Ofício
Eu escrevo sobre o meu vazio
e as coisas que cabem e/ou saem dele.
Saem porque mantenho o caminho aberto,
porque faço da poesia a representação da minha existência.
Mas meu vazio não se esvai somente em poemas,
mas também em paisagens que capto
ou crio em meus devaneios, quando estar só fica insuportável.
Na verdade eu nunca estou sozinho, mas acompanhado de sombras
e anjos que não me revelam seus nomes,
mas que se escondem em mim,
eu que muitas vezes me escondo de mim mesmo,
e acabo me encontrando no meio de um verso despretensioso, de baixo de uma árvore
ou também a beira do abismo.
Tenho a lua e as estrelas como testemunhas
da minha batalha ingrata
e também inglória
de refutar paradigmas
e não me envaidecer da minha consciência frente minha fraqueza,
essa ousadia de enfrentar meus demônios,
de peregrinar descalço pelo solo seco dos meus sentimentos,
ah - trago as reminiscências de séculos e séculos desse nome,
as alegrias e tristezas que me constituem
e que também me consomem como fogo em chamas.
Ora, esse sol que brilha e queima minha pele,
transpassa minha carne e perturba minha alma,
calor medonho que me leva de volta ao tempo da miséria,
da subserviência,
da mendicância humilhante de existir numa condição medíocre
e nunca ter vivido uma vida.
Ora,
que as nuvens se dissipem em borrões em minha visão turva
e eu receba de braços abertos a salvação do meu infortúnio
gargalhando como uma hiena.
Anoiteceu mais uma vez,
e eu contei uma estrela a menos no céu.
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