Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

16 - Sabores e Dissabores do Arco-Íris

Os dias e as semanas se passaram tranquilos desde que Fredrick e Alexander decidiram reconhecer que o relacionamento que tinham não podia ser chamado de amizade.

Basicamente, a mudança que tal reconhecimento trouxe foi que, agora, ambos os homens se sentiam mais livres para solicitar a companhia um do outro. Assim, após seus expedientes, vez ou outra marcavam de se encontrar em algum lugar da cidade para passear. Alex, como permitia ser chamado, sabendo que Freddy era novo em Chicago, gostava de apresentar os lugares que considerava mais interessantes.

Em um bar de rock, descobriram que tinham em comum o gosto pelo heavy metal, especialmente, pelas bandas Iron Maiden e Black Sabbath. Numa caminhada à noite, Freddy aprendeu que Alex era chocólatra e prometeu fazer brigadeiro quando se encontrassem na casa de um ou do outro.

Em uma madrugada após saírem aos tropeços de um bar, o fotógrafo tentou, sem sucesso, convencer o médico a ir com ele para uma casa noturna. Warren deixou claro que o único motivo para ter colocado os pés na boate em que conheceu o Cavanagh foi o fato de a filha ter ganhado a aposta de aniversário, caso contrário, por princípio, nunca teria ido até lá.

No mesmo final de semana em que Alexander aprendeu a não convidar Fredrick para baladas, o médico compreendeu que, em hipótese alguma deveria: acordar o fotógrafo antes das oito da manhã aos domingos; chamá-lo para correr no parque após o acordar antes das oito da manhã em um domingo.

Freddy jamais seria capaz de esquecer a expressão carrancuda, com a testa franzida e olhos azuis apertados devido a fotofobia matinal, tampouco se esqueceria do ódio se fazendo quase palpável enquanto Alex suprimia um mal humorado "vai tomar no cu" e dizia apenas:

— Não, Freddy, obrigado. Sou intolerante a práticas saudáveis.

Naquele domingo, o brigadeiro trouxe de volta o bom humor do deus.

A palavra "deus", inclusive, acabou sendo incluída no vocabulário dos amantes. Isso ocorria mais por causa de Freddy, que, quando era casado com Elenice, costumava chamar a esposa de "deusa" ou "rainha". Sendo rico desde sempre, o médico não media esforços para encher aqueles a quem amava de mimos, e assim, se aproveitando do próprio ateísmo, brincava dizendo que seus presentes eram tributos para aplacar a fúria de deus.

Com Elenice, entretanto, a tarefa era mais fácil. Pois, embora não fosse do tipo machista, Fredrick confiava cegamente na lista de coisas que diziam agradar as mulheres em um relacionamento. Flores, chocolates, roupas e acessórios da moda, enfim.

Teve sorte pela esposa ter sido uma mulher romântica, adepta das histórias de príncipes encantados e fã do cavalheirismo, se sentindo mais valorizada quando Fredrick abria para ela a porta do carro, do que quando ele elogiava suas faculdades mentais. A falecida esposa podia facilmente ser chamada de "mulher tradicional", no melhor sentido que a palavra "tradicional" pudesse ter.

A dificuldade de Fredrick consistia, então, no fato de que de tradicional Alexander não tinha muita coisa. Quer dizer, sendo homem, era óbvio que compartilhava com o médico alguns conhecimentos e interesses em comum, como: técnicas para se barbear e cosméticos ideais para manter a barba em seu melhor estado; uma fixação em carros (por mais que Alex preferisse motos); desinteresse que beirava o desprezo por comédias românticas e uma tendência a se tornarem competitivos e agressivos durante partidas de jogos que apreciavam. Héteros ou não, a construção social da masculinidade ainda se fazia presente, independentemente da sexualidade.

No entanto, por nunca ter realmente pensado em dar presentes românticos para um cara, Freddy não sabia muito bem o que fazer, por exemplo: daria flores ao deus? Será que um buquê ou uma flor solitária teria o poder de estimular o fotógrafo da maneira esperada?

Alexander não era do tipo romântico. Na verdade, era meio óbvio que, em todos os relacionamentos que teve, fossem quantos fossem, ele era aquele a receber todas as demonstrações de amor. Isso fazia do deus uma figura um tanto egocêntrica, por mais que também soubesse ser (e frequentemente fosse) bastante carinhoso.

Em termos de moda, o fotógrafo parecia um modelo, fazendo combinações de cores e peças excêntricas que, além de ficarem perfeitas em seu corpo esguio, também o deixavam uns dez anos mais jovem. Tendo quase quarenta, sorria satisfeito quando lhe davam trinta.

Em termos de alimentação, podia-se dizer que Alexander possuía um "estômago de avestruz". Dizendo sofrer de estresse e ansiedade, não podia ficar um segundo ocioso que já estava ele assaltando a geladeira e a despensa. A criatura, contudo, como se tivesse nascido com o cu virado para a Lua, tinha o metabolismo acelerado e não engordava um grama sequer.

Ainda, o fotógrafo consumia revistas e livros sobre fotografia, sua profissão, e sobre automóveis, um de seus hobbies e, quando não estava envolvido com nada disso, procurava qualquer coisa para ver na TV.

Na primeira vez em que Fredrick decidiu presentear o amante, passou em um shopping para estudar as opções disponíveis. Pensou em dar ao homem um livro. Como não entendia nada sobre fotografia e não encontrou nada legal sobre veículos, optou por lhe oferecer uma ficção científica. Fundação de Isaac Azimov ou O Guia do Mochileiro das Galáxias de Douglas Adams? Indeciso, deu os dois. Se arrependeu, pois embora soubesse que o deus tinha ficado imensamente alegre ao receber os tributos, também tinha percebido que ler livros não era exatamente como Alexander gostaria de passar o tempo.

Na segunda vez, optou por dar um par de botas de couro sintético bem no estilo que o deus gostava e, foi muito melhor sucedido, pois viu que Alex fazia questão de usar os calçados sempre que podia. Na terceira tentativa, aprendeu que, se quisesse mesmo causar uma boa impressão no fotógrafo, tinha que ir com ele à exposições de qualquer tipo de arte.

Fredrick riu maravilhado enquanto assistia Alexander falar e gesticular empolgado e obsessivo por narrativas contidas em frames de filmes e fotografias compostas pelos mais diversos artistas.

Aquele momento foi o primeiro em que o médico se arrependeu por ter optado por manter a discrição a respeito do romance. Ainda não se sentia pronto e nem tinha interesse em assumir a bissexualidade recém descoberta. Se incomodava com a ideia de ter que "sair do armário", assim, como se sua sexualidade fosse da conta de alguém além de si próprio.

Alex não parecia se importar com o fato de não ser apresentado como "namorado do doutor Warren", então, por enquanto, estavam bem um com o outro, mesmo não andando de mãos dadas, mesmo não demonstrando qualquer afetuosidade romântica em público. A desvantagem disso era não poder agarrar seu amante no meio de todos e enchê-lo de beijos por achá-lo adorável quando falava de arte.

O bom era que, mesmo com a discrição, conseguia viver bons momentos com o fotógrafo. Na semana seguinte a da exposição, Alexander fez questão de comprar um bom vinho e escolher os melhores ingredientes para preparar de presente para Freddy um fondue de queijo delicioso e quente como a noite de sexo que tiveram logo após o jantar.

O doutor ficou nas nuvens.

No trabalho, entretanto, as coisas não estavam tão boas. Na primeira semana após o jantar na casa de Lerry, Fredrick teve uma conversa com seu melhor amigo e com sua chefe, cumprindo a palavra que dera a Allissa, quando disse que resolveria as questões que os envolviam.

— Fred, para que tudo isso? — indagou Leroux, visivelmente desconcertado — Todos nós estávamos brincando apenas... não entendo a razão para ter se irritado tanto.

— Lerry, eu... — Fredrick se perguntava como o amigo conseguia insistir tanto na própria ignorância — Nós somos médicos, caralho! — decidiu usar a profissão como argumento — Por acaso já se esqueceu daqueles moleques que atendemos, que foram espancados em um posto de gasolina apenas por estarem andando de mãos dadas?

— Eu não apoio isso e você sabe! — Lerry se defendeu, batendo a ponta do indicador na mesa do refeitório — Era uma brincadeira inocente, ninguém liga se Robert está trepando com outro macho!

— Esse é ponto que você não vê, Lerry! — Fredrick respirou fundo e afastou o prato de comida de diante de si — Robert não está "trepando com outro macho" e mesmo que estivesse, isso não deveria ser uma piada para você, não deveria ser piada para ninguém. Você estava ridicularizando um ser humano e por quê? O que a tal namorada do Robert fez de mal para você? Você sequer a conhece! Acha certo fazer da vida e das escolhas dela uma piada? Isso o que está chamando de brincadeira, Lerry, é uma desumanização...

— Ah, Freddy, pelo amor de Deus! — Leroux olhou para o lado e suspirou, achando tudo aquilo uma grande encheção de saco — Isso não tem nada a ver...

— Nada a ver? — o médico indagou incrédulo — Lerry, abre a cabeça! Você me contou que, quando estava na escola, seus colegas te zoavam por ser gordo. Agora me diz, você se sentia feliz com a zombaria deles?

— E daí, Freddy, e daí? — Leroux se cansou de apenas ouvir, embora não estivesse escutando nada — Eu sou gordo e as pessoas me zoam, o cara é viado e as pessoas zoam ele... o mundo é cruel e sabe do que mais? Ninguém é obrigado a gostar de mim ou a me aceitar. Sabe o que eu faço quando encontro alguém assim? Saio de perto, não tento ficar me forçando na vida de quem não me aprova. Eu não vou levantar a minha mão para agredir um desses viadinhos, jamais faria algo ruim com uma menina lésbica ou com esses que nascem de um jeito e querem ser de outro. Eu tenho certeza de que, quando esse povo se encontra, também ri de gente como eu, ou você acha que eu sou surdo e nunca ouvi um desses LGBT esculachando quem eles acham feio? Tiram sarro de todo mundo, mas não querem que as outras pessoas tirem sarro deles!

— Existe gente idiota em todo lugar, Lerry... — Fredrick se esforçava para tentar fazer o melhor amigo compreender seu ponto — Ninguém deveria ter rido de você por ser gordo, assim como você não deveria rir de uma pessoa por ela ser transexual. Então é assim? Alguém se comporta como um imbecil e a gente revida com mais imbecilidade? Ser vítima de preconceito não te dá o direito de ser preconceituoso com as outras pessoas.

Lerry inclinou a cabeça sobre uma das mãos e suspirou, olhando ao redor para fugir dos olhos de Freddy. Sua cara redonda estava vermelha de nervoso, se sentia mal interpretado, se sentia censurado.

— Ok, agora me diz, por que você começou a se importar com isso? — Lerry questionou em tom de irritação — Te conheço há anos e você sabe muito bem qual é o meu jeito, conhece as minhas brincadeiras e tudo mais... Nunca tinha te visto tão irritadinho por uma besteira dessas... o que mudou?

Freddy respirou fundo para conter a raiva que o agarrou de repente. Precisava se justificar para solicitar o mínimo de bom senso?

— Tenho tentado aprender mais e agir de uma maneira melhor, ao invés de me convencer de que meu jeito é certo e não faz mal a ninguém.

— Isso é por causa de Allissa? — Leroux indagou, concluindo o motivo do interesse do amigo na questão — É só para protegê-la, já que ela decidiu virar lésbica? Antes você não ligava para nada disso, só porque agora está acontecendo com você, começou a se importar. Eu sou Leroux, o homofóbico e você é Freddy, o hipócrita!

Fredrick Warren provavelmente não previu que a conversa que teria com Leroux chegaria naquele ponto. Não esperava ouvir um insulto daqueles, principalmente, vindo de seu melhor amigo. Não que não tivessem se insultado outras vezes, pois, se conhecendo há muitos anos, tinham o costume de se xingar, de falar merdas um para o outro, a diferença era que tudo era uma brincadeira, era tudo parte da amizade que compartilhavam.

Quando Samantha nasceu, Freddy foi a primeira pessoa, além dos pais e dos médicos, a ter a menina nos braços. Lerry abriu as portas de sua casa para Elenice e Allissa desde quando soube que o amigo estava morrendo de amores por elas. Ele mesmo morria de amores por elas e quando uma delas morreu, deixando Fredrick aos cacos, foi Leroux que o impediu de se entregar ao alcoolismo.

Foi ele também que acreditou no amigo quando este duvidava de que conseguiria cuidar bem de Allie sozinho. Lerry se fez presente no pior momento da vida de Freddy, pois precisava fazê-lo perceber que não estava realmente sozinho.

Fredrick se lembrava de tudo. Se lembrava de que quando o casamento de Leroux quase ruiu, graças ao fato de ele ter descoberto a existência dos inúmeros affairs de sua esposa, foi em seus braços que veio chorar. E chorou muito, como se fosse criança, soluçando e com o nariz escorrendo, a dor rasgando seu peito de dentro para fora. Fredrick se lembrava de como a autoestima do amigo foi para a puta que pariu e ele sequer tinha energia para tomar banho.

Allissa nunca soube o verdadeiro motivo pelo qual "tio Lerry" resolvera passar três meses como hóspede em sua casa. Disseram para Samantha que o pai estava ajudando "tio Freddy" com uma pesquisa importante. Elas nunca souberam daquela crise.

Allie nunca havia flagrado o pai a sair pela madrugada em busca do melhor amigo que estava decidido a se vingar, pegando quaisquer prostitutas por aí. Samantha nunca soube que foi o "daddy" que insistiu para que seus pais se dessem uma nova chance.

Em suas horas mais sombrias, um estava lá para o outro.

Contudo, agora, o insulto era real. Não era só uma provocação boba, uma bronca que só se pode receber de alguém que realmente se importa. Era uma ofensa pura e simples, daquelas que se ofereciam para aqueles a quem se queria machucar.

A amizade de Lerry e Freddy era tão antiga, tão intrínseca nas vidas de ambos... Como podia então ser abalada pela homofobia, pela ignorância, pela discordância? Mesmo pensando diferente, sempre tinham se entendido, por que agora isso não estava acontecendo?

A resposta era simples: homofobia ou qualquer outro tipo de preconceito não se tratava apenas de gostar ou desgostar de um tipo de ser humano. Se tratava de uma série de conceitos, verdades construídas que inspiravam atitudes e que nos diziam que "a" é melhor do que "b" sem, para isso, usar palavras.

Era algo que começava no dia do nascimento e se repetia por todos os dias das vidas de todo mundo. Era algo que estava intrínseco à criação, que era ensinado na escola, que era repetido nos filmes, pregado nas igrejas e protegido pela legislação. Era valor e princípio, era sagrado, era tradição.

E o que era o ser humano, senão tudo o que aprendeu, o que viveu, o que experimentou? A homofobia, tal como todo o preconceito, era uma maldade disfarçada de retidão, de justiça, de natureza, de voz de Deus. Ela se parecia com o que todos foram ensinados a considerar correto, por isso, era muito difícil (embora possível) lutar contra isso, desconstruir uma vida de valores que matavam, remover das fundações humanas o princípio do ódio.

Leroux não odiava ninguém. Ele apenas reproduzia o discurso do ódio diluído em uma piada. Ele nem se dava conta. Por mais que Freddy lhe explicasse, não conseguiria enxergar, pois para tal precisaria, primeiro, admitir que tinha algo errado com o mundo, com a forma com que as pessoas se tratavam, com as prioridades da vida, com a religião, com a hierarquia, com a lei.

Lerry não enxergava a desigualdade justamente por acreditar que todo mundo era igual. Para ele, homofobia era ódio somente, era a agressão, a violência e, como ele sabia que jamais tomaria parte em ações tão hediondas, via a posição de Fredrick como equivocada, desnecessária e ofensiva.

A maldade do preconceito era fazer o opressor se sentir uma vítima.

— Se pedir para o meu melhor amigo para ter um pouco de bom senso é ser hipócrita, então eu serei hipócrita. É uma pena que esteja disposto a sacrificar tanto para continuar a repetir isso que insiste em chamar de piada. Não tem mais graça, Lerry e justo você, que gosta tanto da biologia, deveria ser capaz de entender que aquele que não se adapta ao meio em que vive, não sobrevive. Continue com a cabeça no século passado e o progresso vai passar por cima de você! — Fredrick respondeu a ofensa, se levantando e deixando Leroux para trás.

E essa foi a última vez em que se falaram, pois passaram a se evitar, trocando não mais do que simples saudações, apenas por educação. Todos no hospital notaram o distanciamento entre os amigos e, como já era esperado, a diretora do lugar decidiu que queria entender o que realmente estava acontecendo.

— Isso é por causa do que aconteceu durante o jantar? — indagou Louise, olhando firmemente para um Fredrick que jazia sentado numa cadeira ao lado da dela, na suntuosa sala de reuniões do hospital.

— O que aconteceu no jantar é uma parte disso, sim. No entanto, essa é uma questão pessoal, doutora Louise, acho que o melhor é deixar isso fora do ambiente de trabalho. — o doutor Warren respondeu de maneira educada, tentando não se estender demais.

— Entendo, doutor, e acredito que tanto o senhor quanto o doutor Leroux são profissionais capazes de não deixar questões pessoais afetarem a produtividade no trabalho. — a mulher respirou fundo, mordendo os lábios após observar a face séria de Fredrick — Contudo, não venho aqui apenas como diretora do hospital, venho como Martha, quero que me veja como uma amiga, alguém com quem possa contar.

Freddy pensou por um instante, enquanto via as mãos da doutora se arrastarem sutilmente até alcançarem as dele, encostando em seus dedos.

— Martha... — puxou as próprias mãos para longe das de Louise e começou — O que aconteceu durante o jantar tem o potencial de ferir pessoas com quem me importo. Foi por isso que não pude ficar calado e é por isso que Lerry e eu nos desentendemos. Mas tenho certeza de que essas coisas vão se acertar, no futuro. Não precisa se preocupar com isso.

Louise compreendeu o recado.

— Ah, sim. — o semblante dela caiu com a sutil rejeição — Entendo. — sua face se avermelhou e ela desviou o olhar. Estava visivelmente envergonhada — Sinto muito por tudo. Eu espero que não tenha ofendido você ou a qualquer... — se desculpava pela pequena confusão no jantar e por ter dado em cima do doutor.

— Você foi magnífica, Martha. — Fredrick se levantou e sorriu para a diretora. Não queria magoá-la — Espero que ainda queira escrever o livro comigo. — embora não a quisesse como mulher, a queria como amiga.

— Sim, claro... sim... — a diretora sorriu sem graça, abaixando a cabeça que esquentou e enrubesceu mais.

Depois disso, claro, o clima continuou pesado. Lerry quase não falava com o médico e Louise mal o encarava. Para completar, os colegas que tinham participado do jantar o olhavam atravessado e também o evitavam.

Freddy era grato por não depender demais de uma equipe. Sendo especialista em ortopedia, trabalhava em sua sala, normalmente sozinho e isso estava sendo ótimo, já que não se sentia mais tão à vontade com as outras pessoas.

O problema disso era que, mais e mais, sua própria mente começava a concluir que o que estava vivendo era resultado de suas escolhas mais recentes. Uma voz em sua cabeça lhe dizia que, se não tivesse sucumbido a "concupiscência da carne", como dizia a bíblia em que Fredrick não acreditava, se não tivesse "se deitado com outro homem", nada daquilo estaria acontecendo.

Mesmo não sendo religioso, havia uma parte de si que o acusava de pecar contra um deus que não considerava existir. Levando-o a concluir que aquilo era uma espécie de castigo do qual ele era merecedor.

Nesses dias, chegava em casa com os ombros pesados de culpa, sentindo-se verdadeiramente cansado, desanimado e, ao mesmo tempo, ansioso, como se estivesse a cometer algum crime e corresse risco de ser pego, de ser preso e de ser exposto.

— Pai, eu tenho muito orgulho do senhor. — quando Allie usava aquele pronome de tratamento, Freddy sabia que ela não estava brincando — Sinto muito pelo fato de as coisas não estarem bem no hospital, mas fico contente por ter se posicionado em relação ao tio Lerry e por ter dispensado a doutora Louise... e também fico feliz por você e pelo... não sei se devo chamar ele de "cara da balada", "professor" ou só de Alex... — riu e se sentou no sofá.

Se Allissa soubesse o poder que suas palavras tinham...

Ah, se soubesse quão importante era para Fredrick saber que sua filha querida o apoiava e se sentia orgulhosa dele. Era tudo o que o médico sempre quis. Ser motivo de contentamento para aqueles a quem amava. Tal conhecimento era o alimento que sustentava os ossos de seu espírito, era a força que o mantinha de pé, era a coragem que o fazia continuar a insistir, por mais que sentisse medo.

Porque se tinha algo que Freddy estava sentindo, esse algo era medo.

Medo de escolher errado, de se entregar a um relacionamento que não valia a pena e acabar afastando de si as pessoas com quem mais se importava. Temia ferir sua filha, temia se ferir. E como se não bastasse, temia ferir Alexander, temia ser covarde demais para se assumir e terminar fazendo seu deus acreditar que não era suficientemente querido (ou seria amado?).

Contudo, já possuía o maior dos privilégios. Era aceito em sua casa. Seu lar era seu refúgio e ali não precisava se esconder. Sua filhinha o aceitava, o compreendia, surpreendendo-o com um coração repleto de amor, por mais que ainda fosse jovem e inexperiente.

Sim, saber que Allissa estava bem com tudo aquilo era a melhor coisa. Fredrick odiaria sentir que estava deixando a garota infeliz, assim, se ela se colocasse contra sua bissexualidade, era provável que a paternidade falasse mais alto do que a busca individual dele por felicidade.

Qual era o sacrifício que um pai de verdade não faria por um filho?

Além disso, Fredrick se lembrava da história de Alexander. Imagine só se ele também fosse rejeitado por aqueles a quem amava? Se sua única saída fosse abandonar o próprio lar? Tendo que escolher entre ser quem realmente era e ser aquilo que seus pais (ou, no caso de Freddy, filha) esperavam que ele fosse?

Como seria se, além de todas as implicações que o novo aspecto de sua sexualidade trazia, ainda tivesse que lidar com a intolerância e se visse obrigado a esconder seus sentimentos e toda uma parte da própria vida?

Fredrick Warren era um homem privilegiado.

Por isso, ainda podia dizer que tinha uma boa vida e que era um homem feliz.

Sim, era feliz, mesmo com os novos pensamentos, com os novos sentimentos. Mesmo com a intolerância, com o medo e com os desentendimentos. Era feliz e sortudo. Como poderia não ser?

Notas Finais: Espero que tenha gostado deste capítulo. Obrigada por ler! Se quiser ajudar esta obra a alcançar ainda mais leitores, vote e comente sobre o que estiver gostando. O seu apoio me eleva! 

Abraços!

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro