Lá estava ele, mais um estranho abrindo os olhos em sua cama, uma sensação que sempre o fazia se sentir diferente, uma vitória, este desconhecido possuía uma excepcional condição médica que o fazia dormir por dias a fio, semelhante a um coma.

  Sua rotina era dormir de segunda a sexta e acordar apenas aos finais de semana, nenhum médico o qual já havia consultado conseguira chegar em um diagnóstico preciso sobre a causa desta circunstância que se iniciou por volta de um ano atrás. Após muitos especialistas examinarem, aceitaram a hipótese de um possível caso especial da Síndrome de Kleine-Levin, um raro distúrbio neurológico caracterizado por períodos recorrentes de quantidade de sono excessivo.

  No relógio em um tom vermelho mostrava 05:43, o mesmo horário que despertara todos os dias desde o último ano, como vivia sozinho em sua casa, tratou de levantar, remover os tubos para alimentação e de necessidades físicas e se preparar para o trabalho. O final de semana era corrido pois precisava trabalhar bastante para se sustentar financeiramente.

  Sua profissão era ser psicólogo, já que o permitia trabalhar mesmo com sua condição especial. No final de semana atendia vários clientes, graças a sua especialização um tanto diferente, não lhe faltava demandas.

  Sua especialização era voltada a todos tipos de Transtornos Parafílicos, um ramo que estuda as relações complexas que se estabelecem entre a sexualidade e as patologias, sendo patologias o ramo da medicina que estuda e cataloga as doenças.

  Um sino toca, ao olhar para o relógio, marcava 06:44, essa era sua deixa para se arrumar pois seu primeiro cliente chegaria em breve, enquanto se preparava ouvia pelo rádio a continuação de uma história de perseguição a um criminoso sexual, uma história que já havia sido finalizada, mas que graças a sua condição, não podia acompanhar rotineiramente o passar da história.

– Rádio – Novas notícias! Apesar de ter muita dificuldade de estabelecer o modus operandi deste terrível patife, a polícia está fazendo pequenos progressos, um dia quem sabe poderemos entrevistar e descobrir o que se passa na cabeça desse criminoso.

  Lhe interessava essas matérias jornalísticas que fazem grandes coberturas de crimes violentos que envolvam de forma direta ou indireta perturbações com a sexualidade.

  Seu escritório ficava no andar debaixo da sua casa, um andar separado exclusivamente para atendimentos. Ao chegar no escritório, checou na secretária eletrônica se havia alguma nova mensagem, era possível que durante a semana houvesse cancelamentos de algum cliente, porém suspirou fundo, não havia nenhuma.

  Pegou o jornal em sua porta, e estampado na página principal uma notícia bombástica: "Pânico! Pânico! Três jovens desaparecem após conflitos entre facções em uma comunidade periférica". 

Um som ecoou vindo da porta, ao som de duas fracas batidas, era sinal de que alguém tinha chegado.