
12. A grande surpresa, I
O dia de Juliette poderia ter começado como qualquer outro se não fosse o fato de ter acordado levemente sufocada por ter uma mini bundinha de gato em seu rosto. Empurrando Alpine para fora do seu rosto, a mulher rolou para o lado e encarou o relógio, percebendo que ainda estava muito cedo.
Na verdade, estava tão cedo que o apartamento ainda estava silencioso e o Sol mal havia nascido no horizonte. Encarando o teto do dossel da cama, Juliette sentiu a gatinha subir por seu corpo e, ronronando, se enfiar entre seus seios, formando um rolinho de gato em cima dela.
Juliette sorriu, mas também tirou a gata de cima dela para, a seguir, jogar as cobertas para o lado. Seus pés tocaram o chão gelado do apartamento e Juliette caminhou até o banheiro, com Alpine saltitando atrás de si.
Faziam apenas alguns dias que elas se conheciam, mas já era o suficiente para a mulher perceber que não teria privacidade nem mesmo na hora de fazer xixi ou tomar banho. Se era amor, gratidão ou só uma gata sendo uma gata, ela não sabia, mas no fundo, até gostava disso.
Jack havia dado um pequeno ataque quando viu a bichinha e Bobby respirou muito fundo ao ver que Juliette não havia pedido a permissão de levar. No entanto, no dia anterior, Bobby já até tinha escovado os pelos brancos "para não embolar" e Jack pôs comida para ela quando Juliette se atrasou para fazer.
Ao sair do banheiro, Juliette pôs ração no pontinho de Alpine e renovou a água, deixando a gata com os brinquedinhos a sua disposição. Então, pegou a água que deixava no congelador e caminhou na direção das escadas, rodando a chave entre os dedos.
Ela passou por toda a extensão do bar e foi em direção aos fundos, onde havia uma portinha na cozinha, que dava acesso direto ao píer na parte de trás da propriedade. Ela caminhou pela ponte de madeira e sentou na beirada, molhando os pés na água gelada.
Suspirando, Juliette sentiu a brisa fresca da manhã beijando suavemente seu rosto e fazendo um cafuné leve entre seus cabelos soltos e úmidos. O cheiro de mar era familiar e dava uma sensação de casa.
Mesmo assim, ela se perguntou o quão contraditório seu lugar favorito ter sido o mesmo em que poderia ter perdido a vida, semanas atrás, se Bucky não estivesse no lugar e na hora certa. Agora, depois daquelas semanas, era até clichê pensar dessa forma, mas ela sentia que existia uma Juliette antes e depois daquele momento.
Não que a presença de Bucky tivesse a mudado, mas com certeza, tinha feito ela perceber que se escondeu em um casulo por anos e foi ele o estopim para que ela quisesse se libertar dele. Em essência, ainda era ela. Mas era inegável que algo tinha mudado, sim. E Juliette havia gostado muito mais dessa versão.
Puxando o celular do bolso, Juliette encarou a última mensagem de Mickey. Era apenas um aviso de que ia viajar e precisava ficar alguns dias fora. Nada incomum. Isso já havia acontecido diversas vezes em oitos meses, o que deixava Juliette bastante curiosa sobre com o que ele trabalhava. Porém, ela sempre ficava achando que depois disso, nunca mais ia acabar falando com ele. Como se Mickey simplesmente fosse evaporar da faca da terra.
Ao mesmo tempo, Juliette procurou pelo número de Bucky em sua agenda e se surpreendeu ao perceber que não tinha pego o telefone dele ainda. Era uma idiota e aparentemente, ele também era.
Ou, talvez, ele não estivesse interessado o suficiente para querer o telefone dela…
Tentando tirar esses pensamentos da cabeça, Juliette encarou o sol nascente e sentiu os primeiros raios dourados lhe afagando o rosto em um carinho morno. Sorrindo, ela inspirou ar para os pulmões e mexeu os dedinhos contra a água gelada.
Então, começou a refletir sobre o futuro. Não havia nada contra passar o resto da vida naquele lugar, tocando o bar do tio e ficando perto do irmão. Mas com certeza, havia algo além do horizonte e Juliette tinha certeza que era lá que deveria estar. Mas onde?
Além disso, ela não teria coragem de abandonar o tio e ir embora. Não quando ele a criou como se fosse sua própria filha, a amou, educou e a acolheu. Não quando tinha um irmão que se preocupava com ela mais até do que devia. Dinheiro, na verdade, ela tinha. Só não tinha oportunidade e coragem.
E por isso, continuava alí e continuaria por um longo tempo.
-Juliette!
Olhando para trás, ela percebeu Nina, pendurada na janela do quarto do irmão. Ela acenou de volta e subiu para o apartamento, encontrando a melhor amiga sentada no sofá, com Alpine em seu colo.
-O que você estava fazendo lá embaixo, mulher?
-Pensando, só. - Juliette se jogou ao lado da amiga e pôs as pernas em cima das pernas dela, pegando uma mecha do cabelo cacheado e enrolando no dedo, distraidamente.
-Em que?
-Várias coisa, na verdade. Mas não vem ao caso… Quer fazer algo mais tarde?
Nina fingiu pensar por um momento e assentiu, piscando para ela.
-Claro que sim, gata! O que você tem em mente?
- Boliche e cinema?
- Você paga os ingressos e eu o lanche?
-Perfeito!
-Fechou!
As duas amigas compartilharam de momentos de silêncio confortáveis nos instantes que se seguiram. Alpine continuava dormindo confortavelmente no colo de Nina, com a barriga branca e peluda voltada para cima.
Foi Juliette quem quebrou o momento silencioso, perguntando:
- Você acha que o Bucky ainda não pediu meu telefone porque não quer ser apurrinhado por mim depois do verão?
Nina ergueu a cabeça dos ombros de Jully e e franziu a testa, surpresa.
-Ele não pediu seu número?
-Não. Isso é desinteresse, né?
Nina hesitou e por fim, deu de ombros, correndo os dedos por entre os pelos da gatinha.
-E você? Ainda não pediu porquê?
Juliette franziu a testa e coçou o queixo, dando de ombros.
-Eu não lembrei…
-Vai ver, ele também não lembrou, Jully. Não quer dizer que ele não esteja interessado. Vai ver só que ele está esperando mais para pegar o telefone.
-É, faz sentido…
-Além disso, ele pode estar pensando que você também está interessada, já que também não pediu o número. Acredite em mim, Jully, os homens são complicados demais, mas ao mesmo tempo, são tão simples que chegam a dar sono.
Juliette assentiu, sem realmente ouvir todo o monólogo sobre homens, o que incluia em noventa por cento da experiência de Nina, Jack. E é claro, haviam coisas que ela não precisava saber sobre seu irmão, apesar de Nina ser sua melhor amiga.
-Se beijaram já?
Acordando do transe, Juliette franziu a testa e olhou para a amiga com uma careta levemente confusa.
-Quem se beijou?
- Você e o Bucky.
-Que?! Não! É claro que não!
Nina estreitou os olhos na direção da amiga, séria, o que fez Juliette ficar instantaneamente vermelha. Enfiando um tapa na orelha da amiga, Nina exclamou:
-Ah, valha me Deus, Jully! Você quer mesmo que eu acredite que vai fazer um mês que estão saindo e nem mesmo um beijinho você quer dar naquela boca gostosa? Que o Jack não me escute falando isso, mas… Amiga, por favor! O cara é um gostoso e te trata que nem uma princesa! Até coroa de flores ele fez para você! Não é possível que não pensou em dar para ele nem uma única vez!
-Nina!
Juliette repreendeu, tampando o rosto com as mãos para disfarçar a vergonha. Por entre os dedos, ela encarou a amiga, que ergueu uma sobrancelha, a desafiando. Juliette negou com a cabeça, tentando fugir do assunto, mas Nina parecia disposta a insistir.
-Juliette Schade!
-Ah, tá bom! Quer saber? É claro que eu tô louca para beijar ele e é óbvio que eu já reparei que ele gostoso para caralho, Nina! Mas não é o suficiente! Você sabe… Eu não quero transar com ele só porque ele é gostoso!
Nina revirou os olhos, mas assentiu, entendendo a amiga. Então, diminuiu o tom de voz e chegou mais perto da amiga até falar:
-Amiga, escuta… Caso venha a rolar um dia, se você quiser, é claro! Mas caso um dia venha a rolar, seria melhor você contar que é virgem antes.
Juliette assentiu, encarando as próprias unhas e as cutucando. Então, ergueu o olhar para a amiga e franziu a testa.
- Como é?
-O que?
-Transar.
-Ah… É bom. Muito bom, na verdade. Mas quando você gosta da pessoa e ela gosta de você também é mil vezes melhor!
Juliette torceu os lábios e começou a rir, fazendo a amiga rir junto sem nem saber o porquê.
-Amiga, numa boa… Como enfiar uma parte íntima dentro de outra parte íntima e ficar se esfregando pode ser tão bom assim?!
Nina soltou uma gargalhada alta e aguda, sem se controlar, o que fez Juliette rir no mesmo tom. Alpine acordou, irritada, e pulou do colo das duas enquanto elas riam de quase caírem do sofá.
-Eu não sei! - Nina exclamou, limpando uma lágrima que escorreu devido às risadas. - Mas eu juro que é muito bom!
-Enfim… - Juliette abraçou os joelhos e falou mais baixo. - Ele tem cara de quem é carinhoso ou bruto?
-O Bucky? Hmmm… - Nina deu de ombros, roendo uma unha. - Eu chutaria bruto e direto, mas, analisando bem o jeito dele ele também tem cara de quem curte uma preliminar e é bem carinhoso. Você pode testar até o fim do verão e vim me dizer! Que tal?
Juliette riu e deu de ombros, murmurando:
-É? E onde eu vou testar? Aqui em casa, com meu tio e meu irmão ouvindo? Ou na casa dos Wilson's, Nina?!
Nina deu de ombros e sorriu de lado, examinado as unhas.
-Na caminhonete do Sam. Ou quem sabe, naquele hotel que tem na estrada… Mas só se você quiser anunciar para a cidade toda que transou com ele!
Mais risadas irromperam pela sala e só diminuíram quando Bobby apareceu na sala. As duas mulheres pararam de rir e tentaram fingir que o foco da conversa não era sexo com Bucky Barnes. Mas é claro que isso fez Bobby olhar para as duas, desconfiado.
-Ah, não… Não parem de rir por minha causa, meninas! Eu só estou passando!
-Não paramos por sua causa, Tio! - Juliette mentiu, abraçando uma almofada. - Ah, aliás… Mais tarde a gente vai em Nova Orleans, está bem?
-Vamos jogar boliche e ver um filme!
-Isso!
-Claro! Claro! Só tomem cuidado e voltem cedo, viu?
As mulheres concordaram e esperaram o homem sumir nas escadas para se encararem e começarem a rir, cúmplices.
-Essa foi por pouco!
-Pois é!
Enquanto elas ficaram fofocando no andar de cima, Bobby desceu as escadas para o bar e decidiu que poderia ser uma boa abrir mais cedo naquele dia, então, sozinho, ele pôs todas as cadeiras no lugar e abriu as portas.
Logo, alguns frequentadores locais começaram a aparecer para tomar um café ou apenas bater um papo sobre a partida de beisebol do dia anterior. Bobby também aproveitou para descobrir que Evelyn, a filha do pastor, estava grávida e que Carlo, o vizinho da rua da frente foi pego traindo a esposa.
Quando o movimento diminuiu, lá pelo início da tarde, Juliette desceu para o ajudar, o que permitiu que Bobby se juntasse a alguns amigos antigos para uma partida animada de buraco, valendo algumas cervejas de graça.
De olho no horário combinado com Nina, que cochilava no andar de cima, Juliette não prestou atenção no homem que entrou no bar até ele se sentar na sua frente e, batendo com um anel grande e prateado no balcão, atraísse sua atenção.
Ele era grande e musculoso. Também tinha cabelos loiros compridos e rebeldes além de uma barba cheia quase no mesmo tom. Os olhos eram verdes e Juliette não sabia dizer se tinha gostado dele ou não, mas sabia que ele era um "forasteiro", assim como todos no bar, que o olhavam, curiosos.
Ele sorriu e piscou para ela, perguntando:
-Você tem o que de mais forte?
-Uísque, vodka, conhaque… - Juliette respondeu, evitando o contato visual, ao mesmo tempo tempo que passava um pano no balcão. - Quer algo, Senhor?
-Ah, não… Eu não sou tão velho a ponto de você me chamar de senhor,Mocinha! Eu devo ser mais novo que você até… Pode ser só John.
-Certo, Senhor. - Juliette soltou o ar devagar, franzindo a testa. - Vai querer…?
- Conhaque.
Ela assentiu e se afastou para servir. Tinha algo de constrangedor em ter um completo estranho flertando com ela.
Quando voltou ao balcão, Juliette esticou o copo para ele e viu John franzir o cenho ao beber um gole e encarar ela.
-Uau! Esse é bom… Você é daqui? - Juliette assentiu e John continuou. - Então, deve conhecer um amigo meu. O nome dele é Sam Wilson.
Ela hesitou, mas por fim, deu de ombros e assentiu.
-Já vi ele, sim…
-Sabe me dizer se ele está por aqui, pela cidade? Eu só tô de passagem e achei que uma visita seria legal.
-Hm…. Não tenho visto ele. - Juliette mentiu. - Mas acho que não, ele não está.
John assentiu e passou a ficar calado, prestando atenção na televisão. Mas logo Juliette se esqueceu do homem, afinal, o horário marcado com Nina chegou e ela subiu para acordar a amiga, que ainda cochilava.
Quando as duas saíram do bar, de braços dados e compartilhando risadas, elas não perceberam que estavam sendo seguidas por alguém.
***
-Meu Deus! Eu não acredito que errei de novo!
Juliette exclamou, revoltada consigo mesma, observando a bola de boliche traçar um caminho torto para a direita e sumir, sem acertar um único pino.
Nina soltou uma gargalhada e sem dizer uma única palavra, ela apenas impulsionou o braço da bola para trás e atirou. A bola foi direto no alvo e derrubou vários pinos de uma vez. Virando para a amiga, ela riu e cruzou os braços, sorrindo, convencida.
-É porque você é péssima no boliche!
-Não sei nem porque eu ainda venho aqui!
-É porque você gosta de passar humilhação, ué!
Juliette deu língua a Nina e pegou mais uma bola, suspirando. Ela a rodou na mão, sentindo o peso dela, estudando a pista e tentando se lembrar de como Bucky havia ensinado naquele dia. Mas a única lembrança concreta nem mesmo era uma lembrança, em si. Era apenas a imagem do homem pelado que criou na sua cabeça.
-Hmmm… Esse sorrisinho… - Nina riu, puxando a bola da mão dela e a arrastando para a mesa que estavam sentadas. - Me conta!
-Hey, que eu saiba, meus pensamentos ainda são particulares, está bem? - Juliette reclamou, sentando na almofada macia da cadeira. - Mas eu estava pensando no Bucky.
Nina sorriu como se soubesse isso e não fosse novidade. No entanto, ela incentivou Juliete a continuar.
-E…?
-Sabe aquele dia do boliche? Então… Ele meio que brincou que era para eu pensar nele pelado e eu meio que admiti que já pensei…
-Espera? O que?!
Juliette explicou a história do início, o que fez Nina rir alto e ficar impressionada em "como aquela safadeza toda rolou debaixo dos narizes deles e eles não viram". Isso foi motivo de risada entre as duas amigas e Juliette começou a se soltar mais e contou até mesmo do fato que Bucky entrava pela janela dela (fazendo com que ela descobrisse que foi Nina quem deu a dica para ele), sempre mencionando um trecho de Romeu e Julieta.
Sinceramente, Juliette não conseguia enxergar o brilho em seus próprios olhos e p sorriso que ostentou em todo o tempo que ficou falando de Bucky, mas Nina conseguia e, sinceramente, estava feliz pela amiga ter conhecido alguém que parecia ser tão incrível com ela.
Apesar disso, ela torcia para que Bucky não estivesse só "iludindo" Juliette, porque ela parecia bem animada.
Tentando não se preocupar com isso, seus pensamentos foram interrompidos quando Juliette simplesmente parou de falar de Bucky e olhou ao redor, parecendo confusa.
-Ouviu isso?
-Isso o que?
-Esse barulho? - Juliette insistiu, ainda olhando ao redor.
-Qual deles, Jully? Tem um milhão de barulhos aqui!
Juliette torceu os lábios e deixou para lá. Afinal, deveria ter sido apenas sua imaginação. Apesar de que da última vez, ela havia achado Alpine.
Então, um pequeno desespero e uma sensação ruim tomou conta de si e Juliette começou a ficar nervosa. Olhando para a amiga, ela apenas pronunciou:
-Precisamos ir para casa! Agora!
-Que?! Por que?!
-Só vamos, Nina! Vem!
Arrastando a amiga, Juliette desceu a rua do bar sozinha, uma hora e meia depois, ainda com o coração acelerado e um gosto ruim na garganta. Tinha pouca gente na porta do bar e Juliette não chegou a atravessar a rua, afinal, o barulho que tinha ouvido tornou a se repetir.
No entanto, dessa vez, era real e acompanhado de um grito - Seu próprio grito . No instante seguinte, após um clarão ofuscar suas retinas, tudo ficou escuro e Juliette perdeu a consciência.
Oii, meus amores! ❤
Cheguei com um capítulo que eu AMEI escrever! Aliás, eu preciso revelar que não, o John não é o John Walker, hein? 👀 Não vamos surtar porque não é agora que o estrupicio aparece!
Ah, Aliás, eu tenho uma surpresa: O CAPÍTULO É DUPLO E VOCÊS JÁ PODEM LER O PRÓXIMO ASSIM QUE TERMINAR ESSE AQUI! 🤭💕
Ah, e lembrando que ele se passa quase ao mesmo tempo que esse, okay? Portanto, virem a página e vão ler!
Bjs! 💋💋
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