14
Karina's pov:
Não há a menor chance de eu conseguir relaxar tão cedo. As coisas no Moonlight foram intensas e só consegui sair lá pelas três da manhã. Agora são quatro. Eu estou em casa, sentada no sofá, olhando para o teto enquanto um turbilhão passa pela minha mente.
Ela está cada vez mais determinada.
Eu não consigo entender. Eu não consigo processar o que aconteceu há poucas horas. Minjeong, a garota que está bagunçando minha mente, foi até o bar em busca de respostas. Por que ela faria uma coisa dessas? Por que está tão interessada no meu passado? E por que eu não conto toda a verdade para ela de uma vez?
Eu poderia muito bem resolver essa situação. Tenho certeza de que quando descobrir quem eu sou, o que eu sou, ela vai ficar no seu devido lugar.
Mas não posso tomar nenhuma atitude precipitada antes do *Chesvan.* E além disso, tudo que eu sei sobre Minjeong parece ser o oposto de suas ações...
— E mais uma vez encontro você vagando pela casa — diz Aeri, entrando na sala, tirando o casaco. Sua aparência está ótima, o que não é surpresa nenhuma. Eu estou surpresa por ela ter vindo para casa.
— Cheguei tem pouco tempo — respondo naturalmente. — Como foi sua noite? — Pergunto.
Ela dá de ombros.
— Tudo bem. Eu só precisei resolver alguns assuntos.
— Você esteve com alguém? — Pergunto, contendo um sorriso.
Giselle arqueia uma das sobrancelhas e passa a mão nos cabelos.
— Por que está me perguntando isso?
— Nada em específico. Apenas vi que você estava no Moonlight e pensei que fosse aproveitar a noite inteira com sua garota.
Ela dá uma risada.
— Tá bom. Tá bom — diz, sentando-se no sofá. — Eu bem que gostaria, mas, como você sabe, não é seguro envolvê-la por completo no meu mundo. Então prefiro ir com calma.
Encaro os seus olhos e fico em silêncio por um instante.
— Você tem certeza disso? — Pergunto. — Giselle, estou tentando ao máximo ficar na minha. Estou mesmo. Mas se você está decidida a levar isso em frente, precisa estar ciente de todos os riscos.
— Eu sei. Mas ela é tão... incrível. — Ela diz quase em um sussurro – Olha, eu não tinha planos de me envolver com a amiga dela. Pelo menos não intencionalmente. Mas aconteceu e agora preciso encontrar uma forma de lidar com isso.
Não respondo. O reconhecimento me embarga concentrando-se no centro do meu peito. Há muito tempo venho ignorando a razão, mas simplesmente não posso impedir que ela siga por esse caminho. Não quando estou fadada a fazer o mesmo.
— É fácil se deixar cair pelos encantos de uma humana — sussurro —, mas não é fácil lidar com as implicações que acarretam disso. Só faça o possível para que vocês duas fiquem seguras.
Aeri fica em silêncio, pois com certeza viu o desconforto que atravessara o meu semblante segundos antes.
— Quando te conheci, você nem ligava para eles. Lembro-me do quão indiferente era em relação a tudo que envolvesse conflitos humanos.
O comentário dela paira no ar enquanto olho para a varanda, percebendo que não falta muito tempo para o amanhecer.
— Minha indiferença não desapareceu, Giselle. Me mantenho alheia aos conflitos desse mundo por um bom motivo, isso eu lhe garanto. Humanos nascem livres para tomar suas próprias decisões e arcar com o peso delas. Enquanto suas ações não interferirem na minha vida, eu não me envolverei.
Aeri continua a me observar.
— É isso que acho curioso em relação a você. Sob alguns aspectos, você é a mais humana de nós, mas, sob outros, é a menos.
— Tenho certeza de que existe um elogio em algum lugar nesse comentário — retruco com ironia.
— Você está em Seul há muito mais tempo do que eu possa imaginar, e protege muito bem seu passado. — Ela baixa a voz. — Nem mesmo eu sei o que te levou a cair, embora suponha que tenha sido algo realmente valioso.
— Isso é uma pergunta? — Indago em tom sério, sem encarar seu olhar penetrante.
Ela baixa a voz até um sussurro suave.
– Só estou tentando entender. Somos amigas, não somos? Depois de tantos anos?
Eu a entendo.
Aeri convive comigo há anos. O vínculo que criamos há muito tempo deixou de ser apenas por um juramento. Eu realmente a tenho como um exemplo de amizade. Mas ela não faz ideia do que aconteceu no meu passado. E não sei se isso é bom ou ruim.
Mas se Giselle vislumbrar um pouco da minha história, vai se envolver ainda mais nos meus problemas. Alguém que já carrega no sangue o pecado dos pais definitivamente não precisa de mais sofrimento na vida.
— Você tem razão, Giselle. Somos amigas. E por esse motivo não posso envolvê-la em determinados assuntos. — Como para encerrar o assunto, eu me levanto e dou as costas para ela.
— Está bem, mas pelo menos use o conselho que me deu.
Arqueio uma sobrancelha e olho em sua direção.
— Do que você está falando? — Pergunto.
— Olha só, eu não sei o que você está pensando, mas quero que saiba que não sou cega. Em todos os anos desde que a conheci, você nunca se envolveu com uma garota por um período mais prolongado. Mas isso parece ter mudado desde que Minjeong entrou na sua vida.
Escuto suas palavras, mas é difícil aceitar essa verdade crucial.
Eu sinto um conflito dentro de mim sempre que estou na presença de Minjeong. Além do objetivo por trás da minha aproximação e tudo que ele representa, também sinto uma enorme atração por ela.
Eu não sabia o que pensar sobre tudo isso, então optei por me deixar levar enquanto cumpria meu objetivo, que era a única coisa sobre a qual eu tinha controle. Mas, nesse momento, eu percebo que não tenho mais controle.
Minha mente fica dividida quando eu penso em Minjeong. Uma parte de mim sente uma enorme atração pela pessoa que ela é. Eu quero acreditar que estou tomando a decisão certa e confiar que existe uma esperança para nós. Só que outra parte quer que ela não seja tão incrível porque isso faz com que eu me sinta em desvantagem.
Enfio as mãos nos bolsos e curvo os ombros.
— Eu não entendo.
— Não entende o quê?
— Quando me aproximei dela, meu único objetivo era cumprir minha missão... Agora estou seguindo por um caminho completamente arriscado, mas que parece igualmente certo.
— Karina... — Giselle suspira e sua voz sai quase em um sussurro. Seus olhos se suavizam de um jeito que eu não gosto. Ela parece estar verdadeiramente preocupada com a minha situação, com a minha falta de compreensão. — Eu venho te provocando com esse assunto desde que conheceu Minjeong, porque realmente acreditava que ela mudaria sua visão sobre tudo. Mas se eles ainda estiverem de olho em você, as coisas vão ficar tensas.
— Você não precisa se preocupar com isso — murmuro, baixando o olhar. — Só continue a seguir o plano e deixe o resto comigo.
— O que você vai fazer?
— Agora irei descansar pelo pouco tempo que me resta antes do alvorecer — digo, caminhando em direção às escadas.
Ao entrar no quarto, vejo o meu próprio reflexo refletido no espelho e afasto da testa alguns fios desalinhados de cabelo. Apesar de o meu corpo ser agora ainda tão atraente quanto fora no passado, nunca passo muito tempo me olhando.
A aprovação é um engodo, e a beleza é vã.
Curioso como ainda sou capaz de citar as escrituras sagradas. Curioso que eu, outrora uma serva de Deus, seja agora considerada uma inimiga dos céus.
Franzo o cenho e penso no lindo rosto de olhos castanhos. Por causa de uma lembrança com muitos séculos de idade, interferi de modo temerário em assuntos humanos. Por causa de outra linda face de olhos fascinantes...
Esfrego o rosto com as mãos. Meu corpo nunca se cansa, mas a mente precisa de repouso. A aurora começa a despontar no horizonte. Daqui a algumas horas, eu preciso voltar para o meu papel de universitária. Mas agora, tudo que quero é passar algumas horas meditando tranquilamente.
\[...]
— Não faça com que eu me arrependa de ter deixado vocês escolherem seus parceiros — exclama o professor Park.
Estamos no meio da aula de gêneros jornalísticos e técnicas de entrevista. Devemos elaborar um pequeno artigo sobre a linguagem corporal do nosso parceiro durante uma entrevista. Normalmente, eu faria o trabalho com Minjeong, mas o professor nos concedeu um dia livre, o que quer dizer que pudemos escolher nossos parceiros. Minjeong e Yizhuo estão no fundo da sala. Eu estou ocupada com um cara de quem nem lembro o nome na frente.
— Não faça com que eu me arrependa de ter vindo à faculdade hoje — diz Yzhuo com doçura.
O professor lança-lhe um olhar de advertência, então pega sua ficha de trabalho, passando os olhos pela folha. Não é preciso pensar muito para saber que não tem nada escrito ali.
— A entrevistada acha essa aula o equivalente a sedativos de tarja preta
— diz Yzhuo.
O professor bate palmas, e todos os olhares da turma se dirigem para ela e Minjeong. Contenho um sorriso, porque já sei onde isso vai terminar.
— Jimin? — Ele chama. — Você se importa de vir para cá? Parece que nós temos um problema entre parceiras.
— Eu só estava brincando — diz Yzhuo rapidamente. — Olhe, vou fazer o trabalho.
— Você deveria ter pensado nisso há quinze minutos — diz o professor.
— Perdoe-me, por favor — ela pede, piscando os olhos com ar angelical. O professor enfia a ficha debaixo do braço dela.
— Não.
Vejo ela fazer um "Sinto muito!"com os lábios enquanto caminha com relutância para a frente da sala.
Um momento depois, sento-me à mesa, ao lado de Minjeong. Deixo as mãos descansarem entre os joelhos e fico a encarando. Os olhos dela são tão fascinantes. Esses olhos castanhos e determinados que estão sempre cheios de curiosidade.
Eu gostaria que ela não fosse assim tão linda.
— O que foi? — Minjeong pergunta, empertigando o corpo.
Sorrio.
— Estou lembrando do quão linda você estava. Na noite passada.
Ela desvia o olhar, como costuma fazer sempre que a elogio.
— Como foi sua noite? — Pergunta com uma voz cuidadosamente casual, em uma tentativa de quebrar o gelo.
Embora não tenha comentado abertamente sobre o assunto, de alguma forma suas aventuras como espiã ainda pairam entre nós.
— Interessante — respondo, usando do mesmo tom. — E a sua?
— Nem tanto.
— Os trabalhos da faculdade foram uma dureza, não é? — Provoco, um sorriso surgindo em meus lábios.
— Não peguei em trabalho algum.
Meu sorriso se alarga.
— Então em quem você pegou?
Minjeong fica em silêncio, encarando-me com a boca ligeiramente aberta.
— Isso foi uma indireta?
— Só estou curiosa em saber quem é o meu concorrente.
— Cresça. Já estou em uma situação delicada com o professor, então me faça um favor e vamos nos concentrar no trabalho. Não estou no clima para ser entrevistada, assim, se você não se importar... — Ela olha claramente para a ficha sobre a mesa.
— Não posso. Você não vai conseguir ler minha linguagem corporal.
— Avise-me quando decidir parar de bancar a metida — Ela diz, passando as mãos nos cabelos em sinal de frustração diante do meu desinteresse pelo trabalho acadêmico.
Fico em silêncio por alguns instantes, preferindo observar os olhos castanhos de Minjeong me examinando. Abro um sorriso.
— Você bem que gosta — digo, me aproximando e segurando seu pulso. Uma onda de energia parece transitar do seu corpo para o meu. — Está vendo, sua frequência cardíaca até se elevou com o contato.
— Pare com isso. — Ela diz, tentando soar indignada. No entanto, parece mais que eu está tentando não sorrir.
— O professor quer que sejamos minuciosos.
— O que você quer? — Ela pergunta.
Meus olhos se fixam nos seus. Por dentro, estou sorrindo.
— Abriu um novo fliperama próximo de Yongsan-gu — comento, embora saiba o rumo que isso vai levar. — Deveríamos ir.
Ela abre um sorriso sarcástico, mas vejo que seus olhos se iluminam.
— Quer dizer, encontrar você em algum lugar que não seja a faculdade? — Ela faz uma pausa e ri. — Não me entenda mal. É um convite interessante e tudo mais, mas definitivamente não vai rolar.
Minha mão ainda está em seu pulso e deslizo os dedos suavemente em direção a sua mão. Embora Minjeong tente fingir que não lhe causo nenhuma reação, percebo quando deixa um suspiro escapar. Ela não sabe o quanto isso me incentiva a seguir em frente.
— Eu já deixei claro que isso não vai acontecer... você deveria desistir.
Me inclino em sua direção e falo baixinho:
— Não vou desistir, porque com certeza vai valer a pena.
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