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Luta sangrenta

21 de outubro de 2017
21:36hrs

Narradora

Bernard não sabia o que pensar, por certo não esperava por isso. Até onde sabia o tão excelente Fer Farx estava mole, tinha perdido a rudeza por causa de uma mulher a qual estaria esperando uma criança. Achou que seria o momento perfeito para cumprir a última missão que seu falecido patrão havia lhe dado.

Estava o observando a meses, até no enterro dele Bernard tinha ido para verificar mesmo se os outros teriam matado Dante. Tal foi sua surpresa ao vê-lo ali, vivo e exposto, como se nada houvesse acontecido. Por um momento pensou que não era possível ele estar em seu próprio enterro mas o sorriso de escárnio malditamente característico do lendário assassino foi o bastante para o ninja saber que era possível.

O desgraçado havia forjado a própria morte mantando os mercenários no processo. Nunca sentiu tanto ódio de alguém quanto sentiu de Dante naquele dia, se já não bastasse seu patrão ter sido sempre infinitamente orgulhoso e defensor do garoto que adotou como seu pupilo ele ainda assim ter acertado quando disse a Bernard que o afilhado seria a lenda do império que um dia construiu com maldade, crueldade e sangue. Também o tinha avisado sobre a mente estratégica, calculista e perigosa de Dante, que o substimar seria um erro sem perdão.

Foi exatamente o que ele acabara de fazer. Substimou seu alvo a ponto de ter sua vida nas mãos do mesmo, como um caçador que foi pego na armadilha planejada para a caça.

Engolindo seu medo Bernard fixou o olhar no do homem elegante a sua frente. Maldito. A inveja e ódio que sentia dele o fez prender a respiração, o cano da arma também o fazia soar frio.
Ao menos não veio sozinho, logo seus homens chegariam ali e o salvaria da morte.

_Bernard...--A voz grave de Dante fazia um eco de diversão.--Deve estar pensando: Esse cretino do Fer Farx acha que ganhou, ele não sabe que vim acompanhado das minhas amiginhas...ts! Pois é, eu sei. Meus pêsames.--O deboche pingando em cada palavra. Era o fim da linha para o ninja e ele sabia. Desejou morrer sem precisar ouvi-lo. Se sentiu derrotado e humilhado.

_Acaba logo com isso, Fer Farx.--Pediu ciente do seu destino, ergueu a cabeça quando ouviu a risada estridente do adversário.

_O que? E acabar com a diversão? Eu acho que não. Solte ele.--E como ordenado o homem careca o soltou. Bernard viu sua chance. Preparou-se para fazer de Dante seu refém mas o outro foi mais rápido.--Dê um passo e isso acaba aqui.--O círculo de homens armados fizeram dele seu alvo. Bernard estancou. Na cabeça de Dante tudo fora como o planejado, sabia que precisaria das armas para manter o intruso na linha.-- Mas se quiser lutar pela sua vida escute.--Inclinando a cabeça para o lado o homem no comando estudou seu oponente. Retraído pelo medo e agoniado com a possibilidade de lutar com o melhor que o clube do império já havia visto o shinobi tremeu. Dante viu isso e sorrio com escárnio, ora mas é só uma luta, pensou.--Vou te dar a chance de lutar pela sua vida miserável que pra mim nada vale, combate corpo a corpo. Quem morrer primeiro garante a vitória do outro, de acordo?

Bernard pensou nas possibilidades de vencer e de cinquenta que analisou em apenas uma ele tem chance, de qualquer forma sabia seu destino. No entanto não perderia a oportunidade de fazer o objeto de seu ódio sangrar um pouco, Dante podia ser o melhor mas Bernard se considerava o mais rápido. Já havia o visto lutar e sabia que faltava estratégia e técnica melhores na luta do oponente. Ele pensou que derrubaria-o fácil se fosse bem ligeiro.

Dante por outro lado, enquanto mantinha o ninja sob seu escrutínio, sabia o que ele estava pensando, com certeza pensava que ele ainda era o mesmo de antes, o mesmo Fer Farx que lutava no clube, sem muita técnica ou agilidade. Bernard não poderia estar mais enganado. Suspirou revirando os olhos, sua paciência se esvaindo.

_Então? Prefere morrer com honra ou sem honra como um covarde?

Isso assustou o descendente chinês. Os que estavam ao redor se divertiam vendo seu chefe, altamente respeitado e temido por eles, brincar com a presa. Era incrível como ele parecia tranquilo, indiferente à aflição do adversário, pensou Matthew.
Shem se mantinha as costas do intruso ainda apontando sua arma para ele enquanto observava o desenrolar desse combate que seu patrão esquematizou detalhe por detalhe ciente de cada reação e movimento de Bernard. Era extraordinário que tudo tenha sido exatamente como o esperado.

Shem via o desespero e agonia do homem a sua frente, chorando pelos poros em forma de suor. Admirou Dante mais ainda, se orgulhou dele como um pai. Era assim que se sentia no que se referia ao chefe, sentia um carinho paternal por ele embora saiba que nunca seria visto desta forma...Não importava, sempre fez e continuaria fazendo de tudo para proteger seu garoto de ouro e agora também a sua família,a menina e o bebê. Vio que o chefe já estava irritadiço, sabia que não ia demorar com isso tudo.

_Se...se eu ganhar...--Bernard começou hesitante mas foi interrompido por uma chuva de risadas baixas vindas dos homens armados na sala. Se enfureceu. Fitou Dante que até então o olhava impassível. Maldito.--Se eu ganhar quero que garanta que sairei desta casa ileso, dê ordem aos seus lacaios para que não me matem se eu te derrotar. Garante isso?

Dante admirou a fé do ninja na vitória, mas também sentiu vontade de dar um basta naquele circo. Com um sorriso de lado que o faz parecer o próprio anjo caído, Lúcifer, lindo e maligno.

_Garanto. Shem?--Chamou não desviando os olhos brilhantes de raiva contida do oponente.--Se eu morrer você deve escoltar pessoalmente este cavalheiro chinês até a rua, não o machuque física ou verbalmente. Quero que cumpra esta ordem à risca, fui claro?--O segurança chefe assentiu firme segurando o riso.

_ Sim, senhor.

_Mas alguma coisa Bernard, um café talvez?--O sarcasmo era parte de sua personalidade, não tinha como não ser. Com a negativa do outro ele continuou.-- Ótimo, eu começo.

E o primeiro golpe foi deferido acertando em cheio o rosto do ninja que foi ao chão em segundos. Sangue espirrou do seu nariz manchando o piso de madeira impecável da linda mansão. Isso assustou a todos, ninguém esperava pelo ataque surpresa e a potência do soco. As bocas estavam abertas. Dante analisou sua mão.

_Levanta. Agora. Seja homem e venha lutar.

Enraivecido o baixinho se ergueu ainda cambaleante, organizou a mente e atacou. Dos vários chutes e socos, tentativas de imobilização, torção dos membros e quedas que dava apenas pouquíssimos ultrapassavam a defesa poderosa do adversário, acertando um ou outro. Dante está maravilhado com a luta, fazia tempo que não desfrutava do prazer de combater. Deixou Bernard atacar por uns minutos e achando que já dava pra se divertir realmente partiu para cima. O terno que alguns pensavam que restringiram seus movimentos na verdade era feito para lhe dar extrema flexibilidade. O ninja se antecipou em um golpe rápido fazendo com que os reflexos aguçados de Dante lhe dessem uma joelhada certeira no estômago. Cuspiu sangue dessa vez, quase desmaiou de dor.

_Isso é por ter sido sempre um pau mandado do Alexandre.--Outra joelhada acertou a cabeça do chinês.--E essa é por vir atrás de mim.--com um giro do perna no ar Dante atingiu as costas de Bernard com o calcanhar direito.--Perturbar a minha paz! Ameaçar a vida da minha mulher! Do meu filho!--E enquanto falava dava chutes nas costelas e socos no estômago do ninja já derrotado. A cena era tão violenta que fez os homens presentes ficarem hipnotizados com a brutalidade desenfreada do patrão. Engoliram em seco.-- Invadiu a porra da minha casa! Achou que sairia daqui vivo? Está fodido, Bernard. Fodido!

O puxou pelos cabelos negros e molhados de suor para que se erguesse e o encarasse mesmo que seu rosto estivesse desfigurado pelos uppers destruidores de Dante que tinha as narinas dilatadas igual as pupilas. Ódio, raiva, loucura, insanidade e maldade era tudo que se podia ver nos olhos dele. Os cabelos caiam-lhe pela face.

_Você errou comigo e a sua vida inútil é o pagamento que quero.--Segurou o rosto ensanguentado com uma mão e apertou. Isso não é nada comparado com o que eu faria com você há seis meses atrás, Bernard. Eu te torturaria por dias sem parar só para te mostrar que comigo ninguém brinca, muito menos me aborrece.--O shinobi, ainda desorientado pelas pancadas, consegue gaguejar.

_E-e...u...t-tte...o-o-o...dei...o.--E por um momento de loucura tenta acertar o ponto vital localizado no peito de Dante que felizmente foi mais rápido e lhe deu um último golpe ponteiro no peito. O ninja gritou de pura e excruciante dor. Ele rompeu seu ligamento coronário. Ouviu apenas um sussurro.

_Eu sei. E eu gosto muito disso. Mas chega, vou te dar um morte digna.--Sem mais um segundo de espera o pescoço de Bernard quebra em um estado audível a todos. Dante sou o corpo mole no chão e suspira. A sala no mais completo silêncio, ainda estavam muito surpresos com a facilidade com que ele havia quebrado o pescoço do outro.--Será que ele morreu mesmo?--Perguntou com incerteza fingida. Shem sabia o que aquilo era. Foi até Matthew e pegou a pistola do chefe e depois lhe entregou já com o silenciador acoplado.--Obrigado. Temos que ter certeza.

Um, doi, três, quatro...o pente todo foi descarregado na cabeça, no peito e nas pernas do morto. Dante só conseguia pensar no quanto era bom atirar em carne, o contentamento reluzindo nos olhos.

_Que belezinha...

Analisou sua FN após ter terminado. A jogou de volta para Shem e disse ao tirar o terno e abrindo a camisa, alguns roxos começavam a aparecer na pele clara dele que viu os estragos.

_Merda. Olha o que aquele anão desgraçado fez em mim, Daisy vai querer saber o porque estou todo estropiado...maldição.

Enquanto eles riam Hil, que havia achado um lugar por onde descer sem ser pelas escadas, estava aterrorizada encolhida abaixada na porta que dava acesso a lateral da casa. O sangue mal parecia estar ainda em suas veias. Mas seu coração batia ensandecido, horrorizado, agoniado com tudo que presenciou, da luta sangrenta ao assassinato. Ofegou fundo demais e os olhos aguçados de Dante foram parar diretamente nela. Se arrepiou com a fúria que viu ali nas íris agora negras do marido de sua amiga. O medo a sufocou.

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