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29 - Oito Meses, Então Infelizes Para Sempre

Os dias se passaram rapidamente após o sábado em que Alexander foi formalmente apresentado à dra. Louise como companheiro de Fredrick Warren. Apesar do transtorno com o cartão desaparecido, o médico e o fotógrafo consideraram positivo o saldo daquela semana. Tinham ido à Miami, passado dois dias dignos do paraíso e, depois, se divertido muito no almoço e na casa noturna. Era pouco, se fossem considerar a duração das férias entre o final do ano letivo em junho e o início em setembro, mas, ao menos, Alex e Freddy puderam usufruir de algum tempo para si.

Afinal, mais importava a qualidade do que a quantidade.

Superar o medo e se assumir para Louise tinha sido a melhor coisa que Freddy podia ter feito. O sempre pesado humor de Alexander havia ganhado um interessante nível de leveza e, além disso, era simplesmente maravilhoso não precisar se esconder. O projeto que tinha com a doutora também foi beneficiado pelas habilidades gráficas do fotógrafo que os ajudava a escolher as melhores imagens e técnicas para ilustrar as páginas do livro.

— Para ajudar vocês, preciso entender do que se trata o livro. — dizia Alex ao olhar as páginas de texto intercalado por imagens superexpostas.

— Basicamente, o impacto da educação na saúde mental das pessoas. — Louise respondeu de forma sucinta — Eu, como profissional da área de saúde mental e Freddy, sendo professor, estamos reunindo os resultados de pesquisas e também das nossas próprias observações sobre o assunto.

— Nesse caso, se é um livro que pende mais para o lado técnico, imagino que esquemas que representem as teorias que vocês vão abordar sejam mais úteis do que fotos dos pesquisadores. — sugeriu Alexander e tanto o médico, quanto a diretora tiveram que reconhecer que a cara do livro melhorou bastante.

Fredrick Warren, pesava os benefícios que a honestidade em relação à própria sexualidade e ao romance com Alexander lhe traziam; era fato que estava feliz, radiante de alegria. No início, achou que seria estranho namorar um homem, contudo, foi se acostumando com a ideia e percebeu que o fotógrafo não precisava ser apenas um amante, mas podia ser também um amigo, daquele tipo abestalhado que ri de vídeos e memes virais, contam piadas sujas e vibram pelo novo modelo de carro a ser lançado ou, mais comumente, pelo novo videogame ou console.

Uma das paixões de Freddy, quando criança, eram os jogos de fliperama. Depois se encantou com os computadores que rodavam jogos e pirou de vez quando várias empresas começaram a expandir o conceito do que era jogar. A vida adulta, contudo, o afastou desse pequeno lazer e foi somente quando Lucas comprou um console (sem saber que usufruía do fruto de um crime) que Fredrick redescobriu o quanto gostava de se afundar nos mundos criados por artistas que um dia foram ridicularizados por serem nerds.

Adquiriu os consoles mais potentes do mercado na mesma semana. Ah, quem diria que Fredrick Warren, na altura de seus cinquenta anos, voltaria a se sentir como se tivesse quinze? Talvez, toda a alegria e energia fossem frutos da paixão ou, mais provavelmente, fossem resultados da plenitude que se alcança com o maior nível de conhecimento a respeito de si.

O mundo de Fredrick era muito mais colorido agora.

Tanto que o médico pensou que seria bom revelar tais cores para o mundo. Sendo o mundo, agora, o doutor Leroux e, depois, seus pais.

Freddy queria que seu melhor amigo participasse de sua alegria, mesmo que ainda fosse um tanto antiquado em seus pensamentos. Já era bom demais que Lerry tivesse se comprometido a ser mais compreensivo com questões de sexualidade e sua mudança de postura era prova mais que suficiente de que a amizade entre eles importava, pelo menos um pouco. As coisas tinham sido melhores do que o esperado com Louise, por que haveria de ser diferente com Leroux?

Era isso. Fredrick Warren sairia do armário, finalmente. Para Lerry, em uma conversa privada e, para o hospital inteiro de uma vez. Sim. Da próxima vez que Alexander fosse ao hospital para vê-lo, seria tratado de acordo com a posição que ocupava na vida do médico.

Que confiança gostosa de se ter no peito.

Quando esse plano do doutor desse certo, pois era apenas uma questão de tempo e não haveria como algo dar errado, Freddy visitaria seus pais e contaria as novidades. Matando efetivamente os velhos do coração ou deixando-os quase mortalmente surpresos (e talvez felizes). Tudo bem. Afinal, quem se importava?

Ah, o que um homem não faria por seu deus?

Observando e admirando a alegria de Freddy havia Allissa, que se revezava entre as tarefas do curso e do estágio. A coitada estava finalmente aprendendo o significado da palavra trabalho. Era assistente da assistente do fotógrafo chefe do setor que produzia todo o conteúdo relacionado à moda para a empresa.

— Eu sou nova aqui na Freeman's, então, poderia me explicar, exatamente, o que é essa empresa e o que ela faz? — indagou a jovem para uma colega que revirou os olhos e respondeu:

— Somos a Freeman's Fairy Tale Co., uma editora de revistas de temas variados. Esse é o setor dos títulos de moda e variedades relacionadas. Me admira que tenha entrado aqui sem saber algo tão simples. — disse a tal colega, de forma seca.

Allissa agradeceu, dando um sorriso sem graça. De fato, deveria ter buscado mais informações a respeito da empresa em que começaria a trabalhar, mas achou que pudesse aprender os detalhes com os colegas atenciosos que teria.

Ledo engano.

Sendo rica e tendo adquirido a vaga por meio de indicação, Allie entrou na empresa já sendo estigmatizada, vista como a garota preguiçosa e mimada que dependia da ajuda de terceiros para conseguir uma simples vaga de estagiária. Ninguém tinha muita paciência para lhe ensinar como fazer as coisas e a tratavam como se fosse uma alienada, socialmente falando. Rapidamente assumiram o posicionamento político dela, concluíram sua moral e costumes, erroneamente, claro.

Contudo, a hostilidade inicial não a abalava, pois nada que lhe dissessem se compararia a tudo o que ela já tinha escutado quando era assistente de Alexander. A irritação constante dele só era equivalente à forma como defendia o direito dela àquela vaga.

— Sei que sou um cu e fiz você sofrer enquanto minha assistente. — dizia ele — E se eu tô dizendo que você merece a vaga, é porque você merece a porra da vaga. Agora vê se não relaxa também. Não vai fazer merda lá...

A fala ríspida do professor a enchia de uma confiança estranha. Se o chato e exigente achava que ela era boa o suficiente, então ela era boa o suficiente. Até porque, como não seria? Era uma simples vaga de estágio. O que faria, caso não fosse capaz de ser uma boa estagiária?

— Filha, tudo o que nós temos tem que ser usado como vantagem. — Freddy ensinava — Você tem dinheiro, tem saúde, não tem filhos e tem a mim, ou seja, por um bom tempo da sua vida, vai estar tranquila para fazer o que quiser. Quando começar a trabalhar, faça o melhor que puder, pois as condições estão a seu favor e, quando, no futuro, você passar por dificuldades, as pessoas vão se lembrar de você como a pessoa que fez o melhor que pôde.

Os modos de Alex e Freddy incentivarem a garota eram distintos, para dizer o mínimo. No entanto, funcionavam, e o empenho de Allissa não passava despercebido por seus superiores, o que, por consequência, deixava o tal CEO da empresa muito contente com Alexander.

— Tô falando, porra, vem trampar comigo lá na Freeman's, você leva jeito pra fazer projetos. A mina que indicou lá, a Allissa Warren, é esse o nome dela, né? Enfim, ela é ótima! Acho que o esquema de fazer a pessoa passar por um período de testes como assistente é ótimo para ajudar a gente a escolher a pessoa certa. — Oliver Freeman gesticulava animadamente para Alexander, que o observava com a testa franzida.

— Foi só uma ideia que ninguém sabe se vai funcionar mesmo. — o fotógrafo dizia ao se recostar na cadeira e girá-la enquanto brincava com uma caneta.

— É por isso que a gente pode repetir a experiência com o garoto do qual me falou, o... como é o nome? — o CEO estalava os dedos na tentativa de se lembrar.

— Jean-Claude Handal.

— Isso! — Oliver deu um pequeno tapa na mesa — Alex, a gente precisa de um projeto de inclusão, tá me entendendo? Os estágios são coisas legais, mas não resolvem a questão do racismo. A gente precisa que mais alunos negros, latinos e de outras minorias étnicas se matriculem nos cursos da escola. Toda a questão da representatividade e tal, isso vai trazer investimentos das empresas que têm projetos contra o racismo e a pobreza, tá ligado?

— Tá, e se der errado? E se for um tiro no pé? Jean e as pessoas captadas por um projeto do tipo vão ter que abandonar o curso? — o fotógrafo indagou e mordeu a tampa da caneta.

— Seu aluno vai ser um protótipo. — o homem explicava e seus olhos brilhavam como se ele estivesse vislumbrando um sonho — Depois dele, podemos envolver mais pessoas, adaptar o projeto e tal... Bem, eu vou fazer isso de qualquer jeito, Alex, só que tô dizendo que quero que seja o cabeça disso. Vou te dar todo o suporte, dinheiro, equipamento, tempo... o que precisar.

Alexander suspirou — Por que eu?

— Sabe porque a Freeman's comprou a escola de artes? — Oliver arrastou sua cadeira para mais perto do fotógrafo.

— Não.

— Meus pais se casaram vinte anos antes de terem o primeiro filho. Na época, a Freeman's não tinha o "Fairy Tale" incluído no nome e não passava de uma banca de jornais que ficava na frente da casa em que eles moravam na Louisiana.

— E o que isso tem...

— Cala a boca, porra, tô chegando lá. — deu um tapinha na mão de Alexander, que o fuzilou com os olhos — Meus pais não conseguiam ter filhos. Tentavam, tentavam e nada. O pior era que, naquela época, mal tinha tratamento pra branco ter filho, agora imagine para um casal negro? Então não tinha jeito. Tomavam remédio natural, visitavam guia espiritual e nada ajudava. Enquanto isso eles iam tentando. Tentando e trabalhando. Aí a Freeman's foi crescendo. Dez anos depois, a gente já era distribuidora. E meu pai sempre botava outros pretos pra trabalhar. Ele dizia que tinha a obrigação de ajudar os irmãos, entende? Enfim, a empresa foi crescendo, mas eles não tinham pra quem deixá-la. O tempo foi passando e eles envelhecendo e perdendo as esperanças de que seriam pais. Pensaram em adotar, mas pra eles não era a mesma coisa... eles queriam passar pelo processo de gestação, sentir a dor, ficar na ansiedade, essas coisas... E ninguém mais acreditava. Os pais deles falavam: "Onde que mulher com mais de cinquenta vai ter bebê? Anita, você vai morrer! Para de acreditar em conto de fadas!" Anita é o nome da minha mãe.

Plot Twist! — Alexander interrompeu o CEO — Você nasceu e todo mundo teve que calar a boquinha.

— Vai se foder, Alexander! Fica tirando a graça das coisas! Deixa eu terminar, porra! — Oliver fez cara de bravo e se recostou na cadeira — Vinte anos após se casar, quando minha mãe tinha cinquenta e cinco anos, ela deu à luz não um, mas três bebês. Imagina só o susto e a alegria dos meus pais que nem tinham como ter feito ultrassom pra saber que seriam pais de trigêmeos? E todo mundo com saúde! Era ou não era conto de fadas? — sorriu e deu mais um tapinha na mão de Alex.

— Impressionante, de fato. — o fotógrafo concordou.

— Daí o meu pai trocou o nome da empresa para Freeman's Fairy Tale e assim que completamos vinte e um anos, passou tudo para o meu nome e para os das minhas irmãs. — Oliver continuou — Ainda éramos Olívia, Olga e Olímpia, e quando eu decidi me assumir como Oliver, todos me deram o maior apoio. — revelou — Meus pais diziam que o preconceito contra gente como eu era igual ao racismo: um dia a gente vai ver que é besteira. Para que isso aconteça, no entanto, a gente precisa abrir espaço para outros negros e outros LGBT. Hoje em dia, Alex, minha família é influente, tem dinheiro e condições... a gente descobriu que racismo tem a ver com educação e representação, por isso que compramos a escola de artes. Queremos estender o braço da educação artística para quem precisa. Não tô desmerecendo os profissionais dessas áreas, mas chega de preto porteiro, segurança de shopping, chega de nega empregada doméstica. Quero ver preto diretor de cinema, editor de revista, fotógrafo e os caralho a quatro, tá me entendendo? Chega de trans prostituta, sendo ridicularizada pelo corpo que tem. Minhas irmãs e eu controlamos a Freeman's de perto, pois nossa intenção é realizar o sonho dos nossos pais. É pra realizar os sonhos das pessoas que sempre são colocadas à margem por causa de dinheiro, cor e sexualidade. Você me entende, Alex, eu sei que me entende. Pode não ser preto, nem latino, mas é gay. Você sabe que uma oportunidade faz toda diferença. Se não pensasse assim, não chegaria em mim para pedir ajuda na situação do seu aluno. Você é o cara perfeito pra me ajudar. É por isso que tô escolhendo você. Você é o cara que não vai deixar o projeto se perder numa busca bosta por dinheiro.

— E se não der certo, eu vou para o olho da rua com todas as contas pra pagar? — Alexander brincava com os fios de sua barba escura.

— Se não der certo e a gente não tiver falido, você volta a dar aulas... o que acha?

— Jean precisa de dinheiro. Se eu for pedir para que ele seja meu assistente, vou ter que pagar um salário pra ele e... seria legal que ele tivesse um plano de saúde, com direito ao cadastro de dependentes. — o fotógrafo achou prudente barganhar.

— Então você tá me dizendo sim? — Oliver se levantou da cadeira e sentou na mesa.

— Estou pensando.

— Pensando o caralho! — o CEO se aproximou e agarrou os ombros de Alexander — Vou passar o recado para o RH, alguém vai entrar em contato contigo para acertar sua documentação e seu novo salário, que tenho certeza que vai te convencer. Aí cê fala com eles sobre o que é possível fazer pelo seu aluno.

Como se fosse combinado, o smartphone de Oliver tocou, forçando-o a encerrar o assunto antes que Alexander pudesse falar (ou contestar) qualquer coisa.

Oliver Freeman era um homem intenso. Tinha uma face carrancuda, parecendo estar sempre bravo. Contudo, bastava um simples "oi" para que sua cara de mal se desfizesse em um sorriso gentil e olhar carinhoso. Se ele não dissesse, ninguém saberia de sua transexualidade, pois seu corpo em nada se parecia com o de uma mulher. Todos diriam que ele não passava de um homem negro baixinho e um pouco acima do peso; tinha nariz largo, lábios grossos contornados por uma barba curta e negra, careca e com olhos castanho-escuros. Vestia-se como um típico homem de negócios. Paletó, gravata, sapato social. Contudo, comportava-se como um adolescente impulsivo. Seus olhos estavam sempre brilhando com novas ideias que, comumente, buscavam mudar o mundo.

Alexander queria ter a fé que Oliver tinha.

Há muito tempo, o fotógrafo estava descrente da possibilidade de mudança. Estava acostumado com a homofobia, acostumado com injustiças, em geral. Não se dispunha mais a considerar meios que pudessem trazer quaisquer avanços para qualquer coisa que fizesse. Pelo menos, não conscientemente.

Alexander Lucius Cavanagh nutria uma profunda mágoa por muitas coisas. Entretanto, a maior delas era a dependência. Considerava que todas as pessoas das quais dependeu o decepcionaram, ajudando-o por motivos mesquinhos ou simplesmente negando qualquer auxílio. Provavelmente por instinto, tentava emancipar aqueles que conhecia da necessidade de depender de outrem na mesma medida em que ele, um dia, dependeu. Sendo as provas dessas tentativas a indicação do estágio para Allissa e a busca por uma forma de ajudar Jean. Ou a incessante luta pela emancipação de Lucas do vício em heroína.

Tudo isso, no fundo, mostrava duas coisas: a primeira e mais importante, seu caráter e, a segunda, o medo que ele tinha de ser igual aos pais. Alexander temia a possibilidade de não estar lá para aqueles que confiavam nele. Não que ele tivesse muita gente nessa condição. Pois, não devia nada para Allie ou Jean e poderia deixar Lucas quando bem quisesse.

Poderia?

Não, não poderia. Por quê? Porque Lucas foi o primeiro a lhe estender a mão sem ter qualquer obrigação de fazê-lo. Essa cortesia gerava em Alexander a necessidade de lhe retribuir, mesmo que isso lhe custasse coisas. E custava. Como custava.

Custava sua sanidade. Como na vez em que o índio o prendeu no próprio quarto, para que o fotógrafo não pudesse impedi-lo de sair e comprar mais drogas. Por motivos que Alexander não gostava de revelar, ficar preso em um cômodo lhe causava extrema ansiedade. Dessa forma, a atitude de Lucas desencadeou seu primeiro ataque de pânico.

Os gritos, o choro e o som de unhas raspando na porta fizeram com que vizinhos arrombassem o apartamento e encontrassem um Alexander que precisou ser hospitalizado. Lucas nunca chorou tanto e nunca pediu perdão tantas vezes. Era uma pena que as constantes recaídas sempre roubassem o melhor dele.

Triste, triste. Enfim... A questão é que nada daquilo prevenia que Alex investisse mais do seu tempo, mais de seu dinheiro e cada vez mais de sua vida na tentativa de recuperar seu único amigo. Talvez, o fotógrafo também fosse viciado... em relacionamentos abusivos. Talvez, ele também precisasse se recuperar.

O namoro com Fredrick vinha se mostrando como um bom remédio, no entanto. Ao lado dele, tinha paz e alegria. Ria como nunca, falava pelos cotovelos dos mais variados assuntos e suas preocupações pareciam não existir.

— É o "efeito borboleta no estômago". — dizia Samantha, quando via Freddy e Alex olhando um para o outro com caras de bobo — Vocês já pararam para comemorar o fato de estarem juntos há oito meses? Quer dizer, de terem se conhecido há oito meses? — indagou a moça ruiva ao perceber que o aniversário de Allissa havia sido em fevereiro e eles já estavam em outubro — Gente, é quase um ano de namoro!

Oito meses. Oito meses desde que Alexander havia obrigado Fredrick a parar de ignorar sua verdadeira sexualidade. Como era gostoso ser a causa das mudanças positivas na vida de alguém. E como eles se davam bem. Mesmo com as diferenças, mesmo com os defeitinhos irritantes que poderiam ter. O fotógrafo não esperava encontrar alguém melhor do que aquele médico. Tão gentil, tão apaixonado, tão bobo apenas com o fim de ser engraçado. Alex se considerava um afortunado por ter cruzado o caminho de um homem daquele, principalmente em um lugar tão ermo de amor quanto uma casa noturna, lar dos sentimentos e desejos efêmeros.

Oito meses. E se tudo desse certo, viriam outros oito meses. E outros oito... e outros oito. Todo mundo parecia torcer por isso.

— Freddy, tudo bem? — Louise foi até a sala do médico ao final do expediente de um dia qualquer no hospital.

— Tudo... mas você não parece bem, aconteceu alguma coisa? — Fredrick indagou, vendo que a doutora o observava com os olhos arregalados e respiração um pouco fora do compasso — Entre, sente-se... me diga qual é o problema.

— Fui notificada pela polícia. Era a respeito do cartão que perdi há umas semanas.

— Ah, isso é ótimo, não é? — o doutor começava a se sentir ansioso diante da hesitação de Louise.

— Então... como eu vou dizer isso, meu deus? — Louise olhou para o teto e respirou fundo — Tentaram usar o cartão para sacar dinheiro no caixa eletrônico que havia do lado de fora de um posto de gasolina. Não conseguiram, já que o cartão estava bloqueado, mas a operadora identificou tentativas de utilização em várias outras lojas desde domingo. Todas de roupas e acessórios femininos.

— E? — Fredrick estava definitivamente ansioso.

— Bem, sou cliente antiga de uma das lojas em que tentaram usar meu cartão. Fui lá para ver se alguém tinha visto a pessoa que me furtou. Como é uma loja pequena, não seria difícil que as funcionárias se lembrassem das pessoas que entram e saem. Enfim... nas palavras de uma operadora de caixa: "uma moça loira e muito mal educada passou aqui, tentou comprar as roupas mais caras e como o cartão não passava, decidiu insultar a gente. Quando a gerente veio ver do que se tratava a discussão, ela ficou extremamente deslocada e tratou de ir embora quando sugerimos que ela tentasse passar o cartão em uma outra máquina. Ela queria pagar por aproximação, se recusando a digitar a senha." — Louise explicou — Pedi permissão para ver as filmagens das câmeras da loja e...

— Uma loira? Pegou o seu cartão... — Freddy não precisava de maiores explicações — Eu não acredito nisso.

Chegando em casa, o médico não demorou a ligar para Alexander.

— Dá para você vir rápido pra cá? — indagou sem delongas e seu tom sério fez com que o fotógrafo pressentisse problemas.

— Tá tudo bem? — Alex perguntou.

— Não. Dá pra você vir? Se não der, vou até onde você estiver. — Fredrick estava impaciente.

— Me dê uns quarenta minutos. — Alexander informou e a ligação foi encerrada sem que Freddy dissesse qualquer outra coisa.

Voou com a motocicleta até o duplex do médico. Seu coração se alarmava e seu cérebro se agitava em ansiedade, tentando imaginar o que teria acontecido. Freddy não era daquele jeito, ríspido, falando sem cumprimentar, desligando sem dar tchau. Quando chegou ao edifício em que o doutor morava, o porteiro, que já o reconhecia, sorriu e deixou o fotógrafo subir sem interfonar para o duplex.

— Como entrou no prédio? — indagou o médico tão logo abriu a porta. Sua expressão não estava séria, estava transtornada. A pele branca estava avermelhada e as veias saltavam em suas têmporas. Não cumprimentou o amante, apenas dando espaço para que ele entrasse.

— O porteiro me deixou entrar, pois...

— Para que existe um interfone se é o porteiro que vai decidir quem vai entrar na minha casa sem sequer perguntar se a visita é conveniente para o proprietário? — Fredrick interrompeu a fala de Alexander com o comentário irônico.

— Freddy, por favor... — Louise chamou, vendo o modo com o qual o médico agia, já se arrependia por não ter tentado falar com Alexander primeiro — Nós nem sabemos se...

— O cartão que roubaram da dra. Louise no sábado em que se conheceram... — Fredrick se afastou da porta e foi até o balcão da cozinha — Se lembra dele? Pois então, alguém tentou utilizá-lo nos últimos dias em lojas de artigos femininos, além de tentar sacar dinheiro em um caixa eletrônico. A proprietária de uma das lojas descreveu uma mulher loira e mal educada que destratou as funcionárias quando não conseguiu pagar as roupas que tentava comprar. E, como se não bastasse, ao ver as imagens das câmeras, Louise conseguiu reconhecer a namorada do seu amigo. Pode me explicar o que diabos está acontecendo, Alexander?

O que ele deveria dizer?

— Amanda? Amanda roubou o seu cartão? — o fotógrafo lançou um olhar assustado para Louise que retribuiu a expressão com um gesto desajeitado que representava um pedido de desculpas — Eu não... não sabia...

— Você disse que Amanda e Lucas estavam trabalhando em um mercado próximo ao seu apartamento. — Fredrick voltou a falar, dando um passo à frente e ocupando quase todo o campo de visão do fotógrafo — Como essa moça estava numa loja no centro da cidade, à tarde, sendo que deveria estar trabalhando?

Alexander não sabia o que responder. Como saberia? Para ele, seu amigo e a namorada inconveniente estavam mesmo trabalhando. Contudo, aparentemente, Amanda tinha furtado o cartão de Louise. Por quê? Para quê?

— Ah, não... eles voltaram a usar... — a conclusão de Alexander foi expressada em um lamento. Passou a mão no rosto e deu um passo para trás, olhando ao redor enquanto respirava fundo a fim de conter um grito de indignação.

— Voltaram a usar o quê? — Freddy indagou após limpar a garganta — Obviamente, você compreendeu o que está acontecendo. Agora, faça o favor de explicar!

O fotógrafo colocou as mãos na cintura e percebeu que tinha começado a tremer. — Voltaram a usar drogas... — falou olhando para baixo, não desejando encarar a face do médico — Amanda pode ter roubado seu cartão para obter dinheiro e comprar drogas.

— Alex, eu... — Louise foi falar, mas foi interrompida.

— E como diabos você sabe disso? Me diz! — Fredrick começou a aumentar o tom de voz.

— Freddy, por favor... — a diretora do hospital se aproximou do doutor.

— Por favor o quê, Martha? Se sua intenção for me pedir calma, pode economizar saliva! — Fredrick estava vermelho como uma pimenta — É isso mesmo, Alexander? Você tá me dizendo que sabia que Amanda era uma viciada, capaz de roubar e que, mesmo assim, a trouxe para a minha casa?

— Eu não sabia que ela iria fazer algo assim, eu juro! — a justificativa do fotógrafo saiu em tom de desespero — Ela e Lucas estavam fazendo tratamento e...

— Quê? Lucas também? — o médico ficou ainda mais irritado — Alexander, você disse que ele estava viajando, nunca mencionou um vício em drogas. Como assim eles estavam fazendo tratamento?

— Me desculpa, Freddy, eu não achei que fosse importante dizer que...

— Que eu estava convidando dois viciados para a minha casa? Não achou importante me dizer que criminosos em potencial usufruiriam da minha hospitalidade? Colocando em risco a mim, a minha filha e todas as outras pessoas? Não achou importante que eu soubesse a verdade para que pudesse decidir a melhor maneira de me aproximar dessas pessoas?

— Eu não sabia que Amanda faria algo assim... eu... Freddy, acredita em mim, eu... — os pensamentos de Alexander se atropelavam e os tremores pioraram.

— Fredrick, por favor, deixe Alex falar, tenho certeza de que há uma razão, uma explicação... — Louise levantou a voz, chamando a atenção dos dois homens que, obviamente, não estavam mais preocupados com o cartão, apenas.

— Fala... — disse o médico em um tom seco, virando de costas e indo se sentar no sofá.

Alexander respirou fundo, já sentindo um nó subir em sua garganta — Freddy... Lucas esteve numa clínica de reabilitação durante vários meses para se livrar do vício em heroína...

— Claro, só a droga que dizima meio país... — Fredrick bufou e riu com ironia.

— Eu não pretendia ir em frente com o relacionamento que tínhamos, então... então achei melhor só dizer que ele estava viajando.

— E quando... bem, quando decidiu ir em frente com o nosso relacionamento... — o médico fez sinal de aspas com os dedos, provavelmente sabendo o quanto aquilo faria mal ao fotógrafo — Por que não contou a verdade?

— Eu não quis... não quis que tratasse... não quis envergonhar o Lucas... eu... eu... — Alexander gaguejou — Não queria que o tratasse diferente de...

— Não quis envergonhá-lo ou não quis se envergonhar? — Fredrick pôs o dedo na ferida do fotógrafo — Engraçado, você me cobrou honestidade, cobrou que eu me assumisse e eu fiz isso por você... fiz isso porque acreditei que você tinha razão... porque pensei que você merecia a totalidade da minha vida e não só uma parte, mas... me diz, o que você fez por mim? — lágrimas ameaçaram rolar pelo rosto do médico que olhou para cima, sentindo os olhos arderem — Você foi honesto comigo? Por acaso foi capaz de ser franco quanto a todas as partes da sua vida? Fez por mim a mesma coisa que pediu que fosse feita por você?

— Freddy, eu... por favor... — as palavras simplesmente fugiam da mente de Alexander e ele só sabia implorar por algo que não sabia nomear.

— Eu abri as portas da minha casa para dois bandidos!

— Não! — Alex vociferou — Lucas não faria isso, eu tenho certeza de que ele não tem nada a ver com isso, eu...

— Por que eu deveria acreditar nisso? — Freddy se levantou e foi caminhando em direção ao amante — A bolsa de Allissa sumiu, então o cartão de Louise... que evidência eu tenho de que ele não sabia? Que diferença faz? O ponto é que você abusou da minha confiança! Você! Você sabia que eles eram pessoas instáveis e não disse nada, não me deu a chance de me precaver. E se, ao invés de ladrões, eles fossem, sei lá... assassinos? Se fossem uns loucos e fizessem algo com minha filha... você sabe que se eles fizessem mal a Allissa, eu...

— Fredrick, não há necessidade de falar assim, foi só um furto e...

— Fala alguma coisa! — o médico cujas veias só faltavam explodir de raiva berrou enquanto andava rumo a Alexander.

— Me desculpa... — e tudo o que o fotógrafo fez foi começar a chorar.

— Te desculpar? — indagou o médico — Você acha que é simples assim? Que você pode agir como bem entende e depois só pedir desculpas? — Fredrick estava furioso — Eu fui sincero contigo desde o início... meus medos, minhas inseguranças... tudo. Eu confiei na gente e eu pedi para que falasse comigo. Te disse que o levava à sério, que me importava com você, e o que fez? Preferiu continuar mentindo... E pra quê? Que grande mistério você se esforça tanto para encobrir? Você conta o que quer a respeito de si mesmo, diz apenas o que é conveniente para que pareça estar sempre certo. Você não se importou com as consequências de omitir a verdade sobre seu "amigo" e o que isso trouxe?

— Me desculpa...

— Você tem razão numa coisa. — Freddy suspirou — É irritante ficar só escutando pedidos de desculpa. Não me peça desculpas, foi você que decidiu mentir pra mim... Foi sua escolha... e... quer saber? Eu não quero esse transtorno. Não quero viver com uma pessoa que não me diz a verdade, não quero apostar minhas fichas em alguém que acha que está tudo bem em ficar escondendo coisas... não vou dizer que é proibido que tenha seus segredos, mas... eu não gosto de mistérios, não gosto de surpresas, principalmente, surpresas desagradáveis como ladrões em minha casa. Você estava certo quando disse que não estava pronto para um relacionamento. É verdade... já que só pensa em si mesmo, deveria ficar sozinho.

— Fredrick... veja bem o que vai fazer, você está irritado e... — Louise tentou, mais uma vez, intervir.

— Me deixe apenas pegar minhas coisas e eu prometo que sairei da sua vida. — a voz de Alexander saiu embargada.

— Enviarei suas coisas pelos correios depois. — Fredrick falou com uma voz fria — Quero que vá embora agora.

Alexander assentiu, engolindo o choro e limpando as lágrimas, então, após lançar um olhar entristecido a Louise, que assistia tudo com cara de desolação, deixou o duplex.

Oito meses. Foi tudo o que durou.

Notas Finais: Obrigada por ler! Espero que tenha gostado. Vote e comente para ajudar esta obra a crescer! Conto contigo! Abraços e até mais!

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