Capítulo 22 - Família é família
Flora tinha um poder enorme muito embora não usasse sua magia com frequência. Ela tinha enfrentado semanas para chegar onde estava agora, e no momento em que viu Alina adentrar aquele cômodo não conteve o sorriso.
— Estava me procurando? — a garota perguntou.
— Você é exatamente como imaginei que seria — disse Flora caminhando na direção de Alina.
— A gente se conhece? — perguntou franzindo a testa.
Flora deu mais um passo, mas Derek entrou na frente dizendo a plenos pulmões:
— Primeiro, o que você quer com ela exatamente?
A bruxa o fitou séria, sua mão começou a formigar prestes a deixar sua magia fluir para fora de seu corpo, mas ela se deteve, soltando um longo e carregado suspiro.
— Somos parentes, Alina — ela disse sem delongas. Desviando seus olhos para a garota. — Por parte de pai... Seu pai de verdade.
— O bruxo que se tornou lobisomem? — Alina inquiriu boquiaberta.
— Sim, ele mesmo. Arquel — Flora disse rindo. — O nome dele era Arquel.
— Eu sei — Alina respondeu, abaixando a cabeça.
— Então você conheceu o pai dela? — Lissa perguntou, incluindo-se na conversa.
— Não — Flora respondeu séria. — Será que poderíamos dar uma volta e conversar só nós duas? — perguntou para Alina.
Ela não estava afim de socializar com os irmãos Campbell, não era por eles que estava ali.
— Claro — respondeu.
— Alina? — Derek chamou baixinho. — Tome cuidado — disse, fitando-a nos olhos, sério. — Me ligue se precisar de ajuda.
Ela assentiu, saindo porta a fora com a bruxa.
— Você confia nela? — o vampiro perguntou para Miguel, que fitava tudo aquilo em silêncio.
— Eu nunca tive problemas com as bruxas, muito pelo contrário. São vocês quem sempre têm — retrucou, levantando-se.
— Precisamos conversar Miguel — Lissa disse brandamente, aproximando-se dele.
— Não, precisamos não — respondeu firme, franzindo a testa. Nem mesmo o semblante sofrido dela faria ele ouvi-la naquele momento. O loiro caminhou até a escadaria e subiu rapidamente.
Lissa olhou para o irmão mais velho com os olhos marejados, chacoalhando a cabeça para os lados.
— Tudo bem Lis, eu vou falar com ele — Derek falou de repente, indo atrás de Miguel.
O vampiro subiu encontrando o irmão ainda no corredor.
— Você e a Lissa não desistem mesmo, não é?
— Ainda está zangado comigo? — questionou, aproximando-se.
— Zangado não é bem a palavra, mas respondendo sua pergunta, não. Não estou zangado com você, Derek — falou seriamente. — Eu realmente entendo porque mentiu, você estava protegendo alguém que amava, a família. É sempre isso — concluiu, caminhando até seu quarto.
Derek o seguiu novamente, adentrando o cômodo bagunçado. Seus olhos rapidamente percorreram o quarto vendo roupas jogadas no chão, peças essas que Miguel recolhia avidamente, jogando-as em uma mala cinza.
— Eu ainda tento sentir aquela sensação que tomava conta de mim quando via a Aivy — Miguel disse novamente, parando para encarar o irmão. — Nunca ninguém foi igual à ela.
— Ninguém poderia ser igual... As pessoas são diferentes umas das outras.
— Profundo — o loiro murmurou com ironia.
— Nem tanto — Derek respondeu.
— E o que você ainda quer com a Alina? — questionou. — Tinha que transformar a garota? Não minta porque eu pude ver. Derek, ela podia ter uma vida longe da escuridão que nos cerca...
— Não foi assim — retrucou impaciente. — Eu não fiz nada, ou quase isso, na verdade essa conversa requer uma bebida bem forte, mas resumindo para saciar sua curiosidade; Alina é a herdeira sanguínea.
Miguel arregalou os olhos, sério. O silêncio se instalou por alguns segundos, mas logo uma gargalhada tomou o cômodo. Ele não acreditou no que ouviu, contudo vendo a seriedade no olhar de Derek, falou cauteloso:
— Não tá falando sério, né?
O moreno balançou a cabeça confirmando.
— Isso explica porque você está atrás dela — Miguel voltou a falar. — Ela é tipo a rainha do jogo de xadrez, uma peça poderosa nessa vida sobrenatural.
Derek revirou os olhos com o comentário.
— Você não sabe de merda nenhuma, mas de qualquer forma, eu não estou aqui para fofocar sobre a Alina, estou aqui pela Lissa. Ela é nossa irmã, Miguel, você deveria dar uma chance para ela — disse, afastando-se. Seus olhos azuis fitavam o verde musgo das íris do irmão. — Ela merece isso, e você precisa disso também. Guardar ainda mais rancor da própria família só vai fazer mal para todo mundo. Tá na hora de viver a vida e deixar o passado para trás — concluiu saindo do quarto.
Enquanto isso, Alina e Flora caminhavam pelo canteiro da estrada, lado a lado, apesar do desconforto da vampira. Ela estava apreensiva com o silêncio da bruxa. No entanto, como se lesse sua mente a feiticeira falou:
— Gostaria de ter certeza que aqueles sanguessugas não fossem nos ouvir — ela falou com tom irônico.
— Afinal o que somos uma da outra?
— Você é minha tia-avó — riu. — Arquel teve duas filhas com Lilite e a família continuou com uma de suas irmãs...
— A mesma Lilite que me aprisionou? — Alina perguntou, interrompendo-a.
— Sim. Sinto muito por isso.
Alina nada disse, desviando o olhar.
— Eu precisava conhecer você — Flora falou sem jeito. — Agora é a única família que tenho, não sobrou mais ninguém — disse com pesar.
— Por que sanguessugas? — questionou. — Assim com tanta empatia? Não gosta de vampiros?
— Não sou muito fã, admito — respondeu francamente. — E não suporto essa família, em especial o Derek.
A vampira sentiu suas mãos começarem a formigar, incomodada, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa a bruxa falou novamente:
— Ele matou uma das filhas de Lilite. Sua irmã, sinto muito em dizer isso, vocês parecem próximos.
— E ela era uma bruxa? — Alina perguntou franzindo a testa.
Flora apenas balançou a cabeça.
— Qual o nome dessa minha suposta irmã?
— Ela é sua irmã! — afirmou seca. — E o nome dela era Aivy.
Alina parou bruscamente, sentindo uma leve pontada no peito como se algo afiado atravessasse lentamente seu coração.
— Eu posso provar que temos o mesmo sangue e que tudo que digo é verdade — Flora murmurou.
A vampira rapidamente fitou a mulher parada a sua frente.
— Como?
— Apenas prove do meu sangue...
Alina balançou a cabeça para os lados, desconcertada.
— Não farei isso!
— Tem medo de não conseguir parar? Eu posso tentar ajudar você — disse, tocando no ombro de Alina. — Se quiser, eu tô aqui.
A garota retribuiu a oferta com um leve sorriso.
— Eu preciso arrumar um lugar para ficar — Flora disse.
— Podemos ir para minha casa e conversar mais sobre... A nossa... Fa-Família — Alina respondeu gaguejando.
— Sério? — a bruxa sorriu. — Isso seria ótimo.
As garotas rumaram para a casa dos Campbell, Alina não poderia simplesmente ir andando do nada até sua residência e ficar lá sem antes falar com Derek, temia que ele imaginasse o pior com sua súbita ausência, e Flora tinha que pegar sua mala no carro de Miguel, assim sendo caminharam em silêncio até chegar na porta de entrada.
— Eu vou pegar minhas coisas e espero você aqui fora — a bruxa disse.
A vampira assentiu e adentrou a casa. A sala estava vazia. Subiu a escadaria indo até o quarto de Derek. A porta se encontrava entreaberta, o moreno deitado fitando o teto enquanto um toca discos inflava o cômodo com uma melodia.
— The Doors? — Alina perguntou curiosa.
— Você gosta?
— Sim.
— E eu pensando que seu gosto musical seria algo totalmente discutível.
Ela sorriu de lado.
— Ia dizer o mesmo, afinal está nesse mundo a muito mais tempo. Deve ter ouvido muito coisa ruim...
Derek gargalhou.
— Tenho que perguntar uma coisa antes de ir...
— Ir aonde Alina? — o vampiro questionou interrompendo ela.
— Para minha casa, com minha sobrinha-neta — respondeu revirando os olhos.
— Uau! — ele exclamou, arregalando os olhos, surpreso.
— Pois é — murmurou aproximando-se dele.
— Então faça a pergunta Alina...
— Ok... Quando aquela velha disse quem eu era, você sabia que a Aivy era minha irmã?
— O quê? — inquiriu, levantando-se da cama, suas sobrancelhas arqueadas deixando sua testa levemente franzida. — Não. Não mesmo! Que conversa é essa? — questionou. — Aquela bruxa maluca te falou isso?
— Sim. Ela me contou que...
— Não é verdade — retrucou, interrompendo-a. — Aivy só tinha uma irmã, e eu conheci ela. As duas era filhas de Lilite.
— Filhas dela com o meu pai — Alina revelou.
Derek balançou a cabeça desconcertado.
— Acredita nesse Flora?
— Por que não?
— Porque as pessoas mentem o tempo todo e você acabou de conhecer ela — ele falou com ironia.
— Ela me ofereceu um pouco do sangue dela, como prova de que dizia a verdade.
— E você aceitou?
— Não — respondeu sem delongas. — Eu vi sinceridade no olhar dela.
Derek caminhou até a janela inconformado, parando em frente da abertura ele pode observar a bruxa parada lá embaixo, sozinha.
— Então eu sinto muito por sua perda — falou.
— Tá tudo bem Derek — Alina respondeu séria. — Eu preciso mesmo ir para casa...
— E como você pretende entrar na residência agora que é uma vampira?
— Como assim? — riu nervosa. — É a minha casa, sempre morei lá.
— Mas agora é diferente Alina — informou seriamente. — Tecnicamente não há mais nada de humano em você e a menos que seja convidada por um humano que more naquela casa, você não poderá entrar. Sinto muito.
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