Ainda me lembro do momento em que a vi. Sua postura era mais desafiadora que o mais imponente dos chefes de equipe. Seu olhar sabia por onde vagar e onde permanecer, como se as pessoas ao redor não valessem o seu tempo. Ela com certeza sempre soube quem era, mesmo no meio de pessoas cheias de si. É uma pena que eu tenha estragado tudo com uma decisão estúpida, e tentado consertar com outra ainda mais estúpida.

Acordar após uma recaída é intenso, ainda mais quando seu corpo se desacostumou aos efeitos do álcool. Tudo é incrível até o momento em que você dorme, a bebida desaparece e a manhã seguinte é um amontoado de memórias confusas. As consequências de meus atos não desapareciam com uma descarga ou uma ligação para o meu contato de emergência. Deveria consertar os meus erros, e não deixar que alguém fizesse isso por mim. Isso era um fato.

Perrie nunca se deixou vencer por uma proposta grande e uma desculpa esfarrapada. Não a culpo, se eu estivesse no lugar dela eu também agiria com mais desconfiança do que gratidão. Dei todos os motivos para isso, não dei?

Precisava focar na minha própria oportunidade, assumir um lugar para o qual eu esperava estar pronto de verdade apenas em três anos. Não tive como recusar, mesmo sabendo que as chances de deixar todos na mão eram maiores do que as de me dar bem. Como disse o meu treinador, foi uma combinação de talento, conexões e sorte. Muita sorte. Porque eu estava no lugar certo na hora certa.

Ainda me lembro de quando Ziwak me abordou e entregou o casaco da equipe. Na minha longa lista de pessoas que eu não podia decepcionar, ele assumia o segundo lugar: ele confiava em mim para ocupar um lugar que poderia ser dele enquanto ele quisesse correr. O que ele viu em mim nunca foi dito, apenas preenchido pelas promessas do que eu poderia fazer.

Pela primeira vez em anos, eu tinha certeza do que eu queria alcançar.

O reconhecimento pelos meus esforços, alguns pódios, talvez vitórias, um futuro.

E eu tentei. Entrei no carro, dirigi para provar que cada troféu me pertencia, treinei com os melhores para tentar ser o melhor. Mas tentar nem sempre basta. Porque, ao mesmo tempo que eu ia bem nas pistas, o volante dos meus assuntos pessoais estava no piloto automático. Acordar, seguir os passos da minha rotina. Encarar mais um voo, mais uma reunião, mais um pesadelo. Dormir e repetir. Gritei com todos que eu poderia fazer isso.

Porém no momento em que Perrie entrou em cena, percebi que a minha vida não se encerraria com uma coleção de troféus. E eu trocaria todos eles por uma chance de voltar para o quarto do hotel e conversar com ela. Conversar de verdade, expor meus medos.

Como o Gael que se escondeu do outro lado do mundo e no meio das garrafas de bebida, eu a afastei mais rápido do que os meus reflexos para apertar o freio. Porque quando a luz me cegou e eu deslizei do lado sujo da pista, nem eles foram o suficiente para evitar o acidente.

A ambição me cegou. A vontade de vencer sobrepôs os instintos que eu tanto valorizei. A possibilidade de assumir mais uma posição agarrou minhas mãos e sussurrou para que eu o fizesse. Porque quando eu saí do túnel, eu fiquei cego. Pela luz, pela vitória, pela ausência dela na noite anterior.

O volante vacilou e eu perdi o controle.

Perrie orbitava as corridas sem medo. E eu exigi sua presença, eu a trouxe para o conflito. Eu deveria ter ficado apenas com seu ódio, com sua raiva, com o desgosto de ter que trabalhar com alguém que foi um idiota.

Mas ela foi atraída para o epicentro da minha confusão.

E nós colidimos como dois amantes que eram para ser.

E eu colidi contra o pior dos inimigos.