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CAPÍTULO VINTE E DOIS

– Você tem certeza de que não foi o chá que te fez sonhar com tudo isso? – Heart coloca a vasilha com as folhas de alface lavadas ao meu lado e me encara.

– Sóbria que nem uma pedra, irmãzinha. Pergunte ao Luca. – Agito a faca que uso para cortar os tomates em direção ao quintal.

– Perguntar o que? – meu melhor amigo entra na cozinha para buscar mais pratos para arrumar a mesa ao ar livre.

– Perrie Michelle realmente beijou Gael Carpentier ou ela inventou tudo? – ela apoia as mãos nos quadris, claramente irritada comigo por ter guardado esse acontecimento dela por três dias.

– A sua irmã chegou tão vermelha e radiante no hotel que eu achei que eles tivessem pulado todas as etapas e partido para a cama! – ele responde, mas logo se dá conta de quem segura a faca e se contém. – Ela estava sóbria, Harriette.

– E por que ninguém me ligou para contar sobre isso? Por Deus, eu estou esperando esse beijo há meses!

– Ah não, você nem comece – resmungo. – Chega, eu não quero ouvir mais uma vez como todo mundo enxergava que a raiva entre nós terminaria em algo romântico. Foi só um beijo, superem, sabe.

– Se tivesse sido só um beijo, você teria me contado antes! – Heart bate o pé e faz uma careta emburrada.

– E, Michelle, você sabe que foi só preciso que vocês declarassem uma trégua para deixarem o orgulho de lado e verem o que estava realmente acontecendo. – Luca bate no meu quadril gentilmente e equilibra os pratos em suas mãos. Seu sorriso se engrandecesse a cada segundo porque ele adora quando Harriette e eu brigamos por coisas banais.

Um molho de chaves tilinta na entrada da casa e logo Jeff aparece na cozinha, flagrando o início de uma discussão muito acalorada entre suas filhas. Luca escapa antes que as facas virem armas de um crime.

– Dava para ouvir vocês gritando da rua – ele indica as janelas abertas e deixa as sacolas de pano sobre o balcão. – Perrie, minha querida, por quanto tempo você vai continuar ignorando seus sentimentos por este piloto?

– Até o papai sabia e eu não? Perrie, quem te ligou para te avisar das fofocas, heim? Eu merecia saber!

– E foi por isso que eu contei para o papai e não para você, Heart. Eu já sou surtada sozinha, eu precisava de uma voz da razão e não disso – aponto a faca para ela e sorrio. – Viu? Eu tenho razão.

– Acho que o que a sua irmã quis dizer é que você tem seus próprios problemas com a Paris Fashion Week se aproximando e ela não queria sobrecarregá-la – nosso pai tenta apaziguar os ânimos com sua paciência de um monge. Ele se aproxima de mim, tira a faca da minha mão e termina de cortar os tomates.

– Não, eu realmente disse o que eu disse – resmungo.

– Perrie, você poderia guardar as compras, por favor?

Estamos na cozinha, o território sagrado de Jefferson Aroniz, e brigas não são permitidas enquanto ele prepara as refeições. Seu pedido é uma forma de me calar antes que eu ultrapasse os limites – e eu acato suas ordens sem pestanejar. Harriette, no entanto, não está feliz e faz questão de demonstrar isso ao se sentar numa banqueta e cruzar os braços.

Guardo alguns itens, deixo outros sobre a bancada porque eles serão necessários ao longo da preparação do almoço. Desde que eu cheguei em Chicago, meu pai decidiu tirar uma folga do restaurante – ele ainda passa lá todos os dias antes da casa abrir, mas deixa o serviço por conta de seus pupilos – e Heart diminuiu suas horas no estúdio. Eles querem aproveitar as minhas "férias" para passarmos um tempo de qualidade juntos.

E Luca está aqui porque ele é parte da família e porque ele estava com Harriette no estúdio para ajudá-la a se preparar para as entrevistas que começaram a surgir agora que a Aroniz & Co foi anunciada para a Paris Fashion Week. Eric deve chegar em breve com Bowie e Joanne, assim a família estará completa.

– Não pense que essa conversa acabou, Perrie – minha irmã agora quer tirar todas as informações possíveis de mim como vingança por ter sido a última a saber do beijo.

– O problema é que eu não tenho mais nada para falar – abro a torneira e lavo as louças sujas. – Nós nos beijamos, conversamos por mais uma hora e meia, eu acho, e eu fui embora.

– Sobre o que vocês conversaram? Eu tenho certeza que ele se sentou do seu lado pelo resto da noite.

– Nós conversamos sobre trabalho, você tem que parar de insistir que fomos além disso. – Não consigo encarar a minha irmã, mas sei que ela está apoiada no balcão, me encarando com sua melhor expressão chantageadora. – Harriette, chega!

– Eu não fiz nada! – ela se defende e nosso pai gargalha.

– Você fez sim. – Ergo a cabeça e encaro o revestimento da parede. – Lábios torcidos, cotovelos na bancada, queixo nas mãos, olhos ardendo de tanto ficar sem piscar. Isso não funciona mais comigo.

– E o que funciona com você? Um sotaque francês e um contrato de exclusividade?

– Harriette! – exalto-me. – Eu disse para você parar!

– Eu precisarei intervir? Vocês já são velhas demais para eu colocá-las de castigo – nosso pai resmunga. – Harriette, Perrie, parem agora.

– Espero que Eric traga o gim que me prometeu para eu encher a cara como nunca enchi antes.

– Você fala como se não bebesse quatro taça de tin tônica por semana – Heart dispara.

– Mas eu bebo até cair uma vez na vida, outra na morte. – Fecho a torneira e pego o pano de prato para enxugar as mãos.

– Então você morre com frequência.

– Implicante – murmuro, encarando-a com um sorriso. – Por que você não vai lá ajudar Luca? Não precisamos de uma fiscal na cozinha.

– É melhor eu ser a primeira a saber da próxima vez, Perrie, ou você vai se arrepender de ser minha irmã – ela desce da banqueta e sai pela porta do quintal.

Rio sozinha e caminho até o fogão. Meu pai está usando um avental que Heart confeccionou especialmente para ele em vez da costumeira dólmã do restaurante. Seus olhos estão atentos ao cozimento dos legumes, assim como suas mãos vêm e vão das colheres e espátulas.

– O cheiro está incrível – apoio o rosto em seu braço e sorrio. – Eu recebi uma proposta para trabalhar em Chicago. A emissora é enorme e eles querem uma equipe experiente para cobrir o automobilismo em geral.

– Você ficaria com a Fórmula 1?

– Sim. O contrato de exclusividade deixou todos interessados, assim como os meus resultados.

– Você não os prometeu que conseguiria o contrato para a próxima temporada, certo? – ele prova do molho que está preparando e adiciona um pouco mais de açúcar para balancear a acidez do tomate.

– Não, mas a emissora já está conversando com outros times porque ela quer mesmo se tornar parceira de um deles e se dedicar mais à categoria. – Afasto-me e ergo meu corpo para me sentar na bancada, poucos passos distante do fogão.

– Sua mãe teria muito orgulho de você, Perrie. Você é tão nova e está alcançando tantas coisas num ramo hostil.

– Assim como você conseguiu a sua primeira estrela depois de tantas tentativas. Que venham mais e mais estrelas!

– Eu já tenho duas estrelas incríveis, essa nova não significa muita coisa para mim.

– Significa sim, pai. Significa que todo mundo vai olhar para você e admirar cada detalhe dos pratos que saem da sua cozinha. Eu serei a primeira a te entrevistar quando você conseguir sua segunda estrela.

– Você me ajuda muito me apoiando, querida, não precisa se preocupar com entrevistas. – Ele se aproxima e beija a minha bochecha. – Eu não poderia pedir mais nada.

– Espero que eu possa pedir um lugar para ficar quando voltar a trabalhar em Chicago.

– Isso você não precisa nem pedir. – Ele sorri, provavelmente aliviado por ter as duas filhas por perto de novo. – Mas saiba que você estará proibida de pedir comida de outros restaurantes que não seja o do seu pai.

– Pensei que fosse ter comida incluída na minha estadia com você – retruco. Nós gargalhamos porque com certeza eu vou acabar cozinhando para ele.

– Você está muito engraçadinha hoje.

Estou quase saindo da cozinha quando sou chamada pelo meu pai.

– Perrie! Você guardou o salmão?

– Não tinha nenhum salmão nas sacolas, pai. – Coloco a cabeça para dentro da cozinha, observando-o fechar as portas da geladeira e esbravejar.

– Ah, droga! Eu esqueci de comprá-lo. – Ele olha para o fogão cheio e as preparações pela metade. – Você poderia comprar duas peças para mim?

– Claro. – Sorrio e sigo em direção à porta. – Precisa de mais alguma coisa?

– Não, Perrie. Pegue o dinheiro na minha carteira e use meu carro!

– Até parece que eu dirijo, pai! – respondo alto enquanto procuro minhas chaves e meu celular.

– Me esqueci completamente desse detalhe. É nisso que dá não morar com o pai!

– Claro, até parece que você não sabe tudo o que eu faço porque trocamos mensagens diariamente. – Destranco a porta. – Volto em 40 minutos!

– Tudo bem! Volte com dois salmões!

– Pode deixar, pai! Te amo!

– Também te amo!

++++++

– E aí, não, vocês não imaginam o que aconteceu – Eric se senta ao meu lado na beirada da piscina e aponta para Luca. – Esse maluco que vocês consideram jornalista entrou na sala do meu setor enfurecido porque eu tinha comido o último bolinho no café da manhã.

– Você já tinha comido uma dúzia deles! – Luca joga água no noivo e acaba me atingindo.

– Ei! Vocês se acertem depois! Eu gostaria de me manter intacta, obrigada. – Resmungo.

– Vocês se merecem – Heart resmunga de seu colchão inflável, enquanto a brisa do final da tarde a embala pela superfície da piscina. – Uma vez o Luca também me ameaçou porque eu não tinha guardado uma camisa para ele.

– Era a camisa mais bonita da face da Terra! – meu melhor amigo retruca.

– Mas você não tinha me pedido!

– Claro que tinha! Está implícito quando eu te marco em todas as minha publicações que eu quero várias peças sem ter que pedir!

– Aproveitador. – Consigo ouvir a revirada de olhos que minha irmã dá em seu tom de voz. – O que você queria que eu fizesse? Ficasse sem lucrar?

– Não é bem assim, Aroniz.

– Claro que é! Eu tinha acabado de colocar a peça no cabide quando esse aspirante a modelo passou e a viu! Ele pagou o preço que eu falei sem pensar duas vezes porque estava apaixonado por ela.

– Você é muito gananciosa!

– Aquela camisa pagou metade do investimento que eu fiz naquele showroom. Mas você nem pode reclamar porque você não pagou um centavo por aquele look escandaloso do baile de gala.

Assisto à discussão com minha taça de gim tônica, Eric se levanta para perguntar se meu pai precisa de ajuda na cozinha. Tivemos um longo e delicioso almoço salada de folhas com frutas da estação, salmão assado com batatas, legumes cozidos no vapor e lasanha de berinjela vegana com molho feito a partir dos tomates do nosso quintal. Claro que minha irmã e eu nem encostamos no salmão, mas o aroma estava divino por causa do azeite de ervas que nosso pai banhou o salmão.

A conversa e o clima em família se prolongou e Jeff decidiu preparar um jantar para nós, só que um pouco mais simples que o almoço. Ele está preparando as massas de pizza e nós vamos cuidar dos recheios. Para assá-las, vamos usar o forno à lenha recém instalado na área gourmet externa.

– Como você se sente, Perrie? – Eric toca o meu ombro e me estende duas torradas com geleia de morango.

– Bem. E você?

– Ah, por favor, conte-me mais sobre o grande momento – ele sorri e percebe Bowie ao seu lado, pedindo por carinho. O corgi se rende ao toque de Eric em sua barriga.

– Não teve nada estilo conto de fadas, sério. Luca já deve ter te falado tudo o que eu relatei para ele.

– Mas é melhor ouvir de você.

– O que você quer que eu diga, Eric? Ok, talvez eu tenha começado a desenvolver alguns sentimentos por ele em algum momento antes do baile, mas não percebi, e eu nem queria me iludir depois do vazamento das fotos. No momento em que ele pediu para me beijar, eu soube que estava perdida.

– Que romântica incurável você é, Perrie.

– Nem comece, por favor. – Deixo a bebida de lado e cruzo as pernas. – No final das contas, eu me sinto péssima porque nós nos beijamos e depois agimos normalmente. Eu fui embora e ele não deu a entender que nos veríamos novamente.

– Mas você ainda não tem que entrevistá-lo pelo resto da temporada?

– Deixe-me reformular: além de nosso trabalhos, ele não deixou claro se o que aconteceu voltará a se repetir.

– E por que você não pergunta isso a ele? Por favor, não me diga que depois que a conversa acabou, vocês não trocaram seus números de telefone ou se seguiram nas redes sociais.

– Não é tão simples assim, Eric. – Joanne se aproximou enquanto conversarvamos e eu a coloco no meu colo apenas para não ter que encarar meu amigo.

– Como não é tão simples? Aquela merda com os rumores enterrou o resto da sua confiança, é isso mesmo? – seu tom se eleva. – Você o beijou e pretende agir como se nada tivesse acontecido?

– Sim, é bem mais simples.

– Não, não é! Eu não o conheço para além daquilo que você me conta, mas eu consigo enxergar as intenções dele em cada ação. Corrija-me se eu estiver errado, mas a irmã dele te contou que ele tinha mais convites para o baile, e não a levou, certo?

– Sim, mas ela não falou em quantidades.

– Não passou pela sua cabeça que ele pediu ao consultor lá para te entregar os convites que ele conseguiu para você?

– Eric, eu não acho que...

– Amor, você é brilhante! – Luca estende os braços e puxa o rosto de Eric para um beijo. – Quais outros acontecimentos podem ser consequências de ações do Carpentier?

– Sabemos pela irmã dele que o contrato foi uma forma de ele se desculpar pelo ocorrido na festa do início da temporada – ele começa.

– Bom, eu fui colocada no parc fermé para registrar o momento de sua primeira vitória a pedido dele.

– Mas esse a gente tem certeza que foi obra dele. Estou falando em atos mais sutis, como uma oportunidade única. – Eric apoia o queixo na mão e encara o horizonte. – Se bem que o contrato por si só está impulsionando a sua carreira de forma astronômica, ou seja, temos um pacote completo.

– E aquele jantar em Marselha? E se ele usou o nome da equipe como disfarce? Teve também aquele upgrade no nosso quarto na Espanha e incrivelmente ele estava no mesmo andar! – Luca tem uma epifania.

– Não me parece impossível que ele tenha feito essas coisas por você, querida.

– Meu Deus, vocês são malucos! – ergo meus braços bruscamente e assusto Joanne sem querer. – Por que ele gastaria seu dinheiro comigo? Erros durante as reservas acontecem, a equipe pode ter muito bem me presenteado com o jantar pelo meu bom trabalho. Por favor, parem com essas teorias malucas agora.

– Perrie Michelle, por que você se recusa a acreditar que a pessoa que ele quer proteger dos holofotes é você? Um pequeno rumor criou tanto estresse entre vocês, imagina o que aconteceria com a verdade. Com certeza ele realizou ações veladas para te agradar esse tempo todo! – Eric declara ao meu lado.

– Se ele queria me agradar, por que sempre são coisas que envolvem duas pessoas? Dois convites para o baile, uma suíte gigantesca para duas pessoas, um jantar para duas pessoas...

– Porque ele espera ser convidado! Quer que seja mais óbvio? – interessante ouvir isso de Luca, a pessoa que mais se beneficiou com esse supostos presentes.

– Mas eu acabo sempre te levando! Viram? Não faz sentido nenhum.

– Minha irmã está certa – Heart guia o colchão inflável até nós. – Mas os meninos não estão errados. Esse francês tem muito mistério para poucas respostas, com certeza ele está dez passos a frente quando se trata de você.

– Falando assim parece até que ele quer me matar e vocês querem evitar uma tragédia – bufo. – E daí se ele me presenteou esse tempo todo? O que isso muda?

Imagino as engrenagens girando e a fumaça saindo pelas orelhas deles enquanto refletem sobre os atos do Carpentier. Rebobino tudo o que contei para eles sobre a minha relação conflituosa atrás de mais argumentos para cortá-los. Não, essa brincadeira não pode avançar: antes das teorias malucas, eu preciso ordenar meus sentimentos e passar a enxergar esses supostos detalhes só vai me fazer surtar.

– Queimem suas massas cinzentas aí, sozinhos, o quanto quiserem. Eu não quero pensar no Carpentier durante a minha folga. – Deixo Joanne sair do meu colo e fico em pé. – Guardem suas teorias malucas para vocês.

Dou-lhes as costas e sigo para a porta da cozinha. A voz de Luca se ergue e eu consigo ouvi-lo antes de me isolar longe das ideias malucas deles:

– Eu falei que ela se comporta que nem um pinscher quando o assunto é o francês e vocês duvidaram de mim!

Eu não preciso de inimigos quando tenho esse trio ao meu lado. Bufo e me sento na cozinha, roubando alguns dos tomates cortados em cubos que ainda não foram para a panela do molho. E daí se o Carpentier fez tudo isso por mim? Ainda não muda muita coisa porque eu só ganhei o contrato porque ele queria se desculpar pela maneira que agiu comigo. Então tudo o que se passou depois disso pode fazer parte do seu pedido de desculpas.

Os sentimentos dele não estão escritos em um contrato que eu tenho acesso. Das vezes que observei seus olhos, eu encontrei apenas barreiras para seus sentimentos. Ele me beijou. Mas o que isso significou para ele? Nós agimos como se o beijo não significasse nada para nenhum dos dois – e isso foi uma armadilha para o meu desejo de saber o que acontecerá depois entre nós.

– Você pensa demais, querida – meu pai beija o alto da minha cabeça e caminha até a dispensa. – O que está te impedindo de fazer o que quer?

– Tenho medo de me entregar completamente, como sempre fiz, e acabar muito ferida no final. – Admito em voz alta a sensação guardada em meu peito há anos.

– Eles estão te pressionando, não estão? – ele caminha de volta para a cozinha com os braços ocupados com os potes de conserva.

– Eles acham que sabem tudo, que todo o ódio que eu sentia magicamente foi transformado em outra coisa – evito a palavra, com medo de verbalizar algo que eu nem sei se vai acontecer de verdade. – Eu lhes conto uma parte do todo e eles preenchem os vazios como querem.

– Eles só querem o seu bem – meu pai parece tão concentrado com o preparo do jantar, mas mesmo assim ele consegue me interpretar. – Você pode ditar os limites de suas fantasias.

– Bom, o problema é que eu não sei se o que eles estão discutindo é verdade ou mentira. Quando se trata do Gael, pequenos detalhes me deixam confusa. Num dia, ele nem olha na minha cara, e no seguinte me chama para uma conversa particular e me beija.

– Talvez ele também esteja confuso com seus sentimentos.

– E me beijar era a solução? Porque isso só deixou os meus sentimentos mais confusos.

– O que você pretende fazer?

– Não me fale que agir como se nada tivesse acontecido é burrice – eu olho para ele e o vejo apertar os lábios. – Eu não tenho certeza, como posso agir de outra forma se não normalmente?

– Quando eu conheci a sua mãe, eu não tinha certeza de nada. – Ele olha para mim. É um daqueles momentos em que ele decide falar sobre a mulher por quem se apaixonou perdidamente mesmo que isso desperte um pouco de saudade. – Eu trabalhava muito para me sustentar e tentar estudar um pouco de gastronomia, mas no momento que eu tive contato com o espírito livre dela, eu percebi o quão assustado eu estava.

– Mas a mamãe era enfermeira, o que tem de liberdade nisso?

– Não é sobre liberdade, Perrie, mas sobre seguir sua intuição e aceitar as consequências, sem se prender aos erros eternamente. Ela trabalhava horas a fio para garantir uma vida boa para a filha que criava sozinha e ainda tinha um sorriso enorme no rosto. Primeiro eu me tornei amigo dela e, sim, você pode não lembrar, mas eu cuidei de você algumas vezes quando ela precisava correr para o hospital. Ela tinha uma rotina complicada, porém sempre estava pensando no dia de amanhã com otimismo.

– É, ela sempre foi a nossa maior apoiadora.

– Sim, ela foi – a saudade nos atinge. Se eu pudesse, eu voltaria no tempo e a impediria de trabalhar naquele dia com alguma doença falsa. Para a dor da perda, não existe remédio. – Depois que nos casamos, ela disse que eu deveria investir no meu sonho de abrir meu próprio restaurante, mas eu estava ocupado demais criando sua irmã e você para estudar integralmente.

– Assim eu vou chorar, pai.

– Mas não estamos aqui para falar de mim. Perrie, eu sei que o seu último relacionamento foi muito complicado e que o início do seu contato com o Carpentier não foi perfeito, mas confie no que você está sentindo. Bem lá no fundo, atrás do medo e da insegurança, seus sentimentos estão gritando para sair.

– Nossa, chefe Aroniz, você também realiza terapias na cozinha no restaurante?

– Um cozinheiro confuso prepara pratos confusos. Você não faz ideia das histórias que contamos lá no restaurante.

– Já que não vão usar as bocas para comer, vocês precisam movimentá-las. – Estico meu braço e alcançando um pedaço da barra de chocolate que ele está cortando para preparar uma ganache.

– Perrie Michelle!

– Nem vai fazer falta! – cubro a boca e rio. – Estou estressada, preciso de doces e coquetéis bonitos e saborosos!

– É assim que você lida com os seus problemas? Bebendo e comendo chocolate?

– Não, eu também choro no banho. E não podemos esquecer que eu também arranjo contratos que me forçam a trabalhar com o problema – enumero com humor.

– E agora você beija o problema! – Heart entra na cozinha com a jarra de água vazia. – Ele beija bem?

– Não na frente do papai, Heart...

– Por que não na minha frente? Eu também mereço saber se a boca dele só te traz problemas ou se faz algo bom! – ele despeja o chocolate em uma vasilha de vidro e abre a geladeira. – Vamos, Perrie, desembucha.

– Eu não vou falar sobre isso agora. – Balanço os braços e fico de pé.

– Por que não? – Heart me encara. – Aposto que ele nem beija tão bem assim.

– Uma das minhas cozinheiras que estudou na França disse que os francês falam demais, e fazem de menos. Ele nem deve ter beijado a Perrie como ela merece.

É impressionante como minha família sabe como me tirar do sério. Meu pai continua preparando a sobremesa com tranquilidade enquanto Heart insiste em dizer que eu com certeza inventei esse beijo.

– Ele beija bem! Com certeza um dos melhores beijos da minha vida! – exclamo e eles me encaram. – Felizes?

– Olha, ela está corada de vergonha – Jeff aponta a colher em minha direção.

– Perrie Michelle fica muito bem de vermelho, mas ela jamais admitiria isso!

– Vocês já terminaram? Eu preciso tomar um banho e voltar para ajudar com o jantar. – Cruzo os braços e bufo, pronta para fugir de mais uma sessão de perguntas que me levam a mais inseguranças e preocupações.

– Pegue leve com a sua irmã, Harriette – nosso pai diz e se vira para continuar preparando a sobremesa.

– Se você não voltar lá pro quintal em meia hora, Perrie, considere-se uma jornalista mal vestida pelo resto da sua vida.

– Também te amo, Heart!

Deixo a cozinha e sigo para o segundo andar. Eu estou de férias, mas não posso ficar completamente afastada do meu celular porque, bom, ainda trabalho como jornalista e preciso me manter atualizada em certos assuntos. Entro no meu quarto e verifico a central de notificações do meu celular: algumas mensagens de colegas, várias manchetes de esportes, quinze novos e-mails.

Olho rapidamente os assuntos dos e-mails, como quem sabe que metade são apenas informativos e a outra metade são avisos das redes sociais. Enfim, não estou com vontade de pensar no trabalho depois de beber e comer muito.

Até que eu vejo o nome do time que deveria me deixar em paz nas minhas férias e caio na cama, com o estômago pesado de tanta ansiedade.

– Por que você me ofereceu esse contrato, Carpentier?

+++
Olá, amantes das corridas!
Eu voltei junto com a temporada de Fórmula 1 de 2021!
Peço desculpas pela demora para atualizar: tive algumas complicações pessoais e ainda tive que dar conta dos compromissos universitários... Vida corrida, mas só em prazos mesmo.
Espero que todos estejam bem, em casa e se cuidando. Não é um momento fácil, mas eu continuo por aqui, fazendo a minha parte (sair de casa? Isso é de comer?).

Novos leitores: SEJAM MUITO BEM VINDOS!

Uma grande conquista para nós hoje: 4 mil leituras! UAU, nunca pensei que atingiria uma marca assim com DR. Gratidão por cada leitor, cada comentário e votinho! É sempre um prazer escrever algo que as pessoas gostam!

Até logo!
Isa

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