Capítulo 23 - Quem é vivo, uma hora aparece...
Alina respirou fundo, abaixando a cabeça descontente. A garota ainda não estava acostumada com isso, com sua "nova" vida. Novamente a sensação de estar perdida tomou conta do seu coração.
Uma coisa da qual ela vinha tentando ignorar era o sentimento de confusão e caos que crescia dentro de si. Sentia que precisava se agarrar a algo bom para não se perder de verdade, se perder completamente.
— Você pode ficar aqui, Alina, na minha casa — Derek disse, aproximando-se. Sua mão direita tocou o ombro dela, deslizando até a mão da garota.
Ela sorriu.
— Tenho que falar com a Flora agora — ela disse, afastando-se, mas antes de sair do quarto ouviu Derek sussurrar:
— A Aivy não foi minha culpa...
— Eu sei, ouvi quando aquela velha falou com você sobre isso — respondeu rapidamente, saindo do cômodo.
Ao descer a escadaria, Alina esbarrou com Lissa, que estava subindo.
— Desculpa. Acha que pode levar eu e a Flora para minha casa?
— Por que eu? — a loira perguntou curiosa, franzindo a testa.
— Não podemos ser amigas?
Lissa sorriu de lado.
— Acho que sim — disse após um rápido silêncio meditativo. — Encontro vocês na varanda — concluiu, subindo velozmente.
Lá fora, Flora esperava impaciente. A bruxa olhou no relógio, seis e dez. Se encostou na varanda e respirou profundamente, agoniada com a espera. Alina então cruzou naquele momento a porta de entrada, fitando a bruxa.
— Acho que não posso ir e ficar — falou.
— Por que não? — Flora questionou curiosa, franzindo a testa.
— Não poderei entrar na minha casa.
Flora balançou a cabeça compreendendo a situação.
— Mas você pode ficar nela por enquanto — Alina comunicou, balançando a chave. — Com uma condição.
— Qual? — Flora questionou apreensiva.
— Lissa vai nos levar até lá, e você me dará um pouco do seu sangue.
— Ok — resmungou. —, você precisa ter certeza se pode confiar em mim. Eu entendo.
— E então... — a voz de Lissa se fez presente, chamando a atenção para si. — Vamos?
As garotas logo seguiram até o carro em silêncio, Alina se sentou na frente ao lado da loira e Flora no banco traseiro se preparando para agir caso fosse preciso, afinal, ela era a estranha ali e seu sangue nada mais era para os vampiros do que uma droga altamente viciante. Dentro do veículo Lissa dirigia calmamente, mas a ausência de ruídos fazia seu sangue gelar em suas veias, o silêncio era sepulcral. Assim sendo, ligou o som deixando-o com o volume moderado.
Pouco depois o carro parou em frente à casa de Alina. Elas saíram, caminhando até a pequena varanda.
— Acho que agora é a hora do sangue, não é? — Flora disse forçando um sorriso.
— Como isso funciona? Como vou saber se o que diz é verdade tomando o seu sangue?
— Se vocês são mesmo parentes — Lissa disse, intrometendo-se —, quando beber o sangue dela você poderá ter visões com o que a bruxinha aqui viu durante sua vida. É algo bem pessoal.
Alina rapidamente fitou Flora, notando a inquietação nos olhos dela.
— Eu mudei de ideia — Falou de repente. — Não vou tomar seu sangue. Aqui está a chave.
— Espera só um minuto — disse a bruxa, remexendo em sua bolsa. — Eu não tinha certeza se estava mesmo aqui, resolvi vir te procurar de repente, então — fez uma pausa, sentando-se no primeiro degrau da varanda. — Aqui está — se levantou entregando uma pequena caixa de madeira para Alina. — Aí tem fotos da nossa família, tem até um pequeno retrato que foi pintado fielmente a imagem do seu pai, Arquel. Verá que digo a verdade.
A resposta veio em forma de abraço. Um abraço forte. Alina suspirou animada.
— Pegue a chave — falou, estendo a mão.
Flora, pegou e ambas sorriram.
Lissa a essa altura já caminhava em direção ao carro, entediada com tudo aquilo.
Alina e flora se despediram, mas antes de ir a vampira quis ter certeza se poderia entrar em sua própria casa e como já era de se esperar, ela foi paralisada, não importando quanta força ela fizesse. Uma fina, no entanto forte e inquebrável barreira invisível impediu que ela cruzasse a soleira da porta. Aquilo a deixou cabisbaixa.
Rapidamente segurou as lágrimas, seu embaraço se acentuou.
Depois de alguns minutos as vampiras voltaram à casa dos Campbell, Lissa finalmente estacionou em frente à garagem, desligou o motor e fitou Alina.
— Você sabe que foi eu quem matou a Aivy, não é mesmo? — inquiriu seriamente.
— Sim — Alina disse.
— Por isso quis que eu fosse com vocês?
— Não. Eu só queria poder conversar um pouco com você — revelou francamente. — Não tenho raiva de você, não sei o que aconteceu. Só preciso de novas amizades e aceito a sua, se quiser a minha também — disse olhando nos olhos verdes de Lissa.
A loira sorriu de lado, balançando a cabeça. Se sentiu levemente animada com aquelas palavras, afinal, todo mundo precisa de um pouco de afeto.
— Ok. Acho que isso pode dar certo...
— Mas, o que aconteceu entre a Aivy e seus irmãos? — Alina questionou curiosa, precisava saber.
— Derek voltou para casa, depois de ficar um tempo sumido, ela chegou atrás dele poucos dias depois — falou fitando a garota ao seu lado. — No começo os dois pareciam estar apaixonados, embora não tivessem nada sério. Um dia saíram juntos para algum lugar e eu não sei o que aconteceu lá, mas quando voltaram ele pediu para que ela fosse embora...
— Ah!
Lissa desviou o olhar, observando a frente da sua casa.
— Ela então falou que não tinha para onde ir. Naquela época uma bruxa se juntar com um vampiro era quase um crime mortal, a família dela não a aceitaria de volta. Assim sendo ela permaneceu aqui — disse seriamente. — Foi depois disso que ela e o Miguel se aproximaram. Os dois trocavam olhares o tempo todo, mas não sei dizer se algo chegou a acontecer entre eles de verdade.
— Entendi — Alina falou calmamente, absorvendo as informações. — Por que você a matou?
— Ela estava envenenando meu pai, Alina — falou sinceramente, com os olhos marejados. — Confrontei ela, e aconteceu. Não tive escolha...
Alina ouviu cada palavra, compreendendo a situação. Poderia não ter sido assim, contudo ela acreditava nesta versão da história. Por que não acreditaria?
— Você é feliz como vampira? — inquiriu de repente.
— Ah — Lissa murmurou, sentindo-se atingida pela mudança repentina do assunto. — Na verdade não muito — falou abrindo a porta do carro e saindo.
— Como foi no começo?
— No começo foi imensamente excitante pensar que nunca iria envelhecer, mas existe uma solidão tão grande nisso tudo — respondeu.
— Eu estou um pouco apreensiva — Alina segredou tensa.
Lissa a fitou por um rápido momento e disse:
— Você está indo bem. Parece ser uma pessoa boa, vai se acostumar com tudo isso...
— Espero que sim — sorriu de lado. — Mas, eu não sou tão boa assim — retrucou, interrompendo-a.
Lissa a encarrou franzindo a testa.
— Então me conte sobre seu passado sórdido.
Alina ficou em silêncio, tentando se lembrar de algo.
— Era o que eu imaginava — ironizou sorrindo. — Olha, se vamos mesmo ser amigas tenho que dizer uma coisa importante, não magoe o Derek...
— Não vou fazer isso!
Lissa balançou a cabeça.
— Vamos Alina, venha... Nessa casa não existem barreiras para nós, meros seres sobrenaturais — riu. — Você pode entrar e ficar.
Caminharam então até a entrada.
— Olha, obrigada pela carona...
— Tudo bem — disse Lissa.
Mais tarde, naquela noite; cada um já se encontrava em seus respectivos quartos, quando nesse momento uma voz doce e muito suave penetrou na mente de Derek, que estava sozinho. O vampiro permanecia na cama, deitado, dormindo, quando ouviu uma mulher sussurrar-lhe seu nome, chamando-o.
"Derek... Derek... Venha..."
O moreno abriu os olhos instantaneamente, a claridade da lua invadia seu quarto através da janela entreaberta. Ele rapidamente se sentou na beirada da cama fitando as horas no relógio de pulso, quatro da manhã e nesse instante ouviu seu nome ser pronunciado novamente.
"Derek..."
Não era um sonho, era real, tinha certeza disso. Ao se levantar caminhou até a janela, o chamado vinha do lado de fora da casa. Rumou para fora do cômodo, entrando no corredor. O silêncio pairava sobre o ar, e ele parecia ser o único a ouvir aquela voz, que na verdade lhe era um tanto familiar.
Desceu então a escadaria e seguiu até chegar na porta, seja lá o que estivesse lá fora, queria apenas ele. Já na varanda sentiu a leve brisa da madrugada tocar a pele exposta do seu peitoral e de seus braços. Ele não estava com medo, e continuou em frente. Os pés descalços sentiram a umidade da grama e cada passo que dava o levava até o começo da floresta.
Derek parou bruscamente quando viu a silhueta dela parada a alguns centímetros de distância.
— Você? — ele inquiriu, fitando-a surpreso.
Os cabelos castanhos claros dela estavam mais curtos do que ele se lembrava, agora encontravam na altura dos ombros. Fitou-a atentamente; cintura fina, quadris largos, olhos também castanhos, brilhantes.
— Há quanto tempo, não é mesmo Derek? — a mulher disse rapidamente. Dando um leve sorriso. — Aposto que está muito curioso sobre essa minha aparição, não é mesmo? — perguntou dando dois passos à frente.
A pele branca dela parecia neve. Sua aura era um tanto misteriosa e sedutora.
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