Capítulo 10 - Amargor
Naquele instante um pequeno nó se formou na garganta de Alina, impedindo-a de respirar por um breve momento, era bem verdade que não confiava em Derek, mas não conseguiu evitar de ficar chocada com o que ouviu.
Miguel trocou de marcha e olhou para Alina.
— Chocada? Não fique...
— Eu acredito que não tenha me contado isso porque teme pela minha vida, não é?
— Você merecia saber quem ele é.
— E quem era ela? — perguntou, virando-se para ele.
— Ela era uma bruxa... Apareceu um dia atrás dele e ficou por um tempo.
— Por que ele fez isso?
— Sugiro que pergunte a ele.
Ela desviou o olhar, pelo retrovisor viu ficarem para trás as gigantescas árvores tortas de galhos grossos e folhas verdes que cercavam lado a lado à estrada. De longe as montanhas cortavam o céu claro. A parte entre a floresta e as montanhas era completamente deserta e mórbida, para Alina a vista não valia o sentimento ruim que sentia naquele momento, um desconforto que a consumia.
Respirou fundo.
— Então é por isso que você não gosta dele?
— O quê? — Miguel arqueou as sobrancelhas.
— Você deixou escapar entre as suas palavras — sorriu amarelo.
— Se você conviver muito tempo com o Derek, saberá que não tem como amar uma pessoa como ele — respondeu seco.
— Você gostava dela?
Ele fitou Alina, depois de um silêncio meditativo respondeu com pesar:
— Eu amava ela...
— Era recíproco?
— Isso não vem ao caso — respondeu fugindo da questão.
— Eu sinto muito — Alina desviou o olhar, tamborilando com os dedos sobre a perna, nervosa.
Ele nada disse, apenas se concentrou na curva. O carro já se encontrava no centro da pequena cidade onde ficava muitos prédios comerciais que ainda mantinham a mesma fachada; a mesma cor acinzentada do século anterior, para Miguel era como estar de volta ao passado com modernidades — aqui ou ali — o prédio mais antigo estava mais à frente, era o maior de todos com as paredes brancas descascando, no topo um grande sino de metal que a muito já não soa, no passado havia sido uma igreja, mas agora se encontrava abandonado. Dobrando a esquina puderam ver as casas antigas do bairro. O clima era agradável, o sol fraco ainda persistia no céu, os habitantes caminhavam tranquilamente pela calçada; indo e vindo.
— Como vocês conseguem andar a luz do dia?
Ele sorriu.
— A lenda sobre o Sol, não é? — perguntou retorico. — Bom, acontece que o Sol não nos mata, mas nos enfraquece bastante. Por isso preferimos a noite.
— Uau...
— Pois é. Houve um tempo em que vivemos em guerra com as bruxas, elas sabendo da nossa fraqueza tentaram usar a magia que tinham através da natureza, para fazer com que o Sol vinhesse a nos sucumbir. Como pode ver, não conseguiram.
— Interessante...
Ele sorriu mais uma vez.
— E sobre a cruz e o alho?
Ela o fitou dando um sorriso.
— Tudo invenção.
— Ah.
— Para que lado? — perguntou, fitando-a.
— A próxima á direita.
De longe Alina avistou Jonathan sentado no primeiro degrau da varanda da sua bela casa branca, com cercas e terraço no andar de cima.
— Aqui já está bom — ela disse.
— Não quer que eu saiba onde você mora?
Lina apenas fitou o chão enquanto ele prosseguia lentamente com o carro.
— Está bem — disse soltando um riso.
Alina rapidamente tocou na maçaneta, abriu a porta e saiu.
— Obrigada pela carona — disse dando um sorriso amarelo.
Ele acenou com a cabeça.
— Alina? — chamou de repente, vendo a garota fita-lo surpresa. — Água benta...
— O quê?
— Eu não sou um inimigo, então é isso; água benta, ela faz muito mal, é como um ácido.
Ela foi pega de surpresa, balançou a cabeça devagar acenando que entendia e se afastou caminhando sem olhar para trás até ouvir o ronco do motor ficar mais forte, neste momento olhou por sobre o ombro e viu Miguel fazer o retorno e ir embora, nessa altura Jonathan já estava de pé, esperando por ela. Olhando-a.
— O que faz aqui?
— Eu estava preocupado com você — ele disse, aproximando-se —, quem era o cara?
— Ninguém importante.
Ela caminhou até a porta e entrou em casa.
— Você está bem?
— Estou — sorriu amarelo.
— Não parece. Aquele cara te fez alguma coisa?
— Não, eu só não estou muito animada hoje — respondeu vendo um pequeno pedaço de papel sobre o criado mudo ao corredor; que dizia:
"Precisamos conversar. Não saia de casa.
Mamãe"
— Sua mãe ainda te deixa recados assim, espalhados pela casa? Por que ela simplesmente não te liga?
— Ela não é fã da tecnologia — riu, pela primeira vez naquele dia. — Seu pai vai te matar se souber que faltou a faculdade.
— Provavelmente — ele revirou os olhos. — Me conta, o que aconteceu com você hoje de manhã?
— Não sei dizer...
— Sabe que pode contar comigo, não é? Eu faria qualquer coisa.
Alina conseguia ouvir o coração dele bater novamente.
— Eu sei...
Se calou ouvindo o rangido da porta, seus olhos se voltaram para o fim do corredor.
— Ah, que bom que você está em casa — Meredith entrou carregando uma mala ainda com etiqueta.
— Para que essa mala?
— Olá Jonathan — Meredith falou amável ao ver o jovem. — Você não deveria estar na faculdade, na cidade vizinha?
— Olá Sra. Donovan, na verdade só começa semana quem vem mesmo — respondeu sem graça. — Eu já tenho que ir — ele olhou para Alina ao falar —, a gente se vê. Tchau Sra. Donovan.
Alina acenou com a cabeça.
Meredith esperou a porta se fechar e então disse:
— Precisei comprar uma mala, não lembrava que não tinha mais uma, desde que sua avó levou a última...
— Mãe, o que está acontecendo?
— Sua tia Amber está com câncer — respondeu sem rodeios. — Preciso passar uns dias com ela, acha que pode se cuidar na minha ausência?
— Mãe... Claro.
— Certo. Vou arrumar minhas coisas.
Começou a subir as escadas.
— Tem comida no micro-ondas — gritou lá de cima.
Desanimada Alina foi até a cozinha, pegou o prato e fitou o pedaço de lasanha por um tempo, era sua comida favorita, mas não estava com fome. O cheiro da comida já não parecia o mesmo e sua gengiva doía, como se agulhas estivessem perfurando sua carne. Ali ficou por um tempo, pensativa, até ouvir ruídos vindo do corredor.
— Então está tudo certo — Meredith falou —, você pode dormir na casa da Marina, caso o pai dela não ache ruim — disse indo em direção a porta. — Ligarei todos os dias.
— Não precisa se preocupar comigo. Ficará tudo bem. Mãe, dê um beijo meu em minha Tia.
— Eu darei querida...
Alina a abraçou por alguns minutos e depois a viu partir em um táxi.
✣✣✣
O vento soprava em seu rosto — era revigorante — a adrenalina corria em suas veias, Derek se sentia frenético. Acelerou passando a moto monstruosa entre dois carros, com um sorriso acelerou mais, entrava agora na cidade vizinha. No começo viu algumas casas abandonadas, desde um incêndio que se espalhou como vento destruindo moradias e matando muitas pessoas. Era uma cidade esquecida no tempo. Logo ele parou em frente a um ponto de ônibus e digitou alguns número na tela do celular.
— Oi... Eu preciso te ver — disse. — Estou aqui em Calãn, no ponto de ônibus em que nos vimos pela última vez. Você pode vir?
Esperou a resposta e disse:
— Ótimo... Ah, Tara, não demore.
Derek se inclinou o máximo que pode sobre a moto, abaixando a cabeça, seus pensamentos viajaram, fazendo-o lembrar da sensação que sentiu quando mordeu Alina, do sangue amargo, do seu coração batendo novamente, mesmo rápido e doloroso, da fraqueza, e dos olhos marejados dela nesta manhã; lembrou-se do calor do corpo desfalecido dela em seus braços. Fechou os olhos e á viu em sua mente, lembrando-se das palavras do caçador. Ela era um mistério, por isso que estava ali.
Depois de um tempo um ônibus parou no ponto; da porta traseira desceu uma mulata de corpo escultural, olhos cor de mel e cachos nos cabelos pretos, ao vê-la Derek se levantou e rapidamente ela se jogou em seu colo, pegando-lhe a nuca e beijando-lhe nos lábios.
— Cretino — ela falou sorrindo. — A quanto tempo não nos vemos? Senti sua falta.
Ele deu um sorriso de lado.
— Veio deixar o meu dia feliz?
Ele riu.
— Eu adoraria gata, mas quem sabe mais tarde...
Ela fez bico.
— Então, o que veio fazer aqui?
— Quero que venha comigo — falou soltando ela. — Preciso de um favor seu.
Tara suspirou decepcionada.
— Do que você precisa?
— Do seu dom. Tenho que ajudar alguém...
— A troco de quê?
— Paz de espírito.
Ela gargalhou.
— É mesmo? Derek Campbell, ajudando alguém? — falou incrédula.
— Nunca ouviu falar que ajudar alguém faz bem para alma?
— É sério mesmo isso?
— É. Eu dei minha palavra... E então você vem comigo? — sorriu de lado.
— Tenho certeza que vou me arrepender muito disso, mas vamos nessa.
Eles se sentaram na moto, Derek girou a chave na ignição e ligou o motor partindo de volta a Fortilen City. Tara sequer imaginou o que estava a sua espera na pacata cidade, se não fosse tão cega pelo charme dele — teria dito não ou notado que seus instintos não haviam lhe dito nada, o que na maioria das vezes não era nada bom — mas uma vez que o destino traça seu caminho, não tem volta.
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