👹CAPÍTULO VIII: INFERNO👹
— 𝕾𝖊𝖗𝖎𝖆𝖑 𝕶𝖎𝖑𝖑𝖊𝖗 𝕰𝖘𝖈𝖆𝖕𝖊—
Sarah Kato não acreditava em meritocracia.
Sabia que sua linha de largada da vida era bem mais para trás do que de outras pessoas.
Nada lhe restava além de se esforçar ao máximo para viver medianamente bem em uma sociedade que, décadas antes, não considerava pessoas da sua cor de pele nem como seres humanos, muito menos cidadãos, muito menos profissionais da saúde.
Escolheu a Psicologia, casou com ela por anos de estudo, análise e clínica. Optou pelo mestrado e doutorado em criminologia, acreditava que, se pudesse entender o que criminosos, especialmente assassinos, pensavam, como se comportavam, um dia iria desvendar o mistério do desaparecimento do pai.
Pois é o passado que moldava seu futuro e nunca se preocupou em fazer do presente algo além do que um meio para chegar em um fim.
Emma Magalhães arregalou os olhos e suas mãos pararam. Não tinha conseguido desamarrar a corda, não sairia dali, morreria nas mãos de Daniel Miller, assim como Samantha Pinheiro.
O miocárdio estava inundado de adrenalina, a respiração ofegante, a dor na perna era torturante e a morte seguia iminente.
O assassino se aproximou dela, apertou o canivete, liberando a lâmina, e jogou a bituca no chão.
Cada canto do corpo de Emma tremia ao ver o brilho da lâmina se aproximar. Daniel apertou o aço frio e afiado contra a bochecha dela e o desceu até o queixo empurrando o canivete cada vez mais para dentro.
As cordas vocais suplicaram para parar, mas a voz de Emma soou mesmo assim a cada segundo.
Daniel sorria de orelha a orelha e, quando chegou ao queixo, retirou a lâmina para fazer o mesmo movimento na outra direção.
Depois que o sangue escorreu aos montes e o som do grito perdurou, havia no rosto de Emma a marca do assassino: um X vermelho na face da escolhida.
Ofegante e suando, os olhos trêmulos dela o encararam. Os olhos azuis de Miller brilhavam em êxtase, ele passou a ponta da língua nos lábios, molhando-os.
Enquanto via o líquido espesso e vermelho escorrer, Miller sentia o volume na calça aumentar. Ele suspirou e, mesmo que Emma continuasse gritando, ela ficou em silêncio, havia perdido a voz.
— Como eu disse, nós vamos brincar.
O assassino se aproximou ainda mais do rosto do dela e a Emma fechou a boca com a faringe e a laringe em chamas.
Estava irritadiça, não morreria nas mãos de Daniel Miller, na verdade, se pudesse, seria ela quem acabaria com ele.
Daniel entrou em transe ao observar o sangue, largou o canivete na estante, levou a mão até a face dela e enfiou o indicador no primeiro corte que deu.
A face de Emma ficou assim como o de Samantha: em um formato quase oval em que a boca ocupava mais da metade da face e o restante, o nariz e os olhos, competia para tentar permanecer ali.
À medida que adentrava na carne dela, o assassino ficava cada vez mais duro. Tirou muito devagar o dedo e ficou olhando a mão suja com admiração.
— Só começando — ele disse.
Emma sentia a face, a perna, o coração e a vida arderem em chamas do inferno. Teria que fazer algo antes que ele pudesse torturá-la até que ficasse ainda mais incapacitada de se mover, de correr, de sair dali.
Com esses pensamentos, notando como o homem ficava mirando a própria mão e, mesmo assim, permanecia a centímetros de sua face, Magalhães tomou a única atitude que entendeu como viável.
Em um movimento brusco, reunindo a ira que era alimentada pela dor e pelo desespero, Emma Magalhães cabeceou Daniel Miller com a força que ainda tinha.
O monstro atordoado e, como toda ação tem uma reação, foi jogado um pouco para trás com o impacto. A noiva cadáver sentiu muita dor e ficou zonza, mas, sem pensar duas vezes, repetiu a ação.
Com o segundo impacto, Daniel bateu a cabeça na cadeira e, em seguida, cambaleou para o lado e caiu devagar no chão com uma mão apoiando a queda e com a outra cobrindo a testa.
Magalhães estava muito zonza, mas a vontade de viver chamava por ela. Assim, ao abrir os olhos com a vista duplicada, mirou a seringa cheia a sua frente. Não sabia como, mas atacaria Daniel Miller com ela.
Enquanto o assassino se revirava de dor no chão, Emma impulsionou o corpo para cima, fazendo a cadeira dar um pulinho.
Ao repetir o movimento, ousou pender o corpo um tanto para o lado e, então, ao tocar o chão pela segunda vez, os pés da cadeira bambearam para um lado e, depois, para o outro, parando. Quase havia caído até o chão.
Emma Magalhães já estava bem próxima da estante, mas conseguiu ficar ainda mais próxima. Sorriu satisfeita, agora viria a parte mais complicada.
Começou a inclinar os ombros para frente, voltou a cabeça ao máximo até o espaço vazio da estante e, assim, abriu a boca e começou a procurar pela seringa com ela.
— Você... — A voz de Daniel soou atrás dela.
No mesmo momento, irracionalmente, Emma puxou a cadeira novamente para cima em um impulso, caiu para frente em cima da estante, deixando os pés traseiros da cadeira no ar.
Com isso, ela finalizou sua caça: abriu a boca ao máximo, virou a cabeça para baixo e segurou a seringa pela extensão.
— Solte! — Daniel gritou, a envolvendo por trás com os braços. Uma mão do lado direito tentava puxar a cabeça dela para o lado, a outra procurava a seringa entre os dentes da noiva cadáver.
Miller enfiou o dedo da mão esquerda entre os lábios e os dentes de Magalhães, mas não havia como retirar, ela segurava a embalagem com força e o vidro estava prestes a estourar.
— Larga! — Miller gritou novamente.
Emma abriu os olhos, sabia que Daniel estava muito próximo por causa da voz em seu ouvido. Ao encarar os olhos em fúria ao lado dos seus, Emma balançou a cabeça ferozmente, em reflexo, Daniel recuou para trás.
Um plano mirabolante passou de raspão pela mente perturbada e em alerta de Emma Magalhães.
Nunca saberia se iria funcionar caso não colocasse em prática. Então, tentou. No mínimo, morreria, no máximo, acabaria com Daniel Miller.
Assim, ela inclinou a cabeça, a orelha tocou o ombro direito e, em um único impulso de força, virou a cabeça para trás em direção ao rosto do assassino.
Com o movimento um pouco desengonçado, a ponta da agulha acertou o olho esquerdo de Daniel, que soltou um grito ensurdecedor.
Quando Emma notou que a seringa estava presa, sentiu uma satisfação enorme e, então, solto-a, recuou a face para o lado e empurrou a ponta de plástico da seringa com a bochecha, metade do líquido entrou na íris de Daniel Miller, navegando para dentro do corpo dele.
Daniel cambaleou para trás, pisou em falso e caiu no chão em um estrondo. Os pés traseiros da cadeira de Emma finalmente trocaram o chão e pararam.
Ela respirou fundo e voltou o rosto para a estante, encontrando o canivete reluzindo seu sangue. Aproximou a cabeça de novo, mas sabia que uma abordagem diferente seria necessária. Emma mirou o topo da cabeça no objeto, a lâmina caiu no chão em um sibilar, e o som se misturou com o berro de dor de Miller
O assassino ouviu, olhou o objeto ali, esticou o braço para pegá-lo enquanto gritava, mas, segundos depois, sentiu o impacto da madeira no osso do braço — por pouco não foi quebrado.
Emma se jogou na direção do canivete, caiu de lado e fez a cadeira se chocar contra o braço dele.
Ambos deitados no chão, encaravam-se em fúria, o homem não conseguia tirar o braço, a mão livre tentou empurrar Emma e a cadeira para longe, mas logo desistiu e voltou-se para o rosto na tentativa de segurar a seringa.
A noiva cadáver tateou o chão sem conseguir olhar em busca de seu salvador. E quando sentiu a lâmina gosmenta, o coração disparou, segurou-a com força e começou a serrar a corda.
Como estava colada em Daniel, notou como o homem começou a tirar a seringa e, então, se empurrou para frente. Os joelhos de Emma se esbarraram com o cotovelo de Miller e, assim, em vez de tirar a agulha, ele a empurrou mais para dentro.
— Filha da puta! — o monstro berrou. Emma começou a sentir as cordas ficarem frouxas até que, enfim, uma enfim se rompeu.
Enquanto ainda serrava com uma mão, e puxava as cordas com a outra, Emma contorcia o corpo para todos os lados, fazendo as amarras se soltarem. Daniel retirou a seringa, a jogou para longe, segurou o pescoço de Emma e começou a apertá-lo com força.
— Sem brincadeiras com você, então!
— Vá para o inferno!
—Estamos nele! — disse o assassino.
Mesmo sentindo falta de ar, Emma não parava de serrar, e mais uma corda se rompeu, mas já não conseguia mexer o corpo como antes.
Então, ela começou a perder os sentidos devido à falta de ar. Não tinha mais forças para serrar, largou o canivete no chão.
Quando achou que ia perder a consciência de vez, sentiu os dedos ao redor da epiderme afrouxando. Abriu mais os olhos e... Daniel Miller estava com dificuldade de manter os dele abertos, pois um jorrava sangue.
Segundos depois, a mão e o braço do homem caíram.
— Filha da... — ele sussurrou e a cabeça, com o olho sangrando, caiu no seu ombro.
Emma puxou uma grande lufada de ar para os pulmões e, quando pôde enfim retomar a consciência, notou Daniel com os olhos entreabertos, largado na sua frente.
Emma movimentou freneticamente o corpo, cerrou mais uma corda e, enfim, libertou-se. A mulher tentou se levantar, mas a perna esquerda gritou, assim, ela empurrou a cadeira para o lado e se sentou no chão.
Respirou fundo, levantou o móvel fazendo um grunhido baixo, se apoiou nele com as mãos e, com o rosto pingando sangue, levantou-se e ficou com um pé no chão e o outro o tocando de leve.
Olhando o demônio perdendo os sentidos no chão, Emma sorriu, pegou a arma da estante, mirou para o assassino em série e falou:
— Seu inferno começa hoje, Daniel Miller.
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