Cinco
“Não, estou bem, estou deitada no chão novamente. Mesmo depois de toda essa merda, sou resiliente. Porque uma princesa não chora. Uma princesa não chora. Queimando como um fogo, você sente tudo isso por dentro, mas limpe seus olhos marejados; porque princesas não choram.”
Aviva | Princesses Don't Cry
22 de julho de 2000,
sábado.
Colocar meus pés para fora de Snowdalle há dois anos atrás, significou colocar um ponto final no motivo que partia meu coração a cada mísera batida; Scott Summer. Nós nos conhecemos em outubro de 1997 – mais especificamente no primeiro dia do mês –, e assim como nossa breve história tempestuosa de amizade e amor, nosso encontro não deixou de ser igualmente desastroso. Com o passar do tempo, foi praticamente impossível não me apegar ao seu jeito único de ser. Scott iluminava meus dias de uma maneira resplandecente, e com seus comentários sarcásticos e irônicos, acabamos nos tornando melhores amigos.
Entretanto, em um determinado momento, nossos corações partidos buscaram refúgio um no outro e o que era para ser apenas uma amizade inocente, acabou se transformando em um desejo carnal insaciável. O primeiro beijo foi como uma droga viciante em meu organismo, e por mais que eu tentasse esconder o que sentia por ele na época, simplesmente não fora possível. Hoje em dia reconheço que eu o amava com tudo de mim, mas era medrosa e traumatizada demais para compreender; devido a isso, o magoei incontáveis vezes sem ser essa de fato a minha intenção. A antiga Anastásia Walker era um caos e Scott não estava muito atrás dela, sendo a tempestade que sempre foi.
No dia da nossa formatura, vi o mundo ruir diante dos meus olhos. Senti como se a terra houvesse se partido sob meus pés ao descobrir que Scott Summer, desde o início, havia mentido para mim. Não sabia, até aquele momento, que uma mentira era capaz de destruir tanto uma pessoa. Depositei toda a minha confiança nele, para no final, me deparar com uma realidade completamente diferente da que eu havia construído para nós dois. Scott – na verdade Tyler – escondeu seu verdadeiro nome, se aproximou de mim para ter acesso livre na casa dos meus pais, roubar informações e em seguida, passar ao seu pai; Kahill Summer. Engolir isso doeu demais na época e só de lembrar, ainda sinto o nó na garganta me sufocar.
Sair de Snowdalle pode não ter sido a escolha mais sábia, mas era o que eu precisava no momento. Coloquei minhas mãos no fogo por ele e acabei me queimando. Não me arrependo de ter virado as costas e nunca mais voltado. Talvez, só me arrependa de ter deixado as pessoas que eu amava sem notícias minhas por longos dois anos, como Sarah, Helena e Christopher – por mais que nossa relação não estivesse das melhores na época, ainda assim nunca deixei de sentir saudades da nossa amizade.
Quando falei com minha mãe sobre morar em Paris com a vovó, disse a ela para que não me trouxesse nenhuma notícia de Snowdalle – a menos que fosse algo grave e importante. Eu queria recomeçar, deletar meu passado e ser uma nova Anastásia. Não conseguiria fazer isso revivendo e me apegando as coisas que deixavam a antiga eu feliz e radiante. Precisava ser uma nova pessoa e consegui. Eu sou uma nova pessoa.
Entretanto, a vida nem sempre segue o roteiro que criamos para ela. Realmente, Dalton estava certo. Isso pode ter funcionado durante dois anos e, embora eu me recuse a admitir, ficar com vovó foi uma das desculpas que arranjei para não enfrentar meus problemas de frente. Eu fugi deles, mas sabia que uma hora ou outra, eles me encontrariam para acertarmos as contas. Esse dia chegou e resolvi ouvir os conselhos de América; não deixe as pessoas transformarem a sua vida em uma prisão. Não serei refém do meu passado. Pelo menos, não mais.
Dalton Williams está ao meu lado, arrastando suas três malas, enquanto eu arrasto minhas outras duas. O aeroporto de Hammon Springs está lotado, portanto não consigo avistar mamãe ou papai quando atravesso a plataforma de desembarque. Estão todos muito agitados, ansiosos para reencontrar os familiares – enquanto eu, apenas gostaria de fugir para Marte. Fico na ponta dos pés, tentando reconhecer alguém em um aglomerado de rostos desconhecidos.
— Não sei se é algum parente seu, ou se é apenas coincidência… — Dalton espreme os olhos, enrugando a testa. — Mas aquele cara lá está segurando uma placa com o seu nome — ele se abaixa e sussurra em meu ouvido, apontando para o lado esquerdo.
Meus olhos seguem a mesma direção e captam Francis White segurando um pedaço de papelão com o meu nome escrito em letras tortas. O sorriso é instantâneo, mas não deixo de notar a tristeza que se camufla dentro de mim. Sei que algumas pessoas não concordaram totalmente com a minha mudança. Francis é uma delas e não sei como se sente a meu respeito no momento. Sinto medo de perder a conexão que tínhamos.
Deixo minhas malas com Dalton, serpenteando as pessoas no aeroporto até parar em sua frente. Meu coração golpeia a caixa torácica com fervor, meu sangue circula rapidamente por minhas veias e sinto uma camada cristalina cobrir minhas orbes. Francis abaixa a placa, largando-a no chão e abrindo os braços. Não penso duas vezes em me atirar nele, enroscando-me em seu pescoço. Aperto-lhe com força, enterrando meu rosto na curvatura de seu pescoço. Sinto o cheiro de loção pós-barba e fecho meus olhos, experienciando as lágrimas escorregarem em minhas bochechas.
— Faz tanto tempo — sua voz reverbera entre meus fios alaranjados e me afasto, fitando-o com a visão embaçada. — Senti muito a sua falta.
Francis envelheceu um pouco nos últimos dois anos. As marcas de expressão no canto de seus olhos e alguns fios de cabelo branco demonstram isso nitidamente.
— Eu também senti a sua — mordisco meu lábio inferior, sentindo minhas narinas dilatarem e o choro se tornar ainda mais presente.
Existem tantas palavras não ditas entre nós. Não tive tempo de me despedir de ninguém. Nem dos meus pais, amigos e muito menos de Francis. Quando ele soube da minha partida, eu já estava a duas horas de distância de Bellis. Doeu de uma maneira excruciante, mas doeria ainda mais se eu tivesse permanecido. No momento, apenas torço para que o laço que tínhamos continue irrompível; apesar de saber que é difícil tapar um buraco tão grande. Não fiquei ausente por apenas dois dias, foram dois anos.
— Onde mamãe está? — Limpo minhas lágrimas, vendo de esguelha Dalton se aproximar com as malas.
Ambos se cumprimentam.
— Não pôde vir. As coisas na empresa estão muito agitadas nesse último mês — comenta, pegando minhas malas e nos guiando entre as pessoas até o estacionamento do aeroporto. — Como foram de viagem?
— Bem! Tirando o medo tremendo que eu fiquei de voar — Dalton sorri, passando a mão na testa como se estivesse aliviado.
— Quero que me contem tudo no caminho.
Em todas as ligações que tive com mamãe ao longo desses dois anos, em nenhum momento ela me contou que comprara uma casa nova. A antiga residência onde eu morava já não existe mais – agora é uma padaria. Bizarro, eu sei. Marina e Francis decidiram comprar uma no centro da cidade, a apenas algumas quadras da One Enterprise Fashion. A mansão é rodeada por um muro branco e alto, que cobre totalmente a visão para a casa. Acho um exagero, mas não digo nada ao cruzar o enorme portão de ferro cinza. A casa é espetacular; há um jardim de rosas vermelhas no canto direito do quintal e uma piscina enorme ao lado esquerdo. A mansão, assim como os muros, também é branca com portas e janelas na cor cinza-granizo. Estou deslumbrada e Dalton não está nem um pouco diferente de mim.
— Você nunca me disse que era rica — acusa ao sairmos do carro.
— Eu não sou — sussurro, fechando a porta. — Meus pais são.
— Puta merda. Tô inspirando cheiro de dinheiro.
Solto uma gargalhada e caminhamos até Francis, ajudando-o com as nossas malas.
— Mamãe não me disse que havia vendido a antiga casa — comento, arrastando minhas malas até a entrada. Dalton vem logo atrás.
— Os últimos anos foram uma loucura, querida. Você tinha seus próprios problemas em Paris e nós aqui em Bellis. Sua mãe ficou mal quando você saiu da cidade. A casa não era a mesma para ela — meu padrasto destranca a fechadura, empurrando a porta. — E também, a OEF começou a crescer ainda mais. Ela precisava de um espaço maior, então ano passado resolvemos comprar essa. Sua mãe vendeu a casa, e eu, o meu apartamento. Juntamos o dinheiro e acrescentamos o que faltava.
— Faltava muito, não? — Dalton questiona assim que pisamos no hall de entrada. Dou uma leve cotovelada em seu braço.
Francis ri.
— Nem tanto. Conseguimos um ótimo dinheiro com a venda dos dois imóveis e sua mãe fez um acordo bacana com o antigo proprietário dessa casa.
Concordo com a cabeça, dando uma olhada solícita no local. É de longe mil vezes maior que a antiga casa. Tudo aqui dentro tem cheiro de novo. A decoração é rústica e aposto que mamãe escolheu tudo. Passamos pela sala e sorrio ao ver uma lareira – no apartamento de vovó também tinha uma. Seguimos o trajeto até a cozinha, passando pela sala de jantar e subindo as escadas de mármore até o segundo andar. A mansão possui cinco quartos e três deles já estão decorados – o de Marina e Francis, o meu, e o de Dalton. Nós dois não pretendemos ficar aqui por muito tempo. Queremos alugar um loft perto da New Blizzard University para morarmos juntos – conversamos sobre isso no voo para cá.
Adentro meu quarto, largando as malas sobre o tapete florido. As paredes têm a tonalidade lilás, minha cor favorita. Uma pequena televisão está sobre uma cômoda cheia de gavetas e um roupeiro com espelho cobre toda a parede esquerda. Há também uma escrivaninha à minha direita e uma porta branca – que acredito ser o banheiro. Dalton atravessa o corredor e some para dentro de seu próprio quarto.
— Vocês pensaram em tudo — sorrio, me atirando sobre o colchão macio com lençóis roxos.
— Eu sempre esperei que você voltasse — Francis declara, caminhando em minha direção e sentando-se sobre o puff lilás. — Embora sua mãe também quisesse você aqui em Snowdalle, uma parte dela já estava convencida de que seus pés nunca mais tocariam essa cidade. Por outro lado, eu preparei este quarto desde que nos mudamos para cá.
Sinto o aperto no peito me sufocar.
— Eu sinto muit… — começo, mas Francis balança as mãos com veemência em frente ao corpo.
— Embora eu não concordasse com a sua escolha na época, tentei me colocar no seu lugar e, no fundo, percebi que somos parecidos. Sei que são situações completamente diferentes, mas eu também fui embora quando a sua mãe assumiu o namoro com o seu pai. Fiquei um ano em Londres, tentando me recuperar das rachaduras e só voltei quando consegui parcialmente. Não posso te julgar, pois a dor não é minha — ele segura minha mão, esfregando-a com o polegar delicadamente. — Não se desculpe comigo por algo que lhe fez bem, pois eu jamais gostaria de ver você chorando pelos cantos dessa casa.
Não conto a Francis que ainda choro. Seja por falta da vovó, dele, dos meus pais, dos meus amigos ou de mim mesma. Ao invés de prolongar a conversa melancólica, lhe dou outro abraço apertado. Uma das coisas que mais admiro em Francis White é a sua incrível capacidade de compreender e não julgar. Não sei como pude imaginar que nossa relação seria afetada de alguma forma.
Me afasto, enxugando a lágrima solitária que percorre minha bochecha.
— Agora, quero saber como foi o pedido de casamento! — Coloco um sorriso no rosto, empolgada para escutar. Nos dois dias que mamãe ficou em Paris após o velório de vovó Odete, ela não me contou nada sobre como foi a sua reação.
— Eu a convidei para jantar no início deste ano. A aliança veio em uma bandeja e foi tudo combinado com os garçons — seus lábios se repuxam em um sorriso extremamente realizado. É como se ter minha mãe como sua esposa fosse a coisa mais preciosa do mundo para ele. — Algumas pétalas de rosa caíram sobre a mesa, os clientes bateram palmas. Sua mãe chorou e disse sim. Foi incrível.
— Eu acho que nunca vi você tão feliz.
Francis encara a aliança dourada envolvendo seu dedo anelar na mão direita e suas orbes adquirem um brilho refulgente.
— É porque eu nunca estive tão feliz.
Deixo um sorriso escapar.
— Como você… está se sentindo? — Sua pergunta é cautelosa. Pondero se lhe conto a verdade ou se apenas concordo com a cabeça e minto que estou bem.
— Estou feliz por ter voltado, mas… — retorço os lábios para o lado, soltando uma lufada densa de ar. — Eu sempre gostei de ficar na minha zona de conforto. Agora, sinto que entrei em um campo minado e a qualquer momento algo pode explodir bem na minha cara.
— Seu campo minado, agora, é a sua vida. Os perigos escondidos nele são os seus assuntos pendentes — Francis levanta do puff, escondendo as mãos nos bolsos frontais de sua calça jeans escura. — Antes de algo explodir bem na sua cara, tente resolver esses impasses.
Fecho os olhos com força, soltando um ruído descontente como uma criança birrenta.
— Sinto saudades da minha infância, quando minha única preocupação era cuidar das minhas bonecas — liberto uma risada contida, encarando-o. — E, quando eu tinha algum problema na escola, geralmente era a mamãe quem resolvia por mim.
Dessa vez, é Francis quem solta uma gargalhada.
— Seja bem-vinda à vida adulta. Aqui não temos ninguém para nos ajudar a resolver os nossos problemas.
— Isso é deprimente — rolo os olhos. — Você tem notícias da Sarah, Helena ou Christopher? — Decido soltar a pergunta que estava atormentando minha alma há muito tempo.
— Quem pode atualizar você sobre essas coisas é o Clay — arqueia as sobrancelhas.
— Ele deve me odiar — murmuro, franzindo a testa. — Como foi o casamento do meu pai? Vocês foram convidados?
— Sua mãe, sim. Eu, não — ri, revirando os olhos. — Seu pai com certeza é a única pessoa que não mudou nos últimos dois anos.
— Mamãe foi?
— Sim. Ela e Adele são amigas — revela.
Meu queixo vai ao chão. Literalmente.
— Como assim?!
— Pois é — sorri, caminhando em direção à porta. — Você poderá ver com seus próprios olhos hoje à noite. Marcamos um jantar de boas-vindas para você e Dalton.
— Caramba! Nunca imaginei que dois anos fariam tanta diferença na vida das pessoas — arregalo os olhos, impressionada e um pouco atônita pela notícia. — Parece que a vida de todo mundo decolou e a minha continuou estacionada no mesmo lugar.
— As pessoas encararam os problemas de frente, Ana — Francis fica entre a soleira da porta, a mão na maçaneta prestes a fechá-la. — Você tem a oportunidade de fazer isso agora. Por favor, não fuja da realidade outra vez.
O restaurante onde ocorre o jantar com certeza é novo. Nunca havia visto ele pelo centro da cidade durante os dezoito anos em que vivi aqui. Minhas mãos transpiram suor frio conforme adentro o espaço com Francis e Dalton ao meu lado. Apesar do calor, não deixei de calçar minhas botas pretas de cano longo. Sinto meu coração pulsar com vivacidade ao ver mamãe, papai, Adele e Clay sentados à mesa. Meu pai vira o rosto em nossa direção e noto o lampejo de alívio e saudade em seus olhos ao me ver. Desvencilho-me do braço de Dalton, sem me importar de correr entre os garçons até alcançar papai. Ele se levanta da cadeira e sou acolhida por seu abraço reconfortante, tal como me lembrava.
A força que me segura entre seus braços, por um instante, faz os fragmentos do meu coração se unirem novamente. Inalo sua colônia masculina, reunindo todo meu autocontrole para não chorar em meio ao restaurante. Ao me afastar, observo que algumas pessoas sorriem em nossa direção. Está na cara que é um reencontro, mas elas não fazem ideia de que por trás dessa cena toda, este homem em minha frente está extremamente magoado comigo.
— Você está linda, filha — sopra, as íris marejadas ao me analisar dos pés à cabeça. — Estou tão feliz de ver você.
Não consigo sustentar o olhar de meu pai, muito menos o de Adele e Clay. Era para mim entrar ao lado dele para entregarmos as alianças. Não faço a menor ideia de como foi a cerimônia, pois fora um dos assuntos que mais tentei evitar nos últimos dois anos.
— Também estou feliz em ver você, pai — aliso sua bochecha e ele deposita um selinho no dorso da minha mão.
Clay Malik se levanta, trajando uma camiseta xadrez de mangas compridas, calça caqui e tênis preto. Seus cabelos continuam na altura dos ombros, mas ele parece um pouco mais alto e forte agora. Clay para em minha frente, a expressão séria como se fosse cuspir em mim o quão horrível fui por não telefonar nenhuma vez sequer. Entretanto, quando meus pulmões já estão protestando pela falta de ar, meu meio-irmão me recebe com o sorriso mais verdadeiro e espontâneo que ganhei desde que cheguei aqui. Seus braços – agora musculosos – se enroscam em meu pescoço e minha cabeça é grudada em seu peitoral. Nós nos balançamos de um lado para o outro e ouço as batidas acolhedoras de seu coração sussurrarem em meu ouvido que tudo ficará bem.
— Caramba, você não cresceu nada — debocha, colocando a mão sobre o topo da minha cabeça. Reviro os olhos, tocando seus bíceps.
— Já você… uau — assovio, segurando sua mão para que dê uma voltinha. — Está fazendo academia?
— Desde o ano passado — revela, colocando os cabelos para trás dos ombros. — Se quiser, podemos começar a fazer juntos.
— É uma ótima ideia — sorrio, desviando minha atenção para mamãe e Adele. Pelo uniforme das duas, suponho que saíram às pressas da One Enterprise Fashion e vieram diretamente para cá. — Oi — cumprimento-as ao me aproximar da mesa. Mamãe pisca, parece feliz de me ver aqui. Caminho até ela, abraçando-a por trás.
— Seja bem-vinda de volta, querida — sorri, depositando um beijo estalado em minha bochecha. Tenho total certeza de que seu batom rosa-choque ficou carimbado em minha pele, mas não ligo.
Adele acena, o sorriso gentil estampado nos lábios vermelhos como me lembro de ter visto na primeira vez.
Ao me lembrar de quem estava comigo no dia em que a conheci, minhas íris vasculham sua imagem em meio ao restaurante com apreensão. Não sei o que aconteceu com Scott Summer após a minha partida. Se ainda está preso ou se saiu da cadeia. Se continua trabalhando no Red Snakes ou se foi trabalhar em outro lugar. Como, por exemplo, aqui.
— Só relaxa — Clay sussurra, se sentando ao lado da mãe. Está tão óbvio assim o meu desconforto? Me acomodo ao lado de Francis, que está ao lado da mamãe. Papai, Adele e meu meio-irmão estão do outro lado da mesa. Arrasto Dalton para se sentar ao meu lado. Se por um acaso eles tocarem em algum assunto delicado, posso me esconder atrás do meu melhor amigo.
— Prazer em conhecer você, Dalton — papai sorri, apertando a mão dele. — Espero que goste de Snowdalle.
— Estou ansioso para estudar na New Blizzard University — Dalton devolve o cumprimento.
— Você vai cursar o quê? — Clay questiona, colocando uma mecha do cabelo para trás da orelha.
— Letras — responde, orgulhoso.
— E você, Ana? — Adele me fita em expectativa.
— Pretendo continuar a faculdade de Medicina Veterinária de onde eu parei — comento. — Precisei trancar a matrícula para cuidar da vovó.
— Tem algo diferente em você — papai aponta em minha direção. — Cortou o cabelo?
Foi uma das primeiras coisas que fiz assim que pisei em Paris. Vida nova. Anastásia nova. Personalidade nova. Aparência nova. Meus fios ruivos dois anos atrás batiam em minha cintura. Hoje em dia, estão na altura dos seios com um corte em "U". Sinto falta do cabelo enorme que eu tinha, mas eles faziam parte de uma versão totalmente morta de mim.
— Sim, gostaram? — Sorrio, mostrando melhor o corte para eles.
— Está incrível — é mamãe quem elogia. — Vamos fazer os pedidos?
— Pode perguntar, sei que tem algo martelando sua cabeça.
Estou encarando Clay Malik, sentindo minha língua pinicar para lhe fazer inúmeras perguntas. Dalton apoia os braços no tampo de madeira, curioso para ouvir também. Os dois casais presentes na mesa estão imersos em um assunto sobre a empresa, portanto, não estão prestando atenção em nós três. Não quis comentar nada, mas estou surpresa por não escutar nenhuma provocação da parte de Francis e Robert. Eles não se falam diretamente, somente concordam com as esposas e respondem um ao outro indiretamente com "sim, eu também concordo" ou "sim, eu também discordo". Chego a conclusão de que estão fazendo esse esforço de manter as bocas fechadas em consideração a mim e Dalton.
Sobre Adele e mamãe; estou feliz por vê-las tão próximas e unidas para resolver as questões da One Enterprise Fashion.
— Como você sabe? — Arqueio as sobrancelhas para Clay.
— Você está me secando o jantar inteirinho. Abre a boca milímetricamente para questionar algo, mas fica com medo. Vai por mim, eu nunca te julguei e não vai ser agora que vou fazer isso. Então, desembucha — cruza as mãos sob o queixo, passando a língua sobre os lábios.
Dalton se remexe ao meu lado, desviando as íris para suas próprias unhas. Bato minha perna levemente na dele por baixo da mesa, pigarreando e lhe lançando um olhar repreensivo. Clay tem namorado. Não contei isso a ele na viagem para cá, mas espero que me entenda através desse sinal.
Solto uma lufada forte de ar, deixando meus ombros caírem para baixo.
— Quero saber sobre a Sarah. Vocês são amigos agora, não?
— Mais ou menos — dá de ombros. — Conversamos na faculdade, na maioria das vezes. Fora isso, não somos tão próximos. Ela trabalha no Red Snakes e está fazendo faculdade de Nutrição — difunde e o sorriso que surge em meu rosto é radiante. — Gostaria de te contar mais detalhes, mas aí eu estaria sendo fofoqueiro. Agora é com você — pisca para mim, pegando a taça com vinho e dando um longo gole. — O turno dela no Red Snakes é das sete e meia da noite até a uma da manhã. Você tem o queijo e a faca na mão, é só passar lá amanhã.
— Do jeito que a Anastásia é, provavelmente vai cortar o dedo — Dalton solta uma risadinha e Clay o acompanha.
— Cara, gostei de você — ele aponta, recostando-se na cadeira.
— Digo o mesmo de você — estreito meus olhos para os dois, balançando a cabeça negativamente e bebericando meu champanhe. Isso é uma calúnia!
Penso em perguntar algo sobre Helena, Christopher ou Scott, mas escolho o silêncio. São muitas informações e não estou totalmente preparada para bater de frente com tudo que deixei para trás. No momento, só quero chegar em casa e descansar.
Amanhã o dia será bom. Tem que ser bom.
1/2
❤️
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