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11 - O Novo Professor de Fotografia

Allissa pulou do sofá em que dormia e foi correndo abraçar o pai.

— Nunca mais se esqueça de me dizer para onde vai após o trabalho, ouviu? Eu quase morri de preocupação! — passou o braço pelo pescoço do homem mais velho que retribuiu o gesto.

— Me desculpe, filha...

Na tarde de sábado, os eventos guiaram Fredrick Warren para a casa de Alexander e, no meio da algazarra dos dois, o médico se esqueceu de avisar a filha onde estava. O resultado: centenas de ligações no meio da madrugada acordaram os dois homens que, impelidos pelo desejo, transaram mais algumas vezes, acreditando que teriam o domingo inteiro para descansar.

No entanto, o arrependimento veio quando um dos funcionários do hospital ligou, pedindo para que Freddy voltasse ao local para ajudar em uma emergência. Obedecendo o juramento que regia o ofício da medicina, lá se foi o doutor trabalhar, mesmo estando a morrer de sono.

O serviço no hospital foi mais intenso do que Fredrick esperava. Um vazamento de gás em um prédio próximo tinha causado uma explosão em um apartamento e a intoxicação de praticamente todos os residentes e funcionários do edifício. A ala emergencial estava atolada de pessoas doentes e sujas e queimadas e feridas por escombros. Uma visão digna do inferno. Salvar o maior número possível de vidas levou mais do que um dia inteiro e apenas na segunda-feira de manhã, Freddy conseguiu retornar ao lar.

Allissa não mentia quando disse que quase morrera de preocupação. Sem parentes próximos, temia por demais que algo acontecesse ao seu pai e ela fosse forçada a ficar só. Entretanto, recuperara a alegria tão logo soube que Freddy havia estado na companhia daquele por quem se apaixonou.

Apaixonou?

Na vida, Allie não tinha tido muitas oportunidades de ver o pai se apaixonar. Se lembrava de um tempo em que Freddy só tinha olhos para sua mãe e mal comprava algo para si, sempre pensando no novo presente que daria a sua deusa.

Deusa?

Sim. Fredrick Warren tinha a tendência de idolatrar as pessoas que amava. Não de uma forma cega ou nociva. Era uma adoração sincera e pura, daquelas que gerava alegria apenas por se estar perto da figura idolatrada, que inspirava os melhores pensamentos e as mais virtuosas ações.

Uma vez, após a morte de Elenice, Allie viu o pai entrar nas vias da paixão por uma estagiária de enfermagem que conheceu num dos hospitais em que trabalhou. A moça, contudo, não era tão boa quanto achavam e se aproveitava da boa vontade do homem para, praticamente, extorqui-lo.

Roupas caras, cabeleireiros chiques, viagens e até um carro. Fredrick havia gastado uma verdadeira fortuna para satisfazer os caprichos de uma mulher que, no fim, o traía com um simples barman. Por sorte, o médico a esqueceu rapidamente.

Não antes, claro, de fazer a enfermeira perder o estágio e a reputação de boa moça. Afinal, não havia nada que desagradasse mais Fredrick Warren do que aqueles que tentavam enganá-lo. Tendo o médico um caráter humilde, dificilmente entrava em contendas que o obrigavam a fazer uso dos recursos que sua enorme fortuna podia comprar. Contudo, não hesitava em fazê-lo quando sentia que estava sendo vítima de uma injustiça.

A questão, entretanto, era que Allissa tinha dúvidas sobre o pai estar ou não apaixonado pelo tal Alexander.

Teria mesmo Freddy caído de joelhos pelo simples "cara da balada"? Ah, toda a história era confusa e muito inesperada. Então Fredrick Warren era bissexual? Assim do nada? Isso era, com certeza, surpreendente, porém não era esse o problema.

O problema consistia na possibilidade do médico se ferir. Allie, jovem como era, tinha muito mais experiências com essas questões de sexualidades diversas. Nunca tinha se dado a liberdade de ficar com alguém que não fosse homem cisgênero, mas conhecia muita gente que se identificava como homossexual, bissexual, trans e assim por diante, dessa forma, pôde, em muitas ocasiões, observar o desenrolar do que seu pai provavelmente chamaria de uma forma moderna de se relacionar.

Relacionamentos, para Freddy, tinham que envolver certo nível de cumplicidade e intimidade. Não dava para ser simplesmente uma coisa seca, que acontece quando dá vontade, pois a tal vontade, para o médico, só viria se houvesse aquela profundidade um pouquinho maior, típica daqueles casos em que o desejo tem potencial para virar amor.

Allie tinha medo de que o cara da balada não estivesse interessado. Pelo menos, não do jeito que o pai dela estava.

De qualquer maneira, a menina de vinte e um anos não podia viver preocupada com a vida amorosa do pai. Não quando tinha que dizer para o novo professor de fotografia (fosse quem fosse), que ela e Jean não haviam entrado num acordo sobre o que fazer para a tarefa que a instrutora anterior pedira, devido a falta de afinidade artística entre a garota rica que morava no duplex, e o rapaz pobre que trabalhava no mercadinho da família para ajudar a mãe, portanto, não possuindo nada para apresentar.

Allie tinha a esperança de que, por ser novo na escola de arte, o docente deixasse para lá ou simplesmente trocasse a tarefa e, não sabendo que Sam era aquela que costumava ser sua parceira, não se atentasse à ideia de "trocar o colega" para atiçar a criatividade.

Sendo assim, se permitiu não fazer coisa alguma naquela segunda-feira, relaxando, simplesmente, com Samantha e com a nova amiga, Linda, que tinha dormido em seu apartamento (e ficado deslumbrada com o mesmo) na noite de domingo.

Na terça de manhã, Allissa saiu com as duas amigas para ir a aula de fotografia. Fredrick ficou em casa dormindo, já que tinha ganhado esse dia e o anterior de folga, por ter trabalhado na emergência.

A moças tagarelavam pelo caminho, falando principalmente do que esperavam do novo professor. Não de uma forma séria, claro. Três jovens de vinte e pouquinhos anos? Ah, elas perguntavam umas para as outras se o docente era bonito, se era casado, se tinha algo contra pegar alunas (sim, elas até cogitaram a hipótese, na brincadeira, obviamente, de comporem um harém, caso o tal professor decidisse pegar as três)... Enfim, mulheres também falavam merda e aquelas três amigas tinham as bocas cheias de depravações.

Na inocência, claro.

Chegaram ao local em que estudavam e entraram. Allissa prestou atenção em uma motocicleta bonita e aparentemente recém saída da concessionária.

— Será do nosso novo professor? — Linda indagou, admirando o veículo.

— Se for, ele tem bom gosto. — Allie comentou sorrindo.

— Seria legal se fosse... — Samantha falou, com uma expressão sapeca — Principalmente se a gente conseguir convencer o dono a nos dar uma carona nela. — gargalhou e entrou na sala de aula, junto com as amigas.

Enquanto aguardavam a passagem dos últimos minutos que precediam a aula, Allissa e as outras duas começaram a papear com seus colegas. Jean se aproximou e cumprimentou as moças, depois, pediu um tempo para conversar com a jovem de pele escura.

— Ei, pena que a nossa tarefa não rolou... — Jean-Claude se desculpou — Será que o professor novo vai entender?

— Acredito que vai sim, Jean... não precisa se preocupar. — Allie respondeu, sorrindo para o rapaz — O professor deve ser capaz de entender o que houve...

— É... minha arte e a sua não casam uma com a outra, só isso... é normal... eu acho. — sorriu o jovem de uma forma sem graça — Mas qualquer coisa eu falo com ele...

— Não, imagina... — Allissa se prontificou — Eu vou com você, nunca te deixaria carregar essa barra sozinho. — os dois se sentaram lado a lado.

— É que fui eu que desisti de tentar encontrar algo que nós pudéssemos fazer juntos... — reconheceu o rapaz, se lembrando do quão irritado tinha ficado durante as tentativas de misturar sua visão com a de outra pessoa — Não acho justo você levar a culpa...

— Relaxa! — Allie tranquilizou o jovem, dando nele uma leve ombrada — A gente vai falar com o professor e tudo vai ficar bem...

Por falar em professor, o tal até parecia um britânico, tamanha a pontualidade. Passou pela porta exatamente um minuto antes de a aula começar, surpreendendo a todos, incluindo a si próprio, mas não por causa da pontualidade e sim por conta do que (ou de quem) viu.

— Bom dia, pessoal... — a voz cujo tom pairava entre o grave e o agudo soou, colocando sentados todos os que ainda restavam de pé.

Claro que ninguém se surpreendeu tanto com a chegada do docente quanto Allissa, cujo queixo caiu na mesa, sobre o caderno de anotações. A menina simplesmente arregalou os olhos e sentiu o coração ir parando de bater, aos poucos.

Nada que não fosse esperado quando se estava na presença de um ladrão de batidas de coração.

— Puta que me pariu! — a voz de Samantha soou tão devagar aos ouvidos da melhor amiga, que se parecia com as vozes de bonecas, quando suas pilhas estavam no fim — Allie! Esse é o...

Só que Allissa não podia escutar, de tão estupefata que estava. Diante dela, pálido como se imagina ser um fantasma, jazia o novo professor de fotografia da turma.

— Me... me... chamo Alexander... Me chamo Alexander Cavanagh. — o deus encarnado tentou se recompor — Sou o novo professor de vocês... — os olhos dele não se desgrudaram de Allissa, pois ainda era capaz de reconhecê-la — Espero que possamos nos dar bem pelo restante do curso.

— Allie! — Samantha deu uma cotovelada na amiga, sussurrando seu nome — É o cara da balada! — falou, disfarçando a voz.

Sim, Allissa sabia. Ela o reconheceu tão logo a criatura entrou na sala de aula. Caralho, o que aconteceria agora? Quer dizer, ser aluna do "ficante" do próprio pai provavelmente traria problemas, certo?

— Me desculpem se pareci um pouco desnorteado. — Alexander falou, se recompondo completamente do susto que tomara quando reconheceu a menina que era filha do cara com quem ele decidiu ter uma "amizade colorida" — Fui realmente pego de surpresa pela presença das senhoritas Warren e... — fixou o olhar em Samantha.

— Osgood Leroux. — respondeu a ruiva com um sorriso de orelha a orelha.

— ... senhoritas Warren e Leroux, que conheci em um... tour pelos espaços culturais da cidade. — o professor preferiu trocar "casa noturna" por "espaço cultural" — É bom vê-las, meninas. — sorriu, se surpreendendo com o tamanho da calma que demonstrava.

Que porra de coincidência era aquela? Quer dizer, ser professor da filha do próprio "ficante" provavelmente traria problemas, certo?

Aparentemente, o professor Cavanagh, como pediu para ser chamado pelos alunos, tinha a habilidade de se recompor rapidamente em situações de estresse. Aparentemente, claro.

No entanto, nem em aparência Allissa Warren tinha sido capaz de processar o fato de que o novo professor e o ficante do pai eram a mesma pessoa. O tempo para a jovem simplesmente parou. Ela não conseguiu ouvir quando o homem contou sobre ter iniciado sua carreira de fotógrafo após concluir um curso muito semelhante aquele e sobre ter se graduado em uma faculdade de artes muito boa. Sequer deu risada junto com o resto de seus colegas quando uma aluna mais atrevida se aproveitou do espaço para fazer perguntas para descobrir o número de telefone e o endereço do docente que respondeu dizendo:

— Querida, não se anime, pois eu gosto da mesma fruta que você.

— Allie, você tá bem? — Jean-Claude perguntou, vendo que muitos minutos tinham se passado e a jovem ainda estava embasbacada olhando para frente — Vai dizer o quê? Que o professor é seu ex?

— Que ex o quê! — Samantha se intrometeu — A Allie tem muito pela frente para fazer uma diva dessas cortar para o outro lado. — riu baixinho — O professor, por sua vez, minha nossa, fez o pai dela querer experimentar o negócio pela primeira vez... isto é... se foi mesmo a primeira vez...

— Sam! — Allissa vociferou, saindo do transe e assustando a sala inteira, inclusive Alexander, que concluiu o assunto do qual falavam e ficou vermelho, lançando um olhar de reprovação para ela — Porra! Eu disse para não sair falando!

— Como é que é? — Jean e Linda se juntaram, arregalando os olhos e rindo animados — Seu pai é gay, Allie? — o rapaz indagou em tom de deboche.

— Eu não posso falar pro meu pai ou para outra pessoa que possa influenciar a reputação do "daddy", mas aqui não tem problema, gatona, ninguém aqui é homofóbico... — Sam se justificou — Você tá entre amigos, Allie, para de ser besta!

— Por favor, mantenham o silêncio enquanto eu estiver explicando algo, ok? — Alexander pediu, obviamente se referindo ao burburinho que o grupo de Allissa causava.

— Desculpa, professor. — Lindarosa falou, sorrindo sem graça para o docente.

Enquanto isso, Allie se segurava para não xingar Samantha ali mesmo. Pois, por mais que amasse a amiga, sabia que ela não tinha o direito de sair expondo a vida das pessoas daquele jeito. Era só o que faltava, arrumar problemas para si mesma, para o pai e para o professor ao mesmo tempo.

Sam tinha realmente vacilado.

Contudo, Allissa decidiu se acalmar, talvez a situação não fosse tão ruim quanto parecia naquele instante, então, optou por deixar a vida seguir sem maiores preocupações. No pequeno intervalo que tiveram, antes da segunda parte da aula, os quatro voltaram a conversar sobre o novo professor.

— É sério, Allie, que o professor novo tá pegando o seu pai? — Linda era a mais interessada no assunto — Não sabia que ele era gay!

— Bi... acho que seria o certo, não é? — Jean indagou um tanto inseguro. Secretamente, não sabia como se posicionar em termos de sexualidade — Não sei muito sobre o assunto.

— Tá bom! — se conformou e começou a falar — Não espalhem, ok? Já me basta uma fofoqueira no grupo. — jogou a indireta (bem direta) para Samantha — Meu pai e o professor novo se conheceram no meu aniversário, numa balada e aí eles ficaram, é isso.

— Como assim? — Linda continuou as indagações — Do nada?

— É, Linda. Do nada! — Allie respondeu um tanto impaciente — Mas chega, ok? O assunto não sai daqui! Se meu pai se prejudicar por...

— Allie... calma, garota. — Lindarosa segurou uma das mãos da amiga — Eu sei como é isso e relaxa, o assunto não vai se espalhar. Também... é como a Sam disse mais cedo, ninguém aqui é homofóbico.

Após o intervalo, um pouco antes do fim da aula, Alexander cobrou a atividade que a professora anterior tinha solicitado. Todos os grupos entregaram pequenas pastas repletas de fotografias que representavam as mais variadas ideias, menos Allissa e Jean, que, quando a aula terminou e os outros alunos já iam saindo, se aproximaram do professor para conversar:

— Ei, profe... — brincou Allie, sorrindo sem graça — Podemos falar com... (deveria chamá-lo de senhor?) contigo, por um instante?

— Claro, senhorita Warren, senhor Handal. Em que posso ajudar? Percebi que não entregaram a tarefa que a antiga professora pediu, imagino que queiram falar sobre isso. — Alexander respondeu e perguntou ao mesmo tempo, tentando manter o maior nível possível de profissionalismo.

— Nós realmente não fizemos o trabalho... — disse Allie.

— É que nossos estilos são muito, mas muito incompatíveis, sério... — Jean-Claude continuou.

— Certo. — foi a única palavra que saiu da boca do professor.

— A gente não conseguiu encontrar um meio termo, nada... — Allissa tentava elaborar a desculpa — Você entende né?

— Entendo sim. — o professor se sentou em sua comprida mesa, abriu o diário de notas e, apanhando uma caneta, escreveu o número zero à frente dos nomes de Allissa e de Jean-Claude.

— Professor, espere... você nos deu zero? — Jean indagou, com o coração aos pulos. Era incrível o que um número em um caderno poderia fazer com uma pessoa.

— Sim.

— Só por que nós não fizemos a atividade? — Allissa continuou a pergunta, incrédula. Alexander a encarava.

— Correto. — respondeu o docente.

— Mas, professor... — a jovem nem sabia o que diria, mas tinha certeza de que precisava dizer alguma coisa.

— Senhorita Warren, senhor Handal... — Alexander se levantou, dando a volta na própria mesa e parando entre os dois alunos — Espero que entendam que não vou deixar que se aproveitem da minha boa vontade. O fato de eu ser novo nessa instituição não lhes dá o direito de me desrespeitar.

— Desrespeitar o senhor? — Jean-Claude indagou com uma expressão de incredulidade. O que o desrespeito tinha a ver com aquela situação?

— Pedi mais cedo para que fizessem silêncio enquanto eu estivesse explicando algo, não disse? — a voz do fotógrafo se agravou — Deixem-me explicar uma coisa a vocês dois...

Allissa congelou. Então Alexander não era um amigo? Ela e Jean não conseguiriam se safar do fato de não terem realizado a atividade?

— Sim, professor... — respondeu, com medo de piorar a situação.

Ao mesmo tempo, Jean-Claude, que via sua mãe batalhar muito para conseguir pagar o curso de fotografia que a fazia se gabar do quão chique era o filho artista, pensava em como explicaria para a família a necessidade de dinheiro extra para pagar a recuperação da disciplina, caso aquele zero não saísse daquele diário.

— Ações geram reações. — Alexander começou — Entendem o que quero dizer? — aquela era uma verdade que o professor conhecia muito bem — Atitudes têm consequências... que nem sempre são boas, por isso temos que pensar muito bem antes de agir. — olhou fixamente para os dois alunos parados à sua frente — É isso mesmo. A nota zero é a consequência do fato de vocês terem escolhido não fazer a tarefa. — continuou — Vocês sabem como o sistema funciona. Esperar um resultado distinto deste é um desrespeito a mim e aos colegas de vocês.

— Mas nós estamos explicando a situação... — Allie tentou argumentar.

— O que vocês me disseram foi: professor, nós não fizemos a atividade porque não quisemos. — Alexander interrompeu — E está tudo bem. Mesmo. —o docente sorriu — Se não queriam tirar um zero, deveriam ter feito a atividade, o melhor que podiam, mesmo que não fosse muito. Não vou dar nota para quem não se esforçou.

Jean ficou indignado, só não sabia se era com Allissa, com o professor ou consigo mesmo. E agora, o que faria? — Professor Cavanagh, por favor... eu não posso pegar uma recuperação (nesse caso, "pegar" poderia ser substituído por "pagar").

— Professor, por favor... — Allissa fez cara de choro — Então deixe a gente compensar isso, ok? Por favor... — era a única solução, já que o docente parecia determinado a manter sua posição. O que ela tinha a perder?

— Estarei no prédio até o início da noite. — informou o fotógrafo — Tragam a atividade antes e serão avaliados. Do contrário, o zero continua. — voltou a se sentar.

— Obrigada, professor. — Allie falou, sentindo-se um tanto deslocada por entrar em conflito com o "ficante" do pai logo no primeiro dia. Jean também agradeceu e saiu puxando a amiga pelo pulso para que não perdessem tempo e pudessem aproveitar a nova chance. Alexander permaneceu na sala, ponderando, graças às próprias paranoias, se aquilo não era um sinal de que deveria se afastar de Fredrick.

— Cara, como é que nós vamos fotografar e editar coisas até o início da noite? — Jean-Claude indagou, se desesperando enquanto voavam rumo ao metrô.

— Não faço a menor ideia, mas alguma nota, mesmo que baixa, é melhor do que nenhuma. — falou Allissa, arfando ao finalmente entrar na composição — Para onde vamos?

— Sei lá! — Jean respondeu, olhando ao redor com cara de perdido — Merda! Se minha mãe souber que eu tirei zero... — começou a sofrer, pensando no problema que teria em casa.

— A gente não vai tirar zero, ok? — Allie tentava impedir o amigo de surtar.

— Pra você é fácil ficar nessa calma! — Jean-Claude atacou — É rica! Se pegar recuperação o seu pai vai pagar tudo para você. Melhor ainda! Tenho certeza de que se seu pai falar com o professor ele te passa nas disciplinas do curso inteiro.

Não demorou um dia até que o relacionamento de Fredrick e Alexander, uma vez revelado, começasse a, mesmo que de leve, afetar negativamente a vida de Allissa. Pelo menos o problema não era o aspecto LGBT do romance.

— Não fala bosta, Jean! — a jovem reclamou da atitude do rapaz — Eu jamais pediria uma coisa dessas para o meu pai.

— Mesmo assim, é mais fácil pra você resolver isso. — Jean continuou, fechando a cara — Não posso pagar uma recuperação. Se eu reprovar, terei que cancelar o curso.

Allissa respirou fundo. Tinha total noção de que a própria situação financeira era muito melhor que a da maioria das pessoas. Contudo, não gostava que usassem isso para basear um argumento no qual a vida dela seria tida como mais fácil que as demais.

— Só lembrando, senhor reclamão, — debochou — foi você que não quis fazer a tarefa porque se recusou a misturar sua visão com a minha. Se a gente tá nessa, a culpa não é minha e nem do meu dinheiro.

Jean se ofendeu. Era óbvio que ele jamais poderia misturar sua visão artística com a de Allie. A arte da garota, aos olhos do rapaz, quase não podia ser chamada de arte.

Um mundo perfeito, de gente bonita (quase sempre branca) e estilosa, cenários glamourosos, super clean, suntuosos. Era como olhar para as imagens que ilustravam propagandas em revistas. Superficiais, irreais.

Sua própria arte, em contrapartida, era agressiva, pintando o mundo em duas cores opostas, preto e branco. Urbanidades, divisão social, demandas por igualdade, cultura representada pela quadra de basquete do bairro, todas bem delineadas, bem agudas, quase pulando para fora do papel e estapeando a cara da sociedade. Suas fotos eram belas e necessárias, porém incômodas.

Para um, a arte era fantasia.

Para o outro, a arte era crítica.

Não entendiam que arte podia ser ambas as coisas.

E muito mais...

O que mais irritava o rapaz, entretanto, era que Allissa, de todas as pessoas, deveria poder ver o mundo como ele via. Era uma moça negra. O racismo; a desigualdade; ela deveria poder pelo menos entender. Contudo, permanecia alheia, vivendo em um mundo de fantasia, completamente impérvia a realidade. Totalmente absorvida por um capitalismo branco e cruel.

Ou assim Jean-Claude via.

— Minha visão é muito realista para ser associada à sua. — Jean tentou justificar seu pensamento sem ofender a colega — Suas fotos são muito fantasiosas, parece que a gente tá olhando para um mundo de contos de fadas.

— Ah, claro! — Allie revirou os olhos — E todo mundo sabe que é impossível aliar a realidade à ficção, não é? — indagou em tom irônico — Se quiser ganhar nota e não ficar em recuperação, vai ter que botar o rabinho entre as pernas e dar um jeito de "associar" sua visão realista — fez uma careta em sinal de deboche — com a minha visão "fantasiosa". Quer começar a pensar em uma solução ao invés de só reclamar?

Ficaram em silêncio por um instante. Allissa pensava em quão chato era Jean e Jean pensava em quão folgada era Allissa.

— Já sei! — Allie vociferou após ponderar por longos minutos — Ficção Científica!

— Do que você tá falando? — Jean-Claude estranhou a atitude animada da amiga.

— Sua arte é toda focada em contrastes e a minha em coisas que considero bonitas. — a garota iniciou a explicação — E se a gente unisse, justamente, essas duas características? Por exemplo, a gente poderia vestir umas roupas legais e tirar fotos em lugares como os que você curte fotografar. Ficção científica! Meu mundo bonito, misturado ao seu mundo real. Como uma utopia!

— Confesso que gosto da ideia. — Jean admitiu sem delongas — Vamos para o shopping então?

— Não... meu pai vai me matar se eu gastar mais um centavo do cartão de crédito. — Allissa respondeu — Merda, vamos ter que pegar o metrô de volta. A gente passa na minha casa, meu pai tem uns casacos que não usa mais, devem servir em você. Aí a gente vai para algum lugar que tenha bastante do que você curte fotografar.

— A gente vai para sua casa e depois para a minha então. — Jean-Claude falou — Também estou tendo algumas ideias.

Assim foi. No próprio apartamento, Allissa apanhou algumas peças do próprio vestuário e depois pediu permissão para Freddy, a fim de pegar algumas das roupas dele.

Ao mesmo tempo, tentava decidir se contava ou não para ele que Alexander era seu novo professor. Deixou para depois, imaginando que seria constrangedor tratar daquilo com Jean por perto.

O rapaz, por sua vez, estava embasbacado diante da grandeza e da beleza da casa da amiga. Era possível perceber que todo o luxo com certeza custava muito mais do que o salário de um médico e professor de universidade poderia comprar, por melhor que fosse. Para Jean, era óbvio que o tal senhor Warren devia ser muito rico. A parte boa é que ele era bem legal também.

Vendo a pressa da filha, Fredrick decidiu levar os jovens até a casa de Jean, onde as fotos seriam produzidas. Ao chegarem na residência dele, o rapaz ficou meio sem jeito quando o médico desceu do carro e fez menção de que gostaria de ver a filha e ele a realizarem a tal atividade. Sem querer parecer mal educado, Jean-Claude convidou o pai da amiga para conhecer sua mãe, que operava o caixa do pequeno mercado que ficava no andar térreo do pequeno sobrado em que morava.

Orgulhosa como era, a mulher, uma senhora de pele negra e black-power, não gostou de não saber que receberia visitas.

— Eu poderia ter feito um bolo ou uns biscoitos para o doutor Warren e para sua colega! — reclamou ela, sendo o mais gentil e culta que conseguia diante de Freddy, que tinha a profissão dos sonhos dela.

Pedindo para que a mãe deixasse o mercado aos cuidados do irmão mais novo, Renoir, Jean colocou sua parte da ideia em prática.

Fisicamente, a mulher era bastante parecida com Allie, por isso, o plano consistia em vestir ambas com as roupas caras da jovem e tirar fotos delas enquanto fingiam executar atividades comuns. Ou, como disse a senhora Handal, de pobre. Jean também participaria, vestindo as roupas que Freddy havia emprestado.

Algumas horas e muitas risadas depois, Allissa e Jean-Claude escolheram as melhores imagens e começaram as edições. A mãe do rapaz figurava numa das fotos vestindo marcas carérrimas enquanto varria a casa. O próprio Jean lavava a louça ostentando, ao mesmo tempo, um relógio de pulso velho (emprestado de Fredrick e coberto de arranhões) de mais ou menos cinco mil dólares.

Lá estavam o contraste desejado por um e a fantasia imaginada por outro.

Uma mulher negra e pobre vestindo roupas "de rico"? O pulso que sustentava um relógio caríssimo feito a mão também servia para segurar uma esponja de lavar a louça?

Por outro lado, lá estava a representação do sonho realizado, da fantasia alcançada: a mulher negra, vestida como rainha, a riqueza aliada à simplicidade de uma vassoura. Ficção científica. A realidade desigual elevada ao nível da fantasia superficial das revistas.

Ao final da tarde, Allie e Fredrick se despediram de Jean e da família dele. A menina tinha se comprometido a levar as fotos prontas para o professor, já que o lugar ficava em seu caminho de volta para casa.

— Pai... — Allissa começou a falar, conforme Freddy se aproximava, com o carro, do prédio em que ela estudava — Tenho que te contar uma coisa...

— Pode falar. — Fredrick não tirava os olhos da estrada.

— Nossa professora teve que sair da cidade para cuidar de uma parente, eu acho. — continuou a jovem — E a gente conheceu o novo professor hoje...

— É mesmo? — indagou o médico, sem dar importância demais ao tema. Achava que a filha desejava apenas contar sobre algo que julgou engraçado ou interessante — E ele é legal?

— Ele é bem exigente. — respondeu Allissa, se lembrando do pequeno conflito que tivera com o docente algumas horas mais cedo — E... bem... — não sabia se fazia bem em falar, mas decidiu arriscar — Você acreditaria se eu lhe dissesse que meu novo professor é o cara da balada?

— Ah, é... — Fredrick respondeu antes de processar o que lhe foi dito — Espera, o quê? — piscou os olhos em sinal de confusão — O Alexander?

— É...

— Uau! — o médico exclamou — Hã... bem... isso é um problema para você? — se preocupou com a possibilidade de sua relação com o fotógrafo poder causar algum mal para a filha.

— Ah... sei lá... — Allie quis ser sincera — Ele não parece ser o tipo que mistura a vida pessoal com o trabalho. — comentou — Me tratou como "senhorita Warren" o tempo todo, por mais que tivesse reconhecido a mim e a Sam. Acho que tá tudo bem.

— Foi ele que pediu esse trabalho que fez com seu colega? — indagou Freddy, visivelmente mais interessado.

— Mais ou menos. — respondeu a filha — A professora antiga pediu, mas é o professor Cavanagh que vai avaliar.

— "Professor Cavanagh"... — Fredrick repetiu o título do deus em voz baixa.

— Vai querer subir para falar com ele? — Allie perguntou quando o pai estacionou o carro.

— Não, filha. É melhor você ir sozinha. — respondeu o médico — Não quero que ele pense que estou invadindo seu espaço de trabalho.

— Ok... — respondeu Allissa e entrou no prédio, desaparecendo da vista do pai ao adentrar a área dos elevadores — Oi, professor... — a porta da sala estava entreaberta e a menina bateu duas vezes antes de cumprimentar o docente que levantou o rosto para ver quem o chamava.

— Senhorita Warren... pode entrar. — Alexander se levantou e abriu a porta — Achei que não fossem aparecer para entregar o trabalho.

— Me chama de Allie, por favor. — a jovem pediu com um olhar humilde — Peguei um pouco de trânsito no caminho. Ei, não tem problema em só eu ter vindo entregar as fotos, não é?

— Jean não pôde vir? — o professor indagou, recebendo das mãos da aluna o envelope com as fotos feitas — E não. Não tem problema...

— Ele mora longe, então só eu vim. — Allissa respondeu.

— Entendo. — concluiu o docente — Está tudo certo então, obrigado!

— Eu que agradeço, professor. — sorriu a jovem e Alexander retribuiu o gesto — Ei, hã... meu pai tá lá embaixo... ele que me trouxe aqui... quer que eu diga alguma coisa para ele?

A face do professor enrubesceu e os lábios dele ameaçavam se deformar num sorriso envergonhado.

— Hã... bem... diga a ele que mandei um abraço... — tentou fingir que não dava muita importância, mas Allie viu quando as borboletas escaparam de seu estômago.

— Pai, o Alexander te mandou um beijo. — disse Allissa ao entrar no carro. Sorriu quando viu Freddy corar.

— Ah, é? — o médico ficou desconcertado. Isso era sinal de que deveria ter entrado no prédio e falado com o "amigo colorido"? Ou ele tinha achado bom o fato de não ter sido incomodado em seu local de trabalho? — Depois vou mandar uma mensagem para ele. — respondeu.

E assim seguiram ambos para casa. Fredrick pensava nas mil coisas que precisaria fazer na universidade e no hospital, lutando para focar seus pensamentos longe do deus. Allissa, por sua vez, concluiu ter feito a coisa certa ao contar ao pai a identidade do novo professor e estava feliz por ter conseguido fazer e entregar a tarefa, se livrando de tomar um zero.

Sua mente, porém, viajava para o bairro em que Jean morava, se lembrando das fachadas em mal estado, das crianças brincando com brinquedos velhos ou improvisados.

Quando Jean-Claude contou que a mãe era dona de um pequeno mercado, Allie pensou que se tratava de um daqueles empórios que vendiam produtos exóticos. Estava errada. O estabelecimento era simples e vendia produtos de qualidade média ou baixa. Aquilo que fosse acessível para as pessoas pobres que moravam na região. Foi estranho para ela ver os olhos da mãe do amigo brilharem diante de uma bolsa cara ou o doentio cuidado de Jean-Claude com o relógio velho de seu pai.

Allissa havia sido estapeada pela pobreza. Tomado um golpe de realidade.

— Pai? — chamou a jovem, ao abrir a porta do duplex.

— Diga, Allie...

— O que acha de eu arrumar um emprego?

Notas Finais: Obrigada por ler! Não se esqueça de votar e comentar para ajudar De Dentro Para Fora a chegar cada vez mais longe. 

Abraços!

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