Julian.

Tinha atividade do fim do bimestre, admito que não estudei porquê estava ocupado demais com o trabalho, até porque não é justo que Logan arque com todas as despesas da casa, ele tem seus defeitos, mas nunca nos deixou faltar nada.

18:00.

– Julian! Julian! –Levei um susto e cai da cadeira.

– O quê? – Nanda me olhou e deu gargalhadas altas.

– Você não estava me escutando né?
– Peguei em sua mão estendida e levantei do chão com ajuda.

– Não, mas precisava gritar? – Ela afirmou que sim, sentei no seu colo e nós ficamos nos olhando por um tempo. -Está flertando comigo?

Ardi pensando na possibilidade de sermos um casal... Não.

– O quê você acha? – Respondi com um sorriso malicioso. Nanda me empurrou pra fora de seu colo brincalhona e voltou a dar risada. Aquele espaço virou um misto estranho que fez meu estômago ferver.

–Sabe que eu tenho uma queda pelo Sérgio. – Odiava quando ela tocava no nome de tal idiota. Aquilo feriu minhas expectativas feito um navio sendo atacado.

– É claro, o maior idiota que eu conheço. –Isso iria desencadear uma discussão entre nós. Mas não guardaria tal repulsa pelo macho alfa boçal.

– Julian, você sabe que eu te adoro, mas não é do modo que você quer, somos...

– Amigos, porra que já sei! O que me deixa com tanto ódio, é que você fica flertando comigo, fazendo essas coisas, o que acha que eu vou pensar? Eu tenho muito respeito por você, mas realmente não dá!
–Apanhei minha mochila e sai da sala com passos largos. Negando a escutar mais palavras apaixonadas dela.

– Julian, não vai, eu não quero que se magoe. –Continuei andando e ela me alcançou impedindo que eu continuasse o caminho à frente.

– É melhor nós continuarmos apenas amigos, já estou mal. –Sai do corredor e fui para a saída da faculdade, peguei o dinheiro da passagem e fechei a bolsa rapidamente. O estômago embrulhado.

–E aí Juju, o que acha de uma brincadeira? –A voz irritando do imbecil do Sérgio surgiu. Aquele idiota me tirava do sério em dois segundos.

– Não estou com tempo e nem saco pra te aturar ok? Some. – Ele pôs o braço em volta do meu pescoço, atrevido. Não dei tal liberdade para gracinhas.

– Está com o ego ferido? Não fica assim, sabemos que você tem problemas sérios na família. - Atirei a bolsa no chão e o empurrei suas patas de cima de mim.

– Não toca no nome dos meus irmãos, estou te avisando!

– Se não O QUÊ? Vai me chamar de idiota? O que acha de me provar o que é capaz de fazer? Uma corrida, que tal...

– Estou sem carro e só pra lembrar, não me subestime. – Ele mandou sinal para um de seus amigos e recebi uma chave que jogaram em meu peito e eu a peguei no impulso.

– Vai negar né? Sabe que eu sou mais do que ti. –Agarrei a gola de sua camisa com força para que ele entendesse que eu posso vencer. Perdi qualquer sanidade que tinha naquele momento provocativo.

– Eu aceito Castilho, vamos nessa. –Segui ele que deu risada. Obviamente duvidando de mim, iria entrar naquela onda sem volta.

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Troca de marcha.

Eu estava acelerando o máximo, o velocímetro mostrava 200 km/ h. Mas até que não eu ultrapasse ele e vencesse, não pararia até me dar por vencido. Pouco me fodia para o carro, só enxergava a estrada na minha frente e mais nada, o resto do mundo se tornou um borrão diante do meu foco.

– Está lerdinho hein Juju. – Ele me provocou ao ficar na mesma velocidade que eu e com o vidro aberto. O vento fazia meu cabelo se espalhar e encher os pulmões agitados.

– Vai se foder babaca. –Respondi sem ao menos olhar pra ele e continue rumo à vitória, focado e imparável.

Acelerando.

Freada brusca.

– Inferno! – Soquei o volante sem acreditar que quase acabei com minha vida por causa aquele imbecil. A curva mortífera quase tirou minha vida.

Acelerando o carro, dando ré.

2° marcha.

Consegui alcançar Sérgio e acelerei até ultrapassar seu carro. Chegamos ao ponto combinado depois de segundos. Respirei fundo e sai do carro transbordando orgulho.

– Eu disse pra não me subestimar babaca. - Joguei a chave nele e mostrei o dedo do meio orgulhoso, aquela pontinha arrogante subiu na garganta. Disse para não me subestimar.

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Emy.

Quando eu era mais nova, minha mãe me dizia que minhas crises de ansiedade eram frescura, também dizia que nunca questionaram minha inteligência, porquê eu teria corpo perfeito, olhos azuis e seria branca, já a Raven teria que lutar por cada oportunidade que aparecesse, pois era negra. Eu concordo com ela, pois vivemos em um mundo racista demais.

Pessoas que acham que a cor da pele interfere no caráter ou sabedoria, posso assegurar que há tantos brancos que cometem crimes terríveis e saem em pune ou são desprovidos de saber.

Mas, enquanto eu vivesse, irei proteger Raven e Lilian de todo o mal que possa machucá- las. Minhas crises de ansiedade já foram diagnosticadas, tomo remédios, entretanto havia vezes que elas me batem de uma forma tão pesada que penso em como seria minha morte. Um alívio.

Na empresa.

Caminhei em direção ao elevador, parei em frente ao mesmo e esperei que ele se abrisse, meu celular vibrou na calça.

Mensagem de Ricardo:

{Bom dia Emy, como está hoje?}

Eu gostaria de não ignorar Ricardo, mas estou com pressa e uma dor de cabeça horrível.

{Estou bem e você? Passa na minha sala pra conversamos}. >Enviada e visualizada✅
📴

O elevador se abriu e eu entrei, poucos segundos e estou na frente do meu escritório, a porta não está abrindo, tenho que força-la, deve ser a fechadura. Hoje o universo conspira contra mim.

Sinto alguém trombar seu corpo no meu enquanto estou de costas, levo um pequeno susto e um calor intenso sobe por minha pele fazendo-a arder intensamente.

– Desculpe, estava com o celular na mão e acabei não prestando atenção na minha frente. –Logan solta suas palavras e seu hálito de hortelã bate em meu rosto por estarmos tão pertos, seus olhos castanhos me encaram naquela sensualidade natural que continha.

– Imagina, eu estou com problemas com a porta, pode me ajudar? –O celular dele caiu no chão, agachei pra pegar e ele tentou abrir a porta, no visor estava seu whatsapp aberto... tentei não olhar. Uma imagem me chama atenção, um garotinho que aparenta ter a mesma idade da Lilian.

– Que bonequinho, muito fofo. –Estendi a mão e ele pegou o celular com um leve sorriso, seus dedos finos e longos causaram um leve arrepio nas minhas mãos ao tocá-las. Eletrizante.

– É o Samuel, meu irmão menor. – Ele abriu a porta e me deu espaço para entrar.

– Você viu Ricardo? –Sua voz calma me perguntou, enquanto eu arrumava minhas coisas na mesa. A sala se tornou grande diante de nós.

– Ele deve estar chegando, me mandou mensagem agora pouco. –Seus lábios se retorceram levemente e me pareceu que ele não gostou muito do que eu disse.

– Sua sobrinha está melhor? –Sentei à mesa e cruzei as pernas por debaixo da mesma.

– Está sim, ela vai fazer acompanhamento médico, vou ligar para ela hoje, sinto saudades das duas. –Logan começou a tossir descontroladamente. Talvez estivesse engasgado com algo.

Peguei um pouco de água no filtro próximo a mesa e lhe entreguei. Ele tomou com cuidado e eu observei suas olheiras e sua esclerótica bem irritada.

– Obrigado Emy. –Ele agradeceu e eu joguei o copo fora. Pensando bem, Logan não deve estar com essa aparência tão estranha por conta de insônia, mas não pude perguntar algo tão íntimo ainda.

Vejo por debaixo da mesa que ele tira um remédio do bolso da calça e o engole.

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Ricardo chegou faz algum tempo e nos cumprimentou, depois foi à sala dele, já eram 16:00 e eu tomei um café para manter disposta, estava sonolenta demais. Meu corpo fraco e vulnerável a tal sensação.

–Logan, Emma, reunião na minha sala daqui a alguns minutos. – Malcom avisou abrindo a porta de repente e saiu num piscar de olhos.

Nós levantamos e seguimos para sala dele conversando sobre o clima, estava um pouco frio hoje. Não tinha muito assunto para pôr em dia.

– Sentem por favor, só falta o Ricardo e a Gisele. –Me sentei ao lado de Logan e ficamos em silêncio. A sala parecia esquentar cada vez mais sob minha pele.

– Cheguei, agora podem começar. –Ricardo disse com tom arrogante ao entrar, ele abotoou o paletó e mexeu na barba pouco grossa.

–Ainda falta a Gisele. –Malcom disse, com expressão de insatisfação com a sua atitude. Logan moveu os lábios incomodado.

– Podemos começar sem ela, estão todos os homens da empresa aqui. –Ele era tão arrogante e prepotente. Chegava a exalar seu ego altíssimo.

– Só porquê ela é mulher, temos que começar sem ela? – Isto me irritou ao ponto de ter que respondê-lo.

– Não querida Emy, você não entendeu. – Seu gesto com as mãos me pediram calma e seu sorrisinho me irritou ainda mais. Sim Ricardo, eu entendi seu ponto totalmente sem nexo.

– Sim, eu entendi perfeitamente Ricardo, quer me explicar o quê? Talvez...

– Não se exalte Emy, sei que pode estar em dias de TPM, mas não envolva negócios nisto. –Malcom e Logan o encararam de forma rude e eu soltei um sorriso irônico. Ainda teve a audácia de me interromper e associar minha reação ao ciclo menstrual.

– Isso é o típico machismo sabe, Ricardo? - Ele continua com seu olhar sínico e sua pose soberba.

– Querida Emma, deixe eu te explicar o que é machismo...

– Ricardo, você está aqui pra trabalhar e não dar explicações sobre o que te vier na cabeça. – Foi interrompido, eu não acreditei que ele foi capaz de continuar falando, agradeci ao Malcom por pará-lo.

Logan soltou um sorriso fechado. E relaxou os ombros largos.

Ricardo parecia dialogar com uma criança quando se dirigiu a mim.

Espero que gostem.