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Capítulo 19 - Voltando à Fortilen City


     Já faziam alguns minutos desde que Miguel mudou de direção, voltando para sua cidade natal. A garota ao seu lado a qual nem ao menos perguntou o nome, inclinou-se passando seus dedos pelo aparelho de som, ligando o rádio. Uma estação qualquer estava a tocar Forever Young  do Alphaville, fazendo-a sorrir e aumentar o volume.

Miguel logo em seguida moveu seu braço direito e abaixou um pouco o som.

— Você não gosta dessa música? — ela questionou incrédula.

— É uma boa música, mas de repente eu me toquei que ainda não sei seu nome — riu, fitando-a.

— Flora.

— Só Flora?

— Por enquanto só — ela gargalhou, olhando-o. — Você deve achar que sou extremamente ingênua, de estar aqui sem nem te conhecer. Se algo acontecesse a culpa seria totalmente minha, afinal, eu lhe dei a oportunidade — falou enquanto via ele dirigir seriamente. —, mas eu sei o que você é.

— Sabe? — ele perguntou, desviando o olhar para fitá-la novamente.

— Eu vi como olhou rapidamente para meu pescoço — ela disse.

— E o que você é? — a encarou com curiosidade.

— Uma dominadora da magia.

— Isso é novo pra mim — comentou.

Ela gargalhou em resposta, mas logo em seguida disse:

— Eu não gosto de usar a palavra bruxa, soa muito ofensivo pra mim. Mas se preferir, é isso que sou, por esse motivo estou tranquila agora — concluiu aumentando novamente o volume.

— Tá legal então — Miguel respondeu rapidamente em voz alta enquanto mudava de marcha. — Me diz, por que o interesse na garota?

— Digamos que Alina é tudo que tenho agora.

— Isso não diz tudo. Você gosta de manter o mistério no ar — ele falou. — Gosto disso. A propósito eu me chamo Miguel Campbell.

Flora revirou os olhos desviando o olhar, um leve arrepio tomou conta de sua espinha.

— Campbell? — Perguntou.

— Sim. Conhece minha família?

— Não — Flora respondeu seriamente.

Ela logo fitou a paisagem verde do lado de fora do veículo e sentiu o cheiro de terra molhada invadir suas narinas, fazendo-a se sentir revigorada. A natureza sempre a deixava forte e disposta. Cada segundo que passava sentia que estava indo de encontro à única pessoa com quem ainda tinha uma ligação. Não sabia o que estaria esperando por ela quando finalmente encontrasse Alina, mas isso era mais importante do que se preocupar com um vampiro cujo o sobrenome lhe arrematava à um passado distante e triste.

Bem longe dali, Derek permaneceu dentro do carro depois que Tara se foi, por tempo suficiente para colocar os pensamentos em ordem. Quando finalmente abriu a porta do veículo e saiu, sentiu a leve brisa gelada da madrugada. Checando o celular pôde ver uma mensagem de Lissa:

Onde você está?  

Não consegui achar o Miguel, você tinha razão, eu não deveria ter dito nada. Dê por favor,   aparece.

(às 18 horas)

O vampiro caminhou até a casa à sua frente, não havia nada que pudesse fazer por sua irmã agora, mas Alina estava ali e iria precisar dele.

— Pensei que não fosse voltar — a velha falou, levantando-se e indo até a cozinha, depositando sua xícara na pia.

Derek a seguiu.

— O que mais preciso saber? — ele questionou sério. — Sinto que você não falou tudo que sabe.

— Não há muito à dizer agora — respondeu, virando-se para ele. — No entanto, sei que se sente responsável por ela, sei também que irá ajudá-la. Isso é meio idiota, mas está acostumado com isso.

— Cuidado — ele murmurou apertando os punhos.

— Eu sou uma velha, que já viveu além da conta — falou sem medo. — Estava presa ao dia em que finalmente a herdeira sanguínea viria até mim. Já vi muitas coisas dentro de minha mente, pouco pode me amedrontar — ela se virou, voltando para a sala. — Isso de alguma forma me lembra que você tem que parar de dar seu sangue à ela. Não quer uma híbrida viciada em sangue de vampiro, não é?

Ele engoliu em seco, sem nada dizer. Contudo a mulher continuou:

— Precisa tomar cuidado, o sangue dela é especial e virão atrás dela por isso — relatou, sentando-se novamente em sua poltrona. — Você salvou a vida dela, Derek. Se a transformação não acontecesse-se até o dia do décimo oitavo aniversário, ela estaria morta.

— Então é mesmo uma maldição — cochichou para si.

— Parece ser — a mulher falou de repente. —, mas tudo se trata do destino. Quando nascemos, o que está predestinado a acontecer, acontece. E agora apenas uma parte de Alina será despertada — a velha continuou a falar. — Posso apostar com você que será o lado vampírico dela.

Naquele momento o silêncio tomou conta do ar por alguns segundos.

Derek se afastou da velha, aproximando-se agora do corpo gélido de Alina, fitando-a por um longo tempo. Era estranho a sensação que sentia de vulnerabilidade. Ela era apenas uma garota, com sangue e descendência única, mas mesmo assim ainda era apenas uma garota. Não importava como ele tentava ser indiferente à ela, algo em seu coração simplesmente derretia todo o gelo que havia dentro de si.

— O sangue dela tocou seu coração não foi? — a velha disse. — Mas não é bom que o tome de novo. Te deixará doente, antes de te fazer se sentir como um humano novamente.

Ele ouviu atentamente, mas só conseguia pensar no que poderia estar por vir.

— O que sabe sobre os cavaleiros de Orgni? — ele inquiriu sério. Uma inquietação começava a tomá-lo por dentro.

— Eu sei que deve ficar longe deles, mas pronto para um combate, porque virão — a velha comentou serenamente. — Melhor levá-la para casa agora.

— É uma boa ideia — respondeu. Derek olhou para Alina novamente e balançando a cabeça, pegou-a no colo e saiu, de volta para casa.

No dia seguinte:

 O suor frio escorria na testa de Alina enquanto se remexia constantemente na cama naquela manhã. O mesmo pesadelo de sempre a atormentava; mas desta vez o sonho começara mostrando-lhe mais do que à si mesma na infância, mais do que apenas bruxas praticando magia negra para trancá-la na escuridão de uma caverna empoeirada; ela conseguia ver naquele momento sangue em suas mãos pequenas. Apavorada, começou a correr até ver a luz, quando percebeu finalmente que estava no meio da floresta, suja e assustada, seu coração batia frenético. Ela estava sozinha, olhando para os lados em agonia. Seu devaneio cessou dando fim a tormenta. A garota acordou eufórica, olhando para os lados tensa, para sua surpresa, Derek estava presente no quarto, sentado em uma cadeira perto da janela entreaberta. Os olhos dele estavam pousados nela e sua voz rouca e firme tomou o cômodo.

— Você está bem, Raio de Sol?

Ela o fitou por um tempo sem nada dizer.

— Como se sente? — Derek voltou a perguntar. — Estava dormindo à muitas horas e se mexendo bastante nos últimos minutos.

— Eu me sinto bem — ela disse sem jeito. — Já estamos de volta não é? — perguntou retórica, vendo à sua frente o quarto familiar da mansão Campbell. — O que aquela velha me fez?

— Ela... Meio... Meio que te matou.

— Eu senti como se fosse isso, mas me sinto muito bem agora.

— Você parece bem — Derek respondeu.

— Mas tenho uma sensação estranha dentro de mim. Não sei explicar — falou passando a mão sobre os fios desgrenhados dos cabelos.

— Tome um banho e vista uma roupa, minha irmã deixou algumas peças na cômoda ali — ele disse, apontando para frente. — Não demore muito, vamos dar uma volta.

— Sem antes tomar café da manhã?

— É exatamente por isso que vamos sair — o vampiro respondeu sério, seu tom de voz sugestivo fez Alina sentir um frio na barriga.

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