Capítulo 27 - Sedenta
Isobel adentrou a sala, observando com repulsa a casa simples onde estava. Para ela, sempre havia uma coisa em comum nas casas pertencentes aos idosos; o cheiro de velhice junto ao mofo, também tinha os móveis antigos e de mau gosto, que a maioria deles achavam que eram obras de arte raras.
— Será que não existia um lugar melhor nessa droga de cidade? — questionou bufando. — O cheiro daquele velho está impregnado no ar! — falou. — Afinal, o que você fez com o corpo?
— Nada — Kieran respondeu. — Aqueles dois babacas lá fora enterraram o velho no quintal.
— Graças a Deus não vamos ficar aqui por muito tempo — comentou observando Riva entrar na residência de fininho. — Olha que coisa maravilhosa! Estamos todos aqui, tentando manter a discrição e você caminhando à luz do dia, para ser vista por qualquer um — se apressou em dizer.
Riva fitou a vampira com frieza.
— Eu tomei cuidado.
— Espero que sim — Isobel retrucou rapidamente.
— Não precisa se preocupar comigo — a bruxa falou seriamente. — Você tem que se preocupar com sua filha, e com o Derek. Estávamos lá quando os dois se beijaram, logo após Alina morder alguém. Aquele cretino não vai facilitar as coisas para você — alertou secamente. — Precisa me deixar em paz e pensar em como vai fazer sua filha dizer sim na hora do ritual.
Isobel aproximou-se, segurando firmemente no braço esquerdo de Riva, e cochichou em seu ouvido:
— Eu se fosse você, tomaria cuidado com a forma como fala comigo!
A bruxa se desprendeu do aperto que a vampira causava em seu braço. Ambas estavam extremamente sérias, encarando-se. Riva foi a primeira a desviar o olhar e se afastar, indo para outro cômodo, tentando manter a calma.
— Vamos amor, não podemos brigar com a bruxa — Kieran falou baixinho, quase inaudível. — Precisamos dela, além do mais, ela é forte demais.
— Talvez para você, querido — falou rapidamente.
— Talvez — retrucou visivelmente magoado.
— Quando tudo isso acabar, vamos embora — ela disse, aproximando-se dele. Sentando em seu colo. Fitando-o nos olhos, de forma sedutora. — Só eu e você. Não vamos precisar de mais nada, nem ninguém — sorriu, dando uma piscadela.
Kieran retribuiu com um sorriso, confiante.
Distante dali, do outro lado da cidade, Alina e Derek caminhavam tranquilamente pela floresta, evitando os galhos tortos juntamente com seus espinhos. O silêncio durou pouco tempo, a vampira estava tomada pela curiosidade.
— Olha, eu não quero estragar esse momento, mas andar pela floresta é algo que eu já fiz algumas vezes e particularmente não gosto muito — Alina disse rindo. — Não tem nada de novo nisso. Você me prometeu algo que nunca fiz, se lembra?
Derek se virou rapidamente para fitá-la.
— Não é isso que vamos fazer — retrucou. — Que graça teria?
Ela gargalhou, sem conseguir se conter.
— Raio de Sol, você tá andando muito devagar — ele alertou seriamente. — Na subida vamos precisar da luz do dia.
— Na subida? — questionou curiosa. — Não vai mesmo me dizer o que vamos fazer? A gente poderia apostar uma corrida, eu sempre corri muito bem — Alina falou confiante. — Mas você precisa dizer aonde vamos...
— Espertinha você... Que tal correr até o lago? — ele perguntou, aceitando o desafio.
— Pode ser...
Ambos pararam lado a lado, sérios. Alina respirou fundo e contou até três, logo os dois começaram a correr.
Derek saiu em disparada. A jovem vampira vinha logo atrás, a velocidade que possuía agora era intensa, a garota mal conseguia enxergar o caminho. Não estava acostumada a se mover tão rápido.
— Ai! — murmurou ela. — Derek?
Ele parou e voltou velozmente ao encontro dela.
— O que houve?
— Acho que torci o pé.
— Caramba, Alina — o vampiro resmungou, abaixando-se para olhar o tornozelo dela, quando de repente a garota agilmente correu. — Sério? — Derek questionou indignado. — Já ouviu falar em trapaça? — disse, voltando a correr.
Logo mais à frente Alina parou, recuperando o ar, animada. Encontrava-se em frente ao lago.
— Não me diga que já está cansada?
— Ahh! — ela soltou um leve gritinho. — Como você chegou aqui antes de mim? — inquiriu, vendo-o sentado em uma pedra.
— Você tinha a vantagem, mas eu sou mais rápido.
Ela bufou.
— Você deveria usar seu dom vampírico para correr mais rápido.
Alina revirou os olhos e disse rapidamente:
— É, eu tentei...
Ele riu.
— Você vê aquela montanha ali? — falou, aproximando-se o suficiente para sentir o calor se esvaindo da pele dela, voltando a temperatura normal. — Aposto que nunca subiu nela — cochichou em seu ouvido.
A respiração controlada dele tocava no pescoço dela, como se fizesse uma leve carícia em sua pele, o que fez a vampira se arrepiar. Logo, ela respirou fundo, mantendo o autocontrole.
— E então... — ele falou, chamando a atenção da garota. — Vamos?
Ela sorriu assentindo com um leve meneio.
Caminharam por alguns minutos em silêncio. Até que ficaram cara a cara com o paredão íngreme da enorme montanha.
— Olhando de perto acho que não vai ser muito bom subir isso.
— Uma aventura e tanto, não é mesmo? Acho que você não tem ousadia para isso — ele riu, zombando dela.
— É sério? E o que acontece se eu cair?
— Vai quebrar muitos ossos — respondeu, vendo a aflição surgir nos olhos de Alina que estava prestes a contra-argumentar, por isso ele se apressou em diz. — Mas não vai morrer. Relaxa...
— Tudo bem. As cordas e os ganchos estão na sua mochila?
— Não — falou rapidamente. — Vamos subir usando só as mãos mesmo.
Ela arregalou os olhos.
Derek tirou a mochila das costas e abriu retirando dela um pequeno pote transparente, com algo de cor branca dentro.
— Pó de Magnésio — ele disse. — Vai te ajudar.
— Na verdade este pó tem o nome químico de carbonato de magnésio — Alina falou ainda alarmada.
— Não importa! — respondeu.
O vampiro passou o pó nas mãos até que elas ficassem totalmente brancas e se afastou, a garota fez o mesmo, parando ao seu lado.
— Vamos. Use as pernas para impulsionar, um dos pés deve ficar mais alto, próximo da linha da cintura e segure o peso do corpo com as mãos para que você não caia — ele disse, começando a subir.
Alina o observou por um tempo. Derek subia agilmente. Logo ela respirou fundo, enchendo-se de coragem e começou a subir também, devagar. Houve um momento, no meio da escalada que seu pé esquerdo escorregou ao ser colocado rapidamente em uma fenda. A vampira olhou para baixo, assustada, sentindo sua visão embaçar.
Derek já se encontrava lá em cima, fitando-a com atenção.
— Não olhe para baixo Alina — ele gritou. — Olhe para mim, ok?
A vampira olhou para cima, fitando-o distante. Respirou profundamente, voltando sua concentração a escalada. Posicionou cuidadosamente o pé, de forma correta e continuou subindo, após o susto.
Sentia o vento bater em sua pele e a luz diminuir lentamente, sentia também a adrenalina percorrer por suas veias. Chegando ao topo, ela fez força com os braços para se puxar para cima, fazendo uma alavanca com a perna para impulsionar o corpo e continuou assim até que seu abdômen ultrapassou a superfície.
Ela nem acreditava que estava lá em cima. Que conseguira chegar até lá, sozinha. Seu corpo tremia, sendo tomado por uma enorme torrente de sentimentos. Quando se deu conta, estava sorrindo e com os olhos marejados. Observou silenciosamente a floresta lá embaixo e boa parte da cidade, era uma paisagem linda de se ver, com toda certeza o risco valia a pena.
— É sensacional — falou quase inaudível.
— É sim — Derek respondeu, fitando-a com um sorriso largo no rosto.
— Eu nunca senti isso antes — ela disse de repente. — É uma emoção sem tamanho, não sei nem explicar o que estou sentindo. Você entende?
— Sim, sei como é isso.
Alina então se virou, olhando para Derek.
— Eu precisava disso — a garota falou caminhando em sua direção, abraçando-o. — Sempre olhei para essa montanha nas raras vezes que vim ao lago, mas nunca imaginei que um dia estaria aqui em cima.
— Que bom que gostou — ele disse. — Agora posso saber por que voltou tão inquieta da cidade?
— Não foi nada — murmurou, encarando-o.
Derek mexeu em alguns fios dos cabelos de Alina que insistiam em esvoaçar para frente do rosto dela, impedindo-os de se olharem, então ele colocou-os para trás.
Nesse momento a vampira se deixou mergulhar nos olhos dele. O beijo veio logo em seguida, demorado, intenso. Cheio de urgência. Ao fundo, o sol começava a se retirar de cena, como se quisesse dar aos dois privacidade.
Derek a pegou no colo, abaixando-se logo em seguida junto à ela. Os dois estavam deitados no chão. Seu torso em cima do dela, suas mãos começaram a percorrer o corpo magro da garota, sentindo-o intensamente. A vampira começou a subir a camiseta dele, fazendo-o se afastar rapidamente, tirando de uma vez a camisa.
Com certeza não era ali que ambos imaginaram que isso aconteceria, mas àquela altura já estavam sedentos de paixão e a razão simplesmente não existia.
Ela o beijava com desejo, sentindo seu corpo arder, deixando seus lábios explorarem os dele, descendo para o pescoço. A mão esquerda de Derek acarinhava os cabelos de Alina, enquanto a mão direita apertava a cintura dela, quando de repente um gemido de dor escapou de seus lábios. Ele a soltou, afastando-se rapidamente, encarando-a com um misto de sentimentos no olhar; assombro e raiva. Suas mãos subiram até o pescoço que sangrava.
— Eu sinto muito — ela disse totalmente envergonhada, sentindo suas bochechas queimarem. — Não sei o que deu em mim... Eu... N-Não queria... É essa maldita sede.
O vampiro deu de ombros, abrindo a mochila, tirando de dentro uma longa corda.
— Derek? — ela chamou sendo ignorada novamente — Eu sinto muito, de verdade. Não foi intencional — fez uma pausa, observando-o — O que você tá fazendo?
— Vamos voltar — ele disse seriamente, enquanto se recompunha, amarrando logo em seguida a corda — Espero você lá embaixo — falou começando a descer.
Uma infinidade de sentimentos conflitantes tomou conta dela naquele momento.
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