Recebendo Tecnologias
— Tcharam! — Bakji sorriu cheio de orgulho ao me mostrar um caixote de madeira bem cortada e polida.
O homem passou todo o dia marretando e serrando, de onde eu estava era possível ouvir os sons que vinham de algum lugar fora da casa. Infelizmente de minha pequena prisão, que era a cama, eu só via o céu azul através da janela acima da mesa, que agora permanecia aberta a maior parte do tempo. Eu era grata por ter isso também, há limites que são suportáveis. Os barulhos que atravessaram o dia só cessaram quando Bakji parou para preparar o almoço e para alguma outra tarefa que eu não sabia qual. Ele não falava muito sobre o trabalho. Na realidade, ele não falava mais do que julgava necessário.
Seria mentira se eu dissesse que não me estava corroendo em curiosidade.
Aproveitei meu tempo livre lendo o livro que meu anfitrião emprestou para mim. A história era sobre uma cortesã que almejava dominar o mundo marítimo, por isso ela comprou um navio e saiu por todos os portos procurando os mais bravos marinheiros para acompanharem sua jornada. Era uma excelente história e me entreteria mais se não fossem as bacadas misteriosas que me chamavam a atenção.
— Uau... É um excelente... Caixote... Muito bem construído. — Tentei tecer elogios sinceros. — Seu trabalho com madeira é realmente caprichoso. Polimento excelente.
Isso era um fato incontestável, o acabamento estava digno de aplausos.
Bakji gargalhou diante de meus elogios desajeitados, porém francos.
— Não é um caixote. — Deu uma piscadela animada e sorriu largamente. Bakji colocou uma das mãos na cintura e deu uma leve mordida no lábio inferior enquanto me lançava um olhar travesso. — É um "troninho".
Satisfeito, até demais, ele andou até o lado da cama e colocou o caixote no chão. O móvel tinha um buraco em cima e a parte de trás contava com um puxador arredondado.
— Isso é...
— Para você se aliviar sozinha. — Ele sentou sobre a abertura, iniciando sua demonstração. — Você senta assim e faz suas necessidades. Você pode encaixá-lo debaixo da saia do vestido, será confortável. Dentro dele tem um balde que eu vou esvaziar uma vez por dia ou sempre que julgar necessário, caso eu mude de opinião ou você peça.
Ele puxou uma portinha e mostrou o balde cheio de água com cascas.
— São cascas aromáticas que vão ajudar com o cheiro, até que eu possa vir e retirar os dejetos. — O homem me olhou com os olhos brilhando de orgulho. — Você gostou? Qual a sua opinião? Deseja que eu adapte algo?
Sendo totalmente honesta eu ainda teria vergonha se ele me surpreendesse durante o processo de uso, mas era um esforço hercúleo para manter o bem-estar de uma completa estranha. Um dia para adaptar um banheiro. Um dia de trabalho intenso com o único objetivo de oferecer algo que me ajudaria a me manter coberta. Ocultar meu corpo significava muito mais que manter a castidade, era assaz importante para sustentar minha identidade sem me preocupar. Todavia ele não sabia disso, não era consciente do que realmente denotava a alternativa fornecida.
— Estou grata. — Respondi comovida, quase em prantos. A glote fechada pelos efeitos da emoção. — Obrigada, Bakji. Nem sei como retribuir. Não sei se posso, mas se puder, não tenha receio em dizer o meio.
— Você pode retribuir com o uso. Use muito. — Ele foi rápido em responder.
Lancei um olhar de estranheza e ele gargalhou. Creio que não era o tipo de coisa que eu usaria muito, mas eu usaria sempre, isso é fato. Inclusive, precisava usar naquele momento. Para encerrar a conversa fiz um gesto de cabeça que mostrava minha concordância com sua condição peculiar.
Bakji saiu para cortar lenha e, com muito esforço devido às dores, me escorreguei para sobre meu "troninho", onde reinei satisfeita. Realmente encaixava sob o vestido e foi mais confortável que ficar de cócoras sobre um balde. Ele só se esqueceu de trazer algo para que eu limpasse as nádegas quando terminasse por ali. Não foi necessário de imediato, pois eu apenas tinha urinado.
Pouco tempo depois de eu ter voltado para a cama, Bakji retornou com uma caixinha em uma das mãos e um balde cheio de água na outra. O balde tinha o mesmo cheiro que ele, o homem, e a caixinha foi colocada sobre minha cama. Observei enquanto ele saía da casa com pressa. Não tardou até aparecer com uma pequena mesa, da altura da cama. Entre as pernas da mesa havia uma prateleira, onde ele colocou o balde cheio de água com sabão. Em cima da mesa ele depositou a caixinha. Só então a abriu para mostrar um bom número de trapos bem dobrados.
— Panos de bunda, para que você se limpe. — Ele explicou rapidamente. — Depois do uso jogue no balde para ficar mais fácil de lavar.
— Obrigada. Bakji. — Agradeci do fundo da alma por aquilo.
O homem então segurou meu queixo, com firmeza, mas sem violência, e olhou no fundo dos meus olhos.
— Use muito. — Repetiu enquanto eu fitava suas íris castanhas sentindo meu coração acelerar.
Minha respiração se tornou irregular e por estar envergonhada desviei o olhar para a parede.
Bakji saiu de casa enquanto gargalhava, provavelmente julgando minha vergonha por sua ordem indiscreta. Sua presença persistiu mesmo em sua ausência.
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