13 de agosto de 2017
9:07hrs

Daisy

Ponho para fora todo meu café da manhã, a torta de cereja e acho que meu fígado também.

_Jesus...

Antes que eu termine outra sessão de vômito começa. Minha garganta arde pelo esforço. Sinto ânsia e mais ânsia.

_Daisy? O que foi?

Sinto as mãos dele em minhas costas e sua voz sai preocupada. Dou de ombros e aperto a descarga me sentindo muito constrangida. Continuo ajoelhada no chão me recuperando. Em minutos já me sinto muito bem. Levanto. Sinto uma leve tontura.

_Ei, o que foi isso? Você está muito pálida.

Vou até a pia escovar os dentes pra tirar o gosto e cheiro ruim da boca. Termino e respiro fundo.

_Acho que comi torta demais antes de entrar na água.--Merda, eu não queria que ele soubesse. Sou alvo de seu olhar raivoso.

_Você comeu antes de entrar na piscina?!--Assinto com o rosto quente.--Em que momento teve tempo para isso? Não foi suficiente seu generoso café da manhã?

Dou de ombros e abaixo a cabeça.

_Enquanto você e Shem conversavam eu senti muita fome e fui comer.--O que posso fazer? Fungo um pouco.--Já passou, estou bem agora. Não precisa disso.

_Não? Ok. Certo.--Dante vem até mim e erguendo meu rosto pergunta.--Essa foi a última vez que você fez uma loucura dessas, já pensou se sentisse mal enquanto ainda estava dentro da piscina?--Suspiro derrotada porque ele está coberto de razão. Idiota.--Acha que sou idiota por me preocupar com você.--Arregalo os olhos assustada.

_Não. Não. Eu estava me chamando de idiota, não era pra você.--Ele me analisa.--Me desculpa por isso, não faço mais. Juro.--Selo a promessa com um gesto.--Esquece isso. Você disse que tinha um lugar pra me levar hoje.

Ainda desconfiado Dante me arrasta até sala. Sentamos no sofá.

_Sim. Nós vamos até um acampamento de refugiados um pouco longe daqui.--Franzo o cenho. Refugiados? Que tipo de refugiado ele está falando?--Do tipo venezuelanos, haitianos e sírios. Sou o fundador da ONG que mantém o acampamento.--Nossa, ele se preocupa com os refugiados?--Sim, tento fazer minha parte no mundo. Extermino os maus e ajudo os bons. Essas pessoas não tem culpa das guerras civis nem das crises econômicas que os seus líderes iniciaram. São vítimas. Então eu as ajudo com posso.--Fico pasma e meu coração enche de mais amor por ele.

_Eu nunca poderia imaginar que você ajuda essas pessoas...Desde quando você faz esse tipo de trabalho humanitário?

_Há bastante tempo, desde 2010. Gosto de visitar pessoalmente pra saber como andam as coisas por lá. E hoje quero que vá comigo.--Faço que sim enquanto acaricio seu braço.

_É só essa ou ajuda outras ONGs?

_Ajudos outras, num modo geral presto assistência a vários tipos de ONGs. Parte da minha renda mensal é destinada a este fim.--Sorrio com ternura. Enquanto ele fala sinto que faz isso pela humanidade com prazer, pois seus olhos brilham.

_Você gosta muito disso, não é?

_Sim, me sinto menos cretino e mais humano quando faço isso. Gosto de olhar para o rosto deles e ver inocência e esperança. Vontade de viver. São pessoas que realmente merecem uma vida digna. E se eu posso dar isso a elas eu dou, tenho condições então por quê não ajudar?--sinto vontade de chorar quando ele fala isso.

Own, que lindo.

_Quando vamos? Quero conhecer esse acampamento.--Ele sorri roçando seus dedos em minha bochecha.

_Assim que você se trocar.

Levanto rápido e vou para me vestir. Nesse mês ganhei muitas roupas, sapatos e acessórios, Dante disse que ele mesmo escolheu. Não quis aceitar e disse que não usaria, ele ficou possesso e então brigamos. Fui dormir no meu quarto mas no meio da noite o senti me levar de volta para o seu. Não falei nada quando acordei com ele todo enrrolado em mim. No fim, ele se desculpou pelo seu ataque raivoso e me implorou pra aceita, usou diversos argumentos, decidi ceder ainda muito irritada.

Paro em frente ao armário pensando no que vestir. Saber a roupa certa pra usar em uma ocasião sempre foi um problema pra mim. Sou muito indecisa e pouco experiente. Será que eu não posso ir de roupão?

_Não, não pode. Por mais que você fique linda neles eu não quero que ninguém além de mim a veja assim.

Me assusto com a voz grave e potente de Dante atrás de mim.

_Me assustou.--Suspiro quando ele me abraça.--Eu nunca sei o que vestir. Fico irritada e me dá vontade de desistir.

_Calma, nervozinha.--Tento não rir e pergunto.

_Posso ir de jeans e camiseta?

_Pode.

_Mas e se me acharem nova demais? Fico parecendo uma adolescente quando uso jeans.--Penso um pouco. Tenho que passar uma boa impressão se vou andar do lado desse homem lindo e imponente.

_Ninguém tem que achar nada. Vista o que quiser. Ninguém vai dizer nada, eu te garanto.--Solto meu dedinho e finjo inocência

_Quero usar uma mini saia.

_Nem pense nisso.--Ele fecha a expressão.

_Você disse que eu posso vestir o que eu quiser.--Pisco lentamente.

_Não abuse da sorte, baby.

Rio da sua frase mal humorada. Pego uma calça preta justa e uma camisa de mangas longas nude com brilhinhos. Sapatilha em material trasparente.

_E essas?

_Está ótimo.

Me visto enquanto ele mexer no celular, já estava pronto para sair desde cedo. Vestido em calça jeans escura e camisa social preta. Deixo os cabelos soltos. Passo máscara de cílios e baton clarinho, as únicas maquiagens que possuo e sei usar. Ponho meu celular e outras coisas em uma bolsa pequena e bege.

_Já.

Ele vem da varanda ainda com os olhos na tela e quando os ergue me analisa dos pés a cabeça umas três vezes.

_Acha que vou passar uma boa impressão?

_Mais que isso. Está perfeita.

Coro porque sou boba. Ele pega minha mão e é impossível não ver o anel dourado em seu dedo anelar esquerdo. Faz um mês que ele o está usando, é idêntico ao meu só que mais grosso. Ele disse que era pra simbolizar nosso compromisso de estar juntos. Não questionei, achei lindo que ele tenha pensado nisso.

Antes de chegarmos ao carro passamos por Shem, Juan e Matthew. Cumprimento eles sorrindo.

_Oi.

_Senhora.--Eles falam em uníssono mas sem sorrisos. Franzo o cenho.

_Vamos, Daisy.

Entro no carro ainda olhando pra eles. Estão parados com cara de paisagem em frente a casa.

Dante dirige até o portão, pressiona o polegar no painel o fazendo abrir-se. Passo o trajeto todo olhando pela janela. Pessoas, carros, ferrovias, casas, cachorros, lojas, conveniências, postos tudo isso sob um lindo céu nublado. Os dias ensolarados são pouco frequentes, a cidade é mesmo fria.

_Você está assustadoramente quieta. O que foi?

Sorrio me virando para fitá-lo. Passo meus olhos pelo seu rosto concentrado e preocupado. Dante é um homem lindo e distinto. Forte, alto e atlético.

_Só estava pensando. Acredite ou não mais agora eu desenvolvi um certo controle quanto a verbalizar pensamentos.

_Não sei se isso é bom ou ruim. Gosto de saber o que está pensando.--Claro que gosta.

_É bom pra mim, assim mantenho minha privacidade mental.

Rimos um pouco. Depois de minutos chegamos à um enorme hangar, paramos em um estacionamento lateral com muitos carros.

_Isso aqui tudo é o assentamento?

_Um deles. Vem.

Entram e a primeira vista é possível ver inúmeras tendas em cores verde, amarelo, azul e branca perfeitamente organizadas pelo espaço. Diversas pessoas circulam entre as tendas, algumas paradas em fila em frente a um longo balcão com atendentes uniformizados.

_Uau...É tudo tão...arrumado.

Comento enquanto andamos atraindo olhares de todos. As pessoas parecem saber quem é Dante e sorriem pra ele, outros o cumprimentam em varias línguas, de todas só identifico o espanhol. Formasse uma fila para vê-lo, alguns arriscam em um português arrastado. Um homem aperta sua mão avidamente e tem lágrimas nos olhos.

_Mesye Fer Farx, mwen rekonesan akeyi fanmi mwen ak mwn.

Pra minha surpresa Dante responde na mesma língua.

_Ou ap akery, ki jan ou ye?

_Mési anpel pou ou, bon moun!

_Gracias señor, cambió nuestras vidas.--Outro diz se curvando.

E as pessoas falam, acho que agradecem e umas até choram. Há crianças ao seu redor rindo e falando eufóricas. Até então eu apenas observava o carinho das pessoas por ele e me sinto extremamente feliz por ter tantas pessoas que gostam dele mas alguém parece me notar.

_Hola. Señor, es tu esposa?

O quê? O sangue foge do meu rosto e meu estômago gela.

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Bjjsss e continua...