Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Força do Hábito

Você pode aprender muito enquanto viaja em um navio. Eu aprendi, dia após dia, enquanto absorvia a rotina dos marujos. Como dar um nó, o que a direção dos ventos significa, códigos e palavras específicos que nunca tinha ouvido antes. Havia também expressões típicas de suas regiões nativas, que muitas vezes eles falavam para implicar com os demais, ou repreender. A maioria não deveria ser repetida por uma boca que se prezava nos bons costumes. Minha vida consistia em limpar a cabine do capitão, que se tornava cada vez mais asseada e do agrado dele. Eu me orgulhava disso, e deveria mesmo. Um trabalho bem feito é um trabalho bem feito, não importa onde ou quando. Parecia-me que Brarobáz estava a cada dia de mais bom humor, chegou até a me agradecer pelos serviços e expressar sua gratidão aos céus em determinado momento. A limpeza de uma cabine era meu sonho de vida? Não. Todavia, um capitão feliz resultava em minha vida salva por mais um dia e descobri que gosto muito de viver. Muito mesmo.

Demorou mais que dois dias para chegar à terra, passaram-se quatro e nem um sinal de barranco no horizonte. Eu já estava impaciente, mas me acostumando ao balanço da embarcação entregue ao oceano temperamental.

Apesar de resumir meu trabalho à limpeza, sou injusta comigo, pois às vezes eu também picava ou descascava algum alimento, para ajudar o cozinheiro. Nunca fui até a cozinha, não tinha muito espaço livre para me movimentar. Sempre que precisava de algo de outra parte do navio, Martin trazia até onde eu estava. No caso das comidas que eu ajudava a preparar, ele trazia e levava várias vezes, o mesmo com as que eu comia. Bem, ele não levava as comidas, mas sim as louças limpas porque eu lavava ali mesmo, na frente da cabine, com o auxílio de um balde.

Martin estava sempre por perto com aqueles cachos embaraçados, cheios de nós, diferentes dos meus que eram alinhados. Revoltante ver aquela rebeldia toda vinda de um cabelo, mais um pouco e ele saltaria no mar em busca de sua independência. A sequidão de deserto nas pontas dos fios sempre me fitava, absorvendo a água de meu corpo e me deixando com sede extraordinária. Com o passar das horas minha higiene se tornava mais precária e eu não tinha mais a mínima condição de apontar meus dedos para os outros, contudo, meu cabelo se mantinha muito bem cuidado devido às loções que eu trouxera de Avalon.

Como eu fazia minhas necessidades? Em um balde, depois jogava os dejetos no mar. Como eu tomava banho? Com auxílio de um balde e um pano. Colocava água do mar no balde, despejava uma loção de cheiros, umedecia o pano e passava em toda parte que meu vestido não cobria. Eu mantinha o mesmo vestido, se dependesse de mim ele ia apodrecer no corpo. Mesmo que minha higiene não fosse das melhores, eu ainda era a mais cheirosa daquele lugar. Alguns deles até tentavam, mesmo assim as loções, poções e unguentos de Avalon eram mais fortes do que os cosméticos do mundo comum.

Era dessas tardes rotineiras e eu estava sentada em uma banqueta ao lado da cabine do capitão Brarobáz. Martin se sentou no chão ao meu lado e tirou o chapéu que ele usava para se proteger quando o sol estava muito forte. O rosto, mesmo bronzeado, conseguia ficar vermelho da exposição.

Permanecemos em silêncio observando o horizonte de cores quentes ao por do sol. Era uma visão pictórica diga de ser registrada, mas eu não tinha materiais adequados para pintar. O capitão tinha, contudo não era boa ideia abusar de sua boa vontae.

— Você sempre tem cheiro de rosas e especiarias. — Martin comentou em tom neutro e me arrancou de minha contemplação.

— Agradecida. Eu acho... — Falei enquanto aspirava meu cheiro de vestido sujo e pele limpa. Franzi o cenho, desconcertada com aquela combinação estranha.

— É um elogio. — Confirmou com voz sonolenta. Tão sonolenta que até mesmo bocejou enquanto alongava os braços.

Semicerrei os olhos. Pessoas têm gostos peculiares, eu que não discutiria tal tópico, ainda assim era compreensível que ele achasse aquele cheiro bom. Para quem dormia junto com marujos de frieiras expostas, cheiro de banho mal tomado era oásis para o olfato.

— Permita que eu faça algo por si, Martin. — Pedi enquanto olhava para o chão e massageava o polegar de uma mão com os dedos da outra.

— Não invente... — Ele falou com voz cansada e de olhos fechados. Sua cabeça estava recostada na parede da cabine de madeira. A frase saiu tão fraca quanto sua vontade de resistir aos meus caprichos.

— Eu suplico... — Disse com minha voz mais doce. Um pouco dissimulada, cá entre nós.

— O que é? — A frase saiu como um incentivo para ir em frente.

Busquei pente, navalha, uma garrafa com água e um potinho de loção para os cabelos. Sentei-me novamente no banquinho e abri um pouco as pernas.

— Venha, deixe-me pentear esses cabelos. Não aguento mais olhar esse embaraço. — Ordenei cheia de alegria.

Ele me lançou um olhar torto, mas arrastou as nádegas até o lugar onde indiquei, encaixando as costas entre minhas pernas. Soltei os cabelos da tira de couro que os prendia em um rabo de cavalo. Estavam emaranhados de tal maneira que quase chorei, pensei em desistir, mas juntei toda minha valentia e comecei a batalha arriscada. Ficaria muito bom ou eu o deixaria careca na tentativa de alinhar tudo. Molhei os fios e comecei a penteá-los das pontas até as raízes, desfazendo os nós. Muitos fios arrebentaram no processo, mas fazia parte do tratamento. As pontas se assemelhavam ao capim seco, não teriam salvação. Alinhei os fios molhados na extensão de suas costas, medi até em que altura ia os estragos e cortei as pontas danificadas. Depois disso, penteei novamente com a loção e moldei cacho por cacho, para que ficasse arrumado.

Terminei o trabalho, quando a noite já estava densa, e fiquei satisfeita enquanto Martin roncava entre minhas pernas. Ninguém podia dizer que ele não estava cuidando de perto, isso é fato. Sorri enquanto observava os fios secarem macios. Marujos passavam por nós lançando olhares de estranhamento ou de inveja.

O sono de Martin foi interrompido pelo capitão Brarobáz, que chegou estapeando o rosto de meu guarda. Não tapinhas amistosos de quem quer acordar o outro de uma soneca, mas boas bifas que estalaram me assustando.

— É minha vez de receber mimos, desgraçado preguiçoso. Vá procurar o que fazer. — Ordenou com voz de trovão.

— Sim senhor. — Martin respondeu grogue de sono, levantou cambaleando e saiu tropeçando nos próprios pés.

O capitão tomou seu lugar.

— Vamos, mulher. Faça seu trabalho. — O capitão tirou o chapéu mostrando os fios ralos e embranquecidos em sua cabeça calva.

Não custava nada arrumar, eu nem tinha mais o que fazer mesmo. Além disso, quanto mais cheiroso ele estivesse, mais agradável seria dormir no mesmo cômodo que sua pessoa. Lavei os fios que ainda restavam e alinhei com corte. Ajustei também a barba, a qual estava grande, lavei e penteei com capricho. Passei loção em todos os pelos que estavam ao meu alcance e quando terminei, aspirei o cheiro, sentindo o capitão cheirar bem pela primeira vez. Quando terminei, ele pediu que um marujo trouxesse um espelho e foi atendido imediatamente.

O homem olhava para o reflexo com cara de satisfação, sorrindo com seus dentes mistos. Alguns eram de ouro, outros naturais.

— Está muito bem feito, para uma mulher. Eu poderia dizer até que você é homem. — Ele piscou em tom misterioso, mas que devia soar divertido.

Forcei uma risada que saiu sem graça. Senti um incômodo embrulhar meu estômago, pela primeira vez lembrei fora do banho lembrei do morto que me perseguia nas lembranças, e isso me enrolou o estômago.

Olhei para o chão sentindo um nó na garganta e repetindo mentalmente que eu não precisava me preocupar, pois era uma mulher desde meu nascimento. Ninguém poderia dizer o contrário. Ninguém. Ninguém saberia mais de mim do que eu mesma.

Depois desse ocorrido parti e me deitei no meu canto na cabine, um amontoado de tecidos arranjado no chão que fazia as vezes de cama. Estava indisposta para qualquer coisa. Sem fome. Eu não deveria deixar aquilo me abater, mas era difícil superar. O mundo comum não era como O Pomar, onde havia outras mulheres como eu vivendo livres e felizes. Eu temia. Mais que temerosa, eu estava magoada porque por alguns instantes, mesmo que a contragosto, me senti invalidada. Eu sabia que precisava ser forte, que precisava me afirmar, que talvez fosse uma luta constante, só que as forças me faltaram por um instante.

Por mais que eu fosse a prestigiada Diana Dandara, grande Fada do Ocaso que lutou ao lado de Lira Merak, eu ainda tinha um coração cheio de inseguranças, tão humano quanto qualquer outro. Nossas conquistas não fizeram de nós mulheres blindadas. Infelizmente não.

De tempos em tempos Martin vinha até a cabine checar se eu estava dormindo. Eu fingia que sim, enquanto abafava o choro de angústia.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro