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𝟬𝟱. ALIANÇA.

CAPÍTULO 05 | ALIANÇA

THOMAS SHELBY DIVIDIA OPINIÕES em Small Heath, mas uma coisa que ninguém podia discordar era que desacatar aquele homem era sempre um erro. Ainda assim, aos olhos de alguns dos moradores do bairro, o homem não era tão ruim quanto demonstrava, afinal, ele os mantinha seguros e nunca buscava por problemas com os vizinhos, desde que eles não se metessem no seu caminho. Ele os ajudava a apostar em corridas de cavalo e devolvia o dinheiro quando os cavalos em que apostavam perdiam, lucrando apenas sobre aqueles que não eram de seu convívio, e por mais estranho que fosse, em sua única e peculiar maneira, Thomas prezava por uma boa convivência.

Ele não concordava sobre “não ser tão ruim”. Não, para Tommy, ele era tão ruim quanto aparentava e ainda mais. No entanto, ele não era o ser sem sentimentos que parecia ser durante a maior parte do tempo — ele desejava que fosse, porque tornaria todo seu trabalho mais fácil —, e era capaz de perdoar erros e seguir em frente. Por isso, quando foi ao ateliê de Edith Preston e a ouviu falar sobre como não se sentia segura em Small Heath e sobre a forma com que havia precisado se refugiar na casa de vizinhos quando os policiais arrombaram a porta de sua casa e estragaram a tranca, ele decidiu tomar providências, mesmo que a mulher não fosse muito fácil de lidar. Ele também não era.

Thomas acreditava que estava começando a entendê-la. Após Edith repetir tantas vezes sobre seus medos e inseguranças, ele começou a captar a verdade em suas palavras; ela ainda não se arrependia do crime cometido, mas certamente, não planejava cometer outros. No fim das contas, ele percebeu que Edith era apenas uma mulher assustada e desesperada que, assim como ele, fazia de tudo que podia para sobreviver.

━ Acho que ela não vem mais, Tommy ━ Curly disse, vendo Thomas fumar um cigarro calmamente, enquanto aguardavam na rua da casa da mulher. ━ Já estamos aqui há quase uma hora.

Porra ━ Arthur murmurou, impaciente e estressado, passando uma das mãos pelo cabelo. ━ Eu vou para a minha casa. Já chega.

Thomas olhou para o irmão, soprando um pouco de fumaça, e então olhou para Curly, um velho amigo da família que cuidava de seus cavalos. Ele os avaliou por alguns segundos, antes de balançar a cabeça negativamente, sinalizando para que Arthur não fosse embora. Naquela noite, quando os moradores de Small Heath ainda estavam na fogueira queimando os retratos do rei, ele havia designado a Curly a simples tarefa de consertar a porta da casa em que Edith morava, danificada durante a invasão da polícia a mando do novo inspetor; entretanto, após o trabalho feito, o líder dos Peaky Blinders já começava a se arrepender de ter sido tão paciente e bondoso com a modista, que não era encontrada em lugar algum.

━ Não, Arthur ━ ele disse, com a voz baixa, e estendeu uma mão para Curly, que o entregou a nova chave da porta de Edith. ━ Eu e você vamos à igreja.

Era o único lugar em que Edith poderia estar, e certamente, acompanhada de John Shelby, que era tão imprudente quanto à mulher. Thomas gostaria que a modista, que sempre ignorava seus conselhos — e ameaças—, entendesse de uma vez por todas que tudo o que ele desejava fazer era ajudá-la; o líder dos Peaky Blinders não tinha problemas com pessoas o contrariando, afinal, os Shelby não tiveram o luxo de crescerem mimados, mas Tommy definitivamente tinha problemas com aqueles que ousavam atrapalhar seus planos, e era o que Edith — que embora não soubesse do que se tratavam os planos já havia sido avisada para sair do caminho — estava fazendo.

━ Você quer rezar agora?

━ É, porra, eu estou indo rezar ━ Tommy respondeu, com sarcasmo na voz, entrando no carro estacionado na rua e ligando-o. ━ Não, Arthur. Nós vamos impedir que o nosso irmão idiota se case com aquele demônio.

━ Tommy ━ Curly arregalou os olhos, surpreso, e o mais novo seguiu inexpressivo conforme Arthur soltou uma risada baixa e subiu no banco do carona.

━ Você não a conhece, Curly. Essa mulher com quem John quer se casar… ━ ele disse, jogando o cigarro que fumava no chão. ━ Você já domesticou éguas selvagens mais dóceis do que Edith.

Curly deu de ombros, ainda incerto, e franziu o cenho levemente enquanto observava os irmãos Shelby se preparando para partir.

━ Você sabe o que eles dizem, Tommy. Devemos temer o amor de uma mulher mais do que o ódio de mil homens ━ ele falou, e Arthur uniu as sobrancelhas, revirando os olhos. ━ Se eles estão apaixonados, não sei se…

━ John se casaria com a porra de uma vassoura se ela pudesse cuidar dos filhos dele e ficasse bonita de saia ━ foi a vez do irmão mais velho dizer, também contrário ao noivado recém-descoberto. ━ Vamos logo, Tommy, o que é que você está esperando?!

Tommy assentiu, limpando a garganta e olhando para Curly uma última vez antes de arrancar.

━ Você pode ir para casa, Curly. Obrigada pelos serviços.

Curly balançou a cabeça negativamente enquanto os outros dois se distanciavam, rumo à igreja, e por fim soltou um suspiro, decidindo dar-lhes as costas e ir embora. Ele já havia trabalhado para a família Shelby por tempo o suficiente para saber que, quando um deles botava algo na cabeça, era impossível fazê-los mudar de ideia.

━ E se eles já estiverem casados quando chegarmos lá? ━ Arthur murmurou, observando as ruas vazias enquanto o irmão dirigia o veículo.

O mais novo passou a língua pelos dentes, levantando as sobrancelhas de forma quase imperceptível ao responder:

━ Vão continuar, até que a morte os separe.

Arthur passou uma das mãos pelo rosto, sentindo-se frustrado.

━ Eu. Você quer dizer até que eu a mate e os separe ━ ele concluiu, com a voz baixa. ━ Antes que ela mate John.

Thomas o olhou pelo canto dos olhos.

━ Ela só matou um marido, Arthur.

━ Ela só teve um, porra, o próximo pode ser o John.

Arthur Shelby era violento. Ele era brutal e sua mera presença fazia muitos homens se esconderem. Sua figura alta e esguia era intimidante e ele era facilmente lembrado pelas barbaridades que já havia cometido desde seu retorno da guerra. Ainda assim, o homem se assustava com Edith, uma mulher que deveria ser ao menos quinze centímetros mais baixa do que ele e que dificilmente ultrapassava os cinquenta quilos.

Thomas achava aquilo cômico. Arthur poderia acabar com a vida de Edith em alguns segundos, antes que ela pudesse pensar em dizer alguma coisa. Mas não; ele sentia-se apreensivo toda vez que ela estava por perto, como se por trás de toda sua fachada, ela estivesse tramando um plano para acabar com ele antes. Se Thomas Shelby não simpatizava com Edith Preston, era certo dizer que Arthur Shelby a odiava, e sabendo disso, o irmão mais novo decidiu se divertir um pouco no caminho:

━ Escute, Arthur. Eu preciso que John se case com a garota dos Lee ━ ele iniciou, num tom de voz sério, e Arthur assentiu em concordância. ━ Mas Edith quer se casar. Pode ser que ela insista em se casar com um de nós, e nós vamos tirar John dela, mas sabemos que ela é uma mulher perigosa. Nós vamos ter que acalmá-la ━ continuou, com o rosto impassível, sendo ouvido atentamente pelo irmão. ━ Então, talvez você precise se casar com ela.

Os olhos de Arthur foram arregalados de imediato, enquanto Thomas voltou a atenção para as ruas, agora estacionando o carro em frente à igreja e descendo do mesmo.

━ O quê?! Tommy, porra, você enlouqueceu? Eu não vou me casar com aquela bruxa ━ Arthur exasperou, unindo as sobrancelhas sobre seus olhos arregalados e encarando Tommy, que estacionou o carro em frente à igreja. ━ Eu vou matar Edith assim que nós a encontrarmos, porra. E aquele padre também. Porra, eu vou matar você, se tiver que me casar com ela.

Thomas abriu um mínimo sorriso enquanto os dois desceram do carro, vendo Arthur tirar uma arma do coldre preso à cintura, e agarrou um dos braços do irmão enquanto seu rosto retomava uma expressão séria.

━ Sem mortes na igreja. Polly não iria gostar de saber ━ ele disse, e o mais velho bufou ao guardar a arma.

Juntos, eles adentraram a igreja na noite escura, encontrando o local praticamente vazio iluminado por diversas velas. Caminhando pelo tapete que se estendia desde a entrada do local até o altar, Thomas foi capaz de identificar a presença de poucas pessoas no casamento que estava, de fato, sendo realizado. Ele parou e observou por um momento, ainda despercebido; John usava um de seus novos ternos, feitos por Edith, que por sua vez, usava um vestido azul claro com bordados delicados. Nas pressas em que os dois se organizaram para trocar as alianças, Edith nem mesmo possuía um véu, e John não se importou o suficiente para engraxar os sapatos. O padre que realizava a cerimônia lia algo em voz baixa, e ao lado dos noivos, estava Ada.

Thomas revirou os olhos ao encontrar a irmã mais nova ali, envolvida nos esquemas de John e Edith, e sua antipatia pela mulher aumentou; ela não apenas estava agindo por suas costas, como também estava envolvendo toda sua família em um circo.

━ Se o pequeno Finn aparecer aqui para trazer a porra das alianças, eu vou fechar os meus olhos e atirar duas vezes em direção ao altar ━ ele anunciou, chamando atenção para sua presença, e voltou a caminhar pela igreja, alcançando os noivos. ━ Você ia se casar sem convidar os seus irmãos, John?

━ Vocês claramente não precisam de convites ━ Edith murmurou, encarando Thomas e Arthur.

━ Eu sei o que eu estou fazendo ━ John retrucou, lançando um olhar desagradável para o irmão. ━ Você não é a porra do rei, Tommy, e não decide se eu posso ou não posso me casar.

━ Você pode se casar. Você não pode e não vai se casar com ela ━ Thomas corrigiu, tombando a cabeça para o lado levemente, apontando para Edith. Então, ele olhou para a irmã. ━ Ada, vamos para a casa. Você não deveria estar aqui, para começo de conversa.

Ada cruzou os braços, sem se mover do lugar, e Arthur caminhou até a mais nova e a puxou, obrigando-a a se levantar e sendo estapeado no processo.

━ Arthur! ━ ela exclamou, indignada, enquanto ele a puxava para longe dos bancos da igreja.

━ Senhores, nós estamos no meio de uma cerimônia e… ━ o padre tentou intervir, assustado com a interferência na realização do casamento.

━ Como acontece um casamento sem noiva? ━ Thomas indagou, inexpressivo, e Edith uniu as sobrancelhas. Então, o blinder olhou para o irmão mais velho, antes de discretamente olhar para John. ━ Tire ele daqui. Eu cuido da senhora Wilson.

Ao ouvir a ordem de tirá-lo dali, John tirou uma arma da cintura, destravando o gatilho e atirando próximo a um dos pés de Arthur quando o mesmo fez menção de se aproximar, acertando o chão. Edith gritou e pulou para trás, tendo o corpo envolvido por Thomas, que a puxou para longe do altar.

O padre arregalou os olhos diante de toda a cena, enquanto Ada se enfiava entre os dois irmãos que se desentendiam, tomando a arma de John para que o mesmo não fizesse nada de que fosse se arrepender depois, ao mesmo tempo em que entrava em sua frente para defendê-lo de qualquer possível ataque de Arthur, ainda mais estressado após quase ser atingido.

━ Por Deus, vocês estão na casa do Senhor!

━ Vamos resolver isso lá fora, na calçada do Senhor ━ Thomas anunciou, puxando Edith para fora da igreja enquanto os outros três discutiam. ━ Aqui dentro, é uma briga de família. E por pouco, Edith não faz parte dela.

Enquanto a mulher esperneava e praguejava, Thomas se esforçava para não deixá-la escapar. Quando finalmente chegaram na porta da igreja, a modista virou o rosto e mordeu um dos ombros do gângster, que a soltou bruscamente, sentindo o sangue ferver.

━ Porra ━ ele resmungou, passando uma das mãos pela testa num movimento rápido, e agarrou a mulher pelo braço novamente, com força, encarando-a nos olhos: ━ Eu vou ser bem claro com você, Edith, e essa vai ser a última vez que eu vou dizer alguma coisa a você sobre a porra desse casamento ━ anunciou, com a voz mais alta de costume. ━ Você está me ouvindo? Sim?

Ofegante, ela elevou as sobrancelhas.

━ Sim, porra, eu estou te ouvindo ━ retrucou, exasperada, puxando o braço de volta.

Thomas Shelby respirou fundo e comprimiu os lábios numa linha fina, pousando os olhos levemente arregalados sobre a mulher insatisfeita à sua frente.

━ Eu já me cansei de ser paciente com você, senhorita Preston. Se eu precisar entrar em mais algum embate com você, não é a porra da minha voz que você vai ouvir ━ ele avisou, lentamente, como se explicasse algo a uma criança. ━ Você vai ouvir o som de um disparo. E essa vai ser a última coisa que vai ouvir.

Thomas não se importaria que Edith se casasse com John em outras circunstâncias; os dois que se fodessem sozinhos, ele não se intrometeria. Mas bom, ele já tinha planos para o irmão mais novo, e um casamento havia sido marcado para estabelecer uma união com a família Lee. Edith não iria atrapalhar seus arranjos e piorar a relação que já não era amigável entre as famílias.

Com a falta de resposta de Edith, ouvindo os irmãos ainda discutindo no interior da igreja, Thomas subiu no carro e o ligou, olhando para a mulher insatisfeita.

━ Entre no carro ━ ele mandou. ━ Eu vou deixar você em casa.

━ Eu prefiro passar a noite na igreja.

━ Entre no carro, ou eu vou passar com ele por cima de você ━ Thomas voltou a dizer, agora menos paciente. Edith suspirou, dando-se por vencida, e entrou no automóvel, cruzando os braços. Ele a olhou pelo canto dos olhos. ━ Se você quer se casar tanto assim, eu vou arranjar um noivo para você, porra. É isso o que você quer? Você não conhece o Johnny Dogs, conhece? Bom, ele está precisando de uma esposa.

Edith não respondeu de imediato. Com as sobrancelhas unidas e a testa enrugada, ela encarou Thomas entediada por alguns segundos, antes de desviar o olhar para a rua, sentindo-se frustrada pela derrota.

━ Você fica a maior parte do tempo em silêncio, e quando eu quero que você cale a boca, você fica falante ━ ela resmungou, observando as casas escuras. ━ Me deixe ficar quieta, porra.

Ele segurou o ímpeto de soltar um suspiro. Aquela era a primeira vez que uma mulher o causava tantos problemas, e ele não sabia como agir. Matá-la seria ir longe demais, até mesmo para ele, e Thomas não machucava mulheres, e era aquele o principal motivo pelo qual ele preferia que mulheres passassem longe dos assuntos dos homens: para que ele não precisasse matá-las em confrontos. Dirigindo devagar, em silêncio, eles levaram alguns minutos para chegarem até a casa da mulher, que franziu o cenho ao perceber a nova tranca da porta.

A mulher desceu do carro com cuidado, sentindo os sapatos afundarem levemente na lama, e caminhou até a porta com o rosto confuso, lançando um olhar desconfiado para o gângster. Thomas desceu em seguida, puxando a chave de dentro de um dos bolsos e estendendo-a em direção a Edith.

━ Você disse que estava com medo e que queria proteção. Eu mandei consertar a sua porta,  e você fugiu para se casar com meu irmão ━ disse, vendo-a aceitar a chave e destrancar a porta com cuidado. ━ Eu tenho uma cópia, apenas para que você saiba. Se continuar me atrapalhando, você não vai me ouvir entrar.

━ Vou ouvir apenas o disparo ━ ela resmungou, revirando os olhos, e entrou na casa. ━ Eu já sei. Você já disse.

Um dos pés de Thomas interceptou a porta quando Edith tentou a fechar; ela subiu os olhos para o homem, erguendo as sobrancelhas, e abriu a porta mais uma vez, soltando um suspiro impaciente.

━ O que você quer?

Por alguns segundos, Thomas a observou com os lábios entreabertos e as sobrancelhas arqueadas, antes de umedecer os lábios com a língua discretamente e apontar para o interior da casa de Edith.

━ Eu vou entrar na sua casa, e vou me sentar à mesa. Você vai me oferecer um pouco de uísque, rum, ou qualquer coisa que você tiver aí dentro ━ ele iniciou, com a voz baixa, vendo-a unir as sobrancelhas em desagrado. ━ Você vai beber comigo. Vai responder às minhas perguntas, e nós vamos resolver as nossas diferenças.

Comprimindo os lábios em uma linha fina, ela liberou a entrada do homem, fechando a porta atrás dele e acendendo a lâmpada fraca para iluminar os pequenos cômodos em que habitava.

Entender as mulheres era difícil, mas entender Edith Preston era ainda pior. Thomas estava cansado de se sentir daquela forma, confuso quanto à mulher que havia se tornado um assunto recorrente em seus dias devido a capacidade para se envolver em problemas. Ela não parecia estar disposta a criar problemas para eles, mas não ligava de fazer aquilo para resolver os seus próprios. Seu passado era um mistério ao mesmo tempo em que havia sido exposto para ele, e enquanto Thomas sabia de seu segredo, não sabia de suas motivações. Ele sabia o que Edith temia, mas não compreendia o que ela queria e precisava. Ele conseguia entender o que ela pensava, mas não prever o que planejava.

Agora, Thomas estava decidido a não sair dali sem respostas. Ele resolveria seus problemas com a modista naquela noite, ou não os resolveria nunca mais.

━ Os seus irmãos ainda estão na igreja ━ Edith lembrou, vendo Thomas sentar-se na cadeira próxima à mesa, despreocupado.

━ Os meus irmãos são todos adultos e vão se virar. Eu e você estamos ocupados agora ━ ele retrucou, retirando a boina e deixando-a sobre a mesa. ━ O que vamos beber, Edith?

Ela soltou um suspiro, abrindo uma das portas do armário de madeira, e tirou uma garrafa de vidro contendo um líquido vermelho escuro de dentro.

━ Licor de amora.

Ele assentiu, vendo-a colocar um copo à sua frente e servir um pouco.

━ Você fez?

━ Sim. Antes de me mudar.

Então, ela abriu a porta que levava até o ateliê e caminhou por sua extensão até chegar ao balcão, pegando a cadeira que ficava atrás do mesmo e retornando para a cozinha, sentando-se em frente ao quase-cunhado, do outro lado da mesa. Em silêncio, serviu um pouco de licor em um copo para si mesma, dando um gole no líquido doce e fechando a garrafa em seguida.

Ela e o homem se encararam em silêncio por alguns segundos, perdidos em seus próprios pensamentos e julgamentos. Enquanto Edith sabia que Thomas tinha dificuldades para entendê-la, ela acreditava também que suas preocupações, desejos e necessidades não poderiam ter sido deixadas mais claras. Aquela seria sua última oportunidade para fazê-lo compreender, ela sabia; Thomas Shelby estava cansado de insistir, e não iria propor acordos amigáveis novamente. Havia sido seu erro não aceitar suas ordens de início, mas era a forma que o medo operava guiando suas ações.

A frustração era quase palpável. Ela era uma mulher esperta, mas agora, precisava aceitar finalmente que não havia como combater Thomas Shelby; quando achou que estava passos à sua frente, indo até a igreja para um casamento secreto, ele apareceu antes que pudesse trocar as alianças com John.

━ Quem é ela? ━ ela indagou, após alguns segundos. ━ A mulher com quem você quer casar John.

━ Uma garota cigana ━ ele retrucou, dando um gole em seu licor. ━ Faz parte da família Lee.

━ Já ouvi falar sobre eles ━ ela murmurou, sem dar muita atenção. Nada sobre aquele assunto iria mudar algo em sua vida; tudo o que desejava era sanar a curiosidade. ━ Por que você não se casa com ela?

Thomas a encarou.

━ Porque ela tem a idade de John, e é ele quem quer uma esposa.

Edith assentiu em silêncio, com o dedo indicador circulando a boca do copo à sua frente de forma distraída e entediada.

━ E se ela quisesse se casar com você?

━ Eu não devo nenhuma resposta a você, Edith ━ Thomas lembrou, vendo a mulher revirar os olhos. ━ Não confunda minha cortesia com obediência.

Cruzando as pernas, Edith alcançou um cigarro sobre a mesa e o acendeu, levando até os lábios e dando um longo trago enquanto fechava os olhos, permitindo que aquela ação a relaxasse momentaneamente. Balançando um dos pés, ela soprou um pouco de fumaça, abrindo os olhos e observando o teto.

━ As chances da sua família me matar ou me entregar às autoridades diminuiriam se eu estivesse casada com John. Você quer que ele se case com a garota Lee para completar o seu plano, e eu queria me casar com ele pelo mesmo motivo ━ ela disse, com a voz baixa, e sorriu de si mesma, balançando a cabeça negativamente enquanto seu sorriso diminuía aos poucos. ━ Você não sabe como é viver com medo. Como é ter tanto medo a ponto de escolher se entregar a alguém para sanar um pouco do desespero. Você não me julgaria tanto se soubesse.

Thomas ajeitou a postura na cadeira, balançando a cabeça para os lados.

━ Pelo pouco que conheço sobre você, senhora Wilson, eu te fiz um favor. Você não me parece o tipo de mulher que gostaria de ser casada com John ━ ele retrucou, e a mulher o observou. ━ Martha passou a maior parte do tempo que eu a conheci grávida dos filhos dele. Você gosta de crianças?

━ Quando são filhos dos outros, sim ━ ela respondeu, sem se importar muito.

Thomas assentiu, com um sorriso quase imperceptível, e então franziu o cenho levemente.

━ Por quanto tempo foi casada, senhora Wilson?

━ Não me chame assim ━ ela pediu, com a voz baixa. ━ Por sete anos.

━ Sete anos ━ ele repetiu, impressionado, balançando a cabeça levemente. ━ E nunca teve filhos.

Thomas acreditava que havia algo de incomum no ar da madrugada. Talvez fosse o silêncio, a calmaria que geralmente era trazida naquele horário, quando todas as pessoas já estavam cansadas o bastante para fazer outras coisas além de dormir. Era uma espécie de tranquilidade que, muitas vezes, fazia-o sentir ansioso, como se algo fosse dar errado a qualquer momento, mas que o incentivava a aproveitar cada segundo até que aquilo acontecesse.

Conversar com Edith era algo parecido com aguardar que uma bomba destruísse tudo ao seu redor. Aquela era a primeira vez em que os dois tinham uma conversa civilizada, sem ameaças ou insultos, e dizer que aquilo seria duradouro parecia um equívoco. Mas, enquanto a bomba não explodia, Thomas deveria aproveitar e entender cada detalhe sobre ela, para saber como a desarmar.

━ Existem formas de evitar isso ━ ela respondeu, inexpressiva, e Thomas assentiu devagar. ━ Eu me casei aos dezessete anos, Thomas. Sei que é o que deve estar pensando.

Ele estava chegando onde queria chegar. Onde sentia que precisava chegar.

━ E o seu marido?

━ Ele tinha a idade que tenho hoje. Vinte e quatro anos ━ respondeu, voltando a tragar o cigarro enquanto franzia o cenho. ━ Eu não o conhecia muito bem, mas as nossas famílias eram amigas e ele tinha um bom terreno. Eu não tinha muitas opções.

Balançando a cabeça em concordância, ele uniu as sobrancelhas levemente, lembrando-se de algo que a mulher havia lhe contado em outra ocasião.

━ Você me disse que ele apostou sua égua e perdeu.

━ Ah, ela era linda. Uma Hackney, eu mencionei? ━ indagou, com um sorriso, e ele assentiu. Ela riu pelo nariz, balançando a cabeça para os lados devagar. ━ Eu deveria ter matado Albert quando perdi minha doce, linda e forte Fortuna por culpa dele. Teria me poupado de muitos problemas.

A expressão no rosto de Thomas oscilou por um breve momento, conforme a fala de Edith rapidamente tomou um rumo sombrio. Ele logo se recuperou, abrindo a garrafa de licor na mesa e servindo mais um pouco em seu próprio copo, dando um longo gole, em silêncio, enquanto observava a mulher apagar o cigarro. Devagar, ele uniu as sobrancelhas.

━ O que Albert fez com você, Edith?

Ela ignorou a pergunta nos primeiros segundos, encarando a garrafa de licor. Tocar naquele assunto era algo que ela não gostava; ao longo de seu casamento, Edith Preston havia se queixado algumas vezes a pessoas próximas, mesmo seus familiares, sobre os problemas enfrentados com o marido, sem nunca receber auxílio ou atenção. Agora, ali estava Thomas Shelby, o homem que já havia ameaçado incendiar seu ateliê, pedindo para que ela lhe contasse. A vida era mesmo engraçada, ela pensou. Como uma piada cruel.

━ Você conhece bem os instintos violentos dos homens, Thomas ━ ela murmurou, mexendo o corpo na cadeira de forma desconfortável. ━ E eu suportei os de Albert por um tempo, pensando que talvez o problema fosse eu, até que me cansei.

Se Edith pudesse ignorar, pelo resto de sua vida, tudo o que havia vivenciado nos últimos sete anos do momento em que se casou até se tornar uma viúva, ela o faria sem pestanejar. Mas Albert Wilson havia prometido assombrá-la, e aquela era uma das poucas promessas que o homem demonstrou ser capaz de cumprir.

Não havia como fugir e não havia como se esconder de um homem morto. Então, naquela madrugada, ela decidiu parar de tentar. Lutar contra o fantasma de seu marido não estava funcionando, então talvez a resposta fosse o encarar, relembrar de suas ações, suas falas, seus erros.

━ Eu não queria nada de Albert. Não quis seus filhos, não quero seu sobrenome, não quero a casa em que nós morávamos ━ ela continuou, cerrando os dentes levemente antes de dar um gole em seu licor. ━ Eu só quero que ele vá para o céu para que nós dois não nos encontremos no inferno.

O homem comprimiu os lábios, assentindo em silêncio enquanto olhava para a mulher fixamente, em uma das raras ocasiões em que não sabia o que dizer; Thomas Shelby dificilmente perdia a fala, e seus momentos de silêncio eram sempre voluntários. Sabendo da verdade por trás do assassinato do marido da modista, compreender seu comportamento, suas ações e suas falas tornava-se algo fácil. Tommy aprendeu, naquela noite, que Edith Preston não era uma assassina porque queria; ela se tornou uma porque foi o que precisou fazer para sobreviver à violência de um homem que deveria protegê-la acima de tudo.

Após alguns segundos, Tommy limpou a garganta, tirando a boina e apoiando-a sobre a mesa da cozinha. Ele era um homem perigoso, e estava acostumado a lidar com homens tão perigosos quanto si mesmo, homens desprezíveis, que cometiam os mais diversos tipos de crimes em busca de poder e riquezas. Mas existiam algumas coisas que, até para ele, não deveriam ocorrer, e a violência doméstica era um item presente na lista, não muito grande. E aquilo poderia parecer hipocrisia; ele, afinal de contas, já havia ameaçado Edith de morte algumas vezes. Mas era essa a diferença; ele apenas ameaçava, tentando fazer com que a modista saísse de seu caminho. Se Edith fosse um homem, ele já teria acabado com sua vida no primeiro encontro.

━ Aí está a história que você e a sua família nunca ouviram, mas ainda assim, não conseguem esquecer ━ Edith falou, erguendo uma das sobrancelhas. ━ Você está satisfeito?

Novamente, Thomas comprimiu os lábios em uma linha fina, parecendo ignorá-la enquanto levava um cigarro aos lábios. Finalmente, ele levantou o rosto mais uma vez, encontrando o olhar vazio da mulher.

━ Você não precisaria ter matado Albert se vivessem em Small Heath ━ ele disse, com a voz baixa, puxando o isqueiro de um dos bolsos. ━ Faríamos isso por você.

Ele a ofereceu um cigarro, enquanto ela o encarou estática por alguns segundos. Aos poucos, seu rosto inexpressivo se transformou, com seus lábios curvando-se em um sorriso ao mesmo passo em que uma risada baixa emergiu de sua garganta e ela se inclinou para aceitar o cigarro. Thomas sorriu minimamente em seguida, acendendo seu cigarro, e ela murmurou um agradecimento.

━ Eu não me arrependo ━ ela disse, encarando-o. ━ Mas não acho que devo pagar pelo crime que cometi.

Thomas elevou as sobrancelhas levemente, assentindo devagar ao tragar o cigarro. Ele e Edith eram pessoas parecidas, aquilo já havia ficado claro desde o primeiro conflito de interesses que tiveram, mas normalmente, ambos pendiam para lados opostos. Aquela era a primeira vez em que estavam de acordo em algo; a modista havia cometido um crime, mas era inocente.

━ Você não vai pagar, senhorita Preston.

A partir daquele momento, ele se asseguraria de que Edith nunca mais fosse chamada por “senhora Wilson”.

tava bem atolada de serviço e não consegui atualizar antes, mas voltei!! O casamento não rolou por muito pouco, mas agora pelo menos o tommy e a edith estão em trégua 🤝

espero que tenham gostado do capítulo, não se esqueçam de votar e comentar! vejo vocês no próximo ❤️

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