Exposta
13 de agosto de 2017
15:32hrs
Daisy
Dante me puxa para mais perto sorrindo.
_si.
A mulher de aparentemente quarenta e cinco anos sorri e os demais também.
_Es mui bela.
Coro porque entendendo o que ela diz. Aperto a mão de várias pessoas sorridentes. Esposa? Não somos casados, mas decido não falar nada.
Dante pede para passar já que a multidão nos cerca. Eles abrem caminho até o balcão. Uma moça alta e loira vem em nossa direção sorrindo largamente. Ela beija o rosto dele e diz.
_Senhor. Estamos o esperando. Como vai?
_Muito bem, Susan.
Susan me nota depois de babar um pouquinho no Dante. Ela passa seus olhos em mim duas vezes e depois para minha mão que ele segura. Franze momentaneamente o cenho e volta seu olhar azul para o homem ao meu lado depois de dizer um murcho:
_Oi.
_Olá.
Retiro minha mão da dele e aperto a dela.
_Daisy essa é a diretora geral da ONG, Doutora Susan Wernek. Susan essa é minha esposa.
Minha barriga gela quando ele diz esposa. Não sei porque insiste nisso. Nós. Não. Somos. Casados. Mas limito-me a apenas sorrir. Olho para ele.
_Como vão as coisas por aqui?
E se inicia uma longa conversa entre eles. Fico somente ouvindo o que dizem sobre fronteiras, visto, Roraima, onda de migração massiva e atualidade sobre as crises em países vizinhos. Sinto-me excluída então me afasto um pouco para observar melhor tudo por aqui.
Voluntários circulam pela área, entram e saem das tendas, resolvem discussões entre as pessoas, examinam crianças e idosos. No lado oeste do hangar vejo um corredor que suponho ser os banheiros já que pessoas com toalhas e sacolas plásticas formam fila. Duas na verdade, homens em uma e mulheres e crianças em outra.
Do lado leste estão várias estantes com prateleiras lotadas de alimentos não perecíveis e medicamentos. Estou tão absorta em minha observação que me assusto com um homem que para ao meu lado.
_Perdida?
Me viro para olhá-lo. É um rapaz alto e com traços africanos. Pelo seu sotaque sei que não é brasileiro mas é um voluntário a jogar pelo uniforme.
_Ah, não. Eu só estava olhando. É uma realidade totalmente diferente pra mim.
Sou sincera. O jovem sorri e assente. É bonito e simpático.
_Não só para você, mas é assim a vida de um refugiado. Dependem da bondade de outras pessoas para poderem viver. Com mais de 10.145 mil refugiados no país essa pequena parcela aqui teve sorte.--Como assim? O homem olha fixamente pra mim.--Nem todos tem a oportunidade de ter um lugar para dormir, comer e beber. Eles fogem do seu próprio país em busca de paz, segurança e vida digna mas não é sempre que encontram isso.
Reflito sentindo meu peito se apertar de compaixão.
_O governo não os ajuda também?
_Ajuda, mas embora o Brasil seja o pioneiro na proteção internacional dos refugiados e mantenha uma política diferenciada baseada no CONARE, que é o comitê nacional para refugiados, ainda tem muito que melhorar suas políticas públicas quanto a essa questão.--Assinto entendendo.
_As cores das barracas é para facilitar na organização?--Essa é uma das minhas curiosidades. Ele ri.
_Também. É para simbolizar o patriotismo brasileiro. E com certeza ajuda na organização, por exemplo: Homens solteiros ficam nas azuis, mulheres mães solteiras ficam nas amarelas, famílias ficam nas verdes e nas brancas ficam os que necessitam de cuidados médicos.--Enquanto ele fala eu olho para cada fila com barracas de uma só cor.
_O assentamento está lotado?
_Não totalmente. Na verdade, a maioria das pessoas que vem pra cá se integram na sociedade e logo estão por conta própria. Então há sempre lugar para mais um e esse é o diferencial dessa instituição de iniciação privada.
_Como eles chegaram aqui?
_Através de relocamento, o fundador da ONG mandou transporte para várias partes do país afim de trazê-los até aqui. Já fui um refugiado em uma dessas tendas azuis, vim do Haiti, lá perdi minha família para as armas, pedi asilo e vim parar aqui. Estudei e aprendi sua língua, trabalhei na feira que a ONG montou para que pudéssemos trabalhar dignamente e agora estou na faculdade Estadual, curso assistência social. Serei eternamente grato ao senhor Fer Farx por isso.--Uau. Estou emocionada.
_Como você se chama?
_Abdul Jaruo. E você? É uma nova voluntária?
_Daisy, e não. Mas pretendo ser.
Aperto sua mão, no entanto sou puxada de maneira brusca para longe de Abdul. Sei exatamente de quem são essas mãos em minha cintura. O rapaz arregala os olhos e sorri.
_Senhor Fer Farx, como vai?
Dante nem se digna a responder, sinto sua respiração forte em meus cabelos. Olho pra cima e sua expressão é assustadora. Help God.
_Dante?
Ele parece sair de seu transe. Mas quando me olha está muito, muito furioso. Os olhos estão negros e as narinas dilatadas. Poderia o assemelhar a um touro louco agora.
_O pensa que está fazendo?
_O quê?--Não entendo esse tom extremamente rude.
_Vamos embora.
Ele me puxa sem falar mais nada. Retiro minha mão da sua. Estou completamente confusa. O que ele está pensando?
_Estava me machucando.--Aliso o pulso assustada. As pessoas nos olham discretamente. Dante para mas evita me olhar.
_Vamos. Agora.--Avalio a situação. É melhor ir, ele está fazendo uma cena na frente de todas essas pessoas. Ignoro sua mão estendia e sigo andando depressa.--Daisy?
Finjo não escutar, sinto vontade de chorar mas nem sei por que. Talvez seja pelo fato de rever o outro Dante, o seu lado ruim e destrutivo. Me abraço e o espero destravar o carro.
_Ei?--Desvio das suas mãos. Não tenho coragem de olhar pra ele.
_Destrava o carro, por favor?
_Me escuta...
_Por favor?--A vontade de chorar aumenta. Ele respira fundo e destrava. Entro na parte de trás. Espero ele entrar e começar a dirigir. Sinto seu olhar sobre mim através do retrovisor mas não ouso retribuir.
_Daisy, tem que me entender. Eu não sei com...
_Não quero conversar nem ouvir nada.--O interrompo, a voz sai tremida por estar reprimindo choro.
_Não faz isso...
Ele parece arrependido mas isso não quer dizer nada pra mim. Embora eu já tenha o perdoado, preciso de um tempo pra pensar na situação constrangedora que passei. Isso nunca tinha acontecido comigo antes. Não sei lidar com isso. Na verdade não sei nada de relacionamentos.
Vou o caminho todo calada e quieta pensando no quanto posso ter me iludido quanto a ele. O pintei como um príncipe em minha cabeça, mas na verdade ele é o próprio cavalo. Fechei os olhos para a realidade, eu amo um criminoso assassino e cruel. Deveria saber que uma hora ou outra as coisas iriam se complicar. Preciso tomar cuidado com esse meu amor por ele, está me deixando cega. Perdi meu fio racional e agora me encontro presa no labirinto perigoso que é esse relacionamento.
Eu o amo e isto é um fato, sempre vou amá-lo independente de tudo. Mas não me submeterei a mais situações vexatórias como esta. Eu odeio me expor ou ser exposta, prezo muito minha discrição e privacidade. Gosto da liberdade de ter certo domínio da minha vida e não vou cedê-lo nem mesmo a Dante, por mais que ele signifique tudo para mim. Ponto.
Ao chegarmos saio do carro mais do que decidida, fito-o e digo antes que ele comece.
_Quero ficar um pouco sozinha com meus pensamentos. Não me procure, por favor. Não quero uma briga.
Sem dar espaço para uma resposta sigo até meu quarto, fecho a porta pondo a cadeira na maçaneta caso ele tente abri-la. E só então, e somente então permito-me chorar. Tiro toda a roupa e vou tomar um banho. Choro por que os meus sentimentos estão em conflito dentro de mim. Choro com vontade.
Não é da minha natureza ser tão sentimental, mas hoje me permito ser, ser uma garota normal que chora por cada briguinha com o namorado. Tanto tempo sozinha fez de mim uma pessoa muito racional, analítica e retraída. Fugia de qualquer suspeita de aproximação não importando de quem, me tornei intocável. A única amiga que tenho é uma estranha exceção. Minha simpatia pela Corini foi imediata. Com Medeleny foi por hábito e com Dante é inexplicável.
Fico por muito tempo de baixo do chuveiro sentindo a água escorrer pelo meu corpo depois vou pra cama tentar desligar minha mente. Acho que consigo pois acordo com o barulho da porta caqualhando. Travo.
Ele persiste por alguns minutos e daqui ouço seu suspiro frustrado. Não ouso me mover até que esteja tudo silêncio lá fora. Sei que se arrependeu e quer concertar as coisas mas eu realmente precisava desse tempo sozinha. Decidida a resolver esta pendência pego um roupão preto no closet, que ainda tem algumas roupas minhas, visto para poder amarrar os cabelos em um coque desleixado.
Confiro a aparência do meu rosto e estou incrivelmente bem. Minha pele está ótima. Minha barriga ronca de fome. Suspiro saindo do quarto descalça mesmo. Me assusto ao vê-lo encostado na parede com os braços cruzados sobre o peito despido e uma expressão desolada e talvez um pouco alerta. Ao me ver se ajeita e antes dele falar eu digo.
_Estou com fome.
Seu cenho franze. Continuo.
_Vou almoçar.
Sigo para a cozinha com ele ao meu lado. Vejo que o almoço foi feito então me sirvo. Encho o prato de arroz cremoso e strogonoff de soja. Devoro tudo como se fosse uma presidiária que passou três dias de extremo racionamento. Dante me olha com espanto mas não diz nada. Hum...isso está tão gostoso.
_Fiz pra você sem saber ao certo se comeria...mas vejo que acertei.
Acertou mesmo. Depois de me satisfazer lavo minha louça recusando a oferta dele de lavar pra mim. Não é me adulando que você resolverá as coisas, meu bem. Termino e vou para o sofá com um potinho de geléia de morango. Dante se ajoelha a minha frente, me assusto.
_O que está fazendo?--Minha voz sai estrangulada. Ele me fita com tanto carinho e amor que me sinto mal por não ter deixado ele se aproximar de mim antes. Pega minha mão esqueda e beija.
_Pedindo perdão. Me perdoa? Eu nunca quis te machucar.--Beija meu pulso que ainda está arroxeado.
Por essa eu não esperava.
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