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27 - Comida, Câmera, Cor e Crime

A luz do sol invadia o apartamento de Fredrick Warren, deixando-o com ar de aconchego e frescor típico das casas bem iluminadas. Além da luz da magnânima estrela da manhã, o maravilhoso cheiro do alho a ser refogado junto com cebolas contribuía com a aura alegre e descontraída daquele dia de sábado.

Com o almoço marcado para a uma da tarde, todos se revezavam na cozinha a fim de garantir que a comida ficaria pronta a tempo. Freddy preparava a salada de feijão branco e atum, estando a cuidar, naquele instante, do tempero de alho, limão e pimenta. Buscando se distanciar da imagem de professor sério de faculdade e doutor, vestia uma bermuda jeans branca, uma camiseta rosa e, considerando o calor de pouco mais de trinta graus que fazia naquele dia, decidiu que ficaria descalço. Afinal, às vezes, nada era mais refrescante do que pisar no chão geladinho.

Alexander tinha se responsabilizado pelo prato de quinoa com camarão e alho, que era a causa do cheiro incrível que tomava o ambiente. Vestido com uma calça jeans preta rasgada em um dos joelhos, all stars verde-limão e um camisão também verde sobre a camiseta branca com estampa de bandeira norte-americana, ficava engraçado quando colocava o chapéu preto estilo fedora e brincava com o avental florido que Allie tinha amarrado nele.

Allissa, que usava um short jeans curto, uma batinha amarela com estampa de tucanos e calçava um par de chinelos rosa, cuidava dos acompanhamentos, isto é, do arroz branco e das morchellas salteadas.

Toda a comida, claro, era preparada de forma a alimentar um batalhão. Ou seja, se a receita dizia uma porção, cinco seriam adicionadas. Se dizia duzentos gramas, um quilo seria colocado. Haveriam quatro homens na casa: Alexander, Fredrick, Lucas e Jean, todos admitindo que comiam como leões cujos estômagos eram buracos sem fundo. Além deles, Allissa, Samantha, Linda, Louise e Amanda, não ficavam muito atrás. Para a ocasião, Freddy até tinha comprado panelas maiores.

Por volta do meio-dia, Lucas e Amanda chegaram com cervejas. Jean, Linda e Sam se encontraram no metrô e vieram trazendo refrigerantes e dez litros de vodka barata, pois já planejavam o esquenta antes da balada que visitariam mais à noite. Louise foi a última a chegar, trazendo dois potes de sorvete, um de pistache e outro de framboesa, e uma travessa de pavê de chocolate meio-amargo.

Uma pequena tensão se tornou palpável quando Amanda começou a reparar nas roupas curtas das outras mulheres. Com exceção de Linda, que usava um jeans preto e camisetão de banda de rock, com coturno e coleira, as outras moças estavam todas de shortinho, chinelo e regata. Lucas estava fazendo um sucesso com Louise, que sendo louca por homem de cabelo comprido, estava pirando no índio. Falando ainda em piração, Freddy se surpreendeu com a rápida amizade que a doutora fez com Alexander. Era como se se conhecessem há séculos. Os assuntos simplesmente fluíam entre os dois de modo a até alienar o doutor da conversa, causando nele um misto de ciúme e felicidade.

As comidas ficaram prontas exatamente à uma da tarde e todos se sentaram famintos ao redor da mesa. Como se estivessem numa ceia de Ação de Graças, braços se estendiam por todos os lados para apanhar recipientes de comida e garrafas com bebidas. Comeram tanto que Samantha precisou ir ao banheiro para retirar o sutiã que ficara apertado e Lucas estava quase dormindo no sofá, sofrendo com a preguiça que dá quando se come demais. Contudo, ainda restavam as sobremesas. Mas, sabe como é, para a sobremesa sempre sobra um espacinho.

Amanda começou a surtar com o namorado quando achou que ele estava olhando para os mamilos aparentes sob a blusa de Samantha, e Allissa já ia pedir para a amiga recolocar a peça íntima antes que o casal brigasse.

— Se toca, Amanda, qual é o problema da mina estar sem sutiã? E qual é o problema se o Lucas der uma olhada? Vai dizer que nunca admirou uma bunda masculina quando ele estava por perto? — Alexander, que já tinha umas três latas de cerveja e uns drinks de vodka irrigando seu cérebro, indagou de forma bem humorada — Olhar não significa que a gente quer pegar... ou você quer pegar todo mundo para quem olha?

— Ah, meu ex ficava muito chateado quando eu comentava ter visto algum homem bonito. — Louise lavava os pratos na cozinha — Eu olhava mesmo!!! — gargalhou.

— A Elen não curtia que eu falasse disso também, mas até parece que eu iria me fazer de cego. — Freddy entrou na conversa — Coisa mais gostosa que tem é olhar gente bonita, bem arrumada... se passar por mim e estiver cheirosa então...

— Eu olho pra todo mundo também, tem essa não... — Samantha admitiu — Se eu fico olhando pra minha mãe e pensando no quão gata ela ainda é, mesmo "véia", imagina se eu não vou olhar pro povo por aí. Olho para o daddy, olho para o professor...

— Mas que abusada essa guria... — Fredrick reclamou em tom de brincadeira.

— Os outros olharem eu não ligo, não quero é que meu homem fique por aí olhando qualquer uma... — Amanda se sentou no colo de Lucas, que ficou sem graça.

— Ih, moça... fodeu então... — Jean se manifestou — Vai ter que arrancar os olhos do cara. — riu da ideia absurda.

— E eu, que só pego mulher e fico babando nos caras bonitos? — Linda disse com um sorriso nos lábios — Se eu quisesse pegar todo mundo que olho, nossa, teriam que inventar um "tudossexual" para me classificar.

— Se for assim, já vão ter dois "tudossexuais" no mundo então... — Alexander achou graça no termo inventado pela de cabelos raspados.

— Mas aí não seria pan? — Jean-Claude indagou, com genuína dúvida.

— Bem, eu tava brincando com a ideia de querer pegar tudo o que se mexe, mas se a gente for pensar nas pessoas que não tem restrições com relação a gênero, identidade e orientação, então sim, o nome que se dá é pansexual. — Linda explicou, pegando uma cerveja e indo se sentar ao lado de Jean.

— Mas comé que a gente chama uma mulher trans que namora um cara? Eu achava que era hétero, tipo... ela é mulher e se atrai pelo sexo oposto... — Samantha pegou o celular e foi pesquisar.

— Só que ela não é mulher de verdade, né? Aí não dá para ser hétero. — Amanda falou com total certeza de que esclareceria para Samantha toda a questão.

Quando os olhos de Linda brilharam e todos ouviram, no fundo de suas mentes, o trecho da música Ironside, que tocava no filme Kill Bill quando Beatrix Kiddo avistava alguém a quem desejava matar, Alexander decidiu que era um bom momento para encerrar aquela conversa e mudar de assunto.

— Não é "mulher de verdade" que se diz, Amanda, é "mulher cis". Você é uma mulher cisgênero, já um indivíduo que nasceu com o sexo biológico masculino, mas se identifica com o feminino é uma mulher transgênero. — o fotógrafo explicou — Dizer que uma mulher trans não é "mulher de verdade" é, no mínimo, mal educado. Tenta não esquecer. Agora, mudando de pato pra ganso, Allissa, me conta como é que vai ser teu estágio! — passou ao lado de Linda e apoiou uma mão no ombro dela.

Jean, Samantha e Allissa suspiraram aliviados por terem passado incólumes pela tempestade Linda que ameaçava surgir. Deram graças à Deus por Alexander conhecer a de cabelos raspados bem o suficiente para saber quando ela começaria sua ferrenha militância.

Allie informou, com grande alegria, como seria o estágio em que havia sido aprovada. A partir da semana seguinte, trabalharia como assistente da assistente de um dos fotógrafos da seção de publicidade da empresa, receberia um salário mínimo e uma porcentagem de desconto no valor das mensalidades do curso. E, por ter falado no curso de fotografia, Alexander se lembrou de que precisava aproveitar a oportunidade para entregar a Jean e Linda um presente.

— Você tá dando essas câmeras pra gente? — Jean-Claude indagou com o olhar surpreso.

— Normalmente, coloco os materiais usados à venda, quando compro novos. — o professor informou, abrindo algumas bolsas com diversos tipos de câmeras, lentes e outros acessórios, postas sobre a cama do quarto de Freddy.

— Uau, mas profê, não é justo, você deve ter pagado caro por tudo isso e vai dar assim pra gente? — Linda segurava uma lente que não custava menos do que trezentos dólares.

— Eu paguei, mas trabalho com isso, então posso recuperar a grana. Você são estudantes e, por enquanto, estão apenas investindo no ofício da fotografia sem obter qualquer retorno financeiro. — Alexander se sentou ao lado deles, na cama, e segurou uma das câmeras — Quando eu tava fazendo curso, tinha que dar mais da metade do meu salário pra comprar os equipamentos. Tive sorte de ter quem me ajudasse na época. — se lembrou de Luigi e suspirou — Sei como é foda, fotografia é um negócio elitista pra caralho e — olhou para Jean — racista pra caralho. É meu dever tentar diminuir isso.

— Valeu, profê! — Linda se esticou e abraçou o fotógrafo — De verdade!

Jean hesitou um pouco antes de responder — Desculpa, professor Cavanagh, eu agradeço, mas não posso aceitar.

— Ué, mas por quê? — Lindarosa indagou, olhando confusa para o rapaz — Espero que não seja por causa do que eu tô achando que é... — bufou e voltou a mexer nos equipamentos.

— Para de ser besta, Linda. — Jean falou, fechando a cara — Valeu mesmo, professor. — saiu do cômodo e Alexander o seguiu.

Enquanto isso, na sala de estar, Allissa e Samantha tentavam convencer Lucas a participar de um ensaio fotográfico. Freddy e Louise conversavam enquanto organizavam a cozinha e Amanda jazia quieta, sem participar de quaisquer interações.

Amanda Williams não era uma pessoa tímida. Não, na verdade, era bem atirada e gostava de fazer amizades. Contudo, se encontrava completamente deslocada no meio daquelas pessoas. Sentia-se incompatível e inferior, por mais que ninguém desejasse que ela se sentisse daquela maneira.

Tinha conhecido Lucas na clínica de reabilitação, onde foi admitida por ordem judicial após ter sido presa por furto. A razão do crime era o vício em cocaína e heroína, que embora ainda não tivesse se tornado algo incontornável na vida dela, lhe dava a coragem para tomar o que não lhe pertencia, já que não tinha dinheiro próprio por, justamente, não parar em emprego algum.

Pertencendo a classe média, até teve boas oportunidades na vida. Deveria ter ido para a faculdade quando concluiu o ensino médio, mas dizia que estava cansada de estudar. Seus pais lhe arranjaram emprego em um escritório, mas ela não conseguiu permanecer nele por mais de três meses. Depois, procurou oportunidades em outros lugares e até conseguiu, mas as intrigas que gerava, somadas aos atrasos constantes, as bebedeiras e ao abuso de drogas sempre a colocavam de volta no olho da rua.

Psicólogos tentaram encontrar raízes para o comportamento destrutivo de Amanda. Abusos na infância, distúrbios de humor ou personalidade, qualquer coisa que justificasse todos os problemas que ela causava. Não que não existissem, mas não acharam nada.

Em termos amorosos, nunca se firmava com alguém que tivesse família. Pois, a tal família quase sempre desgostava dela e incentivava o fim do relacionamento. Não era para menos. Amanda era do tipo que usava o sexo como grilhão. O amor, para ela, nada mais era do que uma ferramenta de exploração. Grudando como um polvo aos homens com quem se relacionava, pedindo dinheiro, exigindo abrigo, conforto e servidão.

Os furtos começaram quando foi trabalhar como empregada doméstica de uma socialite. Primeiro, roubava o dinheiro que encontrava nos bolsos das roupas que a mulher colocava para lavar. Então, passou a se apossar de pequenos objetos de prata, como talheres e outros utensílios de cozinha. Pensou ter tirado a sorte grande quando achou os aparelhos eletrônicos da família. smartphones e tablets velhos, câmeras usadas. Pouco a pouco, Amanda levava tudo consigo e vendia, mas não apenas por drogas. O dinheiro era usado para complementar o salário, para custear idas à manicure, salão de cabelereiro, etc. Sua farra só teve fim quando decidiu furtar as jóias da empregadora que, já desconfiada pelo sumiço dos outros itens, instalou câmeras na casa.

Foi presa em flagrante.

Se ela se arrependeu? De maneira alguma, pois considerava que seus furtos eram justificados, já que as vítimas tinham tanto e ela não tinha nada.

Na clínica, encontrou no índio enorme e gentil uma presa perfeita. Sendo um viciado cujo nível de dependência era muito maior que o de Amanda e tendo apenas uma parente distante e um apartamento que dividia com o amigo, Lucas era o "cavalo" no qual a namorada montaria e guiaria para onde bem quisesse.

Contudo, Alexander surgiu como um obstáculo. A influência do fotógrafo sobre Lucas era indiscutível e beirava o abuso. O "amigo viado", como Amanda costumava chamá-lo quando conversava com suas "amigas", era responsável pelo dinheiro que a avó de Lucas enviava ao neto, usando-o para suprir as necessidades do mesmo, já que não precisava mais pagar as mensalidades da reabilitação. Lucas não possuía autonomia nem para comprar as próprias roupas e tampouco parecia se importar com isso.

Assim, primeiro, Amanda tentou jogar Lucas contra Alexander ao insistir na ideia de que este último só tinha interesse no dinheiro do primeiro e preferia vê-lo na clínica do que livre.

— Amy, você tem que parar com essas paranóias. — Lucas falava com tranquilidade — Nem faz sentido o que cê tá dizendo. Como que o Lex quer ficar com o dinheiro da minha avó e me deixar na clínica ao mesmo tempo, sendo que para eu ficar na clínica, ele precisa gastar todo o dinheiro que ela dá e mais uma parte do próprio salário?

Depois, teve a audácia de ligar para a velha índia e, não apenas se apresentar como a esposa de Lucas, como também dizer que ela, e não Alexander, deveria ser a responsável pelo dinheiro pertencente ao "esposo".

— O dinheiro pertence a mim, menina, não seja insolente. — a avó disse sem delongas — Lucas pode ser um inconsequente, mas tem sorte em ter Alexander por perto. Se quer dinheiro tanto assim, arrume um emprego.

Deus sabe que tanto Amanda, quanto Lucas arrumaram um emprego no mercado que ficava perto do apartamento em que moravam. Pena que, para a loira, o salário não era suficiente e ela achou que precisava meter a mão no dinheiro do caixa. Mais uma vez, as câmeras a denunciaram.

Lucas fez um acordo com o dono do mercado para que Amanda não fosse denunciada à polícia, pois, se fosse, não sendo mais réu primária, seria enviada para uma penitenciária. Foram ambos demitidos sem qualquer direito a indenização na rescisão do contrato e vinham mentindo para Alexander, que, se soubesse que foram demitidos e descobrisse a razão da demissão, expulsaria a moça do apartamento e ainda comeria o cu de Lucas.

E, se as coisas já não estivessem ruins até aí, Amanda fez questão de piorá-las ao mentir para o namorado, dizendo que tinha pedido dinheiro para os pais e que, com isso, poderiam fingir ter um salário por alguns meses até acharem um novo trabalho. Na verdade, o dinheiro tinha sido adquirido com a venda de uma bolsinha com pedrinhas de diamante que a loira achou largada no sofá da sala de Fredrick, na segunda vez que foi lá com Lucas. Na ocasião, o índio tinha ido ao apartamento do namorado de Alexander apenas para entregar ao fotógrafo o pendrive que ele havia esquecido.

Para Amanda, que falta uma bolsinha faria a uma garota mimada que já tinha tanto? Cometendo seus pequenos furtos, sentia-se superior a Alexander que, em sua visão, só transava com o doutor para usufruir da riqueza deste.

Naquela tarde de sábado então, não fazia questão de se enturmar, de dizer qualquer coisa que a fizesse parecer amigável. Amanda sentia raiva daquelas pessoas que se achavam tão espertas porque sabiam os significados de algumas palavras. Gente que achava que era importante por ter um diploma ou fazer um curso besta de fotografia. Sentia raiva de Lucas, que parecia sentir mais tesão ao receber alguma ordem de Alexander do que ao estar na cama com ela. E sentindo raiva, não hesitou quando avistou a bolsa de Louise largada, tal como a bolsinha de Allissa, em cima do sofá.

Aproveitando-se da distração dos presentes, achou a carteira da doutora e tomou para si o cartão de crédito que tinha o símbolo de pagamento por aproximação. Quando Louise percebesse os indébitos, bastaria acionar o seguro do cartão e toda a quantia lhe seria ressarcida. Ou seja, aquela era uma chance de gastar uma grana fácil e só danificar o patrimônio dos bancos.

Amanda não tinha qualquer consideração.

— Bom, Lu, vamos indo? — indagou a loira, com a intenção de fugir da cena do crime — Tá ficando tarde.

— Amy, a gente não tinha concordado em ir para a balada com o pessoal? — Lucas se referia a um convite que Allissa fizera durante o almoço — Você tava até animada.

— Mas agora eu quero ir embora. — respondeu Amanda com rispidez — Vamos dar tchau para o pessoal e bora meter o pé. — pelo menos ela se preocupou em se despedir.

— Tá bom, vou falar com o Lex... — o índio se levantou — Meninas, foi um prazer, depois a gente vê o negócio das fotos. — sorriu sem graça e foi atrás de Alexander.

O fotógrafo, por sua vez, jazia encostado na parede do corredor que levava ao banheiro do andar inferior do apartamento. Tentava entender as razões que levavam Jean-Claude a não aceitar os equipamentos fotográficos oferecidos.

— Como assim você não vai continuar o curso? — Alex perguntava.

— Eu vou continuar... mas não agora. — Jean estava visivelmente envergonhado.

— Quero que me diga o porquê. — o professor era insistente — Você é um dos meus alunos mais esforçados, Jean, qual é o problema?

O jovem negro desviou o olhar e levou a mão até seus cabelos crespos, puxando os pequenos cachos para trás. Umedeceu os lábios e se agitou antes de responder — Renoir, meu irmão mais novo, brigou na rua e não contou pra ninguém. Chegou machucado em casa e falou que tinha caído da bicicleta. Semana passada ele desmaiou. — os lábios do rapaz tremiam — A médica disse que ele teve uma forma leve de traumatismo craniano, mas como não foi diagnosticado na hora, piorou. Minha mãe tá gastando tudo o que tem pra bancar tratamento pra ele e... ela já falou que não vai dar pra continuar pagando o curso.

As palavras faltaram para Alexander.

— É por isso que não posso aceitar o seu presente, professor. Não vai adiantar. — os olhos de Jean ficaram marejados, mas ele se manteve firme — Não irei precisar mais delas...

— Porra, eu... eu sinto muito, Jean... — o professor falou, esticando um braço para apoiar a mão no ombro do aluno — Posso ver o que posso fazer pra te ajudar. Eu pagaria o curso pra você, mas não tenho nem como...

— Valeu. — o rapaz segurou a mão de Alexander — Olha que engraçado, né? O senhor queria poder me ajudar, mas não tem grana pra isso... minha mãe queria poder pagar um tratamento bacana pro meu irmão, mas não pode sem precisar tirar recurso de todo o resto... enquanto isso, a Allie perde uma bolsa com alça de diamantes. Se eu tivesse um negócio que valesse dez mil dólares, cara, nunca que eu iria perder, tá ligado?

— Ei, Lex, tudo bem? Tô interrompendo algo? — Lucas surgiu no corredor.

— Ei, não... o que precisa? — disse um desconcertado Alexander.

— Vim apenas pra dizer que tô indo, a Amy quer ir embora. — o índio explicou.

— Ué, mas e a balada? — o fotógrafo indagou ao mesmo tempo que era puxado para receber um abraço e um beijo do amigo.

— Fica pra próxima. — Lucas respondeu e foi cumprimentar Jean com um aperto de mãos — Foi mal mesmo, Lex. — sorriu.

— Tá bom, vai lá... — o professor falou e voltou sua atenção ao aluno — A gente vai dar um jeito nisso, ok?

— Se você diz...

II

Cerca de uma hora após a saída de Lucas e Amanda, o grupo começou a se agitar para ir a uma casa noturna. Não era o plano inicial, mas Allissa convenceu todos a irem com ela comemorar por seu novo emprego. Chegou a enviar uma mensagem para Alexander, pedindo que ele trouxesse vestimentas apropriadas. A Doutora Louise, por incrível que pareça, foi a que mais se interessou no programa, já que dizia que não sabia o que era uma balada desde que tinha dado à luz o seu primeiro filho.

— Tenho mesmo que ir junto? — indagou Freddy, com expressão desanimada.

— Claro que tem! — Alexander, Allissa e Louise responderam juntos e o médico suspirou, se dando por vencido.

Fredrick decidiu abstrair a mente do fato de ter visto a filha contratar uma limusine para levá-los até a casa noturna. Já tinha gastado muitas centenas de dólares no pequeno passeio que fizera com Alexander na mesma semana, então não condenaria a filha por gastar mais um pouco de dinheiro a fim de comemorar sua conquista.

— Filha, você achou sua bolsa? — perguntou o doutor quando viu a garota preparar o cartão de crédito para pagar o aluguel do veículo com motorista.

— Não. — respondeu Allissa tristemente — Não tô crendo que perdi, sabia? Eu jurava que tinha deixado no sofá, mas já procurei pela casa inteira e a Sam também procurou na casa dela e não achou.

Freddy se limitou a rir do azar de Allie. Não quis pensar muito no fato de eles estarem falando de alguns milhares de dólares.

III

Mais um tempo se passou até que o grupo misto de jovens e adultos se reunisse na sala de estar. Por ordem de Allissa e Samantha, que idealizaram o rolê, todos (ou quase todos) se pareciam com lâmpadas neon, tamanho o brilho e a quantidade de cores que vestiam de uma vez.

Samantha vestia um daqueles vestidinhos curtos de cor metalizada e iridescente, e um salto plataforma que a deixava com quase um metro e oitenta de altura. Lindarosa somente trocou a calça jeans preta por um short preto de cetim que vestiu por cima de uma meia arrastão vermelha. Acessórios com as cores (fluorescentes) da bandeira lésbica surgiam pendurados em seu pescoço e orelhas. Jean estava todo de branco: tênis de basquete, calça cargo com elástico no tornozelo, camisetão sem estampa, tudo para acender em roxo na influência da luz negra. Allissa, por fim, vestia um conjunto de short e blusa de mangas compridas cujo lado direito era azul e o esquerdo rosa. Nos pés, os all stars seguiam o padrão da roupa, sendo um pé azul e o outro rosa, com os cadarços trocados.

No time dos mais velhos, Louise vestia as roupas de Allissa, que apesar da diferença de idade entre elas, lhe serviam incrivelmente bem. Um body preto com estrelinhas brancas combinado com uma saia tutu branca com estrelas pretas, sapatos bicolores estilo Oxford e uma tiara com laço, transformavam a diretora do hospital numa fada (do tipo que faria a varinha de muita gente subir). Freddy, que não estava muito a fim, escolheu uma camisa de seda azul clara com estampa de flores azuis escuras e, como Jean-Claude, calça e tênis branco para poder brilhar sob a luz negra. Alexander, por sua vez, tinha decidido liberar o deus gay em seu interior e vestiu nada mais, nada menos que uma camisa preta transparente debaixo de um terno de lantejoulas cor de arco-íris, all stars pretos com linhas iridescentes e, para completar, um óculo também iridescente no estilo aviador.

Às dez da noite, entraram na limusine e partiram para a casa noturna, e seguiram bebendo até começarem a rir de tudo. Com ingressos VIP conseguidos sabe-se lá como por Samantha (que dizia conhecer meia metrópole), passaram reto pela enorme fila de gente que esperava para entrar. Se divertiram já na entrada, pois as pessoas os interrompiam, pedindo permissão para serem fotografadas ao lado de Alexander, Louise e Allissa, os mais interessantes em termos de aparência.

No interior da casa, se dividiram em dois grupos: Allissa, Freddy e Jean foram buscar bebidas e o resto foi logo dançar. O médico aproveitou a chance e ficou por perto do bar, já que não tinha a menor intenção de ir pular no meio de toda aquela gente colorida e bêbada. Se divertia ao observar de longe, vendo Lindarosa dar foras em todos os homens que se aproximavam. Não compreendia como a física permitia que Samantha se equilibrasse e ainda pulasse sobre um par de saltos tão altos e achava engraçado ver Allissa a tentar ensinar Jean-Claude a dançar, seguindo a sincronia quase perfeita entre Alexander e Louise, que com suas roupas acesas em branco, preto e arco-íris, inspiravam uma galera a acompanhá-los.

As mulheres começaram a fazer muito sucesso quando músicas latinas passaram a tocar, levando-as a rebolar e descer até quase baterem com a bunda no chão. Não que os rapazes não estivessem arrasando, mas a natureza havia escolhido as donzelas para abençoar com a raba mais apropriada tanto em forma quanto em malemolência para subir e descer. Ancas que se afastam para dar crianças à luz tinham muitas vantagens, faz-se necessária a valorização, e foi nessa hora que Lindarosa, para a surpresa de todos, dançou de maneira tão arrebatadora que as pessoas não tiveram escolha a não ser assistí-la e aclamá-la com palmas.

Quem diria que a roqueira com cara de brava seria a rainha da porra toda, quando se tratava de dançar?

— Ei, daddy! — Samantha surgiu ao lado de Freddy, surpreendendo-o — O que está... ou melhor, quem está olhando? — indagou, relembrando a forma como se aproximou dele na noite em que o médico conheceu Alexander.

— Apenas assistindo vocês... — disse Fredrick e então bebeu um gole de martini.

— No andar de cima tem pôquer. — informou a ruiva — Quer jogar comigo?

— E desde quando você joga? — o médico zombou, sabendo que Samantha se sentiria desafiada.

— Não se esqueça que no aniversário da Allie, nós ganhamos!

— Só porque eu deixei.

— Claro que o homem que perde pra mulher vai dizer que facilitou. — Sam provocou.

— Mas eu não facilitei, só deixei mesmo. — Fredrick não se abalou.

E os dois subiram as escadas até um mezanino repleto de mesas, se juntando a um grupinho de jovens que jogava próximo ao parapeito de vidro temperado que permitia que o andar inferior da casa fosse visto. Faziam um bom time e Fredrick teve que admitir que Samantha havia melhorado muito desde a última vez que jogaram. A menina era mestre em tudo que tinha a ver com farra e cheia das graças como era, divertia a todos ao redor.

— Ih, daddy, você vai querer ver isso. — falou Sam ao se levantar e se debruçar no parapeito.

Freddy foi para perto da ruiva e procurou olhar para o ponto que ela apontava. Avistou Alexander e Louise dançando juntos, uma música em ritmo de zouk que Allissa sempre escutava: "I Like It" de Abege.

As bochechas do médico começaram a queimar. A distância entre os corpos dos dois e os movimentos que faziam com as pernas e os quadris, indo e voltando, literalmente encaixados um no outro, com giros ocasionais que colocavam Louise de costas para Alexander, que recomeçava os movimentos de vai e vem, numa ondulação extremamente sexy de corpos que se comportavam como uma boca faminta e uma comida deliciosa.

Ao ver Alexander se mover daquele jeito, Freddy compreendeu o refrão, aparentemente, vazio da canção cujo cantor sussurrava as letras, como se as falasse no ouvido da pessoa a quem se referia.

E o corpo inteiro do doutor queimava. Um fogo parecia crescer a partir de sua virilha, irritando-o com a inveja que sentia, desejando estar no lugar de Louise e, por que não dizer, desejando estar no lugar de Alexander ou, melhor ainda, querendo achar seu lugar entre os dois. Afinal, não podia ignorar o fato de que a diretora do hospital estava incrível também.

Quando a música acabou, Fredrick se viu obrigado a assumir sua posição ao lado do fotógrafo que passou a ser gentilmente abordado por dois homens carecas, muito bem vestidos e que se atreviam a segurá-lo pela cintura.

— Nos desculpe, não sabíamos que estava acompanhado. — um deles falou, mantendo um olhar claramente voluptuoso em direção a Alexander que apenas sorria e dizia que os homens não tinham do que se desculpar.

— Deus? — Freddy se aproximou, chamando o amante pelo apelido carinhoso.

— Ah, esse é o meu... — Alex não sabia como deveria se referir ao médico.

— Marido... — disse o doutor e todo mundo ao redor se calou — Fredrick Warren.

— Muito prazer, senhor Warren. Seja bem-vindo a nossa casa. — o outro careca estendeu a mão para cumprimentar o médico — Espero que se divirtam e, por favor, nos perdoe por qualquer inconveniente. — sorriram e se retiraram.

— Mas que cavalheiros. — Louise brincou, embasbacada com a postura educada dos homens.

— São os proprietários dessa e de outras casas. — Alexander explicou.

— Conhece eles? — Freddy indagou, passando um braço ao redor da cintura do amante.

— De vista, sim. — respondeu o fotógrafo e sorriu — Marido... ciumento...

— Sou mesmo! — o médico fez cara de desdém — Você não vai me ver surtando de ciúmes igual a esse povo meio doido, mas não vou mentir dizendo que fico tranquilo com a ideia de alguém chegar já te agarrando pela cintura daquele jeito. Aliás, eu quero uma dança dessa que vocês estavam fazendo só pra mim, mais tarde.

— Se fodeu, meu amigo, já era! — Alex zombou — Foi ficar longe de todo mundo, foi querer jogar pôquer... perdeu!

Louise ficou sem graça com o comentário de Freddy, por mais que soubesse que o pedido por mais uma performance da dança sensual tivesse sido feito para Alexander. Sua mente não conseguiu evitar o surgimento de ideias em que dançaria aquela mesma música outra vez, com a diferença de que estaria a ser imprensada, ao mesmo tempo, contra os corpos do médico e do fotógrafo.

Ninguém sabia, mas se tinha algo que Louise sonhava fazer, se tratando de fetiches, era sexo com dois homens. Desejava isso desde a adolescência, mas nunca teve a coragem de satisfazer a vontade. Na privacidade de seu quarto, assistia pornografia que representasse seus desejos, geralmente, indo parar na lista de conteúdo bissexual, pois os vídeos de ménage à trois em página voltadas a heterossexuais normalmente envolviam homens que não se tocavam e isso era exatamente o que Martha Louise não queria.

Sem querer, a diretora do hospital começava a desprender um bom tempo de considerações a esse respeito. Em sua visão, Fredrick e Alexander seriam perfeitos para realizarem o fetiche dela. Talvez, o fotógrafo não quisesse, pois, pelo que todos sabiam, era exclusivamente homossexual. Contudo, se aceitasse participar da brincadeira, seria perfeito. A única grande diferença era que Louise sempre tinha se imaginado como a "companheira oficial" e não como a "pessoa extra" da relação.

Além disso, será que ela tinha chance? Será que Freddy não ficaria estranho com ela? Por causa da dança sugestiva? Será que Alexander não acharia ruim que ela ainda tivesse vontade de ficar com o homem que, por ciúmes, se apresentou como marido dele?

— Vou beber uma dose de gin e vou pra casa, rapazes. — informou a doutora após olhar o celular e ver que eram quase três da manhã.

— Vai não! — Alexander passou o braço pelos ombros da mulher e falou. — a gente tá tudo bêbado e mulher sozinha e alcoolizada corre perigo por causa de gente babaca. Vamos embora todos juntos... dá pra limusine deixar você em casa.

— Tá certo. — Louise concordou, já que não se sentia segura ao entrar no carro de homens desconhecidos — Mas vou sentar lá no bar um pouco. — e partiu rumo ao balcão em que um aglomerado de pessoas se atropelavam em busca de uma bebida gelada. Pediu a dose de gin e bebeu, solicitando mais duas em seguida, tomando-as enquanto observava os casal de homens a se beijarem intensamente no meio da multidão agitada.

A doutora considerou que um ménage com eles não seria uma boa ideia, já que aquilo poderia intensificar as inseguranças de Alexander e, ao mesmo tempo, iludir ela mesma com a perspectiva de Freddy vir a nutrir por ela sentimentos que, na verdade, não existiam.

E eles se beijavam ao som de Give It Up de KC & The Sunshine Band.

Quando Ballroom Blitz, do Sweet, começou a tocar e o homem vestido de arco-íris arrastou o médico florido para o meio das pessoas, a fim de dançarem algo semelhante ao rockabilly, Louise se deu conta de que estava os encarando há um bom tempo. Levantando-se então, decidiu ir pagar a conta e foi somente quando chegou sua vez que ela percebeu que seu cartão de crédito havia desaparecido.

E agora?

Notas Finais: Obrigada por ler, não se esqueça de votar e comentar, se estiver gostando. Até a próxima!

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