I. When we lost in the darkness
Draco sempre amou seu aniversário, pois era o dia que mais recebia presentes de sua família. Depois da guerra, ele não estava nem um pouco preocupado com isso.
Ele ainda amava presentes. Se há algo que nunca mudaria em Draco era o quanto ele adorava ser mimado por aqueles que ama e ganhar presentes estava incluso, porém, isso já não era mais uma grande questão naquele dia.
Um ano se passou desde a guerra. Um ano e ele ainda estava vivo. Vivo e bem.
Seu primeiro aniversário após a Batalha de Hogwarts foi logo um mês depois, e ele ainda estava destruído. Vivo, se recuperando, mas ainda abalado com tudo o que aconteceu. Sequer conseguiria pensar em presentes, embora tenha ganhado. Todos a sua volta tentaram tornar aquele um dia bom e conseguiram.
O melhor de tudo foi sentir o conforto de todos, sentir-se amado de verdade, celebrar sua vida com alegria e amor, não apenas presentes.
Naquele aniversário de dezenove anos, esperava o mesmo. Ele já estava muito melhor, de fato, mas as marcas da guerra ainda estavam ali, literal e metaforicamente, algumas mais doloridas que outra.
O dia já começou muito bem antes mesmo de amanhecer, pois assim que chegou a meia-noite, marcando oficialmente a chegada do dia cinco de junho, Draco já foi parabenizado.
É óbvio que seu namorado não perderia tempo para isso.
— Feliz aniversário, Dragãozinho.
Draco franziu o cenho confuso.
— Ainda é dia quatro.
— Não, já é meia-noite. Dia cinco, seu aniversário.
Draco olhou para o relógio na mesa de cabeceira ao lado da cama e constatou que era verdade, e então ele riu devido a pontualidade. Um grande sorriso genuíno surgiu em seu rosto enquanto encarava os brilhantes olhos que tanto amava.
Estavam deitados na cama dele, que aquela altura após tantas noites ali era praticamente sua também, um de frente para o outro. Apenas uma pequena fresta da cortina estava aberta e permitia que a luz do luar adentrasse o quarto e iluminasse ambos ali juntos, agarrados usando apenas as roupas de baixo sob os lençóis.
Nenhum dos dois conseguia dormir cedo, então já era habitual estarem acordados até tão tarde, seja lendo, se beijando ou fazendo outras coisas. Já deveria estar esperando aquelas palavras, claro.
Canopus Black nunca perderia a chance de ser o primeiro, como o grande romântico que era e que também adorava ser o primeiro em absolutamente tudo.
— Sempre pontual, Estrelinha.
— Apenas mantendo a tradição de ser o primeiro, amor — disse afastando os fios loiros de seu rosto e acariciando-o delicadamente enquanto exibia aquele sorriso de canto que encantava qualquer um.
Draco riu mais uma vez antes de abraçar a cintura de seu namorado com firmeza e beijá-lo apaixonadamente.
Não deveria estar surpreso. Canopus tem feito isso em todos os seus aniversários desde o quarto ano, mais precisamente pela segunda vez que se beijaram, no aniversário dele.
Na primeira vez que o fez, na Comunal da Sonserina quando o beijou depois de desejar-lhe os parabéns antes de todos em plena madrugada após passarem horas cada um lendo um livro escorados na janela um de frente para o outro sem sono para dormirem, foi com a justificativa de "ficar quite" com o que houve naquele seu aniversário, claro, porque os dois eram tolos demais para admitir que queriam.
Na segunda, em seu aniversário de dezesseis anos… Bom, Draco já estava apaixonado demais para discutir e foi uma das melhores noites da sua vida, na verdade.
Nos dois anos seguintes, então, apenas ficou feliz e aproveitou aquele pequeno momento em meio aos seus dias ruins por causa da Guerra, quando os dois já estavam, definitivamente, enfim, juntos.
Ele adorava isso, obviamente.
— Obrigado, Estrelinha — sussurrou contra os lábios do outro, e ele sorriu contra os seus.
Não havia forma melhor de encerrar a noite e de iniciar seu aniversário. Ali estava ele, Draco Malfoy, completando dezenove anos, deitado numa cama confortável junto de quem ele amava em uma casa onde se sentia totalmente seguro e acolhido. E assim ele dormiu pouco mais tarde, nos braços do homem que o amava com cada uma de suas cicatrizes.
Porém, nem tudo é perfeito, e nem mesmo aniversários impedem que pesadelos retornem e cicatrizes doam nas profundezas da alma.
Os pesadelos tornaram-se menos frequentes ao longo do tempo, mas eles ainda estavam ali, para todos eles. Algumas noites Draco tinha sonhos muito bons, outras muito confusos, outras terríveis com suas mais dolorosas lembranças, como naquela noite.
Sonhou com a Mansão Malfoy após o retorno de Voldemort, com tudo o que fez e foi obrigado a fazer. Sonhou com Lucius e Narcisa.
Nunca mais havia falado com Narcisa desde a Batalha de Hogwarts. Ela não foi penalizada por nada, pois nunca foi uma Comensal de fato e tudo recaiu sobre Lucius, mas Draco não fez questão de ter mais notícias além de que ela estava vivendo completamente sozinha na mansão agora.
Sempre acabava pensando nela, ou sonhando com ela, mas nunca tentou contato, nem respondeu a carta que ela enviara no último aniversário ou qualquer outra. Era doloroso, mas já vinha sendo desde muito antes da batalha.
Ele sempre fora apegado demais à mãe e a viu não ser mais a mesma durante aquela guerra, ao mesmo tempo que aprendia que, assim como seu pai, ela não era exatamente como pensava. Tudo o que lhe ensinou foi a como ver o mundo dentro de uma bolha e a se reprimir para suprir expectativas.
Não havia amor em seu coração que o fizesse esquecer tudo que passou por toda a pressão que colocavam sobre ele. Nem todo o carinho do mundo apagaria tudo que já ouviu.
Draco acordou inquieto e ofegante, com lágrimas escorrendo pelo rosto, enquanto as primeiras luzes da manhã adentravam pela janela.
Ele respirou fundo em busca de ar, por alguns momentos sem conseguir entender onde realmente estava. Não saberia dizer se ainda estava sonhando, se estava de volta àqueles dias de tormento, o que era sonho e o que era real. Apenas sabia que estava difícil respirar, como se algo roubasse o ar de seus pulmões.
Apesar de a luz da manhã já surgir, tudo parecia escuro para Draco. Lá estava ele, preso mais vez na escuridão, e isso o apavorava.
Até que, então, ele sentiu os braços ao seu redor apertarem-no com mais força, trazendo-o de volta à realidade, e suas mãos buscaram agitadas pelo corpo que o abraçava. Seus olhos fecharam-se com força enquanto uma de suas mãos seguiu para os cabelos do outro e apertou os fios escuros, e a outra encontrou a do Black e agarrou-a fortemente apertando contra seu peito.
— Calma... Respire fundo, devagar — ouviu a voz baixa de Canopus falar.
Draco lutou para isso. Tentou pensar apenas no calor do namorado e que ele estava ali, que estava seguro, e respirou profundamente devagar.
Quando sentiu os lábios de Canopus contra seu rosto, Draco então sentiu-se seguro outra vez.
Ele abriu a mão contra seu peito e apertou-a ali, murmurando breves palavras que a fizeram um leve brilho amarelado sair dela. Draco voltou a segurar a mão dele, mais uma vez capturando o ar devagar com mais facilidade.
Não soltou-o tão cedo, muito menos ele o fez. Canis continuou a abraçá-lo forte e o próximo beijo foi depositado sobre as cicatrizes em seu ombro.
Após longos minutos, Draco enfim sentia que podia respirar normalmente.
— Estou aqui… Está tudo bem — ele sussurrou, e Draco suspirou pesadamente, deixando que as lágrimas caíssem. — Foi só um pesadelo.
— Desculpa… Sempre te acordo com isso — choramingou num sussurro de volta.
— Não se preocupe, está tudo bem.
Eles permaneceram como estavam por mais um tempo, e Draco virou o rosto para logo sentir mais um selar, agora na ponta de seu nariz. Abriu os olhos e encontrou o rosto sonolento do namorado, mas que ainda transmitia um enorme carinho por seus olhos.
Olhar para aqueles olhos e o brilho estrelado que possuíam sempre o confortava. Vê-los depois de um pesadelo enquanto sentia aquele abraço quente e apertado lhe trazia a sensação de segurança e conforto que precisava, uma luz na escuridão.
A luz de sua estrela.
Draco não disse mais nada, apenas virou o corpo até estar de frente para o outro mais uma vez e abraçou-o, enterrando o rosto em seu pescoço enquanto sentia-o afagar seus cabelos calmamente.
Ele não conseguiu voltar a dormir, pois sua mente repassava todos os seus pesadelos, e as lágrimas continuaram a cair por seu rosto. Não era a primeira vez, tampouco seria a última.
No primeiro mês após a batalha, Draco acordava gritando apavorado e aos prantos todas as noites. Algumas vezes ele sequer conseguia dormir e apenas desabava em lágrimas.
Havia noites em que nem ele nem o namorado conseguiam dormir, atormentados por pesadelos, ou com medo de virem no momento em que fechassem os olhos. Eles sempre acabavam lendo algum livro juntos, consolando um ao outro abraçados e encontrando algo para fazer para passar o tempo.
Draco agradecia que McGonagall decidiu que as aulas de Hogwarts não retornariam já naquele ano e deu mais um ano inteiro para todos se recuperarem. Ele com certeza não teria forças ou psicológico o suficiente para as aulas apenas alguns meses após a guerra.
Já duvidava que seria fácil agora, mais de um ano depois, dali a três meses, quando as aulas enfim retornariam.
— Quer me contar sobre o que sonhou? — perguntou Canis.
Ele sempre perguntava. Às vezes Draco falava tudo, às vezes não. Ele nunca pedia mais detalhes quando não queria falar.
Quando Canopus acordava no meio da noite por causa de um pesadelo, Draco perguntava o mesmo. As respostas também variam bastante.
— Foram muitas coisas… — murmurou em resposta.
Foi uma resposta vaga, mas suficiente.
Canopus permaneceu abraçando-o de volta e acariciando os cabelos platinados, e quando Draco ergueu o rosto para encará-lo mais uma vez, secou cada uma de suas lágrimas. Ainda respirava um pouco rápido, mas estava se acalmando aos poucos.
Ninguém disse mais uma única palavra, não precisou. Eles saberiam se precisasse.
Isso era algo muito deles, eles se entendiam do seu jeito e confortavam um ao outro com sua presença. Eles nunca foram os melhores em expôr o que sentiam em palavras, mas a linguagem corporal falava por si e assim eles conseguiam se comunicar. Era através daqueles toques que conseguiam transmitir o que sentiam, desde uma simples carícia, até um abraço ou um beijo.
Draco não conseguiu muito mais que apenas cochilar por alguns minutos. Tanto ele quanto o Black estavam despertos quando a luz adentrou o quarto com mais intensidade, em silêncio, abraçados.
Um pequeno sorriso bobo surgiu nos lábios de Draco, o primeiro desde que acordou por seus pesadelos, ao ver Canopus usar o dedo indicador para traçar em seu corpo várias pequenas estrelas com um brilho azulado sobre suas cicatrizes usando magia. Ele então fez o mesmo com as cicatrizes do outro, e ouviu-o rir baixo.
Não era tão experiente em magia sem varinha quanto o namorado, mas aquela era a que melhor sabia. Ele quem havia ensinado ao Black, na verdade.
Traçou o desenho de sua própria constelação por cima da tatuagem que Canopus possuía no peito, igual a sua nas costelas. Draco também tinha a constelação da estrela dele tatuada no mesmo lugar, e claro que ele fez questão de também traçar com a magia. Era uma pequena forma boba que tinham de se distrair, mas que ambos gostavam.
Diferente do namorado, Draco não tinha tanto orgulho de suas cicatrizes pelo corpo. Ele nunca teve vergonha alguma de mostrá-las. Talvez nunca chegasse a gostar das suas dessa forma, mas, definitivamente, adorava quando Canis desenhava estrelas sobre elas.
Draco segurou a mão dele, e ele entrelaçou seus dedos, exibindo seu lindo sorriso radiante.
— Bom dia, Dragãozinho.
— Bom dia, Estrelinha.
— Feliz aniversário.
— Você já disse isso.
— Estou dizendo de novo.
Draco riu baixo e revirou os olhos.
— Bem?
— Bem — respondeu baixo e segurou o rosto dele em suas mãos, desenhando uma última estrela sobre as cicatrizes ali.
Ele sorriu e beijou sua bochecha.
— Animado?
— Um pouco.
— Ano que vem estaremos em Hogwarts, então planejei mais coisas do que você imagina hoje.
— O que você vai aprontar? — Draco arqueou a sobrancelha, desconfiado.
— Não me olhe assim, sei que ama minhas surpresas de aniversário.
Infelizmente, Draco não poderia negar.
Após um tempo, Canopus agitou a mão, e a janela foi aberta junto a cortina, fazendo a luz adentrar completamente o quarto. Draco sentou-se na cama e alongou o corpo, estendendo os braços para cima, e convocou uma das camisas do Black para suas mãos e vestiu-a para levantar-se. Porém, antes que colocasse seus pés no chão, ele foi puxado e erguido, e seu primeiro ato instintivo foi agarrar-se aos ombros do namorado e prender as pernas ao redor de sua cintura enquanto exclamava surpreso.
— Canis! — resmungou enquanto o outro apenas ria.
Draco acabou contagiado pela risada dele e riu alto ao ser carregado para fora do quarto. Assim que saíram, quase trombaram em Harry, que saía do banheiro com uma escova de dentes na boca para ver de onde vinham as risadas.
— São eles mesmo, amor — disse ele.
— Eu disse! — exclamou outro garoto, idêntico a Canopus, escorando-se na porta com a boca cheia de espuma e a escova na mão. — Vão acordar o James desse jeito.
— Bom dia para vocês também — Draco disse.
— Nossa vez, maninho.
Eles adentraram o banheiro, e Canopus empurrou o irmão gêmeo para fora, fechando a porta em seguida e trancando com magia. Os dois do lado de fora começaram a bater na porta e esbravejar, irritados.
— Ainda não terminamos de usar, porra! — Harry exclamou.
— Alohomora! — A porta continuou trancada. — Que feitiço você usou nessa porta?!
Draco continuou a rir e foi deixado sobre o mármore da pia. As manhãs na residência Black-Lupin eram sempre um caos.
— Aniversariantes tem prioridade — Canopus falou.
— Vai se foder, Canis!
— Essa noite irei com toda certeza — ele rebateu rapidamente com um sorriso malicioso no rosto.
Draco deu um tapa em seu ombro, e ele apenas riu. Revirou os olhos, mas acabou rindo também.
Quando saíram, o outro casal já havia arranjado um jeito de usar o banheiro do quarto do caçula dos Black, mas Harry fez questão de sair do quarto para lançar uma azaração neles.
Realmente um caos.
Depois de se vestirem, Draco e Canopus seguiram juntos para a sala de jantar, onde a grande mesa estava lotada, digna de um café da manhã em Hogwarts, com todas as coisas que Malfoy mais gostava.
Draco realmente não estava esperando por aquilo, então olhou confuso para o namorado, que apenas sorriu carinhosamente. No aniversário anterior, eles estavam na casa de sua tia Andrômeda, e ele havia lhe levado o café da manhã na cama. Agora havia um grande banquete.
Não deveria esperar algo simples vindo dos Black.
— Draco — Remus chamou com um grande sorriso. — Feliz aniversário!
— Você preparou tudo isso?
— Sirius e eu, ideia do Canis. Logo vocês irão para Hogwarts, temos que aproveitar as oportunidades para grandes momentos juntos.
Draco correu para abraçar Remus.
Desde que saiu da Mansão, ele era certamente um dos que mais o ajudou, e eles se aproximaram bastante para a surpresa deles próprios, algo que um dia parecia extremamente improvável. Ele o acolheu em sua casa e se preocupou consigo, apesar de tudo.
Não tinha uma relação ruim com Sirius, mas Draco não tinha vergonha alguma de admitir que Remus era o seu sogro favorito.
— Obrigado.
— Está tudo bem? Parece ter sido uma longa noite — perguntou com preocupação, ambas as mãos pousadas em seu rosto.
— Está tão na cara assim? — Fez uma leve careta. Remus riu baixo. — Está tudo bem agora. Só... Já fazia um tempo que um pesadelo não me deixava tão abalado a ponto de ficar sem ar, mas estou bem. Esse pequeno banquete com certeza vai ajudar.
— Hoje é o seu dia, então nós vamos te mimar bastante.
— Não estarei incluso nesse "nós" — Harry corrigiu passando por eles e sentando-se à mesa.
— Não esperava que estivesse — Draco rebateu.
A relação com Harry era algo mais complexo. Estavam longe de ser grandes amigos, mas também não eram mais grandes rivais, e todo o ocorrido no sexto ano já havia sido superado — e ambos carregam cicatrizes desse dia. Diria que eles mantinham algo amistoso por causa de Canopus e Therion e toda a jornada caçando horcruxes em que foram obrigados a conviver e trabalhar juntos muito mais do que em Hogwarts.
Os dois foram se apaixonar por irmãos gêmeos extremamente unidos e apegados a família, então não havia muita escolha, eles precisariam tolerar um ao outro.
Draco sentou-se ao lado do namorado e o outro casal ficou logo à frente. Não demorou para Sirius chegar, e não sozinho.
— Alguém está ansioso para também parabenizar o cunhado.
— Oi, James. — Draco sorriu largo e pegou o bebê no colo, que estava bastante desperto com os grandes olhos abertos, o perfume delicado inundando suas narinas. — Acordou para me desejar feliz aniversário, hm?
Ele era tão pequeno e frágil que Draco quase tinha receio de segurá-lo, mas não conseguia resistir a tamanha fofura. Gostava de crianças, de fato. Deixavam-no leve e alegre sem muito esforço, e os outros costumam dizer que ele produzia o mesmo efeito.
James Black-Lupin era um sinal de que a vida poderia seguir e florescer após aquele período de escuridão. Draco via de perto a alegria dos sogros com ele desde sua chegada dois meses atrás, como pareciam radiantes e estavam dispostos a fazer por ele tudo que não puderam com os mais velhos, principalmente Sirius.
Quase esqueceu-se de seu café da manhã entretido com o pequeno cunhado. E segurando aquela mãozinha minúscula e gorducha, as vezes ele se pegava pensando em seu próprio futuro.
Ele adoraria ter filhos um dia, já pensou nisso muitas vezes. Mas agora, sempre que aquela ideia vinha a sua mente, logo era afastada pelo obscuro medo de não conseguir ser bom o bastante para isso.
Como alguém com tantas trevas dentro de si poderia algum dia ser bom para uma criança tão pura e inocente? Parecia um sonho impossível de se realizar.
Ele olhou na direção do namorado, que encarava-o estar tão entretido com o irmão caçula dele com um olhar doce e um sorriso, mas com uma expressão um tanto avoada, como se vários pensamentos passassem por sua mente.
— O que foi?
— Nada demais. — Balançou a cabeça.
Therion revirou os olhos.
— Depois eu sou emocionado meloso.
— Eu não preciso ser legilimente para saber que você pensa exatamente o mesmo sobre o Harry — Canopus rebateu o irmão. — Aliás, não era exatamente sobre isso que estávamos conversando outro dia?
— Sobre o quê? — Sirius perguntou.
— Nada demais, papai — Therion rapidamente desconversou. — Só planos pós Hogwarts.
— Demorou para esses planos chegarem, do jeito que vocês são apressados.
Draco viu o cunhado olhar mortalmente para o irmão junto de Harry, e ele percebeu rapidamente que havia alguma coisa ali. Alguma coisa que nem ele nem seus sogros sabiam.
Seja o que for, sabia que Canis estava falando só para provocar. Ele adorava fazer isso com o irmão e o melhor amigo.
Quando James começou a chorar com fome, Sirius pegou mamadeira e Draco devolveu o bebê a ele com cuidado.
— Que tal falarmos dos presentes do nosso querido aniversariante? — Harry falou, e Draco percebeu a ironia transbordando quando ele falou "querido".
— Na verdade, nem estou me preocupando muito com isso.
— Isso sim é novidade.
— Não se preocupe, Harry, não ganhar um de você com certeza não fará falta.
Draco então focou em saborear o farto café da manhã, com seu prato lotado de tudo um pouco, mas eles já entregaram os seus presentes mesmo assim, exceto Canopus. Draco abriu-os rapidamente e agradeceu a todos. Corujas chegaram também trazendo cartas e presentes de seus amigos, e ele abriu-os enquanto comia.
— Nikolai e Damien não poderão vir mesmo — comentou tristemente após ler a carta do amigo russo.
Estava com saudades de Nikolai e esperava muito vê-lo antes da volta as aulas, e ele havia prometido tentar ir ao seu aniversário. O amigo era sempre um apoio muito bem vindo em momentos difíceis.
Abriu os presentes e cartas de Astoria, Theodore, Blaise, Pansy, até mesmo Rony Weasley enviou com uma carta pois agora, pelas palavras dele, ele "enfim decidiu ser uma pessoa legal e fazia parte do grupo".
Então abriu o seguinte.
— Merliah vai ligar mais tarde, mas disse que não virá com George.
— Por que não? — Canis perguntou.
— Arthur ainda está doente, vão ficar com ele. Acabaram de voltar do St. Mungus.
— Vamos visitá-los depois — Remus disse. — Espero que fique bem logo.
Draco logo colocou no pulso a pulseira de ouro branco que ganhou de presente da amiga. O tempo passava, mas ela nunca parava de presentear os amigos com jóias da joalheria de sua família.
Qualquer sinal de alegria sumiu do rosto de Draco quando reconheceu a caligrafia da última carta. Ele não ousou ler. Suas mãos tremiam, e ele apenas conseguiu pensar nos pesadelos daquela noite.
Quase sentia como se o ar lhe faltasse de novo.
— De quem é?
— Vou abrir depois — disse e agitou sua varinha para enviar tudo para o quarto. — Presentes não importam agora.
Ele sabe que aquilo não convenceu Canis, pois logo teve sua mão segurada por debaixo da mesa. Forçou um fraco sorriso e apertou a mão dele, lançando-lhe um olhar que dizia que falaria depois.
Draco não conseguiu comer mais nada depois, e nem as brincadeiras de Sirius ou provocações de Harry e do cunhado surtiram algum efeito em sua expressão. Apenas ficou parado ali, perdido na escuridão de sua mente.
Eles finalizaram o café da manhã, e Draco voltou para o quarto, sentando-se na cama com um grande suspiro. Pegou aquela carta e ficou encarando seu nome escrito ali em um longo silêncio.
Tentou criar coragem para abrir e led. Era só uma carta, afinal, e não era a primeira. Ele conseguiria ser forte para isso.
Encarando o envelope, todo o terror da Mansão Malfoy após o retorno de Voldemort voltou a sua mente. Aquele lugar já havia deixado de ser a sua casa a partir do momento que Lucius a ofereceu como central de reuniões para aquele homem louco. Draco presenciou diversas atrocidades e planos ali.
Ele sofreu algumas dessas atrocidades.
Durante toda as férias antes do quinto ano ele sequer gostava de sair do quarto. Ele tinha muito medo do que poderia acontecer dali por diante, não conseguia venerá-lo como Lucius queria. Sua mente já estava muito diferente na época.
Lucius tentou deixá-lo inserido naquilo, claro. Apresentou-o como seu grande herdeiro. Seu orgulho.
Orgulho que não perdurou por muito tempo, e teria acabado muito antes se soubesse tudo o que fez na escola. Enquanto ele planejava acordar seu futuro casamento para com uma moça de família sangue-puro, Draco estava cada vez mais envolvido com um garoto mestiço filho de um traidor de sangue e criado por um lobisomem, a cada dia saindo daquela bolha supremacista e conhecendo a verdade sobre si mesmo e sobre sua família, sobre a que a obsessão com a supremacia podia levar.
Seu avô Abraxas se reviraria no túmulo se soubesse que em vez de seguir seu grande legado, ele estava se afastando cada vez mais, unindo-se àqueles que ele mais repudiava e renegava.
Sequer gostava de lembrar das férias que anteceram seu sexto ano. Aquilo sim foi um verdadeiro terror.
Detestava lembrar, mas também não conseguiria esquecer. Não esqueceria toda a dor que sofreu, castigado por um erro que Lucius cometeu, enquanto Narcisa apenas olhava sem poder fazer nada.
O ápice do declínio do legado dos Malfoy. A partir dali, tudo o levaria a apenas repudiar aquela casa. Ali ele perdeu tudo e passou de orgulho a grande desgraça.
Não esqueceria como o olhar de sua mãe mudou completamente.
Quando olhava para as marcas em seu corpo, apenas conseguia lembrar-se dos tempos de horror lá.
O olhar de Draco recaiu em seus braços e as lágrimas inundaram seus olhos enquanto as lembranças dolorosas vinham a tona. Todas as marcas ali eram memórias de pesadelo e tormento, seu castigo. Aquela marca era seu castigo e pesadelo.
Em meio a todas as cicatrizes em seu antebraço, ali estava um de seus piores fardos. Um fardo que o tornou um monstro. Um assassino.
Ele foi obrigado a fazer coisas terríveis depois disso, coisas que ele certamente não queria.
Sua mão amassou o envelope da carta e fechou os olhos com força, as lágrimas escorrendo. Ele agarrou seu antebraço, onde haviam ainda as marcas de todas as vezes que arranhou o local na tentativa de apagar aquilo de sua pele — não que fosse realmente resolver algo —, sentindo como se a dor que sentiu naquele dia retornasse.
Olhar sempre o fazia reviver aquela dor.
— Amor, hey… — Draco sentiu uma mão agarrar a sua. Outra mão segurou seu rosto e ergueu sua cabeça, e ele abriu os olhos na direção do namorado, que encarava-o preocupado. Não há percebeu quando ele chegou e sentou-se ao seu lado. — O que houve?
Draco abaixou a cabeça de novo e percebeu como suas mãos trêmulas amassavam a carta.
Carta de Narcisa. Ela enviou uma carta hoje, seu aniversário, mas tudo que Draco conseguia pensar era em como ele sofreu bem debaixo do nariz dela.
Nos momentos em que ele mais precisou de uma mãe, ela não estava. Quando Lucius o xingou de todos os nomes possíveis e o renegou, ela ficou ao lado dele.
Por mais que dissesse que o amava, ela nunca o aceitaria, assim como ele.
— Amor, hey... — Canopus retirou a carta de sua mão e jogou em algum canto. — Estou aqui.
Draco deixou-se ser abraçado. Secou as próprias lágrimas, sem olhar para o namorado, sentindo os braços dele ao seu redor.
Ele não perguntou nada, apenas ficou ali. Draco sempre seria grato por isso. Sentiu quando ele se afastou, mas não prestou muita atenção no que fazia.
— Venha.
— Hã?
— Vem aqui.
Canopus segurou suas mãos fortemente, puxando-o para que ficasse de pé. Draco olhou-o confuso, até reparar na maleta aberta no chão.
— Você pode cuidar deles sozinho hoje, não pode? — indagou sem ânimo.
— Eu posso, mas não vou deixar você sozinho. — Ele respondeu e deu-lhe um selinho rápido. — Pode apenas ficar por perto, hm?
Draco suspirou novamente e assentiu com a cabeça, deixando-se ser guiado até a maleta. Era uma maleta mágica com um feitiço de extensão, e eles conseguiram adentrá-la e descer por uma escada para seu interior.
Ali dentro, eles acabaram em um cômodo com várias prateleiras e mesas, com muitas coisas, dentre elas potes de comida para vários animais. Canopus pegou uma pequena caixa sobre uma das mesas e guardou no bolso, então pegando suas luvas de couro em seguida e também guardando-as, e Draco também pegou as suas próprias. Haviam duas portas, e eles saíram pela que ficava mais a frente para um imenso jardim.
Um pequeno mundo dentro de uma maleta. Canopus sempre foi fascinado por Newt Scamander e conhecia as histórias de sua maleta. Havia ganhado uma igual de presente de aniversário de Sirius e levou para a escola no quinto ano, e Draco lembrava-se de ficar maravilhado quando entrou ali pela primeira vez. Agora já havia se tornado algo rotineiro.
Draco apenas admirou o namorado seguir até o ninho de pufosos e ajoelhar-se em meio às pequenas bolas de pelo. Ele pegou um por um para escovar os pelos e analisar como estavam, enquanto outros pulavam ao redor e em suas costas ou ombros, um adulto fêmea e seus filhotes, todos resgatados.
Draco acabou aprendendo muito sobre algumas criaturas e como cuidar delas e ajudava o namorado com muito gosto, mas o que ele mais gostava de fazer quando estava ali era apenas admirá-lo. Era encantador observar a forma como ele cuidava com tanto empenho e carinho e como ele parecia ficar imerso em outro mundo quando estava ali com outras criaturas mágicas. Havia um brilho único em seus olhos nesses momentos.
Um brilho que Draco amava mais que qualquer coisa, e um dia correu o risco de vê-lo se apagar. Ele não sabia o que faria se aquele brilho de Canis realmente tivesse sumido para sempre durante a guerra, pois era isso que o tornava quem ele era.
E era o que iluminava Draco em dias sombrios.
— Eles estão crescendo rápido.
— Significa que estão muito bem, mas a mamãe aqui ainda precisa de muitos cuidados.
— Mas aquela poção que eu fiz teve resultado? — Draco perguntou receoso.
No último ano, enquanto Hogwarts ainda estava em recesso para recuperação da guerra, Draco havia se aprofundado bastante em suas leituras sobre medibruxaria. Algumas coisas ele pensava que poderiam ser úteis também na magizoologia para tratar criaturas feridas ou doentes e investia em estudar algumas poções com ajuda do cunhado. Tem sido um grande passatempo para não pensar na batalha.
Havia feito uma poção para a mamãe pufoso, que chamavam de Jupiter, que estava muito ferida quando Canopus a encontrou e segue bastante doente. Não sabia ainda se estava tendo grandes resultados, mas esperava que sim.
Uma das piores coisas para Draco era ver o namorado sofrer com a perda de alguma criatura. Desde o ocorrido com Bicuço no terceiro ano, quando ele viu o garoto chorar ao se despedir do hipogrifo antes de sua suposta execução, via o carinho dele por criaturas e era extremamente doloroso vê-lo triste por elas.
— Ajudou muito. Espero que ela se recupere definitivamente agora — Canis falou aninhando Jupiter nos braços com cuidado para dar-lhe mais da poção enquanto um dos filhotes pulava em sua cabeça.
— Está na hora do seu café da manhã, Ganimedes. O cabelo do Canis não é comida. — Draco pegou o rechonchudo bichinho minúsculo de pelos azulados da cabeça de Canis com cuidado e colocou de volta no ninho, servindo a refeição para eles.
Continuou ali apenas observando e ainda um pouco perdido em seus pensamentos. Era fácil perder-se em sua mente quando tudo parecia tão complicado. Um momento ele estava bem, no outro alguma coisa vinha para derrubá-lo.
Aquele era pra ser um dia teoricamente feliz, não era?
— Eu vou ver o ninho de okamis por enquanto.
Canis assentiu e beijou seu rosto antes de se afastar.
— Coloque suas luvas! — alertou num tom alto quando já estava um pouco distante.
— Eu sei.
Draco tirou as luvas de couro do bolso e vestiu-as em suas mãos enquanto caminhava até o ninho de ramos e folhas verdes onde descansavam criaturas coloridas com um corpo que lembrava uma serpente, mas com um cabeça e asas de uma ave.
Ele sentou-se no chão devagar e analisou com cuidado o ninho que deveria estar lotado de ovos de prata. Exibiu um fraco sorriso ao ver as cascas de ovos abertos e as pequenas criaturas novas que ali estavam.
— Canis vai detestar não ter presenciado isso — murmurou enquanto tirava as cascas vazias de ovos prateados do ninho com bastante cuidado.
Ele obviamente levou algumas bicadas, pois eram criaturas que aprendiam a se defender desde o primeiro dia, mas suas luvas protegiam. Todos pareciam muito bem para ele, mas dois ovos ainda não haviam chocado.
Pegou um dos ovos e usou sua varinha para analisar. Não era um especialista nisso, mas ouviu bem quando Canopus passou mais de uma hora perguntando como se cuidava de ovos de okami depois que ganhou um casal das criaturas de aniversário de Hadria, que havia os resgatado de contrabandistas que estavam atrás justamente dos seus ovos de prata. Ele era observador e aprendia rápido.
E se ele se tornaria um medibruxo algum dia, começar cuidando de criaturas não era ruim. Não são todos tão diferentes assim dos bruxos em alguns aspectos.
— CANIS — gritou para chamá-lo, e ele não demorou para vir.
— O que hou… POR MERLIN! Por que não me chamou antes? Eu queria ver eles nascendo!
— Já haviam chocado quando cheguei. Ainda faltam dois.
Canopus sentou-se ao lado dele e pegou um dos filhotes com cuidado, exibindo um largo sorriso quando enroscou-se em seu braço. Draco mais uma vez pegou-se apenas admirando aquele sorriso e o brilho nos olhos dele, encantado como se fosse a primeira vez.
Ele colocou a criatura de volta no ninho e pegou o outro ovo que não havia chocado, sem preocupar-se com as bicadas que recebeu, sem suas luvas.
— Estou apenas verificando seu irmãozinho — falou para as criaturas.
— É normal tremerem desse jeito? — Draco perguntou com o cenho franzido quando o ovo em sua mão começou a tremer.
— Oh! Está chocando.
Draco arregalou os olhos e observou estático as rachaduras surgirem na casca. Aquilo sim era algo fora da sua rotina e uma novidade, e ele não ousou se mexer, temendo fazer alguma coisa errada. Demorou alguns minutos até o filhote conseguir quebrar a casca de fato, e ele percebeu que ocorreu o mesmo com o que estava com Canis.
Olhou para ele sem saber o que fazer e o encontrou entretido, admirando a criatura sair do ovo e enrolar-se em sua mão. Então apenas fez o mesmo e sorriu fraco enquanto observava.
— Eles são lindos, não é?
— São — Draco concordou. — O que vai fazer com as cascas dos ovos?
— Guardar para fazer pomada de pó de prata, mas com com certeza vou salvar pelo menos um para ficar de recordação.
— Não sei se você vai ter tempo para cuidar de todos quando estivermos em Hogwarts. Teremos os NIEMs esse ano.
— Hagrid vai me ajudar. Tenho certeza que ele vai amar o Serpens.
— Com certeza vai.
— Vou conseguir conciliar o tempo. Não pretendo ter menos que nove NIEMs. Preciso ter um currículo escolar magnífico se quiser impressionar Newt Scamander para conseguir um estágio.
— Você sabe que ele não aceita estagiários há uns cinquenta anos, não sabe?
— Não há nada que eu queira que eu não consiga, meu bem. Você tem uma aliança no seu dedo para comprovar — Canopus rebateu com um sorriso ladino e ergueu a mão para exibir sua própria aliança.
Draco revirou os olhos. Seu olhar logo seguiu para sua mão enquanto o okami se enroscava em seu pulso. Ele retirou sua luva e admirou a aliança com duas ligas de ouro branco trançadas em seu dedo anelar. Um pequeno sorriso bobo surgiu por entre seus lábios, e ele olhou de canto para seu noivo.
Canopus Black realmente conseguia tudo o que queria, inclusive o coração de Draco Malfoy.
— Continue se gabando e nosso casamento acaba antes mesmo de acontecer.
— Não posso estar orgulhoso de que irei me casar com o segundo homem mais perfeito de toda Hogwarts?
— Segundo? — Draco arqueou a sobrancelha incrédulo.
— Eu sou o primeiro, obviamente.
— Okay, segunda estrela mais brilhante — provocou enquanto colocava o okami no ninho junto aos outros.
— Eu brilho muito mais que meu pai, você sabe — Canis rebateu fazendo o mesmo.
— Sei?
— Sabe. E, teoricamente, a estrela Sirius é um sistema de duas estrelas, por isso brilha mais. Eu tenho apenas uma.
— Pensei que você quisesse ser magizoologista, não astrônomo.
— É quase uma lei que os Black saibam muito sobre astronomia. — Ele deu de ombros. — De qualquer forma, eu sou muito mais brilhante, mas você também é. Você é uma constelação inteira.
— Belo elogio da sua parte.
— Tão brilhante quanto a lua.
— Lua não tem luz própria.
— Não estrague meu momento romântico.
— Oh, desculpe. Pode continuar sua declaração a si mesmo, amor — disse com sarcasmo.
— Obrigado. Posso dizer também que sou a estrela mais sortuda de todo o universo porque tenho algo que mais nenhuma tem.
Draco riu e apoiou-se no chão com ambas as mãos para trás e esticou as pernas, olhando para o Black com um ar de tédio.
— Esse mundo na maleta inteiro só para você brilhar com um grande Sol?
— Muito fofo você me chamar de "Sol", amor. — Sorriu de canto e aproximou-se de joelhos devagar até estar sobre Draco com uma perna de cada lado de seu corpo.
— Também tenho meus momentos românticos.
— E eu sou a estrela mais sortuda porque tenho um lindo e forte dragão brilhante só pra mim.
— Um dragão brilhante? — Draco riu.
— Brilhante como o Sol, a lua e todas as estrelas — sussurrou com o rosto perigosamente próximo. — O mais forte e lindo de todos.
— Você já conheceu muitos dragões… — Abaixou o tom de voz para igualar ao dele.
— Mas você é único. O único que eu amo… Em qualquer universo.
Draco sorriu bobo enquanto encarava aqueles olhos tão de perto e sentia a carícia em seu rosto, os olhares presos um no outro como imãs. Ele sequer conseguia pensar no que o preocupava pouco tempo atrás, apenas naquele momento.
Suas mãos guiaram-se para a cintura do outro, e logo tratou de acabar com o mínimo espaço restante e juntar seus lábios aos dele em um selar lento e demorado, então unindo suas testas em seguida.
— Acho que sou um dragão muito sortudo também por ter uma estrela tão brilhante só pra mim.
— Todo seu — confirmou Canopus e deu-lhe mais um beijo. — E acho que esse é um ótimo momento para seu primeiro presente.
Ele tirou do bolso a caixa que havia guardado ali e endireitou-se no colo de Malfoy, entregando-lhe o presente. Draco abriu sob os olhos atentos do Black e riu baixo ao ver o que era.
Admirou o colar ali, o pingente com a forma de um dragão prateado enrolado em uma esfera azulada e escura onde se via a imagem de toda a galáxia com várias estrelas e planetas.
— É de ouro branco. Um dragão e seu universo.
— É lindo. Obrigado, Estrelinha — agradeceu e deu um selinho no outro. Canopus logo ajudou-o a colocá-lo no pescoço. Porém, Draco então notou algo no que ele havia dito antes e franziu o cenho. — Espere… Você disse primeiro presente?
— Tem um muito maior te esperando mais tarde.
— Não preciso de mais de um presente.
— Considere o colar como um bônus. — Sorriu ladino e abraçou os ombros de Draco.
— Um bônus? — Draco riu e tornou a abraçar a cintura do noivo.
— Temos um longo dia pela frente, Dragãozinho.
Draco suspirou, mas a felicidade não sumiu de seu rosto. Quando ele se sentia afundando nas escuridão, sua estrela estava sempre lá para iluminá-lo.
Ele não negaria que adorava ser mimado daquela maneira, e foi mantendo o sorriso no rosto que voltou a beijar o noivo antes de decidirem se levantar para continuar o trabalho.
— Vamos ver o Serpens. Rhea e Atlas já estão voltando para o ninho. — Canopus apontou para os okamis que voavam na direção deles após ajudá-lo a ficar de pé.
— Coloque as suas luvas também — Draco lembrou-o.
— Vá na frente. Vou buscar o café da manhã dele.
Canopus rapidamente pegou as luvas do bolso e colocou-as em suas mãos enquanto Draco colocava novamente a que havia retirado há pouco e seguia primeiro, e eles caminharam juntos em direção a outra área mais montanhosa da maleta após Black retornar rapidamente com uma generosa porção de carne.
O aroma da carne quase fez Draco sentir fome outra vez. Não havia comido mais nada depois que viu a carta.
Ao pararem em frente a uma caverna com uma entrada muito baixa e pequena, Draco assoviou, um assovio bastante diferente do que o noivo costumava usar com algumas das criaturas, mais suave e quase musical. Não demorou para garras surgirem na luz e uma bela criatura de couro em tons prateado e um pouco de azul sair e escalar até uma rocha, onde instalou-se com as asas encolhidas e rodeou sua longa cauda.
— Bom dia, Serpens! — Draco disse e pegou um pedaço de carne, jogando na direção dele.
O dragão cuspiu uma labareda de fogo azul no alimento antes de se aproximar para pegá-lo e devorar em poucos minutos. Logo em seguida aproximou-se de Draco e empurrou a cabeça contra ele, que riu e ajoelhou-se para acariciá-lo.
— Esse é o seu jeito de me desejar os parabéns?
— Pegue mais, Serpens.
Canopus deu mais comida à criatura, que comeu rapidamente.
— Bom, garoto. Logo você vai estar fazendo aniversário também, hm? O que quer de presente?
— Uma caverna maior, talvez.
— Vamos cuidar disso. Você está crescendo bastante, não é, bebê? — Ele também ajoelhou-se e fez um carinho com cuidado no pescoço do animal, que pareceu gostar bastante, pois aninhou-se a ele. — Ano passado você cabia na minha mão.
— Ele ainda é pequeno, de todo jeito. Até você na sua forma animaga é maior que ele.
— Ele ainda é um filhote. Literalmente só um bebê. — Canis afinou a voz ao final da frase, falando enquanto olhava para o dragão e alisava-o carinhosamente. Ele deixou a criatura aninhar-se em seu colo e beijou sua cabeça. — Você é o meu bebê mais lindo, hm?
— Um bebê com o fogo mais quente dentre todos os dragões.
— Esse é o charme dele, todos os dragões tem um, até você. — Ele sorriu de canto e Draco revirou os olhos. — E a espécie dele é uma das mais dóceis, como pode ver.
Draco apenas balançou a cabeça rindo. Ele também voltou a acariciar o dragão com cuidado, justamente por conta do poder de fogo que ele possuía e estava aprendendo nos últimos meses desde que soltou as primeiras labaredas.
Era quase inacreditável que ele realmente estivesse ali tão perto de uma criatura potencialmente perigosa, mas muito havia mudado. Ele costumava se ver da mesma forma quando se olhava no espelho durante e até mesmo após a guerra. Suas mãos tinham muito mais sangue do que as garras daquele dragão.
Diferente dele, Serpens nunca machucou alguém. Nunca matou alguém.
Ele estava em uma guerra, de fato, mas aquilo nunca sairia de sua cabeça. Sempre acabava remoendo tudo aquilo em sua mente.
Deram o restante da comida para o dragão e deixaram-no saborear a refeição. Draco então tornou a ficar de pé e escorou-se nas rochas, observando o
Black admirar o dragão até que fosse até ele.
— Como está se sentindo?
Draco apenas deu de ombros.
— Ainda pensando na carta? — indagou Canis afastando delicadamente a franja que caía por seu rosto.
Draco comprimiu os lábios após um longo suspiro e abraçou a cintura do namorado, dando de ombros mais uma vez. Sabia que nunca conseguiria esconder alguma coisa dele.
Nem queria esconder, na verdade.
— Não tanto quanto antes.
— Missão cumprida, então. — Sorriu fraco.
É claro que ele não quis deixá-lo sozinho para que não permanecesse remoendo aquilo na cabeça pelo resto da manhã.
Quando Canopus não seria a porra de um namorado perfeito e teimoso que sempre fazia de tudo por ele? Aquilo parecia demais para si as vezes.
— Obrigado — agradeceu num sussurro.
— Tudo para ver seu sorriso hoje. — Ele segurou levemente seu queixo.
Draco não conseguiu se impedir de sorrir fracamente com um leve curvar de lábios. Canopus beijou sua testa carinhosamente em seguida, pousando ambas as mãos nas laterais de seu pescoço.
— Vai responder?
— Não sei. Eu nunca respondo.
— Se quiser responder, está tudo bem. Apesar de tudo, sei que ainda se importa com a Narcisa.
— Eu não deveria.
— Não te julgo por isso.
— Até alguns anos atrás você com certeza julgaria.
— Talvez… Ou não. E não é porque meu pai e eu estamos bem agora que você precisa estar com a Narcisa. Você não está sozinho.
Draco suspirou pesado.
— Não acho que estou pronto pra isso. Não sei se algum dia vou estar...
— O que você decidir, estou com você.
— Acho que não vou ler.
— Está tudo bem. Já vimos provas o bastante de que às vezes é bom se afastar de quem um dia consideramos família, para nosso próprio bem.
A pior parte para Draco é que sua família sempre foi absolutamente tudo para ele. Narcisa e Lucius eram o que ditava suas ações, direta e indiretamente. Abraxas também, até ele morrer e mesmo após isso. Foi difícil se afastar dos Malfoy e ainda era doloroso pensar que a família que ele tanto amava e se importava o fazia tão mal e nunca o aceitariam de verdade.
Ele não sabe se Narcisa realmente estaria disposta a aceitá-lo ou apenas não queria ficar sozinha. Tem medo de descobrir a resposta.
Eles ainda precisavam ter uma conversa, nem que fosse a última, mas Draco não se sentia pronto. Mesmo que um ano já tenha se passado… Ainda não. Toda a dor ainda era recente demais para ele.
— Eu vou precisar encarar uma última vez algum dia.
— Quando você estiver pronto pra isso, e prometo que não estará sozinho quando esse dia chegar. Vou estar com você… Se esse dia chegar. Você não é obrigado a fazer isso.
— Ela é a minha mãe… Apesar de tudo, ela é a minha mãe.
— Isso ainda não te obriga a nada. Ela fez as escolhas dela, você fez as suas — Canopus reforçou. — Se algum dia quiser ir falar com ela, eu irei com você e estarei te apoiando. Se nunca mais quiser sequer ouvir falar dela, está no seu direito, e eu vou estar aqui… E sei que você estaria por mim.
— Sempre vou estar… — sussurrou.
Canopus segurou suas mãos e tirou mais uma vez suas luvas e as próprias, para apertá-las e beijar sua aliança.
— Você e eu contra o mundo, hm? — Ele beijou as cicatrizes em seu antebraço, na região tão dolorida que um dia deixou as marcas de suas unhas na tentativa de arrancar a que ali estava.
— Você e eu… Em qualquer universo, não é?
— Em qualquer universo… Sempre com você.
Draco apertou os braços ao redor dos ombros dele, e ele abraçou sua cintura, unindo suas testas. Uma lágrima solitária escorreu por seu rosto.
— Vamos dar tempo ao tempo. Você não precisa ler a carta hoje ou amanhã, pode nunca ler se preferir. Siga no seu tempo… Do seu jeito. Todos nós ainda temos feridas abertas.
— Eu não quero perder meu sono para sempre por causa delas…
— Não vai, mas aprendi do jeito difícil que não podemos lutar contra isso, nem ignorar. Apenas… Seguir um dia de cada vez — Canopus falou num tom dolorido.
Draco sabia sobre o que ele falava. Ele viu de perto a luta de Canis contra seus próprios pesadelos familiares. Às vezes se perguntava se conseguiria ser forte para superá-los como ele fez.
Quando ele estava perdido na eterna escuridão, Canopus lutou para mostrá-lo que ainda haveria uma luz do dia para viver. Quando Canis estava se perdendo em suas próprias trevas, atormentado por seus próprios temores, ele teve que levá-lo de volta a sua luz, porque não poderia permitir que ele afundasse consigo.
No último ano, os dois tinham que lembrar um ao outro em alguns momentos de voltar para a luz do dia e seguir em frente. Hoje era o dia de Draco ser lembrado.
Aquele era o grande lema dos Black-Lupin, afinal. Enfrentar seus medos e pesadelos seguindo em frente um dia de cada vez.
Uma lua por vez.
— Como eu disse naquele dia na Torre de Astronomia, não precisamos enfrentar nada sozinhos — Canopus continuou. — Estou aqui agora e sempre. Você e eu…
— Você e eu.
— Lua por lua, hm?
— Lua por lua.
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Olá, meus amores!
Tudo bem?
Esse especial atrasou, mas aqui está!
É um pequeno tributo aos amantes de Stardragon que tanto esperam por esse casal. Aqui deixei algumas pequenas pistas e mostrei a dinâmica deles para vocês.
Quis focar bastante especialmente em como o Draco está depois de se afastar totalmente dos Malfoy. Espero conseguir mostrar a diferença, apesar de ele ainda estar bastante abalado. E mostrei também como Canis é um namorado que fará de tudo para ver um sorriso do seu dragão 🥺🥰
Ainda falta uma grande parte que irei revisar. Não sei exatamente se dará apenas mais um capítulo ou mais dois, mas tentarei postar o mais breve possível.
Vamos ver todo esse grande dia porque Draco ainda vai ser muito mimado! E já estou planejando fazer uma short semelhante de Deerwolf para o aniversário do Harry.
Espero de verdade que tenham gostado! Não esqueçam de comentar bastante, hm?
Em breve retorno!
Beijinhos,
Bye bye 😘👋
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