Natasha
Naty.
O amor é algo tão bonito não é? Quando nós amamos alguém, isto se torna um motivo para querermos acordar todos os dias, eu amo a minha imagem, a pessoa forte que sou, o tanto que lutei, tudo que conquistei e estarei conquistando, sem precisar "pisar" em ninguém, queria que o mundo veja o meu talento, queria brilhar por mim mesma e incendiar dias escuros e sem esperança do mundo afora.
Duas, três, quatro batidas.
– Natasha? Está tudo bem? – Ulisses me tirou de meus pensamentos concentrados nas batidas do lápis contra a mesa.
– O que você acha do amor? – Disse, encarando seus olhos coloridos.
– Não posso falar sobre isto aqui, termine a prova. –Todos começam a voltar os olhares à nós dois. Meu cérebro estava processando tudo lentamente, até demais.
– Só não fuja do assunto, estarei aguardando sua resposta, professor Ulisses. – Recebi uma leve piscadinha disfarçada e ele voltou para sua cadeira.
Falando em amor, havia uma coisa da qual não me arrependeria e acreditava amar, a cirurgia de resignação sexual. Estive fazendo os exames necessários e logo pretendia fazer. Fazia acompanhamento com psicólogo há alguns anos. O hormonal também, faltava pouco. Amava a liberdade que isto trazia.
Foi difícil demais mudar, quer dizer, eu nunca fiquei confortável com meu corpo desde que me entendi por gente, e eu não sentia que estava encaixada no mundo, no lugar certo. Queria estalar os dedos e ser como realmente me sentia, como uma mulher.
A transição foi complexa, mas libertadora. Talvez tivesse sido mais fácil se eu tivesse o apoio da minha mãe, mas eu entedia o porque ela não podia chegar muito perto... relacionamentos abusivos te engaiolam, no fundo ela me amava, todavia a perversidade perversidade e aversão do meu pai a impediam de se aproximar.
Eu nasci no corpo errado e quando eu mais precisei desta coisa linda chamada amor, me faltou, desprezaram a criatura "demoníaca" (apelido dado por meu pai) que eu era. Eu apenas sai do casulo que não queria ficar, que nunca foi meu.
O amor deveria acolher as pessoas, não afinda-las em amargura e medos.
Um pai ou uma mãe espanca o filho para dar uma lição e dizer: "É para seu bem".
"É porquê eu gosto de você e me preocupo, que faço isso, um dia irá agradecer".
Isto é qualquer outro sentimento, menos amor.
Amor são demonstrações, atitudes, não só palavras frívolas sem verdade saindo da boca para fora. Quem ama às vezes não consegue falar diretamente "eu te amo", mas as pequenas e grandes atitudes demonstram isto.
Vejo muito no hospital onde trabalho. Os pacientes e seus pais, irmãos ou outro tipo de familiar fazem isto muitas das vezes.
🍸
Fui convidada para um debate sobre a matéria do bimestre e queria discutir o assunto e não desejava ser imparcial. Havia muitas questões em jogos, dúvidas e tudo o que é necessário para a construção de um bom diálogo. A prosa.
Diziam que eu era bem inteligente e rápida, astuta. Talvez fosse verdade. Acreditava no meu potencial. Não iria pôr nada acima dele, da minha carreira.
– Natasha, qual pronome quer que usemos? – Questionou Ulisses, gentilmente. Respeitando minha identidade.
Todos ao redor das mesas juntas que formaram uma só, bem extensa. Me olharam atentos esperando por respostas.
– Feminino. — Respondi cordialmente, abri a pasta que continha minhas pesquisas e o trabalho do bimestre anterior.
Folheei os sulfites até achar a pesquisa exata que queria pôr na roda.
– Fiz uma pesquisa faz alguns meses e tive o prazer de entrevistar o neuro-cirurgião mais renomado do país exclusivamente. – Dirigi o olhar à cada um presente na sala. Era eu e mais uma outra garota aqui, tínhamos apenas nós de mulheres.
O desdém e a capacidade de subestimar minha inteligência estava estampado no rosto deles (exceto Ulisses) como uma placa propaganda num outdoor.
Arrastei mais para frente a pasta transparente e deixo que eles examinem.
– Estes dados estão desatualizados Natasha, não tem convicção e são superficiais. – Contestou Marcos, a criatura machista e chata que era da minha turma de residência.
Apenas sorri.
– Então você descartaria todo o trabalho dos historiadores porquê "é antigo, desatualizado", as pesquisas que eles fizeram? Quais suas fontes, me apresente, podemos discutir sobre. Já que não está ao seu alcance minha pesquisa. – O homem branco de olhos escuros e cabelos esvoaçados grossos, lançou uma lâmina mental a mim.
Todos ficaram em silêncio e tensos. Ulisses focado em mim. Fingi não ver.
Queria argumentos convincentes vindos de Marcos agora.
– É bem diferente Natasha, você não tem argumentos para provar que isto aqui é relevante. – Larguei a folha sobre a mesa com desdém, e eu dei dou risada cheia de escárnio. Mal olhou a pesquisa e descartou.
– Foi você quem contestou minha pesquisa ué, porquê não consegue achar um argumento agora? Vamos lá, vasculhe o fundo da sua mente e vai encontrar alguma coisa que me faça rir e tirar sarro da sua cara. – Ergui as mãos em sinal de espera e sugestiva.
Ulisses fica impressionado assim como todos os outros presentes.
– Se você não a capacidade de discutir comigo e rebater meus argumentos, no mínimo tem que calar a boca. – Apontei o dedo indicador na sua direção, nervosa.
Mas, mantendo a postura.
– Você passou o bimestre inteiro duvidando de mim, questionando todo meu esforço e o trabalho que tive... Para chegar aqui e não provar tudo o que disse que eu errei? EU tenho como provar, tenho embasamento científico e estatísticas. E você? Agora prove. – Bati a ponta do indicador na mesa esperando sua resposta ou qualquer argumento válido relevante.
Marcos suspirou pesado e repuxou os lábios irritado. Minha presença incomodou tanto ele, o intimidava pelo fato de simplesmente não ser burra e acomodada. Quando se têm pessoas fazendo seu trabalho em troca de pagamento é fácil passar nas atividades. Filhinho de papai.
Agora chegar na hora e fazer é bem diferente. Mostrar que sabe e pôr em prática.
Isto não só atingiu minha honra como fez pensarem que sou incapaz ou preguiçosa.
O silêncio constrangedor envolveu a sala numa nuvem cinzenta invisível.
– O Hans é um palerma, suas teorias e teses são baseadas nas superstições mais antigas que minha avó Rulli, seja imparcial ao menos uma vez. – Se gabou cheio da arrogância e ego inflável olhando para todos na sala e estreitaram os olhos.
De novo este idiota me questionando.
Descredibilizar minhas palavras e jogar no lixo como se fossem papel rabiscado.
– Ele tem mestrado e doutorado, ganhou uma bolsa de estudos por seu QI avançado, sua luta não será invalidade por um mero tolo como você. Onde está sua pesquisa mesmo Marcos? Tome muita cuidado ao tentar passar por cima de alguém realmente importante e experiente. Seu hipócrita dos infernos. – Levantei da cadeira, não iria aturar aquele imbecil por mais uma hora. Não iria.
Já tinha a garantia que perto dele qualquer um seria Einstein. E eu era superior em tantas questões que nem valia o esforço com o boçal. Me tornei autosuficiente demais para dar ouvidos a pessoas tão insignificantes.
– Natasha, fique. – Pediu Ulisses meio receoso enquanto Marcos resmungava algo reclamando. Óbvio, após ouvir a verdade sobre si diante dos alunos ali presentes (Quase todos homens feito ele) a dor da irracionalidade comprovada veio.
Sua fraqueza era o ego, sua mente a pior mentirosa que existia dentro dele.
O olhar não se dirigiu a mim, e certamente está comentando algo sobre minha capacidade de rebater usando argumentos bons e sinceros, terem o oprimido e enganado todos aqui presentes.
Macho ferido.
– Da próxima vez que for abrir sua boca, pelo menos tenha uma asneira mais complexa para pelo menos não ficar feio sua burrice extremamente notável. – Espalmei a mão na mesa e pego minha pasta bruscamente, saindo da sala fechada e quente. Deixando todos boquiabertos e Ulisses chocado.
Queria continuar discutindo. Porém, aquele boçal, não merecia um pingo do meu esforço mental.
Seria como mandar um bode tomar chá. Patético.
Nem mesmo Ulisses compreendia o ódio que sentia ao duvidarem da minha capacidade e nunca terem sequer palavras na boca para me contradizer e provar que eu estivesse errada.
Dediquei minha vida e sacrifiquei muito para estar aqui hoje. Não vou permitir que qualquer imbecil venha me desrespeitar.
Se fosse um imbecil racional e esforçado... Nem isto.
Meu maior sonho era criar um artigo próprio e mostrar ao mundo meu potencial. Minha luta. E ninguém, ninguém mesmo vai impedir.
Eu era foda pra cacete, tinha ganhado prêmios por dedicar toda minha sabedoria e capacidade no que faço, e não me permitia ser questionada ou diminuída.
Nascer no corpo de um homem é terrível, porquê estava sufocada e presa, e angustiada, envenenada... Nasci no corpo errado, era uma mulher e sempre fui, porém só consegui me libertar das malditas gaiolas quando saí da casa dos meus pais.
Agradeço a eles por me tornarem mil vezes melhor do que o que era antes... Por me expulsarem, somente mostraram o quando são desprezíveis e eu mereço ser feliz e o principal... Livre.
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Ao chegar no meu apartamento, fui ligar para Emma e ver como ela estava, minha amiga não tinha muito tempo para me atender graças ao trabalho puxado, mas respondia às mensagens sempre que podia.
Mensagem para Emy:
E: Está indo bem amiga? Como foi o seu dia hoje?
Eu: Estou ótima amiga, nunca me senti tão leve como hoje. E você?
Emy: Estou conciliando tudo ainda, vou terminar meu almoço agora, acabei passando tempo demais pesquisando sobre o caso do meu avô, você sabe, ainda não estou convencida...
Emma tinha uma necessidade de encontrar o culpado daquele crime e não iria parar até achar.
Eu: Isso não é saudável Emy, precisa descansar, se alimentar, não me faça ser sua babá à distância hein? Sua serotonina precisa estar na ativa.
Emy: Minha serotonina foi para o saco há anos atrás, não posso desistir Naty, estou perto de avançar mais um passo! Você sabe que te amo, mas não vou seguir esse seu conselho, por enquanto.
Emy: Tomo um pouco de café e logo estou novinha em folha!
Eu sabia que foi uma promessa e dependia disso para dar um final a busca dela. Era difícil aceitar a perda dele, lidar com o luto pode durar mais tempo do que imaginamos, cada um lida do jeito que consegue, ela lidava buscando incessantemente cumprir a promessa de encontrar o culpado.
Eu: Você é muito teimosa! Mas, é sua decisão amiga, irei respeitar, só promete tomar cuidado? A Ray e a Lili ainda esperam por você.
Emy: Prometo minha princesa, preciso ir, encontrei mais coisas que podem me ajudar e tenho pouco tempo, te amo Naty, beijos e cuida das meninas, se cuida ♥︎.
Off.
O avô dela era um homem muito bom, honesto e amoroso, sempre me tratou com muito carinho, como se eu fosse da sua família. Me acolheu e foi muito carinhoso, um amor fraterno que não pude viver pelo meu pai.
Flashback.
Dia da formatura, anos atrás.
Estávamos nos formando em áreas diferentes, porém estudávamos no mesmo período e também na mesma instituição de ensino, portanto a formatura seria conjunta para facilitar e o custo seria menor.
— Parabéns meninas, vocês estão lindas! — Parabenizou Joseph, vindo me abraçar após dar um beijo na testa da neta, aquele abraço foi tão carinhoso que senti estar tão acolhida.
Logo o sorriso da minha amiga se desfez, quando anunciaram que iniciariam a chamada no palco. Raven tentou trazer à tona o sorriso da irmã novamente, mas não deu certo.
— Ela não vem mesmo vô? — Perguntou chateada, escondendo atrás da maquiagem suave e do batom vermelho que estampava os belos lábios, em contraste com seu vestido azul com decote transversal de tule sutil o revestindo até os tornozelos, com uma fenda na coxa.
Joseph abaixou a cabeça, entristecido pela decepção que aquilo causava em Emma, apesar dela já esperar a falta.
Talvez já não ouvesse como conforta-lá mais sobre a frieza da filha.
Era um momento especial na vida dela, deveria ser memorável de um jeito bom, sua felicidade era nítida, mas não ter a própria mãe ali, contemplando a conquista da filha, doía. Eu a entendia...
— Estamos aqui querida, hoje é o seu dia, Natasha está se formando, vocês tem que ficar felizes! Olha aonde chegaram! — Tentou levantar o astral dela novamente, agarrando a mão delicada e acariciando, enquanto a olhava com orgulho. Emma suspirou frustrada com aquela falha de Helena, porém seguiu com o avô para as cadeiras vazias, sorrindo fraco para mim. Raven se aproximou e entrelaçou a mão na minha, sorrindo lindamente.
– Está incrível Naty! Meus parabéns! – Parabenizou, alegre por minha conquista, a abracei forte, sentindo um pouco de incômodo pelo glitter espesso do seu vestido roxo com detalhes lilás, de uma alça só no ombro esquerdo.
– Obrigada Ray, não sabe como é importante para mim que esteja aqui. – Agradeci, em meio ao abraço, tentando não ficar emocionada demais e chorar, borrando a maquiagem forte nos olhos. Abraçá-la me sentir amada, confortável, Ray era minha família, minha amiga e...
– Sempre estarei contigo, sabe que é como minha irmã. – Lembrou, abrindo o belo sorriso alinhado sob os lábios carnudos pintados de vinho.
Naquele dia, me diverti como nunca, dancei, dei risada até doerem as bochechas e comemorei minha vitória, porque eu merecia e muito! Desejei que fosse próspero o meu futuro na profissão. Meu presente de formatura veio de Raven, ganhei uma correntinha de prata, escrito "Medicina" no coração contido da ponta.
Emma tentou não discutir com Helena aquele dia, porém foi inevitável, porque aquela narcisista sonsa, ligou para parabenizar a filha, fingindo que tudo estava perfeitamente bem.
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Este capítulo foi modificado, achei que seria legal vocês saberem mais sobre a Naty e o passado dela. Bjs
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