pensa que é para falar do Lex? — indagou e, não esperando chegar ao térreo, deixou o elevador tão logo ele parou num dos andares. Descendo as escadas, se encontrou na área comum do condomínio, olhando em volta na tentativa de se lembrar para qual lado era a saída. Passou pela portaria sem falar com ninguém, estava nervoso demais para ser gentil, principalmente com quem se achava no direito de falar da sexualidade de Alexander.

É, isso era irritante. Lucas estava cansado daquele mundo de pessoas cruéis, onde maridos tentavam matar (e muitas vezes matavam) as pessoas a quem deveriam amar, onde "filhos de Deus" mais pareciam demônios acusadores, onde almas boas viviam em privação de amor.

Carros passavam velozmente pela rua iluminada por lâmpadas amarelas. O frio extremo fazia com que poucas pessoas saíssem naquela hora. No entanto, Lucas não se importava, apenas caminhava sem rumo pela noite, tentando não pensar em Alexander e em como queria que as coisas fossem diferentes. Queria que seu amor fosse correspondido, desejava ser amado da mesma forma que era capaz de amar. Maldita hora em que deixou o fotógrafo acreditar que jamais poderiam ser mais que colegas de apartamento. Maldita hora em que se permitiu desejar mais do que o que já possuía.

Por que ele era daquele jeito? Por que sempre rejeitava tudo o que fosse íntimo? O trauma do relacionamento com o tal Luigi havia sido tão grave assim? Seis anos haviam se passado, aquilo era normal? Alexander já não deveria ter superado? É, Lucas não entendia nada sobre traumas e sobre os males que eles causavam. Só queria que seu amigo, o homem que amava, vivesse bem e que fosse feliz.

Mas aquilo não era mesmo possível, era? Seu amor, por mais verdadeiro que fosse, não era capaz de curá-lo, de resolver tudo. Nenhum amor era. Só o amor próprio, pois este levaria Alexander a buscar a ajuda da qual necessitava. Ajuda médica.

Ajuda médica para compreender que traumas psicológicos podiam ser fortes ao ponto de modificar as respostas do cérebro a determinados estímulos. Ajuda médica para enxergar que a depressão que o consumia tinha cura.

Alexander precisava de cura.

Entretanto, o que ele fazia? Se consumia em vícios e em relações vazias, potencialmente nocivas...

Substâncias químicas viajando por suas veias para fazê-lo se sentir melhor. Ele já estava buscando isso de qualquer jeito ao se entupir de álcool, cigarros, cocaína, outras drogas ilícitas e remédios para dormir. Será que, quando Alexander estava louco, se sentia feliz? Ou a tristeza era esmagadora demais?

Alexander.

Lucas seria um dia capaz de parar de pensar nele? De viver em função dele? Improvável. O índio era propenso ao vício, sendo assim, trocou a heroína pela pessoa que, agora, o salvava da dor. Ver o sorriso daquela pessoa, estar na presença dela, ser a causa de sua alegria, sim, essa era a nova droga em que Lucas havia se viciado. E, por mais que tentasse não pensar nisso, ter sido rejeitado por essa pessoa doía mais que tudo.

Chorou.

E chorando seguiu até o antigo apartamento. Lá entrando, encarou os móveis cobertos e sentiu frio. Sem pensar duas vezes, removeu o lençol branco do sofá e se enroscou nele, deitando em seguida. Fechando os olhos, tentou dormir, mas Alexander estava em todo lugar, inclusive debaixo de suas pálpebras, ignorando seu desejo de ficar só e de pensar em algo diferente.

Encarou o teto até às três da manhã, quando decidiu apanhar o telefone e apagar as notificações das ligações feitas pelo fotógrafo. Não queria falar com ele. Alex era um hóspede não convidado em seus pensamentos, Lucas precisava mandá-lo embora. Pois, agora, não seria capaz de esquecer os minutos de beijos e carícias, a breve dança que compartilharam. Estava tudo desfeito. A amizade não poderia mais existir, a intimidade menos ainda. Como ficariam as interações? Ainda se falariam?

Não! Isso não! A ansiedade bateu forte. Estava tudo desfeito? Não! Era o fim daquele relacionamento? A única paixão de Lucas estaria para sempre perdida? Não! Não! Não! Se levantou transtornado. Apanhou o celular, ligou para ele, mas não sabia que Alexander já tinha esvaziado uma garrafa de vodka e se encontrava desmaiado ao lado do balcão da pia da cozinha.

Saiu do apartamento, o coração batia rápido. Os pensamentos se atropelavam, precisava se acalmar. Precisava falar com ele. Mas tinha medo. E se Alex estivesse com raiva?

Não estava.

E se não quisesse mais vê-lo?

Ele queria.

E se o odiasse?

Isso jamais aconteceria.

Contudo, Lucas não sabia. E se soubesse, duvidava do próprio conhecimento, pois estremecia de temor. Como olharia nos olhos dele de novo? Não podia. Não! Idiota! Idiota! Estragou tudo! Agora não havia mais volta! Idiota! Idiota!

Só mais uma vez. Para se acalmar... Lucas sabia onde podia encontrá-la. Sua heroína. Uma última vez, que mal faria? Estava limpo há mais de um ano agora. É. Não dava para dizer que não sabia qual era o problema de ir atrás dela. De buscar a paz na ponta de uma agulha. O índio sabia, mas não se importava. Pois tinha perdido o que lhe era mais precioso. Se não era suficiente para ele, então sua vida de nada valia. Mentira. O problema era que Lucas acreditava em tal engano.

O derivado do ópio viajou por suas veias e, em segundos, Lucas sentiu a dor sumir. Relaxando como há tempos não era capaz de fazer. Estava salvo. A heroína havia tomado o lugar de Alexander. Maldita salvadora. Só ela importava agora...

Notas Finais: Obrigada por ler! Espero que tenha gostado do capítulo, não se esqueça de clicar na estrelinha para me dar aquela força e, claro, comentar, para eu saber o que você está achando. Abraços

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