𝟬𝟴. O ALMOÇO.
CAPÍTULO 08 | O ALMOÇO
Costurar roupas para bebês era uma das formas de trabalho favoritas de Edith. Não exigia muito gasto de material, e os bebês cresciam rápido o bastante para que suas mães logo tivessem que voltar para comprar mais algumas roupas. No meio tempo, a modista torcia para que traças acabassem com as roupas herdadas pelos membros mais velhos da família; desejava que o mofo tomasse conta dos tecidos antigos e que os fios apodrecessem sob o toque. Aquilo assegurava que os bebês precisariam de seus serviços com urgência. Felizmente para os Shelby, Edith não fazia aquele tipo de desejo sobre eles; eram uma família sem muito apego pelos dias do passado, e suas roupas de infância já haviam sido descartadas há tempos.
O pequeno Karl não tinha nada. Nada além de uma mãe despreparada, um pai que estava na cadeia, um tio que havia entregado seu pai à polícia enquanto sua mãe havia acabado de o parir. Também não tinha roupas, e por isso, Edith havia passado os últimos dias trancafiada no ateliê, costurando e costurando, enquanto Polly a visitava algumas vezes ao dia para pegar as peças que estivessem prontas e levá-las até Ada, a quem a modista não via desde o nascimento do bebê.
A situação chegava a ser cômica para Edith.
Polly Gray a detestava. Ela a detestou e ameaçou por meses. Aos poucos, o sentimento de ódio diminuiu, e agora, a mulher visitava o Mundo das Agulhas diariamente, sem levar pistolas ou punhais. Não eram amigas, certamente que não, mas em comparação com o que eram antes, Edith podia afirmar que o acordo de paz silencioso entre as duas estava sendo uma maravilha, e Preston percebeu naquele meio-tempo que, quando estava irritada com Tommy, Polly era mais gentil e paciente com ela; era como se, finalmente, as duas tivessem algo em comum para comentar.
━ Ele ainda diz que não foi ele ━ Polly resmungou, naquela tarde, com os braços cruzados enquanto ajudava Edith a dobrar algumas camisas para Karl. ━ Mas quem mais poderia ter sido?
━ Bom, ele me disse a mesma coisa. Disse que não sabia que Ada entraria em trabalho de parto, então nem ao menos teria tempo o suficiente para dar uma trégua ao Freddie e chamar os policiais ━ Edith respondeu, recordando-se da breve conversa que havia tido com o homem alguns dias antes, quando o encontrou no caminho para o mercado. ━ Ele também disse que não me devia satisfações de nada, e que eu ainda vou morrer pela minha língua. Estúpido. Quem deu com a língua nos dentes foi ele.
Ela estava irritada com Thomas. Tão irritada quanto Polly, Ada, John e qualquer outra pessoa que havia presenciado a cruel cena da prisão de Freddie Thorne, pouco após Ada dar a luz ao filho dos dois. Mas Edith não estava irritada, necessariamente, por aquele fato; não, ela era egoísta demais para focar sua raiva em ações direcionadas unicamente a outras pessoas, e como de costume, conseguiu encontrar uma forma de fazer aquele problema se tornar seu. Se Tommy Shelby não se importava de entregar o próprio cunhado, por que se importaria de entregar Edith às autoridades se estivessem procurando por ela?
Ele repetia que ela estava segura desde que não se metesse nos problemas deles, e ela estava se afastando das confusões, vivendo sua vida da forma mais ordinária que conseguia. Mas os problemas não pareciam tão dispostos a fazer o mesmo; eles chegavam, ficavam e se multiplicavam. Freddie estava preso. Talvez em breve fosse sua vez. Balançando a cabeça, Edith tentou afastar aqueles pensamentos, concentrando-se no fato de que Albert Wilson não era ninguém importante para que ainda estivessem procurando seu assassino.
Era difícil. Ela ainda via seu vulto correr livremente entre as prateleiras do ateliê quando estava prestes a adormecer.
━ Eu pensei que ele estivesse melhorando. Estão dizendo no Garrison's que ele e Grace estão próximos, e eu pensei que o amor talvez fosse amolecer o coração de Tommy ━ Polly contou, balançando a cabeça negativamente e soltando ar pelo nariz.
Edith fez uma careta.
━ O amor não amolece o coração de homens. Especialmente homens como o seu sobrinho ━ retrucou, rindo baixo, e mordeu o interior das bochechas ao começar a guardar as roupas de Karl na bolsa espaçosa trazida por Polly. ━ O amor os deixa idiotas, Polly.
Ela também já havia ouvido os boatos sobre Tommy e Grace, claro que havia. Ele permitia que ela cantasse no bar após tantos anos sem música e a levava às corridas. Edith sentia pena de Grace no início; era uma mulher tão doce para se envolver com alguém como Thomas, e ele certamente se aproveitaria de sua proximidade para ajudar nos negócios em algum momento, afinal, todos eram peças no grande tabuleiro de xadrez de Shelby. Mas a modista não se sentia daquela forma há algum tempo, desconfiando que a garçonete não era bem o que parecia; não investigou a fundo para chegar ao fim daquela história, mas desde o dia em que o homem foi morto após a visita ao bar, ela tinha aquelas suspeitas.
Mas Thomas não tinha. Porque o amor estava o fazendo de tolo, e não havia nada que pudesse obrigar um homem que não queria enxergar a ver.
Devagar, Polly subiu o olhar para a mais jovem, avaliando seus movimentos em silêncio por alguns segundos. Genuinamente curiosa sobre a amargura daquela mulher tão nova ao falar sobre o amor, perguntou:
━ E o que o amor fez com o coração do seu Albert?
━ Albert nunca me amou. Eu era uma comodidade para ele e ele era um incômodo para mim ━ foi a resposta que recebeu, dura e rápida. ━ Você já sabe disso. Thomas sabe e certamente te contou ━ Edith a encarou, levantando as sobrancelhas. Aos poucos, suas feições se suavizaram, e ela continuou: ━ O seu sobrenome é Gray, você também foi casada. Como era o seu marido?
━ Não era terrível. Eu também não o deixaria viver se fosse. Mas era bom para mim ━ Polly respondeu, vendo Edith balançar a cabeça em concordância, notando um tom de melancolia em sua voz. ━ Ele está morto há tempos. A bebida o matou antes que qualquer outra coisa ou pessoa pudesse.
━ Você o amou ━ Preston concluiu. ━ E não tiveram filhos?
Polly parou o que estava fazendo, soltando as roupas de Karl sobre a mesa e encarando Edith com olhos perfurantes.
━ Você não acha que está se intrometendo demais?
━ Foi uma dúvida sincera. Eu não tive filhos com Albert porque preferiria morrer a colocar alguém com os genes dele no mundo. Ele nunca mereceu que eu passasse por todo o trabalho de gerar um filho ━ Edith disse, unindo as sobrancelhas, e limpou a garganta brevemente, recolhendo no chão um alfinete que havia caído. ━ Eu gostaria de ter filhos, mas não faria isso com alguém que odiava. Só pensei que, como você e seu marido se amavam, seria esperado que tivessem filhos.
O silêncio que se fez no local pelo próximo minuto foi o som mais alto que Edith ouviu naquele dia. Ela sentia o olhar de Polly sobre si enquanto seguia com suas tarefas, sem olhá-la de volta; agora, já não parecia mais que Gray estivesse com raiva, apenas pensativa, considerando as palavras da modista. Foi uma das raras ocasiões em que Preston não disse algo para a incomodar propositalmente; era uma simples pergunta, uma tentativa de manter um diálogo. Uma conversa que mulheres comuns tinham em dias comuns.
━ Eu tive dois. Michael e Anna ━ ela contou, por fim, com a voz baixa e saudosa. Finalmente, Edith a olhou, surpreendendo-se por receber uma resposta. ━ Foram tirados de mim quando eram crianças, e eu nunca mais os vi. Eu havia roubado algumas toalhas de um hotel, e as vizinhas ficaram com inveja. Alguém chamou a polícia e eles encontraram a pequena destilaria que eu tinha em casa. Foi o bastante para decidirem que eu não merecia os meus próprios filhos, e eles os levaram.
Mas aquelas não eram mulheres comuns, nenhuma das duas.
Polly Gray era a mulher que comandava toda uma família de gângsteres; era o coração e a alma dos Peaky Blinders, embora não se envolvesse com as piores partes do trabalho sujo realizado por aqueles homens. Era a única a quem Thomas realmente ouvia e respeitava. Edith Preston era a mulher que tirou a vida do marido e fugiu para se esconder em um inferno onde acreditava que os demônios a protegeriam.
━ Sinto muito, Polly.
Nenhuma das duas disse nada após isso. Recolheram-se no silêncio, finalizando o trabalho que faziam, e organizaram a bagunça deixada sobre a mesa e o balcão. Dessa vez, não havia a velha aura de inimizade entre as duas; eram apenas duas mulheres que compartilhavam suas dores e vergonhas do passado, sem enfrentar o julgamento que sempre vinha a seguir.
Polly tirou algumas moedas da meia e entregou para Edith, que guardou-as no sutiã e caminhou até a porta para abrí-la para a visitante deixar o local. Polly passou pela porta com o fantasma de um sorriso educado, que foi correspondido por Edith, que a observou se distanciar por alguns segundos, encostada contra a batente da porta.
━ Você não fez almoço, fez? Já passou da hora, e não a vi comendo ━ Polly disse, sem se virar.
━ Está me convidando, Polly? ━ a modista indagou, divertindo-se com a situação inesperada, e a mais velha deu um giro para a encarar com as sobrancelhas erguidas. ━ Para comer a sua comida?
━ Você vem ou não, porra?
Edith fingiu ponderar, antes de dar de ombros e pegar a chave para trancar o ateliê. Quando o fez, guardou a chave em um dos bolsos do casaco e seguiu até Polly com um sorriso discreto para não irritá-la — era um convite inédito que Edith não planejava desperdiçar —, antes de voltarem a caminhar em direção à casa onde os Shelby se reuniam.
━ Isso é tão engraçado. Você me detestava há pouco tempo.
━ Não me faça detestar ainda mais ━ Polly retrucou, olhando-a pelo canto dos olhos, e entrelaçou um de seus braços ao de Edith quando um homem na rua assobiou ao vê-las passando. ━ Você me lembra dos meus sobrinhos, Edith. Todos eles.
━ Isso é um elogio?
━ De forma nenhuma ━ a mais velha balançou a cabeça para os lados, e Preston riu pelo nariz. ━ É a pior coisa que você poderia ser. Mas eu vejo, agora. Vejo quem você é e por quê faz o que faz. Você é um produto da guerra, como os meus sobrinhos.
━ Eu imagino que você saiba que mulheres não foram enviadas para a guerra, Polly. Albert também não foi, caso seja o que está dizendo ━ Edith lembrou, fazendo uma careta ao sentir o gosto amargo daquele nome em sua boca. ━ Era um homem sem honra suficiente para lutar pelo próprio país.
━ As guerras não são todas necessariamente em campos de batalha. Você não estava nas trincheiras, mas ainda travou uma guerra contra o seu marido ━ Polly respondeu, vendo Edith comprimir os lábios em uma linha fina. ━ E eu fico feliz que tenha saído vitoriosa.
A modista olhou para o chão, respirando fundo, e as duas continuaram caminhando pelas ruas sujas. Era bom ouvir aquilo de Polly; ela era a segunda pessoa com quem Edith realmente conversava sobre aquele assunto, a primeira tendo sido Thomas, e a mulher tinha um jeito melhor com as palavras. Tinha um olhar mais morno e, naquele momento surpreendente, menos agressivo do que o sobrinho. Para Edith, Polly sempre foi a mais assustadora entre eles, e de alguma forma, agora parecia também a mais acolhedora. Os homens não costumavam ter aquela qualidade; tudo sempre voltava para a violência.
Quando chegaram, Polly destrancou a porta e entrou primeiro, com Edith em seu encalço. As duas franziram o cenho quando chegaram à sala de jantar, encontrando Arthur sentado à mesa em frente a um homem mais velho, vestido com um terno, enquanto John os encarava com desgosto, com as costas apoiadas em uma parede. O pequeno Finn estava com eles, e a modista apertou suas bochechas ao passar pelo garoto, parando ao lado de John.
━ Abriram os portões do inferno ━ Polly murmurou, olhando para o homem que Edith desconhecia. ━ De qual bueiro saiu esse rato?
━ Irmãos costumam se tratar melhor, Pol ━ ele retrucou, levantando-se para dar um abraço desajeitado na mulher, que revirou os olhos. Então, caminhou até Edith, estendendo uma das mãos para a cumprimentar. A modista fez o mesmo, esperando um aperto, mas o homem deu um beijo nas costas de sua mão. ━ E quem é essa bela senhorita?
Edith levantou as sobrancelhas em confusão, olhando para os outros no local. John bufou e revirou os olhos, enquanto Polly cruzou os braços. Arthur havia sumido, indo até a cozinha acompanhado de Finn, e ninguém se importou em dizer quem era aquele homem. Ela podia apenas supor que era o pai dos Shelby, mas dada a reação de John, ela tinha suas dúvidas.
━ Edith Preston, senhor ━ ela respondeu, por fim.
━ Um lindo nome, que combina com a dona. Eu sou Arthur Shelby, muito prazer ━ ele respondeu, confirmando suas suspeitas, e ela assentiu lentamente, virando o rosto para ver Arthur, o filho, aproximando-se novamente com uma xícara de chá e um pedaço de bolo. O pai voltou a se sentar ao receber o alimento. ━ Obrigado, filho. Você sempre foi um bom rapaz.
Quando ele começou a agradecer a Deus pela comida, Polly levou uma das mãos até a testa, resmungando coisas ininteligíveis, e Edith observou em silêncio toda a desconfortável cena.
━ Termine de comer e suma daqui ━ Polly mandou, impaciente.
━ Pollyanna, sou convidado do chefe desta família, então por que você não vai cuidar das suas coisas? ━ ele retrucou, e a mulher semicerrou os olhos. Edith franziu o cenho; aparentemente, ninguém havia informado o homem de que seu filho mais velho estava bem longe de ser o chefe da família.
Então, ela se encarregou de forçar sua melhor expressão confusa, quase caricata, e virar o rosto para todos os lados do ambiente, antes de indagar:
━ Thomas está aqui?
Ao seu lado, John abriu um leve sorriso ladino. À mesa, Arthur desviou o olhar, envergonhado, enquanto o sr. Shelby pareceu confuso.
━ Tommy às vezes me ajuda com os negócios, pai ━ Arthur explicou, sem ser capaz de acreditar em suas próprias palavras.
Sim, Thomas ajudava, Edith pensou. Thomas fazia tudo enquanto Arthur se drogava e embebedava. Era uma ajuda e tanto.
Foi quando o barulho da porta foi ouvido novamente, e Thomas entrou. Todos se viraram para ele, que ao subir os olhos do chão e encontrar o pai sentado, interrompeu seus passos e o observou em silêncio, balançando a cabeça para os lados como se estivesse desacreditado.
━ Bem, falando no diabo! ━ o pai exclamou, levantando-se. ━ Como vai, filho?
━ Saia daqui ━ Thomas mandou, inexpressivo, e Edith pensou que talvez fosse melhor ficar sem almoço, se para comer precisaria aguardar pelo fim daquela estranha situação.
Acompanhar o drama familiar dos Shelby não estava em sua lista de afazeres ou desejos; ainda assim, ali estava ela, vendo Arthur Shelby contorcer o rosto em uma expressão de súplica após a resposta sucinta do filho do meio.
━ Vamos lá, filho. Eu sou um homem mudado.
━ Essa família precisava de você há dez anos, e você nos abandonou ━ Thomas retrucou, de forma séria. ━ Não precisamos agora. Saia daqui.
Edith percebeu que Arthur — Arthur Filho, Arthur Junior, Arthur II, ela não se importava — temia o próprio pai. Talvez não o temesse exatamente, mas buscava sua aprovação. Ela viu quando ele, com um fio de voz, começou a advogar em defesa do pai:
━ Tommy, ele mudou…
━ Cala a boca ━ o irmão interrompeu, sem tirar os olhos do progenitor.
Ninguém disse nada pelos próximos segundos, encarando Thomas e Arthur Shelby enquanto faziam suas apostas mental para descobrir o que aconteceria em seguida.
Aceitando que sua presença era indesejada no local, finalmente o homem mais velho ajeitou as roupas em seu corpo e colocou a cadeira novamente próxima à mesa, uma vez que não iria voltar a se sentar.
━ Tudo bem, filho. Arthur Shelby não fica onde não é bem-vindo ━ ele falou, talvez torcendo que algum dos filhos fosse fazer uma objeção, o que não aconteceu. Em seus olhos, a decepção se uniu a um lampejo de fúria, que não passou despercebido pelos presentes, especialmente os que já o conheciam. O homem então deu alguns passos, parando próximo a Edith, e encarou-a. Ela franziu o cenho, e ele perguntou em voz baixa: ━ Qual o seu preço, boneca?
Todos olharam desacreditados para o homem, e John deu um passo adiante, pronto para intervir. Antes que alguém pudesse falar ou fazer alguma coisa, no entanto, Edith estreitou os olhos em direção ao homem, sem sair do lugar.
━ Multiplique por cinco o preço que a puta da sua mãe cobrava ━ ela retrucou, vendo o sorriso do homem desaparecer. ━ E some isso ao preço do viagra que você precisa para fazer o seu pau subir.
Arthur Shelby ficou furioso. Se ninguém comprou seu teatro de bom moço anteriormente, tudo piorou quando fez mais um avanço em direção a Edith, sendo obrigado a parar quando John entrou em sua frente e Thomas adiantou-se em direção à briga que estava prestes a se iniciar.
━ Pela última vez, saia daqui ━ ele mandou.
Finalmente o homem obedeceu, sabendo que era uma batalha perdida. Quando a porta bateu atrás dele, todos os presentes se entreolharam, sérios, antes de pousarem os olhos sobre Edith.
━ Polly, me desculpe por chamar a sua mãe de puta. Arthur, John, Thomas e Finn, me desculpem por chamar a avó de vocês de puta. Tenho certeza que devia ser uma senhora adorável ━ ela pediu, sem se importar muito, e se sentou à mesa. Por sua sorte, nenhum deles havia se ofendido com o comentário da mulher, sabendo que sua única intenção era ofender o senhor Arthur Shelby. ━ O pai de vocês é a porra de um velho imbecil.
Todos assentiram levemente em concordância, ainda sérios, exceto por Arthur. A visita havia, claramente, deixado todos de mau humor, e ninguém tentava disfarçar.
━ Ele é nosso pai. Você não pode falar assim com ele.
━ O seu pai me chamou de prostituta, mas se você achou que passei dos limites, eu vou até ele para me desculpar ━ Edith respondeu, brincando com a faca que estava na mesa, e olhou para o homem, que observava os movimentos de sua mão sobre a mesa. ━ Posso oferecer a ele a noite que queria comigo. E então, quando ele tirar a roupa, eu vou cortar o pau dele, e mandar para você em uma caixa.
Thomas respirou fundo, interrompendo-a antes que Arthur se exaltasse:
━ Ele é um canalha egoísta.
━ Você chamando alguém de canalha egoísta é um pouco demais, Tommy ━ o mais velho respondeu, amargo. ━ Graças a você, já perdemos uma irmã.
Edith olhou para Polly, que fechou os olhos devagar e virou o rosto para o teto. Os olhos de Thomas se arregalaram levemente, indignado por ver o irmão continuar a defender o pai, e ele apontou para a porta pela qual ele havia saído.
━ Você quer ir com ele? Vá com ele.
Arthur ponderou por alguns segundos, em um dilema que o corroía. A aprovação do pai que os havia abandonado era mais importante do que a relação com os irmãos? O velho dizia ter mudado. Dizia ter boas ideias para os negócios. Mas quem poderia confirmar? No fim das contas, Arthur foi, decidindo ser o único a acreditar na mudança do progenitor, que por sua vez parecia ser o único que acreditava em sua capacidade de comandar os negócios.
Thomas suspirou, sentando-se à mesa, e logo todos fizeram o mesmo. Não demorou para que Finn desistisse de permanecer naquela atmosfera pesada de adultos e fosse para a sala de estar.
━ Ele veio por vontade própria ou vocês o encontraram? ━ Tommy indagou.
━ Encontramos ele lutando em um ringue improvisado ━ John esclareceu. ━ Arthur quis trazê-lo.
━ Eu não quero vê-lo por aqui. É melhor que ele saia de Small Heath ━ Thomas falou, descansando as costas no apoio da cadeira. Então, olhou para Edith. ━ Quantas vezes eu preciso dizer para você aprender a segurar a porra da sua língua?
Ela o encarou.
━ Você aceitaria alguém falando para você o que o seu pai falou para mim?
━ Já ouvi coisa pior.
━ E eu tenho certeza que você não ouviu calado.
Novamente, o silêncio se estabeleceu no local. A fome de Edith começava a se esvair; a visita de Arthur Shelby havia arruinado o clima por completo, e não era como se ela estivesse ansiosa para estar na presença de Thomas. Ela não queria saber de Arthur, porque ele estava do lado de seu pai, e não queria saber de Tommy, porque ele ainda havia entregado Freddie Thorne à polícia e aquilo a deixava com um pé atrás. Como de costume, John não era considerado um de seus problemas; pela primeira vez, Polly também não era.
━ Avise à Katie que eu fiz algumas roupas com retalhos que sobraram das roupas de Karl. Ela pode pegar para os bonecos ━ ela disse ao Shelby mais novo, antes de suspirar e se levantar, alisando a saia onde havia amassado ao se sentar. ━ Obrigada por me chamar para o almoço, Polly, mas eu perdi a fome, e imagino que você também.
━ Sente-se, Edith ━ Thomas mandou, com a voz arrastada, encarando a mulher. ━ Você não vai sair agora. O nosso pai ainda pode estar na rua.
Ela não se sentou de imediato. Com o nariz em pé, olhou para Thomas como se fosse apenas um incômodo, uma pedra em seu sapato, vendo-o passar uma das mãos pelo cabelo enquanto encarava um ponto fixo da sala de jantar. Virou-se para Polly, então, que assentiu, e então para John, que apenas sinalizou para a cadeira novamente.
Edith considerou suas opções. Ela estava desarmada naquela ocasião, e encontrar o pai dos Shelby no caminho para casa certamente não seria agradável. Arthur, o filho, não a defenderia como os irmãos fizeram, e nenhum dos homens de Small Heath se atreveria a ir contra um Shelby. Pedir à Polly uma faca emprestada para possivelmente matar seu irmão caso ele voltasse a incomodá-la também não parecia eficaz; embora todos tivessem sido favoráveis às suas ofensas, ela compreendia que matar um membro da família não era o que eles gostariam.
Com um suspiro, ela se sentou novamente.
━ Finn não tem muito mais do que 10 anos. Ele conhecia o pai?
━ Ele nunca ficou longe por tempo o suficiente para que pudéssemos esquecer.
━ Eu pensei que estivesse morto dessa vez ━ Polly murmurou.
Tommy subiu o olhar para a tia.
━ Como está Ada?
━ Você saberia se não tivesse feito o que fez.
O homem respirou fundo, desviando o olhar e parecendo contar mentalmente até dez. Então, puxou um cigarro do maço no bolso de seu sobretudo e o acendeu, fechando os olhos ao tragar profundamente. Polly o encarou, arqueando uma das sobrancelhas.
━ Não fume aqui dentro.
Edith havia pensado, no começo, que Polly a convidou para o almoço porque estavam se aproximando e ela talvez não a odiasse tanto quanto costumava. No entanto, agora que via que o almoço em questão se tratava de uma contenda entre os membros da família, a modista percebia que talvez aquela fosse a maior prova de ódio que Polly poderia fornecê-la.
━ Certo ━ Thomas respondeu, impacuente, sem apagar o cigarro. Ele se levantou, arrastando a cadeira e fazendo um barulho irritante, antes de olhar para a modista. ━ Vamos. Deixo você em casa.
Sem questionar, a mulher se levantou, seguindo-o para fora da casa com as feições sérias. Ela fechou a porta ao passar por último, e quando se virou, encontrou um cigarro estendido em sua direção. Sem uma palavra, ela o aceitou, levando até os lábios, e deu um passo em direção ao homem quando o mesmo levantou um isqueiro.
Ele a observou dar o primeiro trago antes de voltar a caminhar, ouvindo os passos da mulher pouco atrás de si.
━ Você e Polly estão se dando bem agora ━ ele observou.
━ Conversas fiadas não combinam com você, Thomas ━ ela respondeu, com a voz monótona, levando o cigarro aos lábios mais uma vez.
Ele riu pelo nariz, com o olhar inexpressivo.
━ Vamos em silêncio, então.
━ Você costuma preferir assim.
Era frustrante para Thomas; ele estava acostumado a ser alvo de ódio de muitas pessoas, mas geralmente, aquilo se devia a ações que ele realmente havia cometido. Agora, toda sua família o olhava torto, Edith comprava suas dores e não havia um lugar para onde ele fosse em que não o julgassem pela enorme traição para com a irmã em trabalho de parto. Era uma das únicas vezes em que a culpa não era sua.
Ele não iria insistir ou tentar se justificar, de qualquer forma. Não era como se fosse implorar pelo perdão de alguém. Uma hora ou outra, iriam superar aquilo. Então, em silêncio, os dois seguiram pelas ruas praticamente vazias de Small Heath, fumando seus cigarros e perdidos em seus pensamentos. Edith olhava para Thomas ocasionalmente, julgando cada um de seus movimentos, e pensando nos horrores que aquele homem devia ter presenciado na guerra para ter se tornado o que era: um homem com o coração duro o suficiente para que não carregasse qualquer resquício de culpa por fazer as coisas que fazia.
Não era como se ela pudesse falar alguma coisa, no fim das contas. Talvez em menor frequência, mas Edith Preston podia ser tão ruim quanto Thomas Shelby. Deveria ser aquele o motivo para o homem a aceitar tão bem, apesar das ofensas e ameaças; no fim das contas, ele ainda estava escoltando-a de volta para casa em segurança.
━ Se eu quisesse entregar você, já estaria apodrecendo na cadeia há muito tempo, Edith ━ ele falou, pisando sem cuidado em uma poça d'água, enquanto a mulher subia em uma calçada para não sujar os sapatos e o reprovava com o olhar.
━ Obrigada, Thomas. Você sempre sabe o que dizer ━ respondeu, revirando os olhos levemente, antes de apagar o cigarro em um muro e jogá-lo ao chão. ━ Nunca se sabe quando a minha prisão pode vir a ser útil para você. É sempre melhor ter uma carta na manga, ao invés de jogar todas e perder.
Ele subiu na calçada para acompanhá-la, agora dizendo com a voz baixa para que fosse a única a escutar:
━ Você e o seu crime não são assim tão relevantes. A polícia não procura você porque se convenceram de que quem matou Albert, matou você também. Ninguém quer a porra de um fantasma ━ Edith o olhou por cima dos ombros, mordendo o interior das bochechas. ━ Quantas vezes já tivemos essa conversa?
De repente, Edith parou de andar, virando o corpo rapidamente para encarar o homem por completo. Ela o olhou nos olhos, unindo as sobrancelhas levemente, e cruzou os braços em frente ao tronco.
━ Por que você está se justificando para mim, Thomas? Você não me deve satisfações.
Ele a encarou de volta, com o rosto sério, e seus olhos viajaram rapidamente entre os olhos escuros dissimulados da mulher e seus lábios pintados de carmesim. Thomas chegou à conclusão que a odiava. Ela sempre tornava tudo mais difícil; qualquer pessoa receberia de bom grado suas justificativas. Sentiriam-se poderosas e superiores. Mas não Edith, é claro. Ela precisava o desafiar. Precisava olhar para ele como se fosse um inseto significante, com o nariz enrugado e em pé. Quando recebia a chance de deixar alguém se acomodar, ela escolhia sempre causar incômodo. O que Thomas mais odiava, no entanto, era que ela estava, na maioria das vezes, certa. Edith Preston sempre tinha um ponto, ou ao menos, sólidos argumentos.
Não, aquilo não era o que Thomas Shelby mais odiava. O que ele mais odiava, de fato, era que não conseguia odiá-la, por mais que tentasse. Por mais que ele se esforçasse e ela o desse motivos.
Ela o fazia sentir um fracasso. Edith talvez não ganhasse todos os embates que já haviam tido, mas certamente também não perdia por completo. Thomas pagava por ternos agora. Era tudo sua própria culpa; ele não deveria ter deixado aquela mulher chegar tão longe, mas deixou.
Porque não quis pará-la antes. E não queria parar agora.
Thomas não pensava mais em uma resposta. Ele apenas encarava Edith em silêncio, e ela o encarava de volta. Mas Edith perdia rápido a paciência, e se entediava fácil demais; não demorou para que levasse os dedos finos até os lábios de Thomas, tomando seu cigarro devagar e levando até os próprios para dar um trago. Soltou um pouco de fumaça lentamente, sem se afastar, e tudo o que o homem foi capaz de fazer foi elevar levemente as sobrancelhas.
━ Você pode acender outro para você ━ ela murmurou, dando a ele as costas mais uma vez, cansada de esperar por uma resposta.
Thomas a seguiu. Não deu muitos passos antes de parar, no entanto, agarrando um dos braços de Edith e puxando-a para um beco próximo. Ela arregalou os olhos, encarando-o como se estivesse louco, mas não gritou. Quando olhou para Thomas, ele parecia alarmado.
━ O que foi isso, porra?!
━ Cala a boca ━ ele mandou, ainda com os olhos levemente arregalados enquanto olhava ao redor. ━ Está armada?
━ Não ━ ela respondeu, franzindo o cenho. Então, Thomas puxou uma de suas próprias armas, colocando-a nas mãos de Edith. ━ Qual é a porra do seu problema?
━ Me escute ━ ele disse, segurando-a pelos ombros enquanto a mulher descartou o cigarro e guardou o revólver na cintura, tampando-o com o casaco. Cruzando os braços, ela arqueou uma das sobrancelhas. ━ Eu estou fazendo negócios. E os homens com quem estou fazendo negócios podem querer me matar. São primos do homem que morreu.
━ O que você acha que eu matei ━ ela concluiu, e ele assentiu. ━ O que você está negociando com eles?
Ele suspirou.
━ Armas. Muitas armas, que estão escondidas ━ ele retrucou, com pressa. Edith apenas assentiu devagar, sem saber que aquelas malditas armas eram o motivo do inspetor Campbell ter chegado para dar início a seu pesadelo. ━ Eu vou encontrá-los no Garrison's, e você vai ficar do lado de fora. Você não pode entrar, seremos só nós e Grace, porque garçonetes não contam. Você vai ser minha garantia. Se vir um dos dois saindo, você os distrai. Eu cuido do resto.
━ E se atirarem em mim?
━ Não vão ━ ele assegurou, e ela o olhou desconfiada. ━ Eu só preciso que os distraia caso escapem. Você tem uma arma. Se precisar, acerte um pé deles.
Devagar, a mulher se inclinou para o lado, o suficiente para ter uma visão dos homens de quem Thomas Shelby falava.
━ Você acha que eu sou um de seus homens? ━ ela indagou, entredentes. ━ Que eu sou um dos seus malditos Peaky Blinders?
Um demônio em forma de mulher. Era o que ela era. Thomas suspirou, encarando-a nos olhos; ele não tinha tanto tempo para discutir em um beco e convencê-la a ajudá-lo.
Ela não era um de seus homens, não era um Peaky Blinder; mas era uma mulher de sangue incontestavelmente frio para fazer o que ele precisava que fosse feito. Naquele momento, era sua melhor chance.
━ Eu estou confiando a minha vida a você, não estou?
━ Talvez você pense que não vale tanto assim ━ Edith retrucou, dando de ombros, vendo Thomas balançar a cabeça levemente. ━ Suma da minha frente, antes que eu atire em você ao invés de algum deles. Eu posso cair em tentação a qualquer momento.
Finalmente, Thomas saiu do beco. Edith ouviu seus passos se distanciando, e aguardou alguns segundos para sair do beco. Abotoou o casaco por completo e retomou a caminhada pelas ruas de forma tranquila, enquanto o homem que antes a acompanhava conversava com os dois outros, dando a desculpa de que iria na frente para esvaziar o bar. Edith evitou olhar para eles; na maioria dos casos, não havia nada melhor do que agir como alguém que sentia medo. Essas pessoas eram ignoradas, e era o que ela precisava.
Novamente, ela se arrependia de ter aceitado o convite para o almoço. Aquilo só serviu para gerar estresse. Agora estava com uma das armas de Thomas Shelby presa à cintura, a caminho do bar onde alguém certamente morreria.
Um prato de comida não valia tanto assim.
Thomas Shelby a devia muito mais do que um almoço. Ela não se esqueceria daquilo.
━ Deveria ter me dado pelo menos a porra de uma boina ━ ela resmungou para si mesma, sentindo um arrepio subir devido ao metal gelado da arma em sua cintura. Quando os dois homens adentraram o bar, Edith também se aproximou, caminhando devagar pela calçada.
As ordens de Thomas não haviam sido exatamente claras. Edith não entendia bem o que ela deveria fazer; Shelby disse que deveria apenas apontar a arma para os homens caso saíssem dali, mas se eles também estivessem armados – e ela tinha certeza de que estavam –, ela teria que atirar antes. E então, estaria em mais problemas, agora com os homens do Exército Republicano Irlandês. Tudo por culpa de Thomas Shelby.
E ela duvidava que ele limparia a bagunça que poderia causar. Duvidava que ele moveria um dedo para livrá-la dos problemas em que a incluiu. Edith quase conseguia ouvir a risada de Albert ecoar em seus ouvidos; enquanto a observava do inferno, ele deveria estar se divertindo bastante.
Com um suspiro, ela descansou o corpo contra a parede do bar, observando a rua vazia. Não conseguia ouvir nada do que acontecia no interior do bar, o que deveria ser um bom sinal; mortes e brigas não costumavam ser silenciosas, e venenos não agiam tão rápido. Então, Edith ouviu um tiro.
Seu corpo gelou, e com os dedos levemente trêmulos, puxou a arma da cintura e a destravou. Não sabia se deveria entrar; não foi o que Thomas havia mandado, mas talvez fosse o que ela deveria fazer. Ela não sabia quem havia disparado o tiro, mas esperava que tivesse sido Tommy. Contou até cinco, segurando a arma adequadamente, e quando estava prestes a tocar na maçaneta do Garrison's, sentiu mãos envolvendo seus braços.
━ Cacete! ━ ela exclamou, virando-se de repente para encontrar quem a segurava. Quando se deparou com um grupo de policiais, seus olhos se arregalaram em horror; seria aquele seu fim? Sendo presa por um crime que ainda não havia chegado a cometer? ━ Me soltem!
Um deles abriu a porta do bar, entrando com calma. Sem soltar Edith, outro fez o mesmo, levando-a consigo. O terceiro seguiu os outros, e dentro do bar, todos foram tomados pelo choque e a ânsia devido à cena que encontraram; Thomas Shelby tinha sangue nas roupas, e respirava ofegante apoiado contra a bancada do Garrison's. Ao seu lado, Grace não estava muito diferente, mas o que causava mais horror era o que havia no chão.
Dois corpos. Um havia sido morto por um tiro. Uma morte limpa. O outro estava irreconhecível, com o que um dia foi sua cabeça estando esmagada por completo contra o chão. Ao seu lado, um penico de metal estava ensanguentado nas extremidades, e se forçasse os olhos, Edith conseguiria ver pedaçosda carne. Ela engoliu em seco, desviando rapidamente o olhar da visão brutal e repugnante. Quando o fez, viu nas mãos de Grace um revólver.
━ Encontramos essa moça armada do lado de fora ━ um dos oficiais disse, após segundos torturantes de silêncio em meio aos corpos.
━ Vocês deveriam ter aparecido na sexta badalada ━ Thomas respondeu, com a voz rouca e exasperada, olhando para os policiais. ━ Soltem-na.
━ Ela estava com a arma destravada e prestes a entrar no bar. Deve estar com eles.
━ Ela estava com a porra da arma destravada porque estava fazendo o trabalho que mandei fazer, porque vocês não foram capazes de aparecer na sexta badalada. Soltem ela ━ Thomas repetiu, com um tremor em sua voz, dando um passo em direção a eles. A contragosto, os oficiais obedeceram, soltando-a de forma brusca. Edith engoliu em seco ao olhar para baixo e ver o sangue no chão sob seus sapatos. Evitou voltar o rosto para a origem daquele sangue, e ouviu a voz de Thomas continuar: ━ Eles não aceitaram se render. Lutaram de forma honrada.
━ Parece que foram mortos por um animal selvagem ━ o oficial mais corajoso ousou dizer, aproximando-se de Thomas, que agora encarava um ponto fixo na parede, tentando se acalmar. ━ Mas tudo bem, isso nunca aconteceu. Vocês nunca estiveram aqui.
Quando Edith subiu os olhos para encará-lo mais uma vez, o encontrou de uma forma que nunca havia visto. Ele parecia tão aterrorizado quanto ela, mas por seus próprios atos.
━ Tire os corpos daqui.
━ Claro. Antes que deixe as moças incomodadas ━ o policial respondeu, sinalizando para que os outros dois se juntassem para tirar os corpos. Edith observou enquanto levantavam o primeiro, o menos destruído, carregando seu corpo como se não fosse nada.
Quando saíram, Preston olhou para Thomas e Grace.
━ Eu não vi os três se aproximando. Ouvi o tiro e pensei se deveria entrar ━ ela contou, com a voz baixa. ━ Foi quando eles apareceram. Eu não sabia que estava com eles, Tommy. Já me disseram que vocês não trabalham com a polícia.
Sem aguardar uma resposta, ela caminhou em passos lentos até estar atrás do balcão. Pegou uma garrafa de uísque nos armários e abriu, pegando um copo sobre a pia, sem se importar se estava limpo ou não. Serviu uma grande dose e deu um pequeno gole, encarando a torneira à sua frente.
━ Grace deu o tiro e você fez o resto ━ ela continuou a dizer. ━ Mas não houve luta. Eu não ouvi nenhum combate.
━ Eu não sabia que estava lá fora ━ Grace respondeu, com a voz tão baixa quanto.
━ Eu sabia que você estava aqui dentro ━ Edith retrucou, dando mais um gole. ━ Você também matou o outro. Aquele cuja morte fez esses dois aparecerem.
━ Chega, Edith ━ Thomas murmurou.
━ Vá se foder, Tommy ━ ela mandou, olhando para as costas do homem por cima de seus ombros. ━ Eu não estou julgando. Se Grace matou dois deles, deve ter motivos, e eu não sou ninguém para dizer se são motivos bons ou ruins. Mas ela matou. O primeiro, há algum tempo, e o segundo, agora.
Grace olhava para o chão. Assim como os outros dois, estava horrorizada; era provavelmente a primeira vez que via algo tão violento. Ela não havia visto apenas o resultado final, como Edith; ela havia visto todo o processo. Talvez por isso Thomas parecesse se sentir tão culpado.
━ Eu estou indo para a minha casa ━ a modista anunciou, terminando com o conteúdo do copo. Fechou a garrafa novamente, mas não a guardou no armário onde estava. Segurou-a firmemente entre os dedos, e caminhou até a porta. ━ E vou levar o uísque.
━ Espere ━ Thomas pediu, vendo-a se aproximar da porta.
━ Não vou ficar aqui com essa bagunça ━ ela retrucou, indo para o lado de fora. Não demorou até ouvir os passos de Thomas atrás de si, mas não o olhou, agora com a atenção presa nos oficiais de polícia, que conversavam ao lado de um saco preto. ━ O que aconteceu lá dentro?
Ele parou ao seu lado.
━ Grace atirou. Eu não entendo por quê.
━ Ao menos, dessa vez você tem certeza de que não fui eu.
━ Eu fiz o resto.
Edith assentiu.
━ Certamente.
Thomas a olhou.
━ Você viu quem eu sou agora.
━ Não estou impressionada ━ a mulher deu de ombros, com a voz sem emoção. ━ Você nunca tentou esconder. Não de mim.
Apenas de Grace. A doce e inocente Grace, que não deveria conhecer os horrores do mundo. A ingênua Grace, que atirava e matava homens por motivos ainda desconhecidos.
━ Eu diria que você me deve um almoço. É tudo que tenho pensado durante toda a tarde ━ ela contou, rindo pelo nariz sem achar a menor graça. ━ Mas você acabou totalmente com o meu apetite por hoje. Me dê um cigarro.
Em silêncio, ele alcançou um cigarro e o estendeu para Edith, que não demorou a levá-lo até os lábios. Tomou o isqueiro da mão de Tommy e o acendeu, antes de devolver o objeto para o dono, e então fechou os olhos. Tragou profundamente e os abriu.
━ Até mais, Tommy.
Ele comprimiu os lábios em uma linha, vendo-a se distanciar.
━ Eu devo um almoço a você.
Ela balançou a cabeça para os lados.
━ Você me deve muito mais do que isso.
capítulo com quase 7.000 palavras, que eu fiz a proeza de escrever em dois dias!! ainda bem que eu tava triste com algumas coisas e queria me distrair, ou teria demorado um pouco mais pra escrever.
muito obrigada pela recepção da fanfic! os comentários estão aumentando, continuem assim que eu fico muuuito feliz, e adoro saber seus pensamentos e opiniões sobre a história e os personagens ♡
vejo vocês no próximo capítulo!
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