Frio
Natasha.
Estava atordoada com as provas do fim de bimestre, mas tinha fé que iria passar, passei madrugadas estudando e não aceito não conseguir! Iria me auto-fuzilar e que ninguém entrasse no meio!
✉️ Mensagem para Emy:
(Emy, você acha que eu devo estudar mais?).
(Claro que não Naty, você é super inteligente, passa em todas as matérias, é a pessoa mais inteligente que conheço).
(Estou com medo de não ser o suficiente, sempre vou querer me auto- superar entende?).
(Claro, eu faço isso as vezes, inclusive, adivinha quem me ligou ontem? ☹︎).
(Quem??? )
( A minha mãe, me perguntou como estavam indo as coisas).
(Como você reagiu? ).
( Ah, eu tava indo pra uma festa, super bem, segura de mim, mas ela conseguiu me abalar a ponto de quase ter uma crise).
(Se cuida, evita atender ela, energia negativa faz mal pra saúde ).
(Tem razão gata).
(Beijos, tenho que ir pro trabalho, sinto saudades).
(Também sinto saudades, mas logo vamos nos ver em chamada de vídeo, te amo e boa sorte na prova ).
(emoji mandando beijo).
Off.
Passei uma maquiagem diferente — uma jardineira preta de alças com uma camisa manga longa cor branca, meias finas da mesma tonalidade — sapatos de salto fechados, batom vinho e cachos no cabelo. Foi difícil enrolar por causa do tamanho curto.
Antes iria comprar um presente pro meu pai, era aniversário dele.
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Meu pai abriu a porta e me olhou de cima abaixo. Desdenhando.
– Oi pai. – Disse com medo de sua reação.
– O quê você quer aqui, Natan? –Naquele instante tive absoluta certeza de que isso foi uma má ideia.
– Natasha pai, por favor. –Mostrei o presente embrulhado.
– Você não é mais meu filho. –
Ele ia fechar a porta e minha mãe impediu.
– Pádua, por favor. – Ela me puxou pelo braço para entrar. Meu pai subia pro quarto desprezando quem eu era.
– Aberração. –Sua voz saiu ríspida e doeu demais em meu coração, sua atitude, nem no meu rosto ele olhou e já se distanciou.
– Sabe que ele não te aceita, por quê insiste em vir aqui? –Ela se sentou no sofá junto comigo.
– Nem eu sei explicar, só queria que ele me aceitasse, porquê estou feliz assim. – O olhar analisador dela me atingiu.
– Você está muito diferente. – Coloquei o presente sob o sofá devagar.
– Peço que não volte aqui quando seu pai estiver, se puder, ligue ao invés de vir, adeus. – Ela apontou a porta com tamanha frieza. Não acreditava naquilo, por mais que fosse realidade. Um balde de água fria. Decepcionante.
– Não vai nem me chamar de filho mãe? –Sua cabeça se abaixou. Ela não queria nem me olhar.
______//_____
Enquanto esperava para chegar no trabalho, estava assistindo The vampire diaries, amava ver Delena (Damon+Elena) e a Bonnie Bennet, ela era tão amorosa e sempre buscava ajudar as amigas. Uma excelente personagem.
Recebi uma mensagem de Ulisses.
(Naty, podemos tomar um café? Sem compromisso).
O que eu respondo?
(Boa tarde Ulisses, aonde poderíamos ir?)
(Podemos ir aonde você quiser, você decide, estarei te esperando as 17:00, tá bom pra você?).
(Claro, estarei no Coffee Toulouse).
(Perfeito, Até depois Naty).
(Até depois ^^).
Talvez eu conseguisse o milagre de sair mais cedo, mas do mesmo modo, sairiq antes das cinco.
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No trabalho.
Limpando o balcão, faltava pouco pra começar a preparar os pedidos.
– Naty, eu preciso da sua ajuda. –Leslie, uma amiga minha de trabalho, cochichou cautelosa.
– Fala mulher, do que precisa? –Ela se aproximou como se estivesse em uma missão secreta.
– Preciso que você me ajude, encontrei dez gatinhos jogados em um bueiro e peguei eles pra mim, só que não posso cuidar. –Leslie tinha um jeito fofo e engraçado de falar.
– Você tem um coração enorme sabia? Eu vou te ajudar sim, pego eles e levo pra clínica que conheço, tenho certeza de que eles irão pôr para doação. –Tinha algumas pessoas no hospital que gostariam de pegar animais pra cuidar. Um bom plano estratégico.
– Vou levá-los para você amanhã então, obrigada. –Recebi um abraço e retribui.
Fui sua salvação naquele momento complicado.
Trabalhava como neurologista residente em um hospital nos limites de Toulouse, ainda estou terminando a faculdade, mas falta pouco. Odiava quando era contestada por pessoas que não sabiam o suficiente da minha profissão e queriam me ensinar a fazer o meu trabalho. A lanchonete era só um extra para que eu pudesse pagar o aluguel e outros gastos.
16:40.
Tirei o avental e ajeitei o cabelo escuro, peguei minha bolsa no vestiário e dei tchau à Leslie. Segui confiante, ajeitei o vestido e borrifei um pouco do meu perfume rapidamente.
Coffee Toulouse.
Ao cruzar a porta, avistei Ulisses sentado no fundo do lugar, o clima muito bom. A iluminação e a decoração daquele lugar era meio antiga. Tinha bancos de couro cor caramelo e marrom escuro, quadros e objetos de madeira. Alguns desenhos (flores de lis prateadas) na parede pintada de caramelo claro.
– Naty, está muito linda. –Ulisses se levantara e me dera um beijo no rosto.
– Obrigada, é muito bom estar aqui com você. –Me sentei ao seu lado no sofá encostado na parede e com mesa de frente.
– Este é o cardápio. –Ele entregara a mim. Seu cheiro de hortelã com canela, algo agradável, mas intenso. Eu devia estar cheirando hambúrguer, mas fazer o que, culpa do meu trabalho. E não tem quem não goste do cheiro de comida.
– O quê tem feito? Como andam as coisas? Ah! Perdoe-me, qual pronome devo usar ao me referir à você? – Ulisses me analisava com seus olhos coloridos feito ondas hipnotizantes.
– Sem problemas, use no feminino por favor... Acabei de sair do serviço, as coisas andam de um modo ruim, mas nem tudo está perdido. –Ele se aproximou e colocou o braço por trás do meu pescoço, apoiando no sofá.
– O quê houve? Gostaria de conversar sobre isso? –Sem dúvida um assunto sério para compartilhar com qualquer um, mas iria me aliviar desabafar.
– Como sabe, sou trans, meus pais me rejeitaram no momento em que me assumi como eu sou. –Não chora Naty, seja forte. A voz em minha mente pediu melancólica.
– Eu tentei resolver as coisas, mas não foi como eu imaginava. –Podia parecer boba por chorar, mas era algo que realmente me machucou. Ulisses me fitou de forma compreensiva. Retomar o controle não foi fácil, entretanto compreendi do que realmente eu precisava... da Natasha Rulli, precisava me encontrar e florescer. O resto, era resto.
– Não entendo como uma pessoa boa como você, pode ser tratada assim por quem te deu a vida. – Vi sinceridade em seu olhar.
– Nem eu sei, mas não vou viver a mercê da imploração pelo amor deles, mereço mais do que desprezo, muito mais. –Uli estava tão próximo que pude sentir sua respiração quente. Aquele ar caliente nos rodeava e fazia pressão.
– Com certeza, Natasha. –Seus lábios encostaram nos meus e senti um rubor quente subir em meu corpo. Encostei meus lábios nos seus também e damos início a conexão de línguas. Movimentos sincronizados, eu pra direita e ele pra esquerda, movimento de vai e vem e brincadeira entre as línguas. Algo calmo, mas intenso. Aliás, ainda bem que escovei os dentes.
Naty na mídia.
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