🔷PRÓLOGO: PEDRA DA LUA🔷
Em Pedra da Lua nenhum santo nasceu.
A história dessa cidade preencheu a alma de cada um que deu seu primeiro respiro nela: estavam fadados ao fracasso de viver e saber que nenhuma atrocidade era em vão ou puro acaso.
Sob os rochedos ásperos de um tom marrom areia; uma vegetação amarelada e retorcida, típica do cerrado; nuvens que ameaçavam uma tempestade celestial que nunca vinha, encontrava-se a cidade de Pedra da Lua no estado de São Paulo.
Décadas antes, os bandeirantes portugueses exploraram as cavernas subterrâneas da região e encontraram lagos submersos com águas de um azul intenso, pareciam até compostas por uma pedra preciosa e, de fato, eram.
Abaixo das águas calmas, encontravam-se diversas pedras da lua no solo, refletindo a pouca luz que adentrava as cavernas, atribuindo um aspecto sobrenatural e fantasmagórico para o lugar.
Forjado pelo sangue dos povos originários e criado a base de trabalho escravizado, o município nos dias atuais parecia pacato e insignificante aos olhos dos visitantes.
Seis mil, seiscentos e sessenta e seis habitantes; uma rua principal; dois prédios velhos e abandonados; dezenas de lagoas em cavernas e muitos animais de grande porte andando na área urbana.
Vacas, cavalos, porcos e até mesmo gatos selvagens apareciam sorrateiramente entre um sinaleiro e outro enquanto as pessoas nem se assustavam mais com suas intromissões perigosas.
O grande problema era que, em Pedra da Lua, ninguém estava a salvo de seus terrores; seus fantasmas em forma de lembranças; seus monstros bípedes andando como meros seres humanos entre cafeterias silenciosas, feiras barulhentas e bibliotecas esquecidas.
Entre eles, um assassino em série e uma mulher atormentada por um mistério de seu passado.
Antigamente, encontravam pedras caríssimas nas cavernas repletas de lagoas subterrâneas. Agora, por outro lado, as mais "seguras" recebiam os turistas que soltavam gritos horripilantes assim que encontravam o primeiro corpo, seguindo de outro dias depois.
Era assim que a água tinha mudado para o vinho ou, melhor dizendo, da pureza para a podridão do sangue e dos corpos mutilados.
Há um ano, o turismo e a segurança da cidade enfrentavam um terror crescente: mulheres nuas e decapitadas eram encontradas nas grutas, boiando nos lagos que estavam repletos de líquido vermelho.
Rodeada de fazendas antigas com casarões da época de Dom Pedro II, que faziam ecos com qualquer voz, a cidade era forrada de um perigo antigo e enraizado na mente da população: o conservadorismo.
Mas o que estava evidente e boiando nas lagoas era um horror diferente, palpável, anassassinato puro e cruel, com corpos dilacerados na região sagrada do feminino — dos órgãos genitais aos úteros.
As notícias corriam, mas as fofocam voavam.
Idosos questionavam na praça a identidade do assassino em série, poderia ser o professor esquisito, ou até mesmo um membro das antigas famílias políticas que perdiam poder ano após ano na câmara municipal.
Nas escolas, as crianças criavam histórias de terror diferente a cada dia para assustar as outras. Na sala dos professores, o elefante branco não era mencionado e, na prefeitura, qualquer um que ousasse falar a palavra "morte" era recebido com olhares de reprovação imediatos.
O último caso de desaparecimento na cidade estampava as capas dos jornais locais e, nos dias seguintes, nacionais. A mídia se adiantava e relatava quem não estava dando presença na pacata cidade; os policiais logo se pronunciavam alegando que nada estava acontecendo para, depois, corpos serem encontrados.
No dia 12 de março de 2024, faz duas semanas que Samantha Pinheiro não é mais encontrada na cidade de Pedra da Lua. A família, do Rio de Janeiro, mencionou que não tem contato com ela há meses e que isso é normal. Colegas de trabalho alegam que ela avisou que iria viajar. Seria somente uma viagem ou mais um desaparecimento?
A voz no jornal causava ansiedade nos cidadãos e afugentava os turistas. Homens de bem corriam para comprar alarmes, cercas e câmeras para suas casas; os pais iam buscar suas filhas na escola, especialmente se fossem loiras, com medo que fossem levadas e aparecessem nuas e mortas nas grutas.
Os estabelecimentos comerciais não contratavam mais mulheres com medo de chamar a atenção do assassino; os hoteleiros viviam reclamando e bebendo em bares para esquecerem as dívidas que chegariam; todas as mulheres andavam com canivetes na bolsa, evitavam andar sozinhas até mesmo na luz do dia.
Em Pedra da Lua, ninguém estava a salvo, seja das fofocas, suspeitas, passado ou do perigo iminente.
Talvez, somente uma pessoa poderia estar em segurança, até porque era ele quem provocava os desaparecimentos e mortes; era ele quem jogava os corpos nos lagos dentro das grutas e se sentia aliviado depois de tanto esforço para torturá-las e matá-las.
O assassino em série de Pedra da Lua acreditava ser a única pessoa a salvo naquela cidade. Mas esta realidade estava prestes a mudar.
Uma mudança tão sutil e bela como o anoitecer dentro de uma hora; quando o sol se esgueira por trás das nuvens, desce, desce e desce até desaparecer por completo no horizonte cinzento.
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Agradeço por estar dando uma chance para a minha história!
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Até o próximo capítulo!
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