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Três

“Já fazem dois anos e eu sinto falta da minha casa, mas há um fogo queimando em meus ossos e eu ainda acredito, eu ainda acredito. E todas aquelas coisas que eu não disse, são bolas demolidoras dentro do meu cérebro. Vou gritar elas bem alto hoje à noite, você pode ouvir minha voz desta vez? Eu realmente não me importo se ninguém mais acredita, porque eu ainda tenho muita força sobrando dentro de mim.”
Rachel Platten | Fight Song

04 de julho de 2000,
terça-feira.

    Nos últimos dois anos, desenvolvi uma habilidade surpreendente de ler vários livros em um período muito curto de tempo. Antigamente, eu lia alguns, mas hoje em dia ultrapassam a barreira de Alice no País das Maravilhas que eu mesma havia imposto para mim. Me arrisquei no suspense, no terror, em alguns outros livros de fantasia e até mesmo no romance. Dalton Williams foi o responsável por me enfiar goela abaixo este gênero novamente e sou muito grata a ele por isso.

Atravesso a cozinha com uma xícara fumegante de café em mãos. Está calor lá fora, mas por algum motivo este apartamento é frio. Minhas meias cinzas deslizam no chão do corredor e, assim como todas as outras vezes nas últimas duas semanas, crio raízes rente à porta de vovó Odete. Fico parada, fito a madeira branca e deixo as lembranças boas tomarem conta de mim. Não choro mais com tanta frequência como na primeira semana, mas simplesmente não consigo evitar as lágrimas grossas e quentes de deslizarem pelas minhas bochechas, toda vez que constato que vovó não abrirá a porta do quarto para me desejar bom dia.

Balanço a cabeça, secando meus olhos com o dorso da mão livre e continuo o trajeto até meu quarto. Hoje é terça-feira e decidi organizar minha pequena estante. Beberico meu café aos poucos e coloco a xícara branca sobre a cômoda. Amarro meus fios ruivos em um coque com a ajuda de um lápis. Começo pegando todos os livros e colocando-os sobre minha cama. Passo um pano seco na estante para tirar a poeira e subo em uma cadeira para alcançar a última prateleira. Aqui, geralmente guardo algumas frases dos livros que mais gosto; seja um diálogo engraçado que me faz gargalhar ou um parágrafo reflexivo. Gosto de anotar essas pequenas passagens para, futuramente – quando precisar rir ou refletir sobre algo – lê-las. Por um descuido, derrubo a pequena caixinha lilás e os bilhetes se espalham pelo chão.

Merda! — Bufo, descendo da cadeira e me agachando no chão para recolhê-los.

Começo a colocá-los dentro da caixinha novamente e um bilhete em especial me chama a atenção. Está dobrado em quatro partes, a assinatura de Christopher faz a curiosidade golpear meu coração em cheio. Nunca tive coragem de ler seu bilhete, e muito menos as cartas de Sarah e Helena – minhas antigas amigas que, certamente hoje em dia me odeiam, assim como os demais. Me sento em posição de índio, aspirando profundamente e desdobrando o bilhete com as mãos trêmulas. Umedeço os lábios, deslizando minhas íris sobre o papel.

“Sinto sua falta. Muito mais do que um dia já imaginei ser capaz de sentir. Você foi a minha amiga. Minha luz. Meu arco-íris em dias nublados e só eu sei a falta diária que sinto das nossas conversas. Desculpe por ter falhado como seu melhor amigo, Ana. Espero que um dia você, Sarah e eu possamos voltar a ser o que éramos.

Feliz aniversário atrasado.

Eu amo você, embora talvez não acredite.

Christopher.”

Deixo o bilhete de lado, pegando a carta de Helena Watson. Embora nossa amizade não tenha se estendido por anos – como é o meu caso com Sarah e Christopher –, nossa conexão foi muito instantânea. Helena é divertida e sincera. Enquanto Sarah mede as palavras com medo de machucar as pessoas, a morena cospe elas como um tapa da vida em seu rosto. Admiro isso nela.

“Eu sou péssima em me expressar através de cartas (na verdade, através de qualquer coisa), mas vamos lá…

Conte comigo para tudo, sempre. Sei que os últimos meses têm sido turbulentos para você, mas tudo isso faz parte da vida; nós erramos, tropeçamos, caímos e nos reerguemos. Conheço você há pouco tempo, mas consigo perceber o quão forte é. Não se culpe; se reconstrua. Volte ainda mais forte e encare seus problemas de frente. Não deixe nada e nem ninguém apagar a luz que existe aí dentro. Você é foda pra cacete!

Com carinho, H.”

Solto uma risada, meu corpo treme e as lágrimas pingam na folha de caderno enfeitada com caveirinhas e flores, manchando um pouco a tinta azul da caneta. Permaneço encarando a carta, relendo-a diversas vezes. Não se culpe; se reconstrua. Volte ainda mais forte e encare seus problemas de frente. Só eu sei o quanto gostaria de ouví-la falando essa frase na minha cara.

Deixo-a junto com o bilhete de Christopher e tomo coragem para abrir o envelope de Sarah Herrera. Nunca, em hipótese alguma, um dia me imaginei longe da minha melhor amiga. Sarah era como uma irmã para mim, compartilhávamos absolutamente tudo uma com a outra e nos apoiávamos nas mínimas decisões. Éramos almas gêmeas de amizade. Um laço praticamente irrompível, mas que eu infelizmente me vi obrigada a romper.

“Quando éramos crianças, eu tinha inveja de você (risos). Suas bonecas eram incríveis, mas não era delas que eu tinha inveja. Tinha inveja da maneira como você conseguia se comunicar com o Christopher, o modo como sorria e deixava tudo ao seu redor resplandecente. Depois de um tempo, percebi que na verdade não era inveja – e sim ciúmes. Não do Christopher, mas de você. Queria ser sua amiga, ser contagiada pelo seu sorriso e ouvir suas piadas sem graça – por algum motivo, eu sempre ria delas escondida no meu quarto. Quando ficamos na mesma sala, senti-me a criança mais sortuda e feliz do mundo. Quando Christopher se transferiu para a nossa turma, eu quis matá-lo (risos).

Os anos se passaram, nós amadurecemos e eu já não sentia mais inveja de você ou ciúmes ou vontade de matar o Chris por atrapalhar nossas conversas sobre garotos; sentia orgulho de ser amiga de uma menina tão especial e brilhante como você. Não queria mais te esconder em um potinho para que somente eu a conhecesse e tivesse acesso; queria que o universo soubesse o seu nome.

Nos meus momentos mais sombrios, você era a primeira pessoa a sorrir para mim e, simples assim, o meu dia valia a pena. Você sempre foi resiliente, inteligente e carregou o mundo nas costas. Atravessou mares turbulentos, enfrentou tempestades devastadoras e manteve a esperança de que dias melhores viriam. Por favor, mude qualquer coisa em você, menos a sua essência.

Obrigada por todos os momentos até então, desde brigar comigo nos almoços de domingo até agora, na nossa formatura. Ainda iremos construir muitas memórias boas nessa nova fase da nossa vida – e colocar todos os nossos planos em prática. Eu serei eternamente grata por ter você em minha vida.

Estarei sempre aqui. Independente da situação.

Por você.

Por mim.

Pela nossa amizade.

Você é minha inspiração, nunca se esqueça disso. Eu amo você.

Beijinhos cintilantes!

Da sua melhor amiga, Sarah H.”

Aperto a folha contra o meu peito, sem me importar em amassá-la. Quero sentir o toque de suas palavras. Sinto falta do seu abraço, do seu jeitinho único de ser e da incrível capacidade de destruir todas as minhas barreiras. Puta merda. Minha garganta dói e implora que eu deixe os soluços escaparem. Assim o faço. Meu choro reverbera pelas paredes do meu quarto, a angústia e o arrependimento tomando a forma de lágrimas e se projetando para fora de mim como um rio violento.

Ler o bilhete de Christopher e as cartas das meninas trouxeram um sentimento consigo que evitei sentir nos últimos dois anos; a saudade. Se eu sentisse saudades, então eu sentiria culpa e a culpa me faria voltar para Snowdalle. Se eu voltasse para a minha cidade, então eu estaria no limbo. Sinto falta deles, da Anastásia Walker que eu era, dos momentos bons que me forcei a deletar e, o principal de tudo, sinto falta da minha casa.

Por um momento, cogito a hipótese de voltar.

20 de julho de 2000,
quinta-feira.

Faz um mês que vovó Odete morreu. Finalmente tomei coragem para abrir o seu roupeiro e sentir o aroma adocicado de camomila das suas roupas. Dalton e eu decidimos vender algumas coisas e doar outras. Ainda é difícil para nós; os últimos trinta dias foram deprimentes e precisamos mais do que nunca dar apoio um ao outro.

Dalton recebe o dinheiro e o guarda em uma pequena caixinha de madeira, enquanto eu coloco nas sacolas brancas as roupas limpas de vovó que estão a venda. América Forbes – nossa amiga de cabelos cacheados – nos emprestou um espaço na garagem de sua casa no final da rua para abrirmos um pequeno brechó. Praticamente todas as peças já foram vendidas e arrecadamos um bom dinheiro. Ainda não decidimos o que faremos com ele, mas estou pensando em dar para Dalton – já que neste sábado ele se mudará para Snowdalle e precisará de um auxílio para se manter lá até conseguir um emprego fixo.

Tivemos uma conversa séria semana passada. Dalton realmente quer recomeçar a vida em Snowdalle e a única coisa que pude fazer, foi apoiá-lo. Claro que ele insistiu novamente para que eu fosse, mas realmente não estou preparada para encarar meu passado de frente – cogitei a hipótese de ir ao ler as cartas e o bilhete, mas o medo do que irei encontrar ao chegar lá sobressai a minha coragem. Será difícil viver em um lugar onde não o encontrarei todas as manhãs quando acordar. Talvez, eu ainda me confunda e bata em uma porta onde ele não estará mais do outro lado para me atender, mas isso será apenas mais uma das outras milhares de coisas que terei de superar.

— Ei! — América Forbes estala os dedos em frente ao meu rosto, arregalando os olhos castanhos em minha direção.

— Você estava falando comigo?

— Há mais de dez minutos — revira as orbes, se atirando no sofá empoeirado no canto da garagem. Dalton sumiu daqui. — Por que você não vai com ele? Eu sei sobre a sua história mirabolante com seu ex-namorado e que deixou para trás seus amigos. Conta outra.

— Ele não era meu namorado!

— Vocês se beijaram, transaram e sentiram coisas um pelo outro. Sim, vocês praticamente namoravam, mas você estava assustada demais com esse fato e no final, mesmo assim, machucou seu coração. Não acha que é hora de encarar tudo isso e colocar um ponto final?

— Já coloquei. Eu estou aqui, ele está lá. Fim.

— Garota, se eu fosse sua mãe, arrastaria você pelos cabelos até o aeroporto — bufa, conferindo suas unhas pintadas de amarelo.

O tom de América é repreensivo, mas os traços de seu rosto são serenos. A conheci na faculdade, quando cochilei na aula de bioquímica básica. Ela me tocou uma bolinha de papel e, simples assim, nos tornamos amigas.

— Faz dois anos. Nunca dei notícias. Todo mundo me odeia — me atiro ao seu lado no sofá, tombando minha cabeça no encosto.

— Você não está lá para saber — cantarola, desenhando na poeira com o indicador. Em menos de cinco segundos, um coração ganha forma no couro marrom do sofá. Faço um risco no meio, representando o meu.

— E se eu for e descobrir que todas essas especulações são verídicas? O que eu faço?

— Como assim? Me poupe! Você é Anastásia Walker. Se um dia o mundo explodir e você for a única pessoa sobrevivente na terra, não será nenhuma surpresa — empurro seu ombro, sorrindo. — Simples: siga a sua vida. Você terá Dalton para te ajudar. E mesmo se não tivesse ele ao seu lado, você é forte e capaz de passar por tudo isso. Não deixe as pessoas transformarem a sua vida em uma prisão.

Fico pensativa por um instante. Não é tão simples quanto América faz parecer ser, mas gostaria que fosse.

— Voltei! — Dalton surge na porta da garagem, saltitando em nossa direção.

— Onde você foi?

— Mijar — ele se atira entre nós duas, suspirando aliviado. Retorço o nariz.

— Nojento!

— Fui tirar água do joelho — coloca os braços em nossos ombros, pendendo a cabeça para trás. — Sobre o que estavam falando?

— Sobre o dinheiro que arrecadamos com o brechó — sou rápida em mudar de assunto. Caso contrário, ficaríamos a tarde toda discutindo algo que já está decidido há muito tempo; não voltarei para Snowdalle. — Vamos dar ele a você.

— Nós vamos? — América arqueia as sobrancelhas e eu belisco sua coxa desnuda. — Ah, claro. Nós vamos.

— Meninas, eu não preciso e não quero — Dalton se levanta novamente, colocando as mãos na cintura e nos observando seriamente. — A pensão que ganho dos meus pais é suficiente para me manter em Snowdalle. Realmente não preciso desse dinheiro. Dividam entre vocês duas.

— Na verdade, a avó era sua — América pontua, brincando com uma mecha solta do meu cabelo entre os dedos. — O dinheiro é todinho seu. Faça alguma coisa com ele.

— Tipo o quê? — Não consigo pensar em absolutamente nada.

— Algo que você queira, sei lá. Que tenha algum significado.

Mordisco meu lábio inferior, puxando a pelinha ressecada do local. Fixo minhas íris na panturrilha direita de América Forbes, onde os traços de uma borboleta enfeitam sua pele negra. Logo abaixo do desenho, a palavra "liberte-se" está tatuada em letras cursivas e caprichadas. Aponto o indicador para aquela direção.

— Você disse que não dói tanto, né?

— Minha tatuagem? Não. É um pouco desconfortável, mas não é insuportável!

Sorrio, me levantando do sofá empoeirado em um pulo.

— Já sei o que vou fazer com o dinheiro.

Algumas pessoas fazem tatuagens sem motivo algum. Outras, apenas gostam de sentir a dor da agulha perfurando a pele. E outras – assim como eu –, esperam o momento certo e um motivo realmente bom para marcar a pele permanentemente. Em meus vinte anos de vida, nunca havia me passado pela cabeça fazer uma. Odeio sentir dor; seja ela interna ou externa. Só de pensar que logo irei experimentar a sensação de ter minha pele furada, sinto vontade de dar meia-volta e desistir dessa loucura. Entretanto, acredito que esse seja o meu momento certo com um motivo realmente especial.

— Anastásia? Sua vez! — Arregalo os olhos em direção ao homem barbudo e cheio de piercings. Ele se chama Tony e parece muito simpático, exceto quando segura aquela maquininha torturante que com certeza me fará chorar. — Não se acanhe! Venha cá!

— Nós estaremos aqui, Ana — América sorri em incentivo, enquanto Dalton me empurra e se levanta também.

— Eu vou segurar a sua mão — pisca para mim, me guiando até a cadeira reclinável do estúdio. — Você pode a apertar no nível da sua dor.

— Então eu irei quebrar todos os seus dedos — solto um riso nervoso, me sentando na cadeira. Sinto cada cantinho do meu corpo tremer.

— Você está bem? — Tony questiona, colocando uma máscara e luvas pretas. Por precaução, ele me estende uma toalha limpa e branca, para que eu a morda caso a dor seja um pouquinho demais para mim.

— Sim — inspiro e expiro, puxando a alcinha da minha blusa branca para baixo. Arrasto meus fios ruivos para o lado, deixando meu ombro esquerdo livre. Agarro a mão de Dalton, fechando os olhos com força.

— Vou lhe contar uma história… — ouço o barulhinho da máquina e pelos próximos trinta minutos, escuto pelo menos vinte histórias diferentes sobre metade de suas tatuagens e piercings.

Felizmente, não fora necessário o uso da toalha. Nas primeiras picadas, pensei em desistir e nunca mais colocar meus pés dentro de um estúdio de tatuagem. Contudo, a dor passou a ser suportável conforme eu prestava atenção na voz serena de Tony, e não na agulha fina perfurando meu ombro, bem abaixo da clavícula. A palavra "Resiliência" está tatuada com tinta preta, em letras cursivas e com uma pequena rosa no final. Encaro-a pelo reflexo do espelho; a pele está avermelhada e levemente saliente. Sorrio e seco as lágrimas que escapam dos meus olhos. Me sinto, de alguma forma, renovada.

— Eu amei — América sorri, admirando a tatuagem.

— Um dia eu também farei uma — Dalton surge ao nosso lado, a voz esbanjando convicção.

Meus sentimentos se mesclam em meu interior, consigo sentir uma faísca acendendo dentro de mim; é a coragem.

Espero que um dia você, Sarah e eu possamos voltar a ser o que éramos.

Não se culpe; se reconstrua. Volte ainda mais forte e encare seus problemas de frente.

Estarei sempre aqui. Independente da situação.

Passei por tantas coisas nos últimos anos; desde um relacionamento abusivo até a perda de um ente querido e, mesmo assim, mesmo indo ao fundo do poço e voltado, eu me mantenho firme. Por que agora seria diferente?

— Eu vou voltar para Snowdalle.

Resiliência significa a capacidade que temos de superar as dificuldades e os sofrimentos da vida.

— Quê? — Dalton solta um ruído atônito e América arregala os olhos castanhos em minha direção.

Assim como uma cicatriz, resolvi fazer essa tatuagem para lembrar que, apesar de superar esses acontecimentos, todos eles, de alguma forma, deixaram marcas em mim.

— Vamos arrumar nossas malas, Dalton — sorrio, me virando para eles. — Snowdalle está prestes a receber Anastásia Walker de volta.

Eu sou a própria resiliência.

Me desculpem pelo atraso, postarei outro capítulo a seguir para me redimir KKKKK.
❤️

O que estão achando da história até agora?
Comentários serão sempre bem-vindos!

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