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🍃CAPÍTULO XIX: BICHO NA SELVA🍃

—D A N I E L Is Not Sick—

Kato ergueu os olhos das páginas e seu coração disparou. Sentindo o óculos na ponta do nariz, concordou com a cabeça. Mas decidiu ignorar, só para ver se ele falaria mais alguma coisa. E deu certo. O monstro se ajeitou na cadeira e descruzou os braços.

— Seus pais estão vivos? — ele questionou. Sarah concordou com a cabeça — eram iguais a você?

— Negros? — ela perguntou, fechando o livro e o depositando no colo. Daniel concordou — por parte de pai, sim, mas de mãe, não.

— Ela era branca? — Sarah negou em resposta.

— Amarela — respondeu. Daniel juntou as sobrancelhas.

— Asiática?

— Amarela — reforçou. Miller suspirou.

— Faz sentido, pelo seu sobrenome, mas você não utiliza o do seu pai, então? — A doutora negou com a cabeça — por que?

— Meu pai não tinha sobrenome — Daniel riu — isso é engraçado?

— Algumas pessoas que trabalhavam para minha família também não tinham — ele respondeu. Sarah prendeu a respiração com a brecha.

— E você? Tem família?

— Meus pais também estão mortos.

— Tios? Primos?

— Sou o último da linhagem Miller. — Ainda bem, Sarah pensou — engraçado, né? Se eu não gerar filhos, tudo isso morre comigo, a linhagem, a herança, os sabonetes, tudo... — Ele fez uma breve pausa, respirou fundo e continuou: — espero que isso aconteça o mais rápido possível. — A psicóloga juntou as sobrancelhas.

— Por que?

— Foram todos uns porcos imundos.

— Por que?

— Eu tive uma aula particular na infância, que nenhuma outra criança teve, sabia, doutora? — Ela negou com a cabeça — meu pai contratou um professor para me ensinar uma matéria com um nome que eu demorei anos para entender o significado — disse e revirou os olhos — aquele filho da puta falava tudo como se fosse ciência, mas eu sempre achei estranho, tinha um pé atrás com tudo que ele dizia para mim.

— E por que você não acreditava no seu professor?

— Porque eu podia ver com meus próprios olhos que não era verdade, Carla foi uma prova científica minha — ele respondeu.

Sarah ergueu as sobrancelhas.

— Fez uma experiência científica quando criança? — ela perguntou com descrença. Daniel deu de ombros.

— Sim, bastante simples — ele prosseguiu descruzando os braços. Notou como a doutora ficou interessada no nome que ele disse.

Não era à toa que estava, enfim, falando.

Daniel Miller era sádico, psicopata, maníaco e perverso. Mas uma coisa ele nunca foi: burro. Sabia muito bem como manipular alguém, como ser ouvido da maneira perfeita para que, em dado momento, fizessem o que ele queria e da forma como queria.

Era como um leão se esgueirando entre a relva verde musgo; um leão sem juba, sem poderio, sem matilha. Sozinho, preso, isolado, e, ainda assim, caçando. Não como antes, não para sentir a carne mole e sangrenta e ouvir o último suspiro de vida ser dado.

Caçava para conseguir ser livre.

Caçava para sentir alguma coisa, qualquer coisa.

Caçava para conseguir ser, de novo, o monstro.

Caçava criando uma nova armadilha.

Queria entender o que aquela mulher queria dele; notar qual era seu real interesse nele. Tinha percebido, até agora, que sua família e o casarão eram o assunto que a fazia parar de respirar.

Como um bicho na selva, ele permaneceria se escondendo, até o momento perfeito para capturar sua nova presa.

— Que experiência fez?

— Só observei — respondeu — o meu professor dizia que Carla era inferior a mim — disse e respirou fundo — que era cientificamente menos inteligente. Mas ela aprendeu a ler sozinha aos treze anos com os livros que eu roubava da escola para ela, não fazia sentido.

— Você não a ensinou a ler? — Daniel riu e se inclinou para frente.

— Não foi preciso, ela aprendia mais sozinha do que comigo.

— E porque, então, seu professor dizia que ela era inferior a você? — Ele encostou de novo, encarou a janela com o céu cinza cimento e as árvores peladas e retorcidas.

— Porque ela era negra — respondeu e voltou o olhar devagar — assim como você — Aquilo fez o coração de Sarah disparar por um segundo. Por fora, ela permanecia a mais pura tranquilidade, serena, como se estivesse tomando um café com um amigo que não via há tempo. — Você é outra prova de que ele estava errado, eu virei um assassino, você é doutora, está vendo como não faz sentido?

— Qual o nome da aula que ele te deu, Daniel?

— Eugenia, eugenia racial. — Sarah prendeu a respiração — você sabe, não é? Você sabe alguma coisa...

— O que?

— O que minha família fez e foi por tantos anos.

— Não sei.

— Deve saber, mora desde quando em Pedra da Lua?

— Me mudei faz um ano — mentira. Miller estreitou os olhos.

— Mentira — ele disse e riu forçado — vai ficar mentido para o seu paciente? — Sarah negou com a cabeça e abaixou o olhar— fale, o que eles eram? — Ela continuou negando enquanto Daniel sorria — fale, assim os monstros ficam à luz e não podem te machucar.

Kato ergueu o olhar.

— Nazistas — falou trêmula. Miller concordou com a cabeça.

— Notei que você é bastante curiosa sobre a minha vida, durante o ataque, você tentou descobrir mais o que eu ou quem eu estava ouvindo.

— Sou sua psicóloga, é minha obrigação saber sobre a sua vida para te ajudar no processo de terapia — respondeu calma, ignorando ao máximo a ansiedade que quase fazia suas mãos tremerem.

Daniel se inclinou de novo. Não conseguia ficar parado.

— E você, por algum acaso, não pensou que eu pudesse estar delirando durante o ataque? — perguntou, juntando as mãos em frente de seu joelho — falando coisas sem sentido e que precisasse, na verdade, me acalmar e não reviver ainda mais aquilo?

— Miller...

— Daniel, para você.

— Daniel, eu peço desculpas por isso.

— O que me intriga é essa sua curiosidade, mas acho que entendi, alguém que você conhece ou conheceu trabalhou na fazenda Miller.

— Sim... — ela sussurrou.

— Quem? — ele perguntou.

Sarah não conseguiu responder. Sua garganta travou, como se tivesse inchado durante uma crise alérgica. Permaneceu encarando seu paciente, pensando em um homem como ele, mas velho, mais gordo, e a imagem de seu pai no tronco veio à sua mente.

— Quem, Sarah? — Ela demorou quase um minuto para falar e, quando disse, levantou-se em seguida com a prancheta e o livro que tinha levado para ler nas mãos.

— A nossa sessão acabou — respondeu.

Sarah estava com falta de ar.

Não sabia onde estava, parecia uma sala cinza, sem móveis e quase sem luz. Sentia-se claustrofóbica, uma coisa na garganta a impedindo de até mesmo falar, tentou gritar, mas nada saiu.

Sua boca abriu em um grito mudo e suplicante.

Seus olhos se encheram de lágrimas e, quando ela caiu de joelhos sentindo as pernas tremerem e falharem, encarou o teto: pequenos chuveiros estavam instalados em cada canto.

Tentou gritar de novo, tentou se mover, mas não conseguia.

Sentia-se amarrada, como se seus membros estivessem atados a algo. Só podia encarar os chuveiros, rezando mentalmente para que eles não ligassem, o mal pressentimento era mais palpável e real do que a sensação de dor nas pernas e a imobilidade de seu corpo.

Olhou para os lados, girando a cabeça freneticamente.

Não havia nenhuma porta.

Nenhuma maldita janela.

Nada.

Era um bloco de cimento fechado.

Sentiu seu coração disparar ao ouvir uma torneira sendo aberta, líquido escorrendo, seus braços tremiam sem parar.

Quando olhou para frente, Daniel sorria macabramente.

O monstro segurava uma alavanca de ferro acoplada na parede. O chão frio fazia seu corpo arrepiar. O medo era um companheiro maldito e pilantra, brincando com seus orgãos; o estomago revirou; sentiu uma pontada na bexiga e uma zonzeira na cabeça.

Cabelos loiros e lisos, a pele branca, o sorriso brilhante e o corpo grande e másculo de Miller faziam seu coração galopar como se estivesse em uma corrida pela sua vida, pela sua alma, pela sua sanidade.

Ele sorriu mais e começou a empurrar a alavanca para baixo, Sarah abriu a boca para gritar, mas nada saiu de novo.

O único barulho foi o do metal sendo empurrado, o rangido enferrujado; sentiu um cheiro estranho, ouviu os chuveiros sendo abertos, e abriu a boca, tentando falar qualquer coisa, nada saia.

Após engolir tantas verdades não ditas, permitindo que somente mentiras saíssem de seus lábios, notou-se assônica.

O sorriso de Daniel alongou mais, chegando de orelha a orelha e, enfim, a alavanca chegou no final e os chuveiros no teto abriram, liberando o barulho do líquido respingando por todo os cantos, como se fosse um chafariz sendo ligado em uma praça qualquer.

Sarah fechou os olhos, ainda tremendo, e abaixou a cabeça.

Seu grito de desespero nunca foi ouvido; sua súplica por misericórdia divina nunca foi profanada; seu discurso de justiça nunca foi falado; seu apelo pelo que havia restado de humanidade em seu paciente nunca foi dito.

Sua mente e coração barulhentos convivendo com seu silêncio injusto como foi por toda a sua vida.

Queria gritar tudo o que carregou por anos no peito ao não saber o que aconteceu com o seu pai; tudo que a fazia desejar perder a consciência de tão bêbada para esquecer sua história, sua realidade, suas lutas intensas e sangrentas que ninguém via.

Agitava-se, contorcia-se, mexia-se, mesmo sem conseguir sair do lugar, para poder, de alguma forma, expressar sua indignidade por ser destinada ao silêncio; ao mistério; ao luto nunca vivido.

Aqueles segundos antes do líquido daqueles chuveiros cair nela durou uma eternidade em que sua vida passou diante de seus olhos fechados como um filme mudo de terror e drama.

Quantos os primeiros pingos a atingiram, ardeu. Sarah levantou o olhar e encarou Daniel. Ambos começaram a ficar molhados e, ao mesmo tempo, não. Observava o líquido cair na cabeça e cabelos loiros do monstro e evaporar em seguida, não antes de corroê-lo.

Kato sentiu os pingos perfurarem sua pele, como se estivesse sendo queimada ou pior, cavucada, fritada ao extremo. Agitou-se mais e, enquanto ela era corroída, seus cabelos caiam; sua pele era inundada pelo líquido que encontrava os ossos e paravam.

A dor era excruciante, mas não conseguia se mover, falar, e, assim, ficou encarando a própria pele derreter, virando uma mistura de gosma vermelha com ossos. Ao erguer o olhar, na sua frente, Daniel Miller não era mais um homem com um olho azul, outro branco e uma cicatriz.

Ele era somente uma caveira com a boca aberta.

Acordou sobressaltada, batendo as duas mãos ao lado do corpo. Na cama, seu marido acordou e a abraçou forte.

Benjamin tentou acalmar a esposa que não conseguia parar de chorar, as lágrimas escorrendo e deixando sua bochecha brilhante. Sarah via ainda aquela maldita caveira que conseguiu falar mais do que ela que tentou gritar. O que os restos de Daniel falou foi:

— Somos iguais assim, Sarah, somos iguais por baixo da pele.

🍃🍃🍃

Obrigadão por ler até aqui!

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Até o próximo capítulo!

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