Verdades

A noite estava fria e silenciosa na casa dos Cullens. Lá fora, o vento soprava suavemente entre as árvores, mas dentro da sala, a tensão era palpável. Alessia estava sentada de frente para Daisy, em uma cadeira afastada do resto da casa. Elas haviam decidido que precisavam de uma conversa – longe de Bella, longe dos outros, só elas duas e o passado que carregavam.

Daisy encarava Alessia com uma expressão séria, mas havia um certo cansaço nos olhos dela, algo que Alessia conhecia bem. Era o peso de tudo que tinham vivido juntas, antes da transformação, antes dos Volturi, antes de Bella.

— Eu me pergunto por que você realmente voltou. — Alessia começou, a voz baixa, mas carregada de ressentimento. Ela não tinha mais o tom agressivo de antes, mas havia uma frieza ali, algo que Daisy conhecia bem.

— Você sabe por que voltei, Alessia. — Daisy respondeu, sua postura mais relaxada, mas o olhar fixo. — Eu precisava te ver. Precisava te dizer que sinto muito.

— Sente muito? — Alessia repetiu, sua expressão descrente. — Sente muito por ter me abandonado? Por ter deixado que me transformassem naquele... naquele lugar? Você sabia o que estava acontecendo, Daisy. Sabia o que eu estava perdendo.

Daisy respirou fundo, os olhos dela se suavizando um pouco.

— Eu sei que foi errado, Alessia. Eu sei. Mas eu juro, naquele momento, eu achava que estava fazendo o que era certo. Aquele vampiro, ele... ele me ameaçou. Eu não tinha como lutar. Eu não era forte o suficiente, e a única coisa que eu conseguia pensar era que, se você fosse transformada, pelo menos estaria segura... mesmo que fosse como uma de nós.

Alessia desviou o olhar, sentindo o peso daquelas palavras. Ela sabia que Daisy não estava mentindo, mas isso não diminuía a dor de ter sido traída por alguém que amava tanto.

— Você acha que isso justifica? — Alessia perguntou, com a voz um pouco mais suave agora. — Você sabia o que ia acontecer. Eu me perdi por anos. Vivi com os Volturi, Daisy. Aro me tratou como filha. Eu me senti parte de algo, mas aquilo não era vida. Eu estava presa, e você me deixou para trás.

Daisy se inclinou um pouco para a frente, os olhos verdes dela brilhando com uma sinceridade que Alessia quase havia esquecido.

— Eu nunca quis te deixar para trás, Alessia. Eu nunca deixei de pensar em você, mesmo enquanto você estava com os Volturi. Eu sabia que estava errada, mas eu... eu não tinha forças para voltar e enfrentar o que fiz. Não até agora.

Alessia ficou em silêncio por um tempo, processando tudo aquilo. Daisy era sua melhor amiga antes de tudo. Elas tinham uma conexão profunda, e mesmo depois de tudo o que aconteceu, ainda havia algo que as ligava. Mas nada apagaria o fato de que Daisy tinha deixado aquilo acontecer.

— E agora? — Alessia perguntou, finalmente. — Você voltou por culpa? Ou porque acha que pode me ajudar a derrotar Victoria?

Daisy se encostou na cadeira, seus olhos presos aos de Alessia.

— Eu voltei porque sabia que você precisava de mim, e porque, apesar de tudo, eu queria fazer a coisa certa dessa vez. Eu não vou te deixar sozinha de novo.

Alessia olhou profundamente nos olhos de Daisy, tentando entender se ela realmente havia mudado. Ela sempre teve o poder de enxergar o medo das pessoas – era uma habilidade que os Volturi ajudaram a desenvolver nela, e desde então, ela usava aquilo como uma forma de se proteger, de não confiar cegamente em ninguém.

Mas quando olhou nos olhos de Daisy, algo diferente apareceu.

— Eu não confio em você. — Alessia murmurou, como uma defesa. — Não sei se algum dia vou confiar.

Daisy assentiu lentamente, parecendo entender.

— Eu não espero que confie. Não depois de tudo. Mas eu queria te dizer uma coisa.

Alessia esperou, em silêncio.

— Você consegue ver o medo das pessoas com seu poder vampirístico, Alessia, mas eu sempre fui sua melhor amiga. Apenas olhando nos seus olhos eu consigo enxergar qual é o seu. Seu medo é perder Bella.

Alessia sentiu o impacto daquelas palavras como um soco. Daisy a conhecia bem demais, e isso a deixava desconfortável. Ela queria negar, queria dizer que não tinha medo de nada, que era forte o suficiente para lidar com qualquer coisa. Mas Daisy estava certa. O maior medo de Alessia era perder Bella. E isso a assombrava mais do que qualquer batalha com Victoria ou confronto com os Volturi.

— Eu... — Alessia tentou dizer algo, mas as palavras não saíram.

— Eu sei que você a ama. — Daisy disse suavemente. — E eu sei que faria qualquer coisa por ela. É por isso que você está aqui, lutando. Eu entendo isso agora. E é por isso que eu quero te ajudar. Não vou te deixar sozinha dessa vez.

Alessia abaixou a cabeça por um momento, sentindo a confusão dentro dela. Parte dela ainda queria gritar com Daisy, acusá-la de tudo o que aconteceu no passado. Mas outra parte sabia que Daisy não estava ali para abrir velhas feridas, e sim para tentar consertar as coisas. Por mais que Alessia quisesse lutar contra isso, não podia ignorar o fato de que Daisy ainda era a pessoa que a conhecia melhor.

— Eu não sei o que fazer com isso, Daisy. — Alessia admitiu, sua voz baixa. — Eu ainda estou com raiva. Eu ainda sinto falta do que éramos, mas... as coisas mudaram. Bella é minha vida agora.

Daisy assentiu, com um olhar compreensivo.

— Eu sei. E é por isso que eu só quero estar ao seu lado, pelo tempo que você me permitir. Eu sei que não posso apagar o passado, mas posso estar aqui agora, pelo futuro.

Alessia respirou fundo, sentindo uma mistura de emoções. Ela não sabia o que o futuro reservava, nem como as coisas entre ela e Daisy iriam se desenrolar. Mas, pela primeira vez em muito tempo, ela se permitiu baixar a guarda, mesmo que apenas um pouco.

— Vamos ver, Daisy. Vamos ver. — Alessia disse, a voz mais suave do que antes.

Daisy deu um leve sorriso, sabendo que aquilo era o máximo que poderia esperar por enquanto. Elas ainda tinham um longo caminho pela frente, mas talvez, com o tempo, pudessem encontrar uma forma de curar as feridas do passado.

🦇 Apesar dos acontecimentos do passado vocês vão perceber como a Daisy pode amadurecer e mostrar para Alessia que dessa vez está ali para tentar fazer algo certo.

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