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𝟬𝟰. MOEDA DA SORTE.

CAPÍTULO 04 | MOEDA DA SORTE

O SOM DE BATIDAS NA PORTA dos fundos do ateliê, onde se localizava a moradia de Edith, foi o suficiente para acordá-la em meio ao silêncio ensurdecedor da madrugada em Small Heath. Ela se levantou da cama devagar, enrolando o corpo em um robe de veludo azul, e pegou uma faca na cozinha antes de caminhar até a porta, confusa e curiosa sobre quem havia decidido visitá-la àquela hora da manhã.

Ela abriu uma fresta da porta devagar, com o cenho franzido, e suspirou levemente aliviada ao se deparar com John, que uniu as sobrancelhas quando a porta se abriu completamente e ele pôde ver a faca trazida pela mulher. Da faca, seus olhos migraram para o rosto da modista, passando alguns segundos nos bobes que enrolavam seus cabelos, e ele fez uma careta.

━ Eu espero que você não acorde desse jeito na nossa noite de núpcias ━ ele comentou, olhando para os lados assegurando-se de que a rua estava vazia. ━ Me deixe entrar antes que alguém nos veja juntos.

━ Eu não sei porquê você ainda está parado aí fora, não é como se eu quisesse ser vista pelos vizinhos desse jeito ━ ela retrucou, dando espaço para John entrar, e fechou a porta atrás do homem, que tomou a faca de suas mãos.

━ Você planejava se defender com isso, é? Não é inútil, mas também não é a melhor escolha ━ ele resmungou, antes de jogar a faca sobre a mesa da cozinha de forma displicente. Edith cruzou os braços, descansando as costas na porta, e franziu o cenho quando John puxou um revólver da cintura, estendendo-o em sua direção. ━ Pode ficar com esse. Eu tenho outros, você deve imaginar.

Ela assentiu, com um sorriso mínimo, e aceitou a arma do homem, observando-a com cuidado por alguns segundos antes de apontar para John, que elevou as sobrancelhas. Com uma risada baixa, Edith colocou o revólver sobre a mesa cuidadosamente, ao lado da faca, voltando a atenção para John.

━ Por que você está de pé tão cedo?

━ Nós estamos indo à feira no centro da cidade, eu e os meus irmãos. Queria saber se você precisa que eu traga alguma coisa ━ ele respondeu, passando os olhos pela simples morada da mulher e unindo as sobrancelhas. ━ Que buraco, Edith. Porra, eu preciso tirar você daqui logo!

O noivado precipitado dos dois ainda não havia ido a público pelo simples fato de que John Shelby não estava minimamente disposto a ouvir os conselhos e reclamações de sua família. Havia uma lista de coisas que ele sabia que eles iriam dizer quando soubessem: que Edith era perigosa e havia matado o último marido, que ela era uma desconhecida e não merecia sua confiança, e várias outras coisas que Polly e Thomas diziam sempre que a viam pelas ruas.

E, ainda que John fosse muitas vezes inconsequente, ele não era burro. Ele sabia de tudo aquilo a respeito de Edith, e não era o suficiente para motivá-lo a mudar de ideia. O erro estava em sua família por acreditar que ele, com toda sua fama, seria capaz de encontrar uma mulher de família, virgem, religiosa, virtuosa e entediante para cuidar de seu lar. Não, não mesmo. John Shelby poderia se relacionar com quantas mulheres quisesse, mas tratando-se de casamento, bom, a quantidade de candidatas plausíveis diminuía consideravelmente.

Eles iriam descobrir em algum momento. Ele iria contar. John não gostava de guardar segredos de sua família, mas aquela era uma situação necessária. Se eles não odiassem Edith tanto, ele teria dito a verdade desde o princípio.

━ Eu sou uma mulher solteira que tem um ateliê de costura num bairro que mais parece um bueiro, John. É claro que eu não moro na porcaria de um castelo ━ ela retrucou, revirando os olhos, e abriu os armários quase vazios. ━ Você pode me trazer legumes. Os que vendem por aqui não estão bons. E, se os seus irmãos não forem desconfiar, dois metros de renda rosa-bebê. Eu estou começando a trabalhar no meu vestido de noiva.

John abriu um meio sorriso, assentindo, e se sentou na única cadeira disponível na casa da mulher, tirando a boina e deixando-a sobre as pernas.

━ Você não mora num castelo ainda, Edith ━ ele assegurou, puxando um cigarro do maço em seu bolso. ━ Em alguns dias, nós vamos morar em um lugar melhor. Eu, você e as crianças.

A ideia fazia Edith querer rir. Ela não sabia no que havia se metido, e estava tendo dificuldades para acreditar que havia, de fato, aceitado o pedido de casamento de John Shelby num momento de loucura. Eles não se odiavam, mas também não se gostavam; eram indiferentes sobre o outro, interessados apenas no que poderiam ganhar com a união. Para ele, era uma mulher bonita, que não o julgaria por seus atos, e que poderia ajudar a criar seus filhos na ausência da verdadeira mãe. Para ela, era uma chance de salvação dos problemas que poderiam surgir como consequência de suas ações do último casamento.

Era mais um acordo político do que um casamento. Uma troca justa para os dois. Poderia funcionar desde que não criassem sentimentos reais um pelo outro; sentimentos verdadeiros os fariam enxergar os defeitos de seus parceiros e tentar mudá-los quando não queriam mudar, e se aquilo acontecesse, o relacionamento dos dois estaria fadado ao fracasso.

━ Eles propuseram um acordo a Arthur ━ John contou, após alguns segundos de silêncio, enquanto esticava o braço para jogar as cinzas do cigarro que fumava na pia. ━ Pediram a ajuda dos Peaky Blinders, para sermos os olhos e ouvidos deles por aqui. Acho que estão atrás de comunistas.

Edith franziu o cenho, sentando-se na beirada da mesa da cozinha e estendendo uma mão em direção ao noivo, pedindo por um cigarro que lhe foi rapidamente concedido.

━ Freddie Thorne e os outros? ━ ela indagou, vendo John assentir enquanto acendia seu cigarro. ━ Eu não acho que esse seja o caso. Bom, talvez esse problema esteja incluso, mas eu não sei se é o motivo principal de terem mandado um inspetor. O que Arthur respondeu?

━ Eu não faço ideia de que porra Arthur disse a eles ━ o homem resmungou, soltando a fumaça, e Edith assentiu lentamente. ━ Nós não colaboramos com a polícia, Edith.

━ Isso eu já imaginava ━ ela respondeu, passando uma das mãos pelos bobes no cabelo para se certificar de que estavam todos no devido lugar. ━ Você tem tempo para um café? Eu posso passar um agora.

John balançou a cabeça negativamente, levantando-se da cadeira, e encostou a lateral do corpo em uma das paredes.

━ A água demora a ferver ━ ele disse, tombando a cabeça para o lado levemente ao encarar a mulher. ━ Mas eu tenho tempo para uma foda, se você tirar rápido as roupas.

━ Não ━ foi a vez de Edith balançar a cabeça negativamente, soltando a fumaça, e sorriu para John. ━ Eu sou uma mulher muito romântica, John, e também sou muito exigente. A nossa primeira vez juntos não vai ser uma rapidinha na cozinha enquanto eu estiver com bobes no cabelo e você com pressa para ir à feira.

O homem comprimiu os lábios numa linha fina, aproximando-se de Edith, e soltou uma risada baixa antes de levar o cigarro aos lábios mais uma vez, olhando-a nos olhos.

━ Você está aumentando as minhas expectativas, Edith.

O sorriso da mulher aumentou, com seu olhar intercalando entre os lábios e os olhos de John.

━ É melhor você não diminuir as minhas por você. Elas são bem altas.

Os dois se encararam por mais alguns segundos, ambos fumando seus cigarros, até que Edith o deu as costas para apagar o seu na pia. John deu mais um passo em direção a seu corpo, aproximando-se por trás e apoiando uma mão em sua cintura, levando a outra até seu pescoço lentamente, fazendo com que a mulher erguesse a cabeça, antes voltada para a pia. Ela o olhou pelo canto dos olhos, virando o rosto levemente para o lado, e com uma das mãos alcançou o cigarro em seus lábios, puxando-o e vendo John soltar a fumaça.

Ela levou o cigarro até os próprios lábios, tragando-o lentamente, e o rosto de John se aninhou na curva de seu pescoço, roçando o nariz e os lábios naquela região. Edith soltou uma risada baixa e rouca, antes de apagar o cigarro do homem também.

━ Você precisa mesmo ir à feira? ━ ela sussurrou.

O romance entre os dois poderia ser falso, mas Edith Preston ainda era uma mulher com necessidades, e John parecia ser capaz de atendê-las. Se os dois estavam prestes a entrelaçar suas vidas pelo resto da eternidade e se doar um ao outro, concedendo o que precisavam e havia sido proposto, era melhor que se dessem bem e tivessem alguma sintonia.

━ Tommy e Arthur estão me esperando ━ ele confirmou, resmungando contra a pele de Edith, que se arrepiou. Após alguns segundos, ele se afastou lentamente, fazendo Edith se virar para o encarar. ━ Eu preciso ir para essa merda. Tome cuidado, sim? E não deixe a arma na mesa da cozinha.

━ Eu não sou idiota, porra, o que você está pensando?

━ Você é mesmo muito romântica, Edith ━ ele levantou as sobrancelhas, rindo levemente surpreendido pela resposta grosseira da mulher. ━ O seu ex-marido que o diga.

Ela revirou os olhos, caminhando até a porta e descansando a mão na maçaneta para abri-la, olhando para John por cima do ombro. O assunto nunca morria, ela havia percebido. O fantasma de Albert Wilson estaria sempre a assombrando, como ele havia prometido que faria.

━ Não esqueça os meus legumes.

━ Não vou esquecer, porra ━ ele retrucou, seguindo-a até a porta, e franziu o cenho levemente enquanto ajeitava a boina na cabeça. ━ Essa é uma das coisas que você vai ter que me esclarecer antes do casamento. Eu quero saber o que foi que te motivou.

Ela sorriu.

━ Está com medo de ser o próximo?

John elevou as sobrancelhas.

━ Vai me matar com a arma que te dei?

━ Não se não tiver motivos ━ Edith deu de ombros.

━ Você não tem ━ ele afirmou, ajeitando o colarinho da camisa. ━ E vai ter menos ainda quando eu engravidar você. Você não vai matar o pai do seu filho.

As sobrancelhas da modista foram arqueadas em uma mistura de incredulidade e diversão. Os homens eram mesmo seres especiais, ela pensou. John ainda nem havia se casado com ela, mas já planejava usá-la como incubadora. Ela não disse mais nada, despedindo-se do homem com um aceno enquanto ele se distanciava de sua casa, aproveitando-se do vazio da rua para não necessitar se esconder.

Ela trancou a porta mais uma vez, guardou a faca em uma das gavetas da cozinha e levou o revólver de John até seu quarto, escondendo-o sob o travesseiro após travar o gatilho. Finalmente, a mulher se deitou mais uma vez, tentando retomar o sono interrompido e descansar um pouco antes de acordar para dar início ao seu dia de forma definitiva. Sua tranquilidade, no entanto, não durou tanto quanto esperava; antes mesmo das seis e meia da manhã, estrondos foram ouvidos de seu quarto, unidos a relinchos de cavalos e gritos dos vizinhos.

Sem se permitir raciocinar muito, Edith pegou o revólver debaixo do travesseiro e correu para o ateliê, escondendo-se entre as prateleiras e rolos de tecido ao mesmo tempo em que a porta de sua casa foi arrombada. Ela se abaixou próxima a um manequim, torcendo para que a escuridão a acobertasse, e tentou conter a respiração acelerada conforme o som de suas coisas sendo vasculhadas e jogadas no chão era ouvido. Eles estavam se aproximando do ateliê, ela sabia, e não podia correr o risco de ser vista; mesmo se não fosse reconhecida por seu crime anterior, ela agora possuía uma arma, e aquilo certamente não iria alegrar os policiais.

Abrindo uma das janelas do ateliê rapidamente, Edith pulou para o lado de fora e correu até a casa ao lado, batendo na porta desesperadamente enquanto aguardava para que Elsie a atendesse. Quando a mulher abriu a porta com o bebê em seu colo, Edith se apressou em adentrar sua casa, lançando um olhar quase suplicante à vizinha.

━ Eles já estiveram por aqui? ━ ela indagou, com a respiração entrecortada após toda a ação. ━ Eu não quero recebê-los sozinha, Elsie, você precisa me deixar ficar! Eu estou com medo.

Elsie uniu as sobrancelhas, fechando a porta.

━ Eles viram o pequeno Harry e decidiram pegar leve conosco. Não devem voltar aqui, eu acredito ━ ela respondeu, com a voz baixa, e seu olhar pairou sobre a arma nas mãos da mais jovem. ━ Porra, onde você conseguiu isso?!

Edith soltou um suspiro, dessa vez sem ter o que inventar, e foi direto ao ponto:

━ Ganhei de John Shelby.

━ Eu sabia que ele não estava te encarando por acaso naquele dia que você estava indo ao cinema ━ Elsie resmungou, colocando Harry no berço, e cruzou os braços. ━ Edith, você não sabe com quem está se envolvendo… Ele vai usar você, como todas as outras.

━ Ele me pediu em casamento ━ Edith contou, dando um fim àquela discussão, e Elsie arregalou os olhos. ━ Eu aceitei.

Eles planejavam guardar o segredo por mais algum tempo, mas diante das ações recentes da polícia, Edith Preston não estava disposta a passar mais tempo desprotegida. Por isso, era importante que seu noivado viesse à tona, afinal, ninguém mexia com a porra dos Peaky Blinders; era por isso que o inspetor aguardou até que eles estivessem na feira para agir.

━ Edith… ━ a mais velha murmurou, caminhando até a cozinha e começando a preparar um chá para acalmar seus próprios nervos. Sentindo a falta do colo da mãe, Harry começou a chorar, e Edith o pegou do berço para ninar o garoto enquanto Elsie se mantinha ocupada. ━ Ele é perigoso.

━ O coração quer o que quer, Elsie.

Enquanto Edith balançava o bebê em seus braços e Elsie preparava o chá, batidas fortes foram ouvidas na porta mais uma vez, e as duas se entreolharam.

━ SENHORA DONOVAN, PRECISO DAQUELE FAVOR ━ uma voz masculina exclamou, e Edith franziu o cenho enquanto a vizinha caminhou até a porta.

━ É Freddie Thorne ━ ela explicou, antes de abrir a porta, evidenciando o homem com a camisa desabotoada, vestida às pressas. ━ Entre logo.

━ Não, eu não. É para ela ━ ele retrucou, e Elsie arregalou os olhos.

━ Jesus, é a menina Shelby ━ ela constatou, incrédula, e Edith encontrou Ada calçando as meias na porta da casa, vestindo um casaco por cima da camisola.

━ Você não a viu comigo, certo, senhora Donovan? Sirva um chá e a deixe ficar aqui até a polícia ir embora.

━ Ela é irmã daqueles Peaky Blinders diabólicos ━ Elsie se queixou, olhando para trás para encontrar Edith ainda ninando seu filho. ━ Eu não sei se é uma boa ideia ter duas delas em casa.

━ Ele é irmã deles, e no entanto, é um anjo! Vamos, Ada ━ Freddie respondeu, ignorando a segunda parte da sentença de Elsie Donovan, empurrando Ada para dentro de casa. ━ Eu terei que sair da cidade por um tempo.

Quando o homem correu para longe, escondendo-se nos becos de Small Heath, Ada Shelby finalmente adentrou a casa, e Elsie fechou a porta atrás da garota. Quando seus olhos encontraram Edith, Ada franziu o cenho, levemente confusa, e a modista arqueou uma sobrancelha.

━ Você está dando para o comunista?

Ada revirou os olhos, sentando-se em uma das cadeiras próximas à mesa da cozinha, e Edith riu baixo.

━ Não conte a ninguém, por favor.

Elsie olhou para as duas pelo canto dos olhos, colocando três xícaras sobre a mesa.

━ É injusto pedir que Edith guarde segredos do marido, Ada.

━ Edith não tem marido, senhora Donovan ━ a garota retrucou, ajeitando a camisola. ━ Eu sei bem disso.

━ Ora, isso é só uma questão de tempo ━ a dona da casa disse. ━ Nós duas sabemos que seus irmãos não são de perder tempo. Se fossem, John não teria dado um jeito de ficar noivo de Edith tão cedo.

Ada soltou uma risada, olhando para as mulheres com descrença.

━ Do que é que a senhora está falando?

━ John pediu Edith em casamento ━ Elsie respondeu, visivelmente desgostosa pela notícia, e Ada fez uma careta. ━ Estão noivos.

━ Estávamos sendo discretos ━ Edith explicou de forma sucinta, sem desejar entrar em detalhes, e continuou ninando Harry nos braços. Ada se levantou devagar, caminhando até Edith com os braços cruzados, e arregalou os olhos.

━ Ah, porra, você está com o cheiro dele. É mesmo verdade ━ ela concluiu, em choque, e abriu os lábios levemente. ━ Vocês dois enlouqueceram?!

Edith a olhou dos pés à cabeça, franzindo o cenho levemente, e decidiu mudar de assunto para preservar sua paciência ao ver que, finalmente, ela estava em vantagem.

━ Você precisa se acalmar, Ada. É por isso que não falamos nada a princípio.

Ada mal podia acreditar no que estava ouvindo. Ela sempre havia considerado John uma ameaça iminente; o irmão era imprevisível e já havia causado mais problemas com sua irresponsabilidade do que ela era capaz de contar nos dedos, mas ela nunca havia imaginado que ele pensaria ser uma boa ideia se casar em segredo com uma mulher praticamente desconhecida e confirmadamente perigosa.

Ela soltou um suspiro, voltando a se sentar enquanto Elsie a servia um pouco de chá, e observou Edith em silêncio. É claro que John ignoraria tudo que havia de errado com uma mulher tão bonita, ela pensou. Homens não pensavam muito, e John pensava menos ainda. Por mais que Ada achasse que toda a reação de sua família sobre Edith ter matado o marido fosse minimamente exagerada — para a jovem, era perfeitamente aceitável que a mulher tivesse tido seus motivos, afinal, os homens eram seres violentos e quase selvagens —, ela ainda tinha dificuldades em aceitar a ideia de seu irmão dividir a cama com uma assassina.

Mas, novamente, seus irmãos eram homens perigosos. Todos eles, até mesmo o pequeno Finn. Ada estava num conflito interno, porque ao mesmo tempo em que temia pelo irmão, temia também por Edith; John Shelby não era exatamente fácil de se conviver, e certamente não era indefeso. Por fim, a garota bufou, tentando abandonar aqueles pensamentos. Se aqueles dois psicopatas quisessem se amar ou se matar, que o fizessem. Ela não iria interferir.

━ Bem-vinda a família Shelby, Edith ━ ela resmungou, levantando a xícara de chá de forma entediada. ━ Você vai se encaixar bem.

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Horas depois, quando os policiais haviam ido embora, Edith retornou à sua casa, encontrando seus pertences revirados e o ateliê em um completo caos. Ela soltou um suspiro, pegando algumas roupas no chão e as levando para o banheiro enquanto aquecia um pouco de água para o banho, analisando os danos feitos em sua propriedade. Não parecia faltar nada além de organização, pelo que ela observou nos primeiros minutos, levantando alguns manequins caídos pelo chão. Quando a água esquentou o suficiente, a modista foi até o banheiro e se banhou, aliviando o estresse que se acumulava em seus membros tensos.

Ao sair do banho, se vestiu de forma impecável, como sempre fazia, e soltou os bobes do cabelo, vendo as madeixas escuras caindo em ondas suave, e passou nos lábios o característico batom vermelho. Após vestir a meia-calça da cor de sua pele e calçar os saltos não tão altos, ela voltou a organizar a bagunça feita pela polícia, caminhando com calma por todo o local enquanto tentava amenizar o estrago feito. A parte mais importante era que eles não haviam a levado; Edith Preston estava ali, sã e salva e longe das grades.

Quando a maçaneta da porta do ateliê girou, a mulher se levantou com alguns rolos de tecido nos braços, seus olhos atentos buscando encontrar o novo visitante. Ao se deparar com Thomas Shelby, Edith revirou os olhos, voltando a organizar as prateleiras enquanto o homem traçava seu caminho até ela.

━ Aqui estão os legumes que você pediu para o seu noivo trazer da feira ━ ele disse, inexpressivo, oferecendo a ela um saco de papel com diversos legumes dentro. ━ Você deve imaginar o quanto eu fiquei surpreso, senhora Wilson, quando voltei da feira e descobri que os policiais haviam virado Small Heath de cabeça para baixo e, de bônus, meu irmão estava noivo da modista que chegou há pouco tempo na cidade.

━ Quando o amor chega, não dá para impedir ━ ela retrucou, tomando os legumes de Thomas. ━ Veio me dar os parabéns?

Ele umedeceu os lábios.

━ Eu não sou contrário à ambição, Edith ━ Thomas iniciou, vendo a mulher deixar os legumes sobre o balcão do Mundo das Agulhas. ━ Mas a sua ambição pode machucar o meu irmão, e eu não vou permitir que você interfira na minha família. Você sabia que todos nós iríamos desaprovar, e continuou com essa idiotice mesmo assim ━ ele continuou a dizer, e Edith cruzou os braços, aguardando o fim de sua fala. ━ Você é uma mulher inteligente. Pensou mesmo que isso fosse dar certo?

Edith permaneceu em silêncio por um breve momento, observando o rosto do homem.

━ Eu sinto muito por você, Thomas. De verdade ━ ela respondeu, com um olhar falsamente penoso, e o gangster ergueu as sobrancelhas. ━ As pessoas dizem que a guerra mexeu com você. Que nunca mais você esteve na companhia de uma mulher. Deve ser por isso que não consegue aceitar que John foi capaz de seguir em frente e quer se casar comigo.

━ Quer que eu acredite que estão apaixonados, Edith? ━ ele não se deixou abalar pela resposta da mulher. ━ Meu irmão não é encantador de serpentes.

Mordendo o interior das bochechas, ofendida pelo que Thomas havia dito, Edith balançou a cabeça para os lados de modo quase imperceptível, pousando os olhos sobre um vestido rasgado num manequim.

━ Como você disse, eu sou uma mulher inteligente, Thomas. A polícia esteve aqui hoje e aterrorizou toda a vizinhança. Eles bagunçaram todo o meu ateliê e destruíram a tranca da porta dos fundos. Eu vim para Small Heath porque pensei que aqui, de todos os lugares, eu estaria em segurança depois de fazer o que fiz, mas não foi o que aconteceu ━ ela respondeu, com um olhar duro, enquanto caminhava em direção aos alfinetes derrubados no chão de madeira,  começando a recolhê-los cuidadosamente. ━ Eu poderia viver com medo, mas não é o que quero fazer, então sim, eu aceitei me casar com John. Eu dou a ele o que ele quer, e ele me dá o que eu preciso.

Thomas retirou a boina, colocando-a em um dos manequins do ateliê.

━ Eu subestimei você, Edith ━ ele admitiu, com um olhar gélido, e ela soltou um longo suspiro. ━ Você é traiçoeira, e tem agido debaixo dos nossos narizes sem que nós percebêssemos durante todo esse tempo.

Jogando os alfinetes em um pequeno pote, Edith se levantou mais uma vez, deixando o recipiente sobre o balcão. Então, seus olhos se fixaram nos de Thomas, destemidos e repletos de um brilho de escárnio.

━ Você me odiou desde o primeiro dia porque não dei a você o terno que tanto queria, senhor Shelby. Você me investigou e descobriu algo sobre mim que eu tentava esquecer. Você e sua tia me negam a proteção que eu preciso e me ameaçam sempre que estamos no mesmo lugar, ofendidos pela morte de um homem que nunca conheceram ━ ela listou algumas das ações de Thomas, sem hesitar, recebendo a atenção do gângster. ━ Você não me deu escolha a não ser movimentar as minhas próprias peças para sair da situação de vulnerabilidade em que eu estava, Thomas.

Ele uniu as sobrancelhas, levando uma das mãos até  o bolso da calça. De lá, ele puxou uma moeda, sendo observado pela mulher confusa.

━ Vamos resolver com a moeda, Edith. Caso eu vença, você deixa meu irmão em paz. Caso você vença, vamos começar a pagar por nossos ternos ━ ele propôs um de seus costumeiros acordos, vendo uma ruga surgir na testa da mulher. ━ Cara ou coroa?

━ É assim que você resolve problemas importantes? Jogando uma moeda para cima? ━ ela indagou, aproximando-se com os braços cruzados. ━ Coroa.

Thomas assentiu, jogando a moeda para cima. O tempo pareceu desacelerar enquanto o pequeno círculo de metal caía no chão sob os olhares atentos do gângster e da modista, curiosos pelo resultado. Quando o tilintar da moeda no chão soou, Thomas se abaixou em um joelho para ver o resultado, ao mesmo tempo em que Edith deu um passo para o lado, pisando na moeda e impedindo sua visualização.

Os olhos de Thomas subiram do chão por suas pernas até chegar em seu rosto, e a mulher tinha os olhos semicerrados enquanto o encarava. Ela soltou um breve suspiro, estudando o rosto de Shelby, e indagou com a voz baixa:

━ Por que você tem tanto medo de simpatizar por mim, senhor Shelby? O que foi que eu fiz de tão grave para você e a sua família relutarem tanto em me aceitar?

Devagar, Thomas se levantou novamente, sem tirar os olhos do rosto da mulher, que continuou firme no lugar. Ele respirou fundo, impassível, e não respondeu a pergunta da mulher. Para ele, o problema de Edith era ser parecida demais com todos eles, os Shelby; era saber o que fazer, quem usar, como se salvar. Era não se importar em desafiar quem precisasse e não ter vergonha de dizer o que queria. De um modo muito feminino, ele achava, a jovem modista conquistava o que precisava para sobreviver em Small Heath, com sua pose de moça inocente e trabalhadora, assemelhando-se a uma feiticeira que encantava todos ao seu redor. Se ele permitisse, Edith poderia ser a sereia cujo canto levava os homens à morte.

Ela era um lobo em pele de cordeiro. Mas aquele lobo estava assustado, ele sabia, e agora buscava ajuda daqueles que não se escondiam. Edith respeitava a ordem dos Peaky Blinders, mas Thomas sabia que apenas a polícia e a ideia de acabar atrás das grades a assustava de verdade.

Após alguns segundos sem obter uma resposta, Edith levantou o pé de cima da moeda, e ela e Thomas viraram os rostos para o chão ao mesmo tempo, curiosos pelo resultado. Ela sorriu.

━ Coroa, Tommy ━ ela anunciou, vendo-o passar a língua pelos dentes. ━ Posso chamar você assim, não posso? Vamos ser família em breve.

Ele comprimiu os lábios em uma linha fina, encarando a modista.

━ Eu tenho outros planos para John.

━ Se eles são diferentes dos meus, eu não posso ajudar você em nada.

Ele admirava Edith por todos os motivos errados; nem toda a estupidez do mundo era capaz de fazer alguém se comportar de forma tão imprudente. A coragem era uma virtude em muitos casos, mas não no dela. No caso de Edith, sua valentia era apenas um lembrete do quão desaforada, atrevida e leviana aquela mulher podia ser.

━ Eu não estou pedindo sua ajuda, senhora Wilson. Estou avisando por cortesia.

━ Aproveite enquanto ainda pode me chamar assim, Thomas. Em breve, o seu sobrenome vai ser o meu também ━ ela retrucou, inatingível, tirando a boina do manequim e estendendo-a ao homem. ━ E esse sobrenome vai ser a garantia de toda a proteção e segurança que você se recusou a me conceder ━ a mulher continuou, abaixando-se lentamente para pegar a moeda no chão. ━ Você pode levar sua moeda de volta, Thomas. Ela não vai me fazer falta quando você e os seus subordinados começarem a pagar por tudo o que pegarem aqui, e pode te servir como um lembrete.

Thomas tomou a boina das mãos de Edith, colocando-a na cabeça, mas ignorou a moeda.

━ Um lembrete? ━ ele repetiu.

━ Sim. Um lembrete de que eu consigo o que eu quero, Thomas ━ ela completou. ━ De um jeito ou de outro.

Ela estava passando dos limites, o homem pensou, dando um passo em sua direção.

━ Você não vai conseguir nada do que quer se estiver no fundo de um carro de polícia até o fim do dia de amanhã, Edith ━ sua voz rouca afirmou, e o sorriso da mulher vacilou enquanto ela ergueu uma sobrancelha. ━ Você é esperta, eu não posso tirar isso de você, mas você precisa aprender quando agir e quando abaixar a cabeça. Esse é um desses momentos em que você precisa ceder e recalcular a rota, porque você não deve tentar negociar quando está em desvantagem. Eu já disse isso a você ━ ele continuou, puxando um cigarro dos bolsos e levando até os lábios. Quando Edith ergueu o braço para puxá-lo antes que fosse aceso, o homem agarrou seu pulso. ━ Você não sabe com quem está lidando, Edith. E eu sei que não quer descobrir.

Finalmente, ela não o respondeu, rangendo os dentes, e puxou seu braço de volta. Thomas acendeu o cigarro, dando um trago enquanto a encarava, e então caminhou até atrás do balcão do ateliê, retirando o retrato do rei que estava pendurado na parede.

━ Nós vamos fazer uma fogueira com isso aqui mais tarde ━ ele anunciou, encaminhando-se para a saída. ━ Você pode aproveitar a oportunidade para dizer a John que o casamento está cancelado.

Ela o observou sair em silêncio, fechando a porta atrás de si, e bufou, agarrando a sacola de legumes do balcão e jogando-a contra a madeira da porta em um ataque raivoso. Respirando fundo, a mulher passou as mãos pelos cabelos, tentando se acalmar enquanto o sentimento de derrota a afligia novamente. O erro era seu, por pensar que poderia, por um mero momento, combater Thomas Shelby. Estava na hora de Edith aceitar que ela estava em um inferno e ele era o demônio que o comandava, enquanto ela era apenas mais uma alma em suas mãos, sem o poder de mudar seu futuro.

Devagar, ela se aproximou e recolheu os legumes, caminhando até os fundos do ateliê e abrindo a porta para sua casa. Suspirando, ela colocou a sacola sobre a mesa da cozinha, antes de apoiar a cadeira contra a porta, assim como alguns outros objetos pesados, para garantir que ela não fosse aberta novamente até que Edith encontrasse alguém para consertá-la.

Quando a noite caiu, Edith vestiu um casaco e foi até a rua Watery Lane, encontrando grande parte dos vizinhos ao redor de uma grande fogueira, alimentada por retratos do rei da Inglaterra. Ela se aproximou devagar, rindo pelo nariz ao ver Finn Shelby saindo do Garrison's com mais um retrato, jogando-o na fogueira; ele não devia ter mais que dez anos, mas já dava indícios de ser igual aos irmãos. Como poderia ser diferente, crescendo naquele meio?

━ Você contou à senhora Donovan que vamos nos casar? ━ John indagou, aproximando-se da mulher e entregando-a uma caneca de alumínio. Ela aproximou o recipiente do rosto, identificando o cheiro de rum, e deu um gole. ━ Ada contou para o resto da família quando descobriu.

━ Eu estava fugindo quando a polícia invadiu a minha casa e me escondi com a senhora Donovan. Tive que explicar a ela o motivo de você ter me dado uma arma ━ Edith respondeu, dando de ombros. ━ Ada se assustou com o barulho das invasões e cometeu o erro de sair na rua. Foi quando ela nos encontrou.

Proteger o segredo de Ada era uma escolha que Edith não se arrependia de fazer. Apesar de tudo, a mulher havia sido o mais próximo de receptiva que ela poderia esperar dos Shelby, e não era seu maior problema.

Thomas era.

━ Estava na hora deles saberem ━ John disse, passando um dos braços pelos ombros de Edith e bebendo o conteúdo de sua própria caneca. ━ Eles não gostaram da notícia.

━ Eu sei que não. Thomas não parecia contente quando foi me entregar os meus legumes. Você não encontrou a renda que pedi?

Ele sacudiu a cabeça negativamente.

━ O que ele disse quando foi ao ateliê?

Os olhos de Edith se guiaram até o homem que era o assunto de sua conversa, encontrando-o em uma interação com um outro homem que ela não conhecia.

━ Ele não está nada feliz que eu tenha aceitado me casar com você, e menos satisfeito ainda por não ter percebido enquanto agimos debaixo dos olhos dele ━ ela contou, ainda decidindo se iria ou não dar a notícia a John de que deveriam cancelar por completo o casamento. ━ A ideia de nos casarmos realmente não o agrada, John.

━ Foda-se o que ele quer ━ John respondeu, rindo pelo nariz. ━ Tommy não pode decidir com quem eu me caso.

━ Ele pode decidir me entregar para a polícia ━ ela retrucou. ━ O seu irmão é adorável.

John uniu as sobrancelhas levemente, olhando para Thomas pelo canto dos olhos. Devagar, Edith se desvencilhou dos braços do noivo, puxando um cigarro do maço guardado no bolso de seu casaco, e caminhou até a fogueira, acendendo-o no fogo crepitante diante de seus olhos escuros.

Levando os cigarros até os lábios, ela voltou a se aproximar de John, que semicerrou os olhos.

━ Você tem algum vestido bonito, Edith?

━ Eu sou costureira, John. É o que mais tenho.

Ele abriu um meio sorriso, jogando o restante do conteúdo de sua caneca na fogueira, vendo o álcool aumentar o volume do fogo por um breve momento.

John Shelby estava cansado de ser tratado como uma criança; ele tinha direito de se casar com Edith se aquilo fosse o que desejava, e Thomas ou qualquer outra pessoa não tinham o direito de interferir naquilo. Ele valorizava os conselhos do irmão, com certeza, mas apenas quando os achava plausíveis. Seu relacionamento com a modista não iria interferir nos negócios e, de fato, seria uma boa adição para a família Shelby: o casamento cortaria toda a rebeldia de Edith pela raiz, e todos eles estariam mais seguros convivendo em paz, sem a constante ameaça de se entregarem ao inspetor recém-chegado a Birmingham.

━ Vá vestir, e me encontre na porta dos fundos da sua casa ━ ele instruiu, com a voz baixa e discreta, e ela uniu as sobrancelhas levemente. ━ Nós vamos nos casar essa noite, Edith.

Um brilho de terror iluminou os olhos de Edith. Após a conversa com Thomas algumas horas mais cedo, ela não tinha certeza se desejava o contrariar. Mas, após refletir por alguns segundos, ela concluiu que ele não faria nada com ela a partir do momento que ela já fizesse parte da família; era fácil travar lutas contra a noiva secreta do irmão, mas quando o casamento fosse oficializado, o conflito familiar já se tornava intenso demais para que Thomas o quisesse travar. Suas ameaças tentavam impedir o casamento, mas se John e Edith se casassem antes, mais nada poderia ser feito.

━ Acha que tem alguma igreja aberta?

━ As igrejas não fecham, porra ━ ele respondeu, tomando o cigarro da mulher e dando um trago. ━ Eu vou levar Ada como testemunha. Vá se arrumar.

A mulher sorriu, mordendo os lábios, e balançou a cabeça para cima e para baixo em concordância.

━ Me encontre em trinta minutos.

a edith valoriza muito todas as ordens do tommy, tudo que ele manda ela fazer ela vai e faz o contrário!!

e aí? a edith deve se casar com o john, ou é melhor esperar pra dar certo com o tommy?

espero que tenham gostado, e vejo vocês no próximo capítulo!

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