Apenas um Drinque
Lilian Evans não tinha ideia de como havia parado ali. A culpa era totalmente dela – não que ela fosse admitir em voz alta nem nada –, mas quando considerou as consequências, não estava imaginando aquilo.
James Potter não tinha ideia de como havia parado ali. É claro que diferente da ruiva, ele estava se aproveitando ao máximo – e ele com certeza admitiria em voz alta –, mas quando considerou a proposta dela, não estava imaginando aquilo.
Lilian estava furiosa.
James estava rindo.
Antigamente essa cena seria motivo o suficiente para muitos virarem as costas e fugirem do Furacão-Evans. Cena clássica: James Potter provocando Lilian Evans. James Potter brincando com o fogo (leia-se: com Lilian Evans). James Potter sendo atacado por Lilian Evans.
Acho que deu para entender o contexto geral.
Mas então, como se o gesto fosse a coisa mais costumeira do mundo, James Potter deu um passo para frente e abraçou Lilian Evans.
Oi?
Ok, ok, talvez devêssemos voltar um pouco.
Toda essa história começou um dia antes, na faculdade de Hogwarts em que ambos estudavam, na aula de literatura e antes mesmo dela começar. James entrou na sala e se jogou na carteira que, sem surpresa nenhuma, era ao lado do seu melhor amigo, Sirius Black, lá no fundão. Nada de novo.
O interessante começou quando a garota ruiva, Lilian, entrou e caminhou direto na direção de Potter, sentou-se na frente dele e declarou:
— Eu não gosto de você.
Ninguém se surpreendeu. Chocou o total de 0 pessoas.
— Legal, mas eu gosto de você — retrucou James, fazendo Lilian sorrir.
Sorrir. Em vez de brigar, esnobar ou ignorar totalmente a presença dele, ela sorriu. Com dentes e tudo! Como se James fosse alguém que merecesse seu sorriso.
Ele já achava que estava totalmente ferrado, mas foi nesse exato momento que teve a certeza. Se era por saber que Lilian estava planejando alguma coisa, ou porque era apaixonado naquele sorriso, ele ainda não sabia ao certo.
Apenas respirou fundo, sorriu de volta, ficou de pé e berrou mandando quem quer que tivesse abduzido Lilian Evans, que a devolvesse logo. Brincadeira! Ele limitou-se em apenas sorrir e até tentou se preparar, mas não adiantou nada. Não estava pronto para o que veio a seguir:
— Não quero mais brigar, Potter — afirmou ela. — Não foi para isso que eu vim aqui.
— Não? — ele arqueou as sobrancelhas, confuso.
Para falar a verdade, já havia algum tempo que a dinâmica deles não estavam mais ultrapassando além das provações de sempre. Por cursarem aulas diferentes, não era toda hora que James podia vê-la e, por isso, aconteceu algum tipo de acordo não verbal entre os dois. Eles estavam toda hora esbarrando um no outro nos tempos livres e seria bem frustrante saírem emburrados toda vez que isso acontecesse. Então, James e Lilian passaram a aturar a presença um do outro.
— É sério, deu de ficar com briguinhas infantis por aí, não acha?
— Ah, não sei não. Aquela vez que você me empurrou no lago foi bem memorável e acho que até me chamou de estrupício antes disso.
— Que eu me lembre, você estava me irritando. Como sempre. — Os olhos de Lily brilharam maliciosamente. — E eu te chamei de estorvo.
A careta de Potter foi uma ótima renovação de ânimos para Lily, que tentou mais uma vez:
— Vamos lá, por que você não aceita minha trégua? Isso tudo é medo?
James sentiu a armadilha de longe, mas não pediu arrego.
— Tudo bem, ruiva — cedeu. — Bandeira de paz?
— Não! — ela riu e o sorriso maligno que deu em seguida quase fez James sair correndo. — Eu na verdade prefiro um jantar de paz. Amanhã, no Três Vassouras, oito horas da noite.
Um jantar? James era capaz de encarar isso. Um jantar era só um jantar, não era? A única coisa que ele podia ter certeza era a forma exata que seus amigos reagiriam a isso.
Peter sem sombras de dúvidas apenas encheria o peito, arrumaria a postura como se estivesse pronto para fazer um belo discurso e diria com toda a sua graciosidade: "Cara, ela vai te matar". E talvez fosse verdade, porque Sirius certamente concordaria, mas seria Remus quem acalmaria a situação lembrando que não seria muito inteligente da parte de Lilian fazer isso em público.
Lilian estendeu a mão:
— Fechado?
James não entendeu exatamente o que ela queria com tudo aquilo, pois vindo de Lilian, poderia ser uma decisão sincera ou só um jeito novo de brincar com ele.
Mesmo que a inimizade entre os dois não fosse a mais pacífica, eles tinham a mania de não precisarem de um contexto, porque as suas conversas surgiam de assuntos aleatórios e, quando ela não acabava com os dois saindo batendo o pé, era até interessante de observar.
Eventualmente eles discutiam sobre alguma coisa boba, para não perder o hábito e principalmente porque James sempre acabava falando a coisa errada no fim das contas, mas não era de admirar que ele estava, talvez... Esperançoso, digamos assim, com esse tal jantar.
De qualquer forma, é claro que James deveria ter pedido mais informações, ou talvez quem sabe, descoberto o que ela planejava, mas, no fim, acabou ficando feliz que o fez. Em vez disso, estendeu o braço e apertou a mão de Lilian Evans.
— Fechado.
Não seria uma surpresa se o mundo acabasse ali mesmo, em colapso com toda essa reviravolta estranha, mas acabou simplesmente resultando no dia seguinte, com os dois parados em frente a lanchonete Três Vassouras no centro de Hogsmeade, às 20:50h, porque James Potter havia se atrasado cinquenta minutos. Cinquenta!
Quando ele chegou, Lilian estava furiosa.
E James estava rindo.
Não dela... Talvez só um pouquinho! Mas acontece que, assim que ele parou ao lado de Lily, não pode deixar de notar a enorme placa que exibia uma promoção bem ao lado da porta do lugar e que ajudou James a sacar na hora o motivo para estarem ali.
O Três Vassouras estava oferecendo um jantar de graça para casais, desde que pagassem por pelo menos duas bebidas – uma espécie de promoção por causa da semana do Dia dos Namorados. Inclusive dava para ver pela vitrine vários casais de mão dadas, dando risadinhas e olhares apaixonados. Mas na placa também estava escrito até qual horário podia chegar para conseguir a tal promoção: 20:30h. Já era, eles haviam chegado tarde. Ou melhor, James havia.
Lilian observou pelo vidro duas meninas sentadas juntas numa mesa próxima a porta, sem saber se estava prestes a morrer de amores por elas quando uma beijou a testa da outra com afeição ou a morrer de raiva de James, pois, por culpa dele, eles não estavam lá dentro, como as duas meninas. Não literalmente como elas, porque Lilian não estava preparada para distribuir selinhos no Potter como a menina mais alta fez na morena.
Mas sabe, Lily amava a comida do Três Vassouras e a ideia de um jantar de graça era mesmo bem tentadora. Porque não havia mais nenhum motivo para estar ali, além da comida. Não mesmo. Essa história não tinha a ver com o garoto ao seu lado. Nem de longe.
Ou pelo menos, era isso que ela repetia para si mesma.
— Você quer ser minha namorada por uma noite, Evans?
Lilian deu um soco no braço de James, de leve. Ele nem se mexeu.
— Eu queria, mas agora já era. Você conhece a palavra pontualidade?
James ignorou totalmente o que ela disse.
— É assim que você trata seu namorado?
— Você não é meu namorado.
— Mas queria que eu fosse.
— Claro, por comida de graça. Eu chamo isso de prioridade, Potter.
— Como eu sou seu namorado...
— De novo: você não é meu namorado.
— ... eu mereço um pouco mais de carinho, sabia?
— Senta aí e espera seu carinho.
— Eu te mostro como faz, é assim ó.
E foi quando aconteceu: ele segurou Lilian pelos ombros, deu um passo à frente e puxou-a para si, fazendo a garota acabar com o rosto enterrado no peito dele e podendo sentir o cheiro do perfume de chocolate de James.
Lilian paralisou na mesma hora e não se mexeu por um bom tempo, pois parecia que estava travada e seu corpo não a obedecia. Por dentro estava chantageando a si mesma e exigindo que se afastasse, porque esse era James Potter e ele estava a abraçando! O queixo apoiado no topo da cabeça dela, uma de suas mãos fazendo uma pressão reconfortante nas suas costas e a outra na cintura.
Ah, não! Ela não podia estar tendo uma cena clichê com James Potter!
James afastou um pouco a cabeça, espantado quando notou que ela não tinha o empurrado para longe logo de cara como previu. Ela tinha ficado ali, no seu abraço e... Parecia não querer sair. Por que ela não tinha se afastado? Mas o pequeno movimento foi o suficiente para Lilian entrar em ação, se distanciar de repente e dar três longos passos para trás, o rosto em choque.
Os dois ficaram em silêncio por um instante. Lily chegou até a ver a garota morena, do casal que antes tinha visto no restaurante, dar uma boa olhada neles lá de dentro, quase curiosa. Até James não aguentar mais o olhar intenso que a ruiva lançava para cima dele:
— Me desculpa — murmurou James, mas não sabia direito pelo que estava se desculpando.
Ali surgiu dois caminhos disponíveis para Lily: Ela poderia iniciar uma conversa madura e sincera sobre os efeitos que James havia causado nela só por tocá-la por alguns segundos, ou sobre a expressão do rosto dele que parecia dizer muito mais do que aquele silêncio, ou... Sabe, fugir do assunto. E é óbvio que ela escolheu a última opção.
— Não! — Ela praticamente gritou. — Hã... Tá tudo bem. Quero dizer... Da próxima vez, apenas tente não se atrasar — disse ela, desviando o olhar. Ele entendeu na hora o que Lilian estava fazendo, fingindo que a desculpa não era para o momento que eles haviam acabado de ter e sim para o seu atraso... Só que James acabou focando em outra coisa: então teria uma próxima vez?
Mas Lily continuou a falar, fingindo desinteresse sobre isso, agora falando mais consigo mesma do que com James:
— Aí, sei lá sabe, não é tão importante assim, mas eu saí de casa, sai da minha cama quentinha, só para vir aqui, nesse frio...
James franziu as sobrancelhas, colocando as mãos no bolso e olhando em volta, enquanto ela continuava:
— ... hoje eu vou dormir pensando na comida do Três Vassouras...
— Evans.
— ... eu só queria um jantarzinho, nada demais...
— Ruiva...
— ..., mas ele teve que se atrasar! Poxa, eu até pedi uma trégua...
— Lily!
O que finalmente a fez virar foi ele a chamando de Lily. Se virou de repente quando percebeu que ela gostou de como o apelido soou na voz dele. O pensamento a fez corar.
— O que foi?
— Acho que é uma competição.
— Competição?
— É, olha ali... Para atrair clientes e etc.
Ela imediatamente olhou para onde ele apontava. Do outro lado da rua, em frente a um bar chamado Cabeça de Javali, havia um homem de cabelos grisalhos. Mesmo estando a metros de distância, seus olhos azuis de alguma maneira diziam a Lilian que ele era mais novo do que parecia, mas era difícil ter certeza com os cabelos brancos e rebeldes que desciam até os ombros do homem.
Ele parecia estar completamente entediado, o rosto inexpressivo enquanto ajeitava uma faixa que provavelmente havia caído e ele tentava arrumar novamente na vitrine do bar. Era a mesma promoção que o Três Vassouras promovia, mas em vez um jantar grátis, eram bebidas alcoólicas gratuitas.
James olhou para Lily, sugestivo, a sobrancelha levemente arqueada enquanto ele alternava olhares entre ela e o bar.
— Que tal? Para não desperdiçar a viagem?
Lilian o olhou, cética. Ele não podia estar falando sério. Ela não ia sair para beber com ele, não mesmo e nem em sonhos. Nem que a vaca tussa. Nem que porcos voassem! Abriu a boca para falar exatamente isso, quando, na verdade, o que ela disse foi:
— Tudo bem, vamos lá.
Ok, ela não conseguiu resistir e lá foram eles, em direção ao bar.
James particularmente achava que não havia nada mais apavorante e ao mesmo tempo tentador do que Lilian Evans furiosa. Os olhos verdes dela sempre pareciam faiscar, mostrando uma vontade de acabar com ele não importava aonde fosse e, caso bobeasse, ela mesma poderia queimá-lo com aqueles cabelos vermelhos como chamas vivas que desciam em ondas pelas costas da garota. James era fascinado por eles e poderia tranquilamente dizer isso em voz alta se tivesse a certeza de que não iria receber um tapa em troca.
Mas enquanto paravam em frente ao homem desconhecido, James se deu conta que gostava dessa Lilian, mesmo ainda não sabendo de onde ela havia surgido. Gostava mais da ruiva que topava planos com ele e não daquela que tinha a mania irritante de chamá-lo constantemente de "aquele cara desprovido de senso".
Mas ainda assim, mesmo com esse pacto de paz temporário, nenhum dos dois estava muito confiante e não sabiam direito como reagir. Porém já estavam lá mesmo, então que mandassem tudo a merda, não é? Lilian só precisou tomar o mínimo de coragem e respirar fundo, para dar um passo à frente e declarar:
— Oi, eu sou Lilian Evans. Ah, e esse é o meu namorado, James Potter.
James tentou controlar o sorrisinho que queria brotar no seu rosto por ter gostado de como a frase soava, ao mesmo tempo em que se sentia um idiota.
— Eaí — foi a única resposta do homem de cabelos brancos. Parecia que, se fosse por ele, ignoraria a presença dos dois sem o menor esforço.
— Hm... Como isso aqui funciona? — disse Lilian, estendendo a mão e dando uma batidinha na faixa que o homem tinha acabado de pendurar. A batidinha fez uma das pontas cair e a faixa entortar de novo. O olhar que o homem deu a ela a fez recuar um pouquinho, na direção de James. — Opa, foi mal!
Mas ele não respondeu, apenas se virou e entrou, fazendo um sinal para que os dois jovens o seguissem para dentro do bar.
O Cabeça de Javali não é e nunca foi um bar de respeito. Era mal iluminado, levemente malcheiroso e sua clientela não era das melhores, considerando o tanto de gente esquisita que dava para encontrar espalhadas pelas mesas do bar, pelo chão, ou na sarjeta na frente da porta principal. Por isso eles hesitaram por um instante, mas depois, ignorando todo o senso que tinham, o seguiram.
Assim que entraram, foram direto para o balcão, para onde o homem da faixa tinha ido e não tiveram escolha a não ser segui-lo. Desviaram de algumas mesas que tinham pessoal meio suspeito, mas não comentaram nada. Até porque uma capa preta que cobre tudo, inclusive o rosto, igual a de uma das pessoas que estava parada ali por perto, poderia muito bem ser a última moda em Paris, não poderia? Vai saber!
— Meu nome é Aberforth — começou o homem, depois de analisar as identidades deles sem nem ao menos olhar direito para os dois, começando a se mexer de um lado para o outro, do lado de dentro do balcão e recolhendo algumas coisas por ali enquanto falava. — Vocês são os únicos idiotas que escolheram vir para cá em vez de ir pro Três Vassouras, sabiam disso?
James respondeu:
— A gente gosta mais daqui.
Ao mesmo tempo em que Lilian dizia:
— Culpa dele, que chegou atrasado e nós passamos do horário.
Eles se encararam, enquanto Aberforth soltava uma risada debochada.
— Precisam pelo menos combinar a história antes, pombinhos. Não dá só para exigir umas bebidas de graça enquanto fingem ser um casal.
Lilian corou, enquanto James começava a gaguejar:
— M-mas q-quem disse que n-não somos um...
— Tá — interrompeu Aberforth, se encostando no balcão e encarando os dois. — O passe para ganhar as bebidas, é provarem. Provem que são um casal.
A vergonha de ter sido pega no pulo em menos de cinco segundos desapareceu imediatamente e Lilian a substituiu pelo aborrecimento. Odiava ser testada! Ia dizer exatamente isso e pedir para James para irem embora, mas pelo visto Potter tinha outros planos em mente.
— Tudo bem. Acho que eu conheço Lilian mais do qualquer um e posso provar. Esse tipo de coisa serve?
Aberforth deu de ombros.
— Vai em frente.
James se virou na direção da ruiva e deu um sorriso nervoso.
— Tente não se irritar, está bem? É só algumas coisas que eu reparei em você desde a época da escola.
Lily queria se irritar sim. Queria virar as costas e ir embora. Queria gritar chamando-o de aquele cara desprovido de senso a plenos pulmões e fugir. Ela era boa em fugir e estava sempre pronta para usar essa tática, mas dessa vez, não fez nada disso.
— Vou tentar — resmungou ela, mas James, conhecendo bem a garota na sua frente, percebeu o sinal verde e sorriu. Era uma chance, pelo menos.
— Tá bem, vamos lá... — ele pigarreou. — Hã, você ama livros de terror e mistério. Vi você com Psicose umas milhões de vezes e chegou até a fazer uma apresentação sobre ele. Sei que você gosta de dizer como terror é mil vezes melhor do que os romances clichês ruins que sempre alguém morre no final, mas sei também que chorou assistindo Como Eu Era Antes de Você e que ele é um dos melhores filmes que já assistiu. Você fecha levemente os olhos quando está irritada ou com sono, mas eles ficam sempre bem abertos quando você está feliz ou surpresa... Como agora. Quando escuta música no fone de ouvido, você canta o toque da música junto com a melodia e às vezes está totalmente fora do ritmo, mas isso sempre parece te animar. Eu sei dizer quando você está triste, quando está feliz ou quando precisa de um amigo, nem que seja para brigar ou xingar pelos corredores da faculdade. E é por isso que eu nunca vou embora e porque estou sempre por perto.
James parecia envergonhado, como se tivesse falado demais. Deu um pequeno sorriso e encolheu os ombros de leve, como se estivesse dizendo "é só isso que eu tenho".
Mas enquanto isso, Lilian não sabia nem o que sentir, imagina então o que dizer. Queria começar a chorar ali mesmo, mas também queria rir, queria socá-lo no meio do rosto e dizer que ele não tinha o direito de dizer esse tipo de coisa dela, mas também queria beijá-lo e saber o que mais ele havia notado nela. Lilian não queria nada, mas queria tudo.
Já Aberforth não parecia impressionado.
— Grande coisa, garoto. Eu também sei falar algumas coisas bonitinhas para convencer alguém.
Mas James estava sentindo-se corajoso até demais, foi pegando confiança e agora seria meio difícil fazê-lo abaixar a bola. Por isso, mesmo corado, ele não se importou nem um pouquinho com as palavras de Aberforth. Se ele queria algo, queria uma prova, então que fosse. James e Lilian não eram namorados de verdade, mas Potter já estava cansado de negar que ele queria ser.
Então ele se aproximou dela. Viu a respiração de Lily falhar um pouco e seus olhos verdes se arregalarem, mas ela não recuou, apenas deixou a mão dele segurar o seu rosto e puxá-la para si. Era engraçado Lilian reclamar dos clichês sempre que podia quando na verdade os adorava e, principalmente, porque estava preste a passar pela maior cena clichê de todos os tempos.
O primeiro beijo deles.
O primeiro toque leve dos lábios de James no dela, com a ruiva avançando em seguida sem perceber o movimento do próprio corpo e intensificando o beijo, abrindo a boca o suficiente para deixar a língua dele deslizar pela sua e beijá-lo ali mesmo. Naquele bar, em frente a um desconhecido e fingindo serem namorados para ganhar algumas bebidas de graça. De alguma maneira, toda essa loucura pareceu o certo.
— Certo, já deu — resmungou Aberforth e bateu uma caneca de cerveja no balcão, assustando Lily que deu um pulo para trás, como se tivesse acabado de despertar de algum sonho. Ela se sentia assim.
Estava acontecendo tudo muito rápido. Não havia sido no dia anterior que Lilian havia dito a James "eu não gosto de você"? Parecia muito distante naquele momento. Tanto que nenhum dos dois ousou falar alguma coisa, nem sei dizer se eles tinham estruturas o suficiente para isso. Lily só conseguia pensar que os seus lábios pareciam formigar de uma maneira gostosa e James apenas pensava no gosto de morango do gloss de Lilian.
— Aqui está — Sem mais explicações, Aberforth colocou uma sequência de vários copos pequenos de drinques e os encheu rapidamente com uma bebida laranjada. — Aproveitem.
E se afastou.
Lilian encarou os copos, em seguida encarou James. James encarou os copos, em seguida encarou Lilian. Foi um acordo silencioso entre duas pessoas que não confiavam nelas mesmas para abrir a boca, para evitar despejar uma quantidade considerável de sentimentos e melosidade.
Os dois apenas agarraram um copo cada um e viraram, a bebida queimando suas gargantas.
Um tempo e alguns copos depois, Lily só conseguia pensar que ia se arrepender disso, na manhã seguinte. Estava tonta e sua cabeça doía, apostava que se tentasse ficar em pé teria que se apoiar em alguma coisa para não cair.
Pensou que ia gostar se tivesse que se apoiar em James Potter. Por causa desse pensamento, explodiu em risadinhas. Esquisito, ela não era garota de dar risadinhas, ainda mais por interesse romântico. Não se sentia assim desde quando beijou Emmeline Vance. Lembrar disso resultou em outro ataque de risadinhas.
— O que você tá fazendo?
Lilian estava sentada na cadeira de uma das mesas do Cabeça de Javali, como tinha parado ali ela não tinha certeza, mas suas pernas estavam jogadas em cima da mesa, com James ao seu lado, que tinha acabado de se virar para ela e feito a pergunta.
— Tô pensando — respondeu ela.
— Em quê?
Invente qualquer coisa, Lily pensou.
— Em você — foi o que saiu.
Ele sorriu, mas parecia estar tão bêbado quanto ela, os olhos meios desfocados enquanto a encarava.
— No beijo?
— É.
— Quer repetir?
Ela o encarou.
— Quero.
Não deu nem um segundo e os dois já se levantaram, caminhando para o banheiro sem nem mesmo combinar, os dois cambaleantes e perdidos e não se esforçando para disfarçar. Lilian entrou primeiro no banheiro feminino, deu uma olhada nas cabines, todas elas abertas e vazias e foi direto para a última, se enfiando lá dentro. James a seguiu e quase imediatamente, assim que fecharam a porta, Lilian já estava encostada na parede, envolvendo Potter pelo pescoço, os corpos colados e suas bocas atacando uma à outra.
Eu não devia estar fazendo isso, James pensou.
Segurar as coxas de Lilian e a puxar para cima fazendo-a envolver sua cintura com as pernas, foi o que saiu.
Parando o beijo por um instante, James desceu os lábios pelo pescoço da ruiva, beijando uma área sensível que a arrepiou no mesmo instante.
— James... — sussurrou ela baixinho.
Lily não estava preparada para pensar muito no que estava acontecendo, mas sabia que era uma coisa que ela queria. E muito. Mas isso, seu sussurro, a maneira que sua voz pronunciou o nome dele, de alguma maneira o fez parar. Lentamente foi voltando Lilian ao chão e se afastou, deixando a garota desnorteada com a falta de contato que ela tanto desejava. Olhou-o, confusa. Será que tinha feito algo de errado?
— Por que eu? — murmurou James.
Isso fez Lily gemer de frustração.
— James... — repetiu ela, tentando se aproximar de novo, mas ele mal se moveu.
— É sério. Remus me disse uma vez que achava você bem bonita e te encheu de elogios. Podia ter chamado ele para vir aqui com você hoje. Ele seria o namorado perfeito, com certeza melhor do que eu.
— James... — disse Lily pela terceira vez, agora realmente frustrada, percebendo que o James bêbado passava do tentador para o melancólico muito rápido. — Remus gosta do Sirius. E eu gosto de você. Pedi para ele falar bem de mim.
James assentiu, como se essa fosse a resposta que esperava. Mas então levantou a cabeça, assustado, como se tivesse refletido e processado o que ouviu e percebido que definitivamente não era a resposta que esperava.
E Lilian estava definitivamente sem paciência. Só queria dar uns beijos, poxa, não discutir o que ela sentia ou não por ele. Mas era tarde demais e ela acabou botando para fora:
— Eu gosto de você, tá? Eu te achava um pé no saco de insuportável, mas aí eu percebi que penso até demais em você. Que você me faz sorrir mesmo quando eu quero te socar. Aí eu pensei, caraca, eu quero namorar esse cara.
— Mas a gente nem tinha tido um encontro.
— Eu decidi que a gente poderia sair junto pela primeira vez e ainda te testar como namorado.
James sorriu.
— Como eu tô me saindo?
— Estamos bêbados no banheiro de um bar depois da gente se agarrar.
— Nosso filho vai se chamar Harry.
— Com certeza.
E se beijaram de novo.
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[10h da manhã – no dia seguinte]
Lilian resmungou alguma coisa baixinho, inaudível. Sua cabeça parecia que ia explodir e, para completar, tinha a droga de uma luz forte bem no seu rosto. Murmurou, se mexeu, remexeu, xingou, resmungou de novo e só então, quando teve certeza de que não ia voltar a dormir, sentou-se na cama em que estava deitada.
Percebeu várias coisas logo de cara: não estava no seu quarto, isso era certeza. Esse era maior, as paredes eram pintadas de branco com alguns pôsteres sobre o time de futebol da faculdade, Gryffindor. Os móveis eram simples, mas bem bonitos e tinha até uma pequena prateleira de livros ao lado da porta. Sobre a escrivaninha ao lado da cama havia uma foto de um bebê muito fofo e, ao lado dela, outra de um James Potter mais velho com seus amigos e... Espera.
Lilian pulou da cama e teve que se segurar imediatamente na parede quando o quarto girou e em seguida voltou a sentar-se na beirada do colchão, mas agora mais desperta do que nunca. Estava no quarto de James Potter!
Seu coração acelerou consideravelmente e ela precisou de uns segundos respirando fundo para reorganizar os pensamentos. Estavam no bar ontem à noite, certo. Beberam bastante, certo. Ela tinha se declarado para ele. Ela tinha se declarado para ele! Uma declaração horrível, mas no mínimo boa para os padrões de uma bêbada.
Lily gemeu e desejou sumir. Estava envergonhada, queria se esconder debaixo da cama. Como ela tinha chegado nesse nível? Pelo menos a roupa que usava, ainda a mesma do dia anterior, parecia dizer que depois deles irem embora de táxi para a casa dele, não tinham feito nada demais além de alguns beijos, o que Lilian estava eternamente grata. Não que ela não quisesse, mas queria estar sóbria, de preferência.
Lilian sabia que James morava sozinho, então não tinha medo de uma aparição repentina dos pais dele, mas antes que pudesse decidir se esperaria James aparecer ou se iria embora de fininho, ele decidiu por ela. James abriu a porta do quarto, os cabelos molhados deixavam claro que tinha acabado de sair do banho e seu rosto se abriu com um sorriso quando percebeu que ela estava acordada.
— Bom dia, flor do dia.
— Bom dia — resmungou ela.
— Você está péssima.
— Nossa, muito obrigada, James, era exatamente isso que eu queria ouvir — respondeu Lily, irônica, mas deu um pequeno sorriso. Fazer o que, era verdade. Não estava muito animada para ver a situação do seu cabelo.
— James, é? Evoluímos do sobrenome para o nome. Gostei.
Ela riu.
— Depois de ontem, isso não é tão difícil.
James a observou, curioso. Achou que demoraria mais para ela citar o incidente que ele tinha decidido chamar de Aquilo-lá-do-Cabeça-de-Javali. Ele disse exatamente isso para ela.
— Aquilo-lá-do-Cabeça-de-Javali? Me recuso a usar esse nome, James.
— Sugere o que então, meritíssima?
— Que tal o-dia-que-eu-me-declarei-pra-você-então-vamos-por-favor-falar-sobre-isso?
James ficou em silêncio por um instante, mas depois disse:
— Olha, eu sinceramente achei o nome muito grande.
— James!
— Tá, tá.
Ele sorriu e se aproximou dela que ainda estava sentada na beirada da sua cama. Se abaixou para poder ver Lily melhor nos olhos e a encarou, mais sério do que uns passos atrás.
— Eu também gosto de você. Achei que tinha deixado claro todo esse tempo, eu... Sempre te chamei pra sair.
— Como eu ia saber que não era só mais uma das suas brincadeiras?
— Não era. E mesmo assim, as coisas que eu falei de você para o Aberforth são todas reais e eu não repararia em tudo aquilo à toa. Eu gosto de você, Lily. E se você quiser tentar, tudo bem. Se quiser deixar para lá, tudo bem também. Mas eu gostaria mesmo que a gente falasse da tal bandeira de paz, porque a trégua eu estou super levando a sério. Se envolver uns beijinhos aqui ou ali, sem reclamações.
Lilian não resistiu e riu. A ideia parecia muito tentadora e talvez não fosse algo ruim eles pelo menos... tentar.
— Eu gosto do nome Harry — disse ela, estupidamente.
Foi o suficiente para James rir, se levantar do chão e se inclinar na direção dela.
— Um passo de cada vez. Mas isso significa que sim? Vamos tentar?
— É, algo por aí.
Eles sorriram juntos, James se abaixando ainda mais para beijá-la, mas antes que ele conseguisse, Lily o empurrou pelo ombro.
— Eca, não. Nem escovei os dentes ainda.
— E daí? Vem cá.
E os dois caíram na cama, rindo. No mesmo instante levaram a mão para a cabeça e gemeram, a ressaca dando seus sinais de vida. Ainda assim, Lily e James acabaram deitados juntinhos, na cama dele, sentindo o calor um do outro.
Depois disso, ainda tiveram que lidar com algumas coisas. Por exemplo, quando contaram que estavam juntos e Sirius berrou de felicidade gritando "Eu sabia!", pegando Remus pela mão e declarando que eles abençoavam a relação apenas se eles fossem os padrinhos do casamento (a sugestão fez James gaguejar e Lilian gritar "Que!"), enquanto Peter dava umas palmadinhas nas costas de James, afirmando que alguns guerreiros conseguem vencer a guerra. Aconteceu também, algumas semanas depois, a apresentação aos pais de Lily, que teve alguns probleminhas envolvendo um bolo, uma janela e um cachorro, mas essa é outra história.
A única coisa que sabiam era que valeu a pena.
Certo que Lilian Evans não tinha ideia de como havia parado ali. Sabia de todas as coisas que poderiam ter dado errado, principalmente por causa dela – não que ela fosse admitir em voz alta nem nada –, mas quando considerou as consequências, percebeu que era ali mesmo naquele ponto da história que ela gostaria de estar.
James Potter não tinha ideia de como havia parado ali. Se apaixonar por Lilian tinha sido só uma questão de tempo – e ele com certeza admitiria em voz alta –, mas quando considerou a proposta dela, não imaginou que acabaria no melhor lugar que poderia estar.
Lilian estava feliz.
E James estava apaixonado.
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