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𝟬𝟯. CÃES FAMINTOS.

CAPÍTULO 03 | CÃES FAMINTOS

A VIDA EM SMALL HEATH não era luxuosa, mas por mais incrível que pudesse parecer, era segura e até mesmo confortável, na opinião singela de Edith. As ruas eram sujas, a poluição era inegável, barulhos de tiros eram ouvidos com frequência e homens bêbados caíam pela vizinhança depois de largarem seus trabalhos nas fábricas todos os dias, mas como Polly Shelby a havia dito durante sua visita ao ateliê de costura algum tempo antes, se Edith Preston não fosse atrás de problemas, sua paz seria mantida.

O ateliê não era muito movimentado, mas possuía clientes o bastante para que Edith se mantivesse ocupada e arcasse com suas despesas, que também não eram muitas. Os vizinhos passavam por ali com frequência, necessitando de reparos em algumas roupas, remendos, novos botões, talvez adicionar um toque especial em um vestido que já existia, e assim, os dias da modista se seguiram, entediantes e tranquilos. Ela não esperava nada diferente quando buscou abrigo naquele lugar; ela sabia que, por ali, as pessoas não tinham dinheiro suficiente para terem roupas feitas com frequência.

Ela fazia o que podia para ter boas relações com os vizinhos, o que não era tão difícil; apesar de tudo, Edith possuía certa facilidade para cultivar amizades. Além disso, havia um senso de comunidade em Small Heath que a modista admirava: os moradores dali passavam pelas mesmas situações, viviam sob as mesmas ordens, e apesar de todos os males, se encontravam protegidos e acolhidos pelos Peaky Blinders. A mulher ainda possuía certa dificuldade para compreender a última parte, mas estava agradecida por não ter sido importunada novamente pela família Shelby após ceder aos seus pedidos.

━ Prontinho, senhora Marshall ━ a modista ofereceu um sorriso ao caminhar em direção à velha e simpática vizinha, trazendo nos braços algumas camisas de uniforme do marido da mulher que trabalhava em uma fábrica próxima dali. ━ Eu costurei botões novos nos lugares que faltavam e remendei as mangas. Estão novos em folha.

━ Obrigada, senhorita Preston ━ ela agradeceu, aliviada, ao pegar as roupas dos braços de Edith. ━ Eu não enxergo bem como antes. Não consigo mais fazer costuras simples como essas ━ lamentou-se, passando as mãos pelas camisas e sentindo o tecido. A mais jovem balançou a cabeça para cima e para baixo em compreensão, voltando a se sentar atrás do balcão. ━ Minha sobrinha Jackie irá passar aqui amanhã para pagar você.

━ Tudo bem, Margareth. Eu sei que a senhora sempre paga em dia ━ Edith afirmou, tranquilizando a mais velha, que sorriu. Olhando disfarçadamente para a porta do ateliê para averiguar que ninguém as escutava, continuou: ━ Eu ouvi barulhos muito altos algumas noites atrás, mesmo do meu quarto. As pessoas estavam vaiando e jogando latas no carro de alguém. A senhora sabe o que aconteceu?

Os olhos de Margareth Marshall não expressaram nenhuma emoção ao viajarem pelos amontoados de rolos de tecido do ateliê, mas quando seu olhar encontrou o de Edith, a senhora soltou um suspiro descontente.

━ Dizem que um inspetor da polícia chegou aqui. Não sabemos com certeza porquê o mandaram, mas veja a situação de onde vivemos ━ ela retrucou, olhando para a porta do ateliê enquanto um homem passava, ajeitando uma boina sobre a cabeça. ━ Há muitas coisas por aqui que chamariam a atenção de grandes autoridades, Edith.

O corpo de Edith gelou diante da notícia de que um inspetor da polícia estava de olho em Small Heath. Bem no lugar em que ela acreditava que estaria segura, onde os oficiais não ousavam se aproximar, e aqueles que ousavam, contribuíam com os criminosos que dominavam Birmingham.

━ Acha que ele está aqui por eles? Pelos Peaky Blinders? ━ Edith indagou, com a voz baixa.

━ Eu não sei, é possível. Eles devem ter algo importante dessa vez ━ a mais velha respondeu, no mesmo tom. ━ É melhor não falarmos desses assuntos.

━ Tem razão ━ Edith murmurou, levantando-se mais uma vez e acompanhando Margareth até a porta. ━ Não vamos nos enfiar em problemas.

Com olhos apreensivos, a mais velha assentiu, saindo do Mundo das Agulhas e despedindo-se de Edith com um aceno das mãos, que foi correspondido pela modista, antes de fechar a porta do ateliê e trancá-la por dentro, antes de caminhar apressadamente pelo local até alcançar a porta dos fundos, que separava seu local de trabalho de sua pequena moradia, que contava com três simples e minúsculos cômodos: uma cozinha, um quarto e um banheiro.

Quando se sentou na única cadeira da cozinha, Edith sentiu que suas pernas estavam prestes a desabar. Ela levou as pontas dos dedos até os lábios, roendo as unhas enquanto o medo de estar sendo investigada a atingia com mais força. Talvez, o inspetor estivesse ali em busca dela, para prendê-la pela morte de seu marido. Talvez, os Shelby não tivessem cumprido com o prometido e tivessem entregado-a às autoridades.

Não, não devia ser o caso. Apesar de não se passarem por pessoas plenamente confiáveis, a família Shelby não possuía nenhum motivo para fazer aquilo, e certamente, eles também não eram do tipo de pessoa que fazia qualquer coisa sem uma motivação maior. Além do mais, os Peaky Blinders jamais atrairiam a polícia para seu principal ponto de operações criminais. A chegada do tal inspetor deveria ser influenciada por outro motivo, mas fosse o que fosse, aquilo significava que Edith estava em perigo; talvez o inspetor estivesse em busca de um criminoso e a encontrasse como bônus. Talvez, ele juntasse os pontos como Polly havia juntado.

Um suspiro deixou seus lábios ao mesmo passo em que a mulher alcançou um cigarro sobre a mesa, caminhando até a pia para pegar a caixa de fósforos. Ela riscou um deles, observando a chama arder por alguns segundos antes de acender o cigarro preso entre seus lábios pintados de vermelho, e encostou-se contra a pia tentando relaxar.

Sua melhor alternativa era acreditar que estava segura. Agir como se fosse inocente, seguir sua vida como se não tivesse nada a temer ou o que dizer à polícia. Sua melhor alternativa era confiar que seu segredo estava sendo mantido pela família Shelby, e mais uma vez, Edith se lastimou e amaldiçoou ao perceber que sua vida estava em suas mãos cobertas por sangue e marcadas pela trapaça.

Ela passou o resto do sábado organizando o ateliê e limpando a pequena casa, antes de aquecer um pouco de água no fogão da cozinha para que pudesse tomar um banho. Quando a água estava quente o suficiente, Edith virou o líquido em um balde e caminhou até o banheiro, despindo-se e prendendo os cabelos escuros em um coque. Conforme a modista se lavava, despejando canecas de água em seu corpo sem pressa, foi o único momento de tranquilidade que a mulher foi capaz de obter, fugindo dos próprios pensamentos pessimistas enquanto a água quente levava embora os resquícios do dia parado, mas cansativo.

O banho serviu para clarear seus pensamentos, e percebendo que devia estar paranoica, Edith Preston decidiu ir ao cinema para se distrair; além do mais, agir como uma pessoa inocente certamente a ajudaria. Seus vizinhos não teriam motivos para desconfiar dela se a vissem com frequência praticando atividades comuns. Talvez, ela até mesmo fosse à igreja na manhã do dia seguinte, afinal, se Polly Shelby não ardia em chamas ao pisar na casa do Senhor, não iria acontecer com ela também.

━ Boa tarde, Elsie ━ ela cumprimentou a vizinha com um sorriso doce ao sair de casa pela porta da frente do ateliê, após se arrumar para o cinema. Parando por alguns segundos, Edith aproximou-se da mulher, que trazia um bebê nos braços, e apertou levemente um de seus pés descalços. Elsie sorriu levemente, subindo o olhar para a modista. ━ Você tem certeza que ele só tem seis meses? Elsie, ele está enorme, você vai precisar levá-lo ao ateliê de novo para vermos se a roupa do batizado vai servir!

━ É, eu estava pensando nisso. As roupas que o irmão dele vestia nessa idade estão começando a ficar pequenas ━ Elsie retrucou, com um suspiro cansado, olhando para o filho mais velho, que brincava na rua. ━ É a fórmula. Eu não tive leite dessa vez.

Edith riu baixo, passando uma das mãos nos cabelos do bebê antes de olhar para a vizinha.

━ Bom, ele está forte e saudável. É o mais importante ━ disse, vendo a mãe da criança concordar. ━ Estou indo ao cinema agora. Mas você pode passar no ateliê amanhã.

Elsie assentiu em silêncio, com os olhos pairando em um ponto atrás de Edith. Com as sobrancelhas unidas, a mulher se aproximou mais da modista, perguntando com a voz baixa:

━ Você vai com ele?

A confusão atingiu Edith, que se virou para encontrar John Shelby do outro lado da rua, encostado em um poste e encarando-a enquanto soltava a fumaça de um cigarro.

━ Não ━ respondeu, voltando a atenção a Elsie. ━ Por que disse isso?

━ Ele está encarando você desde que saiu.

━ Eu não acho que seja o caso ━ Edith disse, franzindo o cenho. ━ Deve ser só uma coincidência.

Elsie levantou uma das sobrancelhas, ajeitando o bebê que começava a ficar agitado no colo, e deu de ombros.

━ Bom, eu preciso entrar, Harry sujou as fraldas ━ ela disse, e olhou para o filho mais velho. ━ Andrew, para dentro. Está começando a escurecer.

O menino balbuciou algumas reclamações, mas se despediu dos amigos na rua antes de dar as costas e caminhar em direção à própria casa. Ao passar do lado de Edith, que agora se distanciava de Elsie e do bebê Harry, o garoto abaixou a cabeça num cumprimento silencioso.

━ Oi, Andrew ━ ela o cumprimentou, seguindo seu caminho, e sorriu para as outras crianças que pulavam amarelinha na rua suja e úmida. ━ Oi, Katie, Mark e Ashton. Cuidado com as brincadeiras.

━ Oi, Edith! ━ os três responderam ao mesmo tempo, sem dar muita atenção, focados na brincadeira.

Do outro lado da rua, John riu para si mesmo, balançando a cabeça negativamente antes de dar passos calmos em direção à modista, que se afastava cuidadosamente em direção ao cinema. Ela era mesmo talentosa, ele pensou, vendo-a encenar o papel de boa moça.

━ Katie, vá calçar os sapatos ━ ele mandou, com a voz alta, olhando para a filha por cima dos ombros. Sua ordem chamou a atenção de Edith, que se virou rapidamente, revirando os olhos ao encontrar o homem a poucos passos atrás de si. Ela não interrompeu sua caminhada, decidida a chegar logo no cinema e a ignorar a presença de John. ━ Aonde você está indo?

━ Ao cinema ━ ela murmurou, sem dar muita atenção.

━ Você gosta de filmes? ━ ele indagou, agora acompanhando os passos de Edith, que o olhou pelo canto dos olhos. John riu pelo nariz ao continuar: ━ Arthur também gosta de ir ao cinema, mas não pelos filmes.

━ Ele vai pela pipoca? ━ ela sugeriu.

━ Não, não pela porra da pipoca. Pelos boquetes no escuro ━ o homem respondeu, puxando o cigarro dos lábios e soltando a fumaça. Então, parou os passos devagar e segurou um dos braços de Preston, olhando-a com os olhos semicerrados ━ Você não vai querer ver essa cena, eu sei que não.

Edith comprimiu os lábios em uma linha fina, pousando o olhar sobre a mão enluvada de John em seu braço.

━ O que você quer?

Ele levantou uma sobrancelha, abrindo um sorriso ladino.

━ É Arthur quem fica assustado com você, Edith ━ ele disse, observando o rosto da mulher. ━ Mas você está enganando toda a vizinhança com essa sua pose de boa moça, não é? Porra, você conquistou todo mundo. As crianças gostam de você, as velhas levam pedaços de bolo para você enquanto costura ━ John pontuou, e Edith uniu as sobrancelhas enquanto o ouvia. ━ Você enganou todos eles. Dizem no Garrison que você é uma moça pobre, solteira, muito trabalhadora.

Cruzando os braços, Edith o encarou no fundo dos olhos.

━ Eu sou todas essas coisas.

━ Não, não senhora. Você é uma mulher viúva, porra, não se esqueça ━ John retrucou, aproximando-se de uma das calçadas quando um carro passou pela rua. Edith o seguiu, aguardando a conclusão daquela interação que já estava ocupando grande parte de seu tempo. ━ Eu quero que faça um vestido para a minha Katie. Um vestido bem bonito, com babados ou qualquer coisa que esteja na moda. E ternos pros meus meninos ━ contou ele, vendo a mulher soltar um suspiro. ━ Eu vou pagar.

━ Você pode levar todos eles ao ateliê na segunda-feira de manhã ━ ela disse, trocando o peso de uma perna para a outra, e John franziu o cenho, levando o cigarro aos lábios novamente. Ela riu pelo nariz, mordendo o interior das bochechas ao perceber que havia cometido o erro de insinuar que John passaria um dia inteiro cuidando dos filhos, e continuou: ━ Certo. Eu chamo todos eles quando estiverem na rua, ou qualquer coisa assim.

Ele assentiu, avaliando a mulher da cabeça aos pés.

━ Katie gosta de você. Ela disse que você deu a ela alguns vestidos de boneca ━ ele falou, encarando o rosto inexpressivo de Edith. Cansado de enrolar, ele decidiu ir direto ao ponto: ━ Eu estou pensando em me casar de novo. Os meus filhos precisam de uma mãe.

Os olhos de Edith foram semicerrados lentamente e suas sobrancelhas se uniram. Ela não podia estar entendendo corretamente; era absurdo demais.

━ Porra, o que é que você quer comigo, John? ━ ela indagou, beirando a impaciência. ━ Você não está me pedindo em casamento.

John tentou não parecer tão ofendido. Ele apagou o cigarro e jogou fora a bituca, antes de cruzar os braços em frente ao corpo.

━ Nós dois somos viúvos. Você se dá bem com as crianças, não é uma prostituta e também não é feia, eu não preciso de mais do que isso. Eu sou um homem simples ━ ele retrucou, dando de ombros, e Edith soltou uma risada incrédula. John uniu as sobrancelhas. ━ Qual é a graça, porra? Você não vai conseguir nada melhor por aqui. Ninguém vai te oferecer o que eu posso ━ o homem continuou, aproximando-se da mulher e apoiando as mãos na parede nos dois lados de seu corpo, encurralando-a. Então, com um sorriso ladino, ele passou uma das mãos pela bochecha de Edith, inclinando-se em sua direção. ━ Você pode ter dinheiro, proteção, filhos lindos e o melhor sexo da sua vida.

Os lábios de Edith se curvaram em um sorriso, fazendo o de John aumentar. Ela precisava admitir que a sinceridade do homem era de se admirar; ele não buscava por um amor ou uma conexão, apenas uma mulher bonita que o aguardasse em casa, cuidasse de seus filhos e gerasse outros, e não fazia questão de esconder ou disfarçar a realidade. John Shelby, por outro lado, sabia que podia parecer precipitado, mas não se importava em ser julgado como louco.

Sua família não sabia sobre sua vontade de se casar, não ainda, porque John sabia que não aprovariam nenhuma de suas escolhas, Edith principalmente. Mas havia algo sobre o mistério que a envolvia que o excitava; o perigo oferecido pela modista se assemelhava a uma atração fatal que ele não podia e nem desejava controlar.

━ Eu aceitaria a sua proposta, John Boy ━ Edith iniciou, chamando-o pelo apelido utilizado por sua família. ━ Mas eu não quero matar mais um marido.

O sorriso de John aumentou lentamente.

━ Você gosta de se fazer de difícil?

Edith mordeu o lábio inferior e uniu as sobrancelhas, pensando em suas próximas palavras. John era um homem bonito, ela já havia constatado. Com e sem roupas. E ele talvez pudesse mesmo oferecer cada uma das coisas que citou - o dinheiro, a proteção, os filhos lindos e o "melhor sexo de sua vida" -, mas não era o suficiente para ela. Não quando ela sabia sobre as tendências violentas dos Peaky Blinders e dos riscos que poderia correr provenientes do próprio marido, caso aceitasse sua proposta.

Ela não era uma santa, não havia um questionamento sobre aquilo. Mas Edith, apesar de todos os seus erros e crimes, não merecia se envolver naquela história e se arriscar daquela forma.

━ John, eu espero que você se lembre dessa nossa conversa quando não estiver mais bêbado, tudo bem? Eu não vou me casar com você, porra ━ ela falou pausadamente, como se explicasse algo a uma criança, e se desvencilhou dos braços de John. ━ Eu sei que todas as putas de Birmingham devem cair aos seus pés quando você sorri, mas isso não conta quando você está pagando a elas para te satisfazerem.

Dando um passo pequeno para trás, John se afastou da mulher, puxando o maço de cigarros do bolso do sobretudo. Em silêncio, evitando o olhar da mulher, ele puxou mais um e o posicionou entre os lábios em movimentos torturantemente lentos que eram cuidadosamente observados por Edith. Enquanto ele guardava o maço de cigarros novamente, ela abriu a bolsa pendurada em seu ombro e puxou um isqueiro, acendendo-o próximo ao cigarro de John.

Fixando o olhar na mulher mais uma vez, ele se inclinou para que a chama do isqueiro tocasse a ponta de seu cigarro, acendendo-o. Edith guardou o pequeno objeto e fechou a bolsa, finalmente voltando a traçar seu percurso em direção ao cinema.

━ Você perdeu a chance de ser uma Shelby, Edith ━ John disse, vendo-a se afastar, sendo ignorado pela morena. ━ Eu ainda quero o vestido de Katie.

━ Os homens da sua família passam tempo demais se preocupando com vestidos, eu tenho observado ━ a mulher falou, sem se dar o trabalho de olhar para John enquanto se distanciava. ━ Isso deve dificultar na busca por uma esposa.

Finalmente, John não retrucou, observando Edith desaparecer de sua visão ao dobrar uma esquina enquanto ele permaneceu parado no mesmo lugar, tragando seu cigarro com calma. Inferno de mulher, ele pensou. Ele deveria ter dado ouvidos a Thomas quando ele usou as mesmas palavras para a descrever. Após alguns minutos lidando com a rejeição em silêncio, o gangster virou o corpo, chutando algumas pedras no caminho enquanto retornava para a casa de apostas comandada pela família.

Desacompanhada, Edith não demorou a chegar ao cinema, que estava aparentemente vazio naquele horário. Ela sorriu satisfeita ao adentrar a bilheteria, aproximando-se do vendedor de ingressos com tranquilidade enquanto abria a bolsa em busca de algumas moedas.

━ Quanto está a entrada, George? ━ ela indagou ao homem conhecido, ainda mexendo em sua bolsa. ━ Para o filme do Chaplin.

━ Quinze centavos, senhorita Preston ━ ele respondeu.

A mulher assentiu, entregando-o as moedas com o valor equivalente ao preço do ingresso. Ela deu algumas a mais, pedindo também uma pipoca, e ao ter seu atendimento finalizado, caminhou até a sala de exibição, onde não havia ninguém. O filme começaria nos próximos minutos, ela sabia, e acreditava que a sessão não deveria lotar, uma vez que ninguém havia chegado até então. Sentando-se em uma das primeiras fileiras com cuidado, ela começou a comer algumas pipocas, aguardando pacientemente pelo início do filme.

Quando passos e risadas foram ouvidos, ela virou a cabeça discretamente para ver por cima do ombro quem é que estava ali, encontrando Arthur Shelby acompanhado de duas mulheres jovens e bonitas.

Maldito seja ━ ela murmurou, fazendo uma careta e voltando a atenção para a tela, ainda escura.

━ Eu vou querer um boquete das duas ━ a voz do homem foi alta e clara na sala de cinema vazia, e Edith massageou a testa lentamente. Droga, John Shelby, ela pensou, sabendo que havia sido avisada sobre o evento típico. ━ Ao mesmo tempo.

Edith desejou poder se fundir à poltrona. Sem qualquer vontade de estar presente para os próximos acontecimentos, ela pendurou a bolsa nos braços novamente e segurou a pipoca com cuidado, levantando-se em silêncio na tentativa de passar despercebida enquanto deixava o local. Assim que se levantou, George a alcançou numa corrida desajeitada, e ele a olhou como quem pedia desculpas.

━ Ah, senhorita Preston, você já está de saída ━ ele constatou, vendo-a assentir. ━ Eu vim mesmo avisá-la e pedir para sair. Uma moça como a senhorita não merece ter seu filme atrapalhado por... Bom, por aquilo.

━ Tudo bem, George ━ ela murmurou, seguindo-o para fora da sala. ━ Eu posso assistir o filme em outra ocasião.

━ Eu vou devolver o seu dinheiro ━ George disse, abrindo a porta da sala de exibição e permitindo que Edith passasse primeiro. Ela sorriu em agradecimento, e os dois seguiram juntos para a bilheteria. ━ Sei que a senhorita não chegou há muito tempo em Small Heath, mas já deve ter percebido como as coisas são por aqui.

━ Ah, com certeza. Ninguém contraria a família Shelby ━ ela disse, levantando as sobrancelhas levemente. ━ Eu entendo.

George pegou quinze centavos na caixa registradora e devolveu a Edith, que sorriu agradecida e guardou o dinheiro na bolsa. Quando estava prestes a sair do pequeno cinema, três homens grandes entraram de forma agressiva no local, aproximando-se do funcionário e da modista, que arregalaram os olhos.

━ Arthur Shelby ━ um deles disse, com o rosto sério, e Edith e George se entreolharam. ━ Ele está ali dentro?

━ Por que? ━ George indagou, organizando alguns copos de plástico na bomboniere. O homem o lançou um olhar gélido, e após limpar a garganta, George fez que sim com a cabeça. ━ Está.

Os três imediatamente adentraram a sala de exibição, e Edith uniu as sobrancelhas.

É a polícia.

Sim ━ George assentiu, olhando para os lados, e fixou o olhar em Edith. ━ Eu preciso ficar aqui. Tommy deve estar no Garrison agora, e eu sei que o bar está cheio de bêbados hoje, então é melhor você não ir até lá... Vá atrás de Polly na casa de apostas e avise que a polícia está com Arthur.

Edith assentiu em silêncio, saindo apressadamente do cinema e apertando o casaco contra o corpo enquanto caminhava o mais rápido que seus saltos ligeiramente altos a permitiam no solo úmido das ruas do bairro. Ela não era uma grande fã dos Shelby, mas a presença da polícia - que agora, definitivamente não estava para brincadeira - comandada por um inspetor da Scotland Yard ameaçava todos eles, e a modista poderia vir a precisar de ajuda em algum momento, portanto, era melhor colaborar com os Peaky Blinders enquanto havia tempo, e fazer o possível para conquistar sua mínima simpatia.

Talvez ela devesse se casar com John, ela pensou enquanto desviava de trabalhadores cansados pelas ruas. Ele não era um exemplo de caráter, definitivamente não, e ela duvidava que ele tivesse a intenção de respeitar a fidelidade do casamento, mas o homem não parecia ser do tipo que deixaria sua esposa afundar sozinha, não sem antes destruir todos os navios ao redor. Ela poderia conviver com o fato de ver o marido se divertindo com prostitutas, desde que ela e sua segurança ainda fosse sua principal preocupação. Ela riu de si mesma ao constatar que estava mesmo considerando se casar com John Shelby; devia ser o desespero por ver a polícia em ação.

Quando chegou à casa de apostas, Edith entrou sem cerimônias, encontrando o lugar cheio de pessoas prontas para depositar seu dinheiro apostando em Monaghan Boy, o cavalo que supostamente havia sido enfeitiçado por uma garota chinesa para ganhar todas as corridas a mando de Thomas. Ela se aproximou de Polly e Ada, que estavam juntas recolhendo algumas apostas enquanto John mantinha a ordem no local, dosando a agitação dos vizinhos apressados para apostar.

━ A polícia levou Arthur ━ ela disse, sem enrolar, alcançando a mesa das mulheres e ouvindo reclamações sobre furar a fila. ━ Três homens. Acabaram de buscá-lo no cinema.

Polly olhou para os sobrinhos, e John uniu as sobrancelhas.

━ Todos para fora agora! ━ ele mandou, com a voz alta, ouvindo mais reclamações. Então, ele puxou a arma da cintura, apontando-a para o teto, e levantou as sobrancelhas. ━ Eu vou contar até três, porra! E então, vou começar a atirar para cima, sim? Saiam daqui, vocês podem apostar depois!

Dessa vez, todos obedeceram, saindo do local ainda contrariados e se amontoando na porta. Polly se levantou, caminhando até a entrada da casa de apostas, e a fechou quando os últimos fregueses saíram, trancando-a e voltando a atenção para Edith.

━ Você estava lá quando aconteceu?

━ Sim. Foi agora.

━ É obra do novo inspetor ━ Polly murmurou, aproximando-se dos três mais jovens, e apoiou uma das mãos em um ombro de Ada, que parecia aflita. ━ Acha que eles estão atrás de você, Edith?

━ Eu não sei se dariam tanta importância à morte de Albert ━ ela retrucou, unindo as sobrancelhas levemente sob o olhar curioso dos Shelby. ━ Ele não era ninguém importante, então não acho que a polícia esteja aqui por mim. Meu medo é que acabem me descobrindo enquanto tratam de outros problemas.

Polly assentiu lentamente, olhando para John, que fazia menção de sair da casa de apostas para ir atrás de Arthur.

━ Não, John ━ ela disse, e o sobrinho comprimiu os lábios em uma linha fina. ━ Arthur vai encontrar o caminho de volta sozinho. Você não vai atrás dele e nos meter em mais problemas, está ouvindo? ━ então, os olhos frios de Polly se fixaram em Edith, que ainda comia de pouco a pouco a pipoca trazida do cinema. ━ Eles não estão aqui por você, eu posso afirmar. Mas é melhor você tomar cuidado, senhora Wilson, porque eu sei que o medo pode levar a algumas ações desesperadas, e se eu souber que você está planejando colaborar com a polícia para tentar nos foder e tirar o seu da reta, nós vamos foder com você antes.

Edith não teve nenhuma reação além de encarar a mulher e morder as bochechas por dentro, sentindo uma movimentação atrás de si e sabendo que era John se aproximando das três mulheres novamente.

━ Eu não estou pedindo que você confie em mim. Você não me deve sua confiança e eu não te devo a minha lealdade ━ a mais jovem retrucou após alguns segundos, levando mais uma pipoca aos lábios, e Polly arqueou uma sobrancelha. ━ É tudo uma questão de escolhas. Você pode confiar em mim ou não, e eu posso escolher quem quero ajudar. Veja o que Arthur vai dizer quando chegar em casa, e você verá que eu estou dizendo a porra da verdade ━ Edith continuou, franzindo o cenho. ━ Mas cães famintos não são leais a ninguém.

Ada olhou para a tia com curiosidade. A única mulher entre os irmãos Shelby havia sido a primeira a conhecer Edith, e a primeira a perceber que a mulher não era fácil de se dobrar. Aquilo não parecia ter mudado desde a última vez em que as duas se encontraram, algum tempo antes, no dia em que a modista deu a Thomas um vestido.

E estes cães são gulosos, nunca se podem fartar; e eles são pastores que nada compreendem; todos eles se tornam para o seu caminho, cada um para a sua ganância, todos sem exceção ━ Polly disse, e Edith reconheceu a citação da bíblia, o que era quase cômico vindo da mulher que estava constantemente a ameaçando. ━ Você é uma mulher gananciosa, Edith, e a ganância é uma das maiores ameaças que existem. Ela destroi o próprio lar.

━ Eu estou em busca da concórdia. Nós queremos a mesma coisa, que é nos livrar da polícia, e eu estou buscando o caminho mais fácil para todos nós, que é a colaboração ━ Edith respondeu, sem se afetar pelo comentário de Polly. ━ Você está mais preocupada em me atacar do que em lembrar de quem é o verdadeiro inimigo.

Polly riu pelo nariz, balançando a cabeça negativamente.

━ Não é fácil confiar em alguém que matou a sangue frio o homem com quem dividia a cama todas as noites, Edith. Você sabe tudo o que penso sobre você, eu não fiz questão de esconder nada quando visitei você no ateliê. Eu não considero você uma inimiga, mas não te considero alguém digna de confiança ━ ela explicou, calmamente, sentando-se novamente na cadeira em que estava antes. ━ Eu já lhe disse. Você não nos coloca em problemas e vamos fazer o mesmo por você. Mas não tente propor acordos, Edith. Você não está na posição de impor nada.

Edith riu pelo nariz, balançando a cabeça negativamente enquanto olhava para o chão. Ela amassou o pacote de papel, agora vazio, e caminhou até a lixeira para jogar fora, antes de caminhar até a porta e apoiar uma das mãos na maçaneta e olhar para John.

━ Você pode destrancar, ou vocês vão me manter como refém? ━ ela indagou, levantando as sobrancelhas, e John caminhou até a porta com a chave em mãos. Ela sorriu levemente. ━ Obrigada, querido.

Polly franziu o cenho e Ada riu baixo quando o irmão sorriu levemente, piscando para Edith, que olhou para Polly uma última vez após ter uma rápida visão da rua.

━ O seu sobrinho mais velho está cambaleando pela rua, bêbado e ensanguentado. Espero que você tenha feito um curso de primeiros-socorros da Cruz Vermelha no tempo em que passou na igreja decorando passagens ━ ela disse, sem aguardar por uma resposta e deixando a casa de apostas.

Uma língua venenosa era reflexo de uma mente perigosa. Polly Shelby sabia bem daquilo; Edith Wilson - ou Preston, como preferisse - era uma mulher com um passado impossível de se ignorar, mas ele ainda não era o que havia de mais ameaçador sobre a jovem. Não, o problema de Edith estava em sua coragem: era a coragem que alimentava guerras, como a gasolina alimentava o fogo, e aquela mulher parecia disposta a iniciar incêndios se pensasse que aquilo pudesse a manter a salvo, longe das grades.

Thomas dizia que mulheres não podiam ser perigosas, mas Polly discordava do sobrinho. As mulheres eram bem piores do que os homens, mas haviam sido condicionadas a esconder aquele lado desde os primórdios da civilização. Ela e toda sua família sabiam do passado de Edith Preston, e supondo que fosse aquele o seu pior segredo, a mulher já não possuía mais nada a esconder.

✒️

Sentada no degrau único em frente à porta do ateliê, Edith acendeu um cigarro com calma, levando-o até os lábios enquanto observava a movimentação da rua em que morava. O Garrison's, no final da rua, estava tão barulhento quanto ela imaginou que estaria naquela data, devido a alguma partida de um esporte que ela não fazia questão de saber qual era, e o som das vozes altas no bar atrapalhava a calmaria do silêncio em que a mulher desejava mergulhar.

Seus dedos finos envolveram o cigarro, afastando-o de seus lábios enquanto ela expirou a fumaça lentamente, abrindo os olhos para ver a fina nuvem cinzenta formada à sua frente enquanto tentava relaxar. Quando um carro passou pela rua, ela o seguiu com o olhar até vê-lo desaparecer, sendo encarada de volta pelo motorista, e revirou os olhos. Após mais um tempo fumando, Edith esfregou o cigarro no chão para o apagar, entediada, e jogou a bituca em uma lata de lixo próxima, errando o alvo e vendo o cigarro cair no chão.

Ela não se moveu, encarando o ponto fixo em que o cigarro havia caído até que pés protegidos por sapatos masculinos entraram em seu campo de visão, fazendo-a subir os olhos para encontrar Thomas Shelby se aproximando com calma, trazendo uma garrafa de rum nas mãos. Dando mais alguns passos calmos, ele parou em frente a Edith, ainda sentada no degrau, que franziu o cenho e desviou seu olhar.

━ Não ━ ela disse.

━ Eu não perguntei nada.

━ Vamos manter as coisas assim. Eu já estou cansada de vocês por hoje ━ resmungou Edith, cruzando os braços e se levantando, dando as costas a Thomas para entrar no ateliê. ━ Se você quiser um terno, um vestido, a porra de um batom ou qualquer outra coisa, volte amanhã. O ateliê abre às oito.

Uma ruga leve surgiu na testa de Thomas, que observou Edith destrancar a porta do Mundo das Agulhas.

━ Do que você está falando? ━ ele indagou, vendo-a se virar para ele de novo. ━ Senhorita Preston, eu não costumo repetir as minhas perguntas.

Ela soltou uma risada de escárnio, revirando os olhos e entrando no ateliê sem respondê-lo. A paciência de Edith para os Shelby naquele dia havia mesmo esgotado; como se não bastasse o pedido absurdo de John e o fato de Arthur ter estragado seu filme com seus desejos sexuais, ela ainda era obrigada a lidar com as ameaças veladas de Polly e Thomas Shelby.

Antes que a mulher fechasse a porta, Thomas a seguiu, posicionando um de seus pés no vão entre a porta e a batente para impedir que fosse trancada. Ele levantou as sobrancelhas levemente, vendo Edith soltar um suspiro e abrir a porta por completo mais uma vez, encarando-o entediada.

━ O que você pensa que está fazendo, porra?

Ele, assim como Polly, não conseguia confiar na modista. Havia um brilho traiçoeiro em seus olhos, uma frieza em suas ações e um enigma em sua solidão que o assombrava, e apesar de saber sobre o que levou Edith até Birmingham, ele não era capaz de dizer muita coisa sobre aquela mulher. Ela era diferente de todas as pessoas que ele já havia conhecido em Small Heath; a modista era, em seu ponto de vista, envolta por uma imensidão de incertezas, e por mais que já tivesse se tornado conhecida pelos vizinhos, era certo que ninguém sabia nada sobre ela de verdade. As mulheres a viam com simpatia, e os homens a olhavam com desejo, sem saber do que ela era capaz.

Mas essa era uma das poucas coisas que ele sabia: que na vingança e no amor, as mulheres eram bem mais bárbaras do que os homens poderiam sonhar em ser. Ele não sabia qual das duas opções havia motivado Edith a cometer o seu crime; em tempos de guerra, quando tudo e todos pareciam prestes a desmoronar, era difícil dizer. Contudo, aquela mulher também não parecia afetada pelas consequências trazidas pela Grande Guerra; algo em Edith fazia Thomas pensar que ela travava as batalhas de uma guerra particular.

━ Preste atenção no que vou dizer, senhor Shelby, porque eu também não gosto de repetir o que digo ━ ela disse, olhando para ele fixamente, e Thomas quis rir com sua audácia. ━ A polícia está atrás de algo em Small Heath, mas você já sabe disso. Hoje, eles pegaram Arthur no cinema, e quando o devolveram, ele estava machucado e praticamente se arrastando pelas ruas no caminho para a casa de apostas, que era onde eu estava, avisando a porra da sua família sobre o que eu havia visto ━ a mulher continuou, cruzando os braços, e tombou a cabeça levemente para o lado. ━ Se você tiver alguma acusação para fazer sobre mim, guarde, porque a sua tia já fez todas as possíveis. É melhor você ir para casa também, e verificar se o seu irmão está bem.

Ele assentiu lentamente, mas não se moveu, ainda estudando a mulher com uma leve ruga na testa. Quando Edith pensou que iria se ver livre de sua presença, Thomas adentrou o ateliê por completo, descansando a garrafa de rum sobre o balcão. Ela elevou as sobrancelhas, encarando-o em silêncio, aguardando que ele explicasse quais eram suas intenções, além de irritá-la ainda mais.

━ E você tem alguma opinião? Sobre o que a polícia está procurando por aqui?

Edith balançou a cabeça para os lados devagar.

━ Você me disse quando eu estava tirando as suas medidas que poderia me conceder muitos favores, Thomas ━ ela lembrou, suavizando a expressão em seu rosto. ━ Eu não sei o que você e a porra dos Peaky Blinders estão fazendo dessa vez, e não quero saber. Só quero ficar livre disso, com a certeza de que não estou na mira das autoridades.

Thomas assentiu devagar.

━ É aí que está, Edith. As autoridades aqui somos nós ━ ele retrucou, de cabeça erguida. ━ A porra dos Peaky Blinders.

Ela semicerrou os olhos levemente.

━ E você? Sabe o que eles estão buscando em Small Heath? ━ ela perguntou, com a voz mansa, vendo-o rir pelo nariz. ━ Qual é a graça?

━ Eu não sei, Edith, mas tenho certeza que não é nada da sua conta. Tente manter as coisas assim e não se meta onde não é chamada ━ ele respondeu, com a voz baixa e rouca como de costume, e ela uniu as sobrancelhas, sem resposta. ━ Vamos para a casa de apostas. Pelo que eu ouvi dizer, você sabe dar pontos como ninguém, e pode ser que o meu irmão precise.

Sem aguardar uma resposta, ele virou as costas, pegando sua garrafa de rum novamente e caminhando até a porta, ouvindo os passos da mulher atrás de si.

━ Eu torço para que todos os favores que estou concedendo a vocês sejam retribuídos caso eu precise, senhor Shelby ━ ela murmurou, saindo do ateliê e fechando a porta. ━ É fácil exigir sem dar nada em troca, mas também é indigno. E você não me parece um homem indigno.

Ele elevou as sobrancelhas, puxando um maço de cigarros de dentro do sobretudo, e levou um até os lábios, antes de oferecer outro a Edith, que aceitou em silêncio, tirando o isqueiro da bolsa e o acendendo enquanto caminhavam pela rua. Thomas parou brevemente, virando o rosto para a mulher, que esticou um dos braços para acender seu cigarro também, enquanto ele guardava o maço novamente.

━ Haviam cavalos na fazenda em que morava, Edith?

━ Eu tinha uma égua antes de me casar. Uma Hackney linda e forte ━ ela respondeu, retomando a caminhada. ━ Albert a perdeu numa aposta.

Thomas balançou a cabeça em sinal de compreensão, tragando o cigarro.

━ Você deve saber, então, que os cavalos aceitam ser apertados por arreio em troca de uma boa ração ━ ele iniciou, vendo-a franzir o cenho por cima do ombro. ━ É a mesma coisa que se orgulhar por aceitar favores dos tiranos.

━ Você aceita e cobra favores o tempo todo.

Soltando a fumaça, o líder dos Peaky Blinders abriu um sorriso quase imperceptível ao ouvir a rápida resposta da modista.

━ Eu sou um cavalo.

Edith resmungou algo em concordância, seguindo o caminho até a casa de apostas pela segunda vez naquele dia, poucos passos atrás de Thomas, enquanto desviava o olhar das pessoas que a encaravam nas ruas do bairro, curiosas sobre o que a mulher fazia na companhia do líder dos Peaky Blinders.

Ela aprendeu com pouco tempo que odiava a mania do homem de não fornecer respostas objetivas, e principalmente, não fornecer as respostas que ela queria escutar. Agir como inocente funcionaria apenas até certo ponto; se os Shelby decidissem jogá-la aos lobos para fugir da atenção dos policiais, não haveria nada que ela pudesse fazer para salvar a si mesma, e pela forma que Polly e Thomas agiam, aquilo talvez não demorasse a acontecer, especialmente porque ambos pareciam acreditar que ela faria o mesmo.

Por um momento, quando a porta da casa de apostas foi aberta, ela quis rir da ironia do destino e da própria hipocrisia, pensando no quanto todos os acontecimentos daquele dia em questão haviam sido decisivos. Quando entrou no local, encontrou Arthur agonizando enquanto Ada fazia o possível para tratar de seus ferimentos com a ajuda de Polly, enquanto John ria encostado à uma parede. Thomas abriu a garrafa de rum e a entregou ao homem machucado.

━ Beba, Arthur. Ada, termine de limpar os ferimentos dele, sim? A senhorita Preston vai costurar os pontos que forem necessários ━ Thomas anunciou, conforme Edith se aproximou da família com os braços cruzados.

━ Temos um kit de primeiros-socorros mais completo no armário da cozinha ━ Ada disse olhando para a mulher, que assentiu, e apontou para uma das portas abertas. ━ É logo ali.

Em silêncio, Edith caminhou até a cozinha sem pressa, encontrando um armário e abrindo suas portas na busca pelo kit. Quando o encontrou, fechou as portas novamente, virando-se para voltar ao encontro dos Shelby, e se deparou com John a encarando a alguns metros de distância, em uma rara ocasião em que a boina não descansava em seus cabelos.

━ Eu encontrei o kit ━ ela anunciou, e ele assentiu.

━ É, eu estou vendo.

Ela riu pelo nariz, aproximando-se do homem devagar, com o kit de primeiros-socorros em mãos.

━ Eu estive pensando, John... ━ Edith iniciou, com a voz baixa e mansa, percorrendo o rosto jovem do homem com os olhos. ━ Bom, eu pensei melhor. Sobre sua proposta.

Ele levantou as sobrancelhas, cético.

━ A polícia te deixou com tanto medo assim?

Ela balançou a cabeça para os lados, soltando um suspiro, e mordeu o lábio inferior.

━ Você tinha razão. Eu adoro os seus filhos, e eles merecem uma mãe ━ disse, abrindo um sorriso, e levou uma das mãos até o colarinho da camisa de John, ajeitando-o com cuidado. ━ E eu tenho certeza que eu e você podemos nos divertir juntos.

O homem riu baixo, antes de passar a língua pelos dentes.

━ Você acha que eu sou idiota, Edith? Acha que eu não estou vendo que você está me usando?

Ela deu de ombros.

━ Você tem algum problema com isso?

John riu pelo nariz, abrindo um sorriso ladino, e apoiou uma das mãos na cintura de Edith, balançando a cabeça para os lados.

━ Não.

Com um sorriso dominando os próprios lábios, Edith se desvencilhou lentamente dos braços de John, girando os calcanhares e olhando para o homem por cima dos ombros.

━ Eu preciso ir cuidar se Arthur ━ ela lembrou. ━ Mas eu e você nos encontraremos no altar, John Boy.

essa edith é muito cretina, eu adoro!!

o que estão achando da fanfic? por favor me digam, porque a fic tá tendo poucos comentários e isso me desanima, especialmente quando os capítulos são tão grandes. eu gosto de ter opiniões pra me guiar, e os comentários ajudam muito.

espero que tenham gostado do capítulo, e vejo vocês no próximo!

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