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Capítulo 24 - Apenas uma peça nesse Jogo


    Derek estava surpreso de fato, e receoso com aquela visita. Era estranho que depois de tantos anos, estivesse cara a cara com sua criadora.

— O que você quer comigo? — o vampiro questionou desconfiado.

— Pensei que ficaria feliz em me ver, afinal, eu dei a eternidade à você.

Os músculos faciais de Derek se contraíram de tal forma que ele conseguia sentir seus dentes pressionados fortemente um contra o outro dentro de sua boca.

— Eu estou feliz em vê-lo — ela voltou a dizer, suavemente.

Sua feição doce, fez Derek se sentir levemente relaxado naquele momento. Ela tinha um grande poder de persuasão.

— Os anos só te fazem bem — falou descontraído.

Ela riu.

— Ah! Nada melhor do que ser vampira — disse dando uma piscadela. — Não existe remédio melhor contra o tempo.

— É verdade — respondeu. — Se eu me lembro bem, e eu me lembro, você disse que quando nós nos víssemos novamente me diria finalmente o seu nome e quando fizesse isso pediria um favor, não é?

— Sim — ela respondeu. — Então vou falar de uma vez; eu preciso da Alina.

— Não mesmo — Derek retrucou, rindo com ironia. Suas mãos semicerradas.

— Fico feliz que não tenha dito "sim" logo de cara — a mulher diz. — Não vim aqui para brigar ou causar danos.

— Então o que quer com ela?

— Sabe... Ouvi falar muito de você nos anos 60 e 70 Derek, quase se tornou famoso mundialmente entre os nossos, como o vampiro que matou mais pessoas.

Ele engoliu em seco, desconcertado, lembrando-se vagamente de seu passado sombrio.

— Mas fiquei sabendo que agora não mata mais suas vítimas — ela disse, aproximando-se mais. —, apenas toma um pouco de sangue e as deixa partir. Por que mudou?

— Paz de espírito.

A mulher balançou a cabeça.

— Eu entendo, também quero isso. Paz de espírito, redenção — falou sorrindo de leve, com as bochechas coradas. — É por isso que preciso da Alina, minha filha.

Derek respirou profundamente, sentindo seu corpo ficar rígido.

— Sua filha?

— Sim, Derek — afirmou. — Me chamo Isobel. Isobel Malecki, e sou a mãe de Alina.

Aquilo acertou Derek em cheio, a mulher que no século XVIII o transformou em vampiro estava ali, dizendo ser mãe de Alina. De repente o vampiro se lembrou da velha cega dizendo-lhe que ele e a herdeira sanguínea tinham um elo de sangue. Sentiu naquele instante suas veias gelarem, o elo era verdadeiro, e Isobel era a explicação da ligação entre eles.

O silêncio que se instalou era quase sepulcral.

— Está tão pasmo assim? — ela questionou, olhando atentamente para ele.

— Tudo bem — o vampiro falou seriamente, com semblante frio. — Mas me diz; por que só agora? Por que você não veio atrás da sua filha antes?

— Não é fácil admitir isso, Derek, mas eu fui uma pessoa muito egoísta e por muito tempo — falou com lágrimas nos olhos. — Quando vi que a Alina poderia ter uma vida normal como humana, mesmo que fosse curta sem a transformação, decidi que era melhor ficar longe, mas agora é diferente, minha filha está se transformando e ela precisa de mim.

— E por que falar comigo ao invés de ir diretamente à ela?

— Acha que depois de tantos anos ausente, ela irá me receber de braços abertos? — perguntou fungando, chorosa.

— Não mesmo — Derek murmurou suavemente, começando a sentir pena de Isobel.

— Vi que vocês são bem próximos e fico feliz com isso — ela falou séria. — Mas como disse, ela precisa da mãe dela e eu quero estar com minha filha Derek — explicou, limpando com os dedos uma lágrima que escorria em sua face.

— O que quer que eu faça? — questionou.

— Nos aproxime... Sei que com sua ajuda, tudo ficará bem.

Derek balançou a cabeça e disse se afastando:

— Vou ver o que posso fazer. Vou falar com ela... Me dê dois dias, mas saiba que eu não vou forçar a Alina a te ver.

— Tudo bem — respondeu vendo ele ir embora.

Poucos minutos depois um homem robusto, de pele morena clara, olhos castanhos escuros e curtos cabelos crespos se aproximou de Isobel, de mansinho como um gato e disse firmemente:

— Para que tudo isso, amor? O pedido de ajuda fajuto, o choro falso? — perguntou, inflando o ar com sua voz áspera. — Não precisamos desse idiota.

— Kieran, querido... Já ouviu falar nesse ditado: "Mantenha seus amigos perto e seus inimigos mais perto ainda"? — ela o fitou sorrindo com malícia. — Não precisa se preocupar com o Derek, ele é apenas uma peça nesse jogo.

— Eu não gostei dele, além do mais, ele parece muito envolvido com a Alina e isso pode vir a ser um problema.

— Não precisa gostar dele — ela fala rapidamente. — Só aceitar e ficar preparado, quando tudo acabar, você pode matar ele se quiser. Eu não me importo.

— E quanto a sua filha? — inquiriu. — Não temos muito tempo até o aniversário dela.

— Não se preocupe — respondeu fitando a residência Campbell. — De um jeito ou de outro o ritual vai acontecer!

— Sei que deve ter algum plano sinistro rondando sua mente agora...

— Pode apostar que sim, querido — Ela riu, aproximando-se de Kieran. Seus lábios tocaram os dele, dando-lhe um beijo demorado. — Vamos encontrar os outros, precisamos procurar um lugar seguro para ficar — disse, e assim os dois rumaram para a cidade.

Ao sair da floresta poucos minutos antes, Derek caminhou até sua casa e entrou fechando a porta, uma vez ali dentro não ouvira mais nada. Nem um ruído sequer, apenas o som de seus próprios passos lentos e seus pensamentos agitados. Andou até a sala, parando no minibar, onde se serviu de uma boa dose de Bourbon.

— O que fazia lá fora?

Derek engoliu em seco ao ouvir a voz fria e cheia de suspeitas do irmão.

— Caramba, Miguel — murmurou rindo. — Você não tem nada melhor para fazer?

— Não é vigilância, não... Apenas vi você voltando lá de fora, meio distraído.

— Achei que precisava de um ar fresco, mas então percebi que precisava mesmo era ficar bêbado — falou, pegando um copo para o irmão. — Beba comigo...

Miguel acenou que sim, descendo os últimos degraus da escadaria.

— Andei pensando no passado, e em tudo que ouvi recentemente — disse pegando o copo. — Cheguei à conclusão de que você está certo.

Derek gargalhou.

— Um brinde a isso então!

— É sério — Miguel retrucou, sentando-se no sofá. — Vou ouvir o que Lissa tem a dizer... Ela falou que a Aivy tentou matar o nosso pai e me lembro que naquela época ele ficou muito doente — disse com amargor. — Talvez eu estivesse tão encantado que não vi o que estava bem diante dos meus olhos.

Derek fitou o irmão seriamente, e disse:

— É possível... Tinha muita coisa acontecendo naquela época.

Miguel balançou a cabeça em resposta, consumindo sua bebida em um único gole. Logo se serviu, enchendo o copo.

— Que tal um brinde ao futuro? — inquiriu.

O moreno levantou seu copo quase cheio, em resposta.

Alguns copos mais tarde e os dois já riam juntos, como nos velhos tempos.

— É bom conversar novamente com você — Miguel falou, sentindo Derek dar-lhe um tapinha no ombro. — Senti falta disso.

— Eu também! — afirmou. — Mas preciso subir e reabastecer um pouco a energia.

Miguel balançou a cabeça, vendo o irmão partir rumo ao segundo andar.

Ao entrar no corredor, Derek esbarra com Alina.

— Nosso barulho te acordou?

— Normalmente eu não teria acordado tão fácil assim, mas não estou acostumada com essa sensibilidade nos ouvidos — respondeu. — Às vezes parece que o mundo inteiro tá gritando dentro da minha cabeça.

— Isso vai passar, raio de Sol. É normal que nos primeiros dias as coisas estejam à flor da pele, intensificadas sabe? — inqueriu retoricamente, sorrindo de lado. — Depois a intensidade diminui um pouco.

— Menos mal.

Ele riu.

— Às vezes ainda acho que vou acordar e me dar conta de que foi tudo um sonho. Você nunca sentiu isso?

— Algumas vezes...

Os dois se entreolharam rapidamente.

— Já que estamos acordados e logo o sol vai nascer, será que a gente poderia conversar sobre...

— Sobre nós? — questionou, interrompendo-a.

— É. — Disse corada.

— Tudo bem — falou caminhando até seu quarto.

Derek entrou no cômodo e se jogou na cama. Alina o seguiu, fechando a porta atrás de si.

— A gente se beijo e...

Ele rapidamente gesticulou com a mão esquerda, para que ela parasse de falar. Ao lado da cama se encontrava o toca discos, antes que ela começasse a tagarelar novamente ele colocou uma música para tocar e fitou Alina logo em seguida.

— Agora sim, privacidade total — disse piscando. — Estou ouvindo.

Ela se aproximou, sentando na ponta da cama e falou sem delongas:

— A gente se beijou e agora eu estou aqui na sua casa, ainda, sem poder deixar aquele espaço natural existir entre nós...

— Eu não quero um espaço entre nós, raio de Sol. Não se preocupe com isso — Derek disse com um sorriso malicioso nos lábios, se erguendo rapidamente, ficando centímetros de distância. — Eu quero ficar perigosamente perto.

Alina corou envergonhada.

— Eu... Eu só não quero um clima estranho entre nós por eu estar aqui o tempo todo.

— Sem clima estranho — retrucou erguendo as mãos.

Com a mão direita ele mexeu nos cabelos dela. Alina já não podia negar para si mesma que queria beijá-lo novamente e querer isso não precisava significar algo sério, apesar de sentir que era. No entanto a razão ainda permanecia presente. Para ela era um tanto assustador pensar que os dois poderiam estar sentindo a mesma coisa um pelo outro, e na verdade estavam. Logo, o beijo foi inevitável.

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