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XXIII: "Que comece o show"

Um suspiro. Uma respiração longa, profunda e irregular.

Não não. Simplesmente não conseguia.

Sua mente não voltou, nem avançou. Foi preciso mais do que um suspiro para enfrentar o que havia acontecido e a vontade de viver para enfrentar o que viria a seguir.

Olhou com a visão nublada — poderia ser por suas feridas, poderia ser por suas lágrimas — suas mãos ensanguentadas, trêmulas e machucadas. Olhou para cima e observou aquela bolsa a alguns metros de distância, voltando mais uma vez o olhar para a frente.

Era preciso querer estar bem para querer morrer. Ela definitivamente não queria ficar bem, porque não merecia. Ele merecia estar vivo porque merecia sofrer.

Levantou-se como se nada tivesse acontecido, não sentia dor alguma, apenas um formigamento e um vazio no peito, e virou-se, tentando não tropeçar, mancando e com a mão apertada na costela, embora não sentisse a dor, a dor real.

A verdadeira dor agora estava em sua alma.

E esperava, esperava mesmo, não estar vivo depois da meia-noite.

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12 HORAS ANTES DO CAOS

O jovem abriu os olhos por causa de sua irmã, acordando-o sem nenhum sinal de gentileza, apenas uma cantoria desafinada e irritante, mas que o fez sorrir.

— Parabéns para você, nesta data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida! — e recebeu um beijo na bochecha que o fez rir baixinho e esconder o rosto no travesseiro, fingindo ainda estar dormindo, embora claramente não estivesse. — Oh vamos. Você deve acordar, você tem dezenove anos. Dezenove! — balançou seu ombro enquanto gritava, fazendo-o rir. — Mamãe quer que você levante, você não será impedido de ir para a aula só porque é seu aniversário.

Harry acenou com a cabeça e esperou que sua irmã saísse de seu quarto antes de suspirar, esfregando os punhos nos olhos antes de se sentar lentamente, gemendo um pouco. Piscou algumas vezes e olhou em volta, procurando por algo que claramente não estava lá. Louis.

Um pouco mais aflito, tirou o rosário do pescoço, com os nervos no abdome. O colocou na mesinha de cabeceira e fechou os olhos, contando até dez e abrindo-os.

Não, não era o colar.

Louis se foi, e mesmo que fosse hora de aceitar que ele não voltaria, doeu. Doía porque acreditava que seus motivos eram válidos, sentia que o que fazia era para o bem dos dois. Talvez outra pessoa pudesse ter feito isso, mas doía viver com medo de não ser amado, e Louis praticamente o rejeitou quando falaram sobre isso. "Eu sou o diabo". O que poderia ter feito depois disso? Dar a volta no pescoço dele, dizer que não importava e fazer amor de novo? Harry sabia e estava ciente de ter dito inúmeras vezes que Louis poderia fazer o que quisesse consigo, mas já havia passado mais de um ano, não havia mais um contrato para sua alma, estava mais sério do que no início .

Embora, aparentemente, nunca tenha sido sério.

Engoliu em seco ao sentir o nó na garganta e decidiu balançar a cabeça, deixando todos aqueles pensamentos evaporarem enquanto se levantava e caminhava de pijama até o banheiro.

Sim, tomaria um banho e começaria uma espécie de "bom dia".

Não havia com o que se preocupar, tudo ficaria bem.

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Estava arruinado.

Por que tudo o lembrava do arcanjo?

Tomar banho o lembrou dele, principalmente daquela vez em que entrou em pânico para sair, e o Diabo o levou até a banheira e o abraçou contra o peito.

Ao se vestir em frente ao espelho, se visualizava um ano atrás, com os suspensórios no short alto, na altura do joelho, com o marido atrás de si, dizendo-lhe como ele estava lindo, e a pureza que carregava.

Ninguém jamais iria lhe contar algo tão bom em sua vida e, se fosse esse o caso, não queria que mais ninguém estivesse ali.

Não pôde deixar de cobrir o rosto e chorar silenciosamente. Como viveria sem Louis? Esta era sua âncora, quem o mantinha firme, de pé depois de todas as coisas ruins que fez. Mantinha-o são, acompanhado e feliz. Agora estava sozinho.

Limpou o rosto e o lavou novamente antes de terminar de se vestir, vestindo um suéter cinza sobre a camisa branca e pegando sua mochila antes de sair do quarto.

Assim que subiu as escadas e abriu a porta que o conduzia à sua sala, sua mãe o recebeu com um abraço carinhoso.

— Feliz aniversário para o amor da minha vida. — disse a ele, fazendo-o sentir-se realmente mimado e segurando as lágrimas. Ela o pegou pelo rosto e distribuiu beijos por todo o rosto. — Não importa quantos anos você tenha, sempre será meu bebê.

Harry riu timidamente e recebeu um abraço de seu pai, que se aproximou enquanto sua mãe lhe dava beijinhos.

— Feliz aniversário, Hazze. — beijou sua testa e jogou seus cachos úmidos para um lado. — Não saia com o cabelo molhado, está frio e você não quer passar mal no dia do seu aniversário, certo? Vou levar você para a aula.

Harry assentiu. Se sentiu mais confortado.

— Certo, obrigado. — respondeu.

Deixou que a mãe o guiasse até a cozinha, tirando-lhe a mochila e deixando-a no encosto do banco onde o filho se sentaria. Foi até um balcão e serviu-lhe uma xícara de chocolate quente junto com um pequeno prato de biscoitos de chocolate.

— Oh. Obrigado, mamãe. — disse e pegou um biscoito, mergulhando-o no leite antes de começar a comer.

— De nada, querido. — respondeu Anne com carinho, acariciando os cachos de seu bebê e sorrindo para Gemma antes de olhar para o filho. — Está melhor? — Harry, que estava bebendo da caneca, assentiu. — Seus amigos me contaram sobre uma surpresa que eles têm para você à noite. Você vai, certo?

— Oh sim. — lambeu os lábios, embora um pouco de chocolate quente permanecesse nos superiores. — Fionn me quer lá, ontem ele não parava de falar sobre isso e que tinha que ser pontual.

— Onde será?

Harry olhou para cima para vê-la.

— Não sei, é uma surpresa.

— Tudo bem, mas tome cuidado. — olhou para sua filha, que estava calmamente bebendo de seu copo. — Gema, e Theo?

O rosto da nomeada mudou repentinamente para um tom mais sério.

— Nós terminamos. Não nos falamos mais.

Anne ia começar a questionar, mas quando sua filha balançou a cabeça e Des entrou na cozinha segurando um diário e cantarolando, ela se concentrou no último para iniciar uma conversa.

— Querido, Joffrey e Jacky?

Harry não se permitiu ouvir mais nada e observou a irmã, que mexia o chá na xícara e suspirava, os olhos perdidos. Ambos os irmãos estavam passando pela mesma coisa, exceto que Harry estava em um relacionamento há mais tempo e mais acostumado com a presença de Louis.

— Por que terminaram?

Gemma olhou para cima por alguns segundos antes de olhar para sua caneca e encolher os ombros inocentemente.

— É complicado.

Ele provavelmente teria respondido o mesmo.

Minutos depois se despedia da irmã e da mãe enquanto caminhava até o carro do pai, que agora tinha um Impala 67. Harry gostou daquele carro.

Subiu no banco do passageiro e deixou cair a mochila a seus pés antes de colocar o cinto de segurança e suspirar, seu pai subindo ao seu lado. Suspirou. Se sentia muito melhor agora que havia tomado café da manhã e sua família lhe dava muito amor e carinho. Estava apenas sendo uma criança mimada novamente.

Mas sem o amor de sua vida.

— Hazz. — olhou para o pai, que estava girando a chave para ligar o carro. — Agora que você é maior de idade, se quiser, posso ensiná-lo a dirigir. É fácil e vai funcionar para você.

O jovem fez uma cara incerta.

— Hum... eu não gosto de dirigir, tenho muito medo. Eu prefiro caminhar.

— Ah, vamos. — Des encorajou. — Você não precisa necessariamente aprender a usá-lo diariamente, pode apenas saber em caso de emergência.

Foi quase imediatamente que seu pai começou a ensinar-lhe todo tipo de coisas sobre o carro: como fazê-lo andar, marchas, freios, velocidade, etc. Harry estava prestando muita atenção, e podia entender isso, mas honestamente achava que nunca dirigiria.

Assim que Des estaciona em frente à universidade do cacheado, este desafivela o cinto de segurança e coloca a mochila nas costas.

— Sua mãe me disse que há alguns dias você não estava bem. — Harry o olha em dúvida antes de acenar rapidamente. — Harry, se estiver com medo, pode me ligar. Não se segure, eu irei imediatamente e você sabe disso.

Era incrível o quanto Des Styles havia mudado. Deixou de ser um religioso, homofóbico, abusador para o completo oposto. É claro que Harry não estava defendendo isso, e doía até dizer isso, mas estava bem com a punição que Louis lhe dera, porque isso o mudou. Isso o fez ver o que realmente deve ser temido e o que é preciso para julgar sem saber.

— Certo... obrigado, pai. — se inclinou e deu um beijo na bochecha dele antes de sair do carro, fechando a porta. Mas antes de ir, se inclinou um pouco para ficar perto da janela. — Tenho uma pergunta. Mamãe não me quer em casa para a festa surpresa?

Des o observou por um momento, até que parecia que havia parado de respirar.

— Que festa surpresa? — Harry ergueu as duas sobrancelhas, esperando. — Como você sabia?

— Ela faz isso todos os anos.

— Oh, certo. Mas desta vez será diferente. Mais pessoas da cidade virão. — comentou, e ligou o carro novamente. — Acho que você não deveria contar isso para sua mãe.

— Não o farei. Vejo você esta noite, pai.

Harry passou pelo carro, atravessando cuidadosamente a rua e andando pela calçada antes de entrar na escola. Havia um policial lá que levaria um grupo de alunos ao refeitório, e Harry checou com outro policial antes de ir com os outros. A segurança era extremamente alta na universidade e qualquer um tinha o direito de sair se pudesse. Honestamente, Harry acreditava que os pais de seus colegas eram religiosos o suficiente para acreditar que Deus os protegeria.

Assim que entrou no refeitório, foi quase instantâneo receber um grande abraço de seu melhor amigo, que fingiu chorar ao lado de seu ouvido, fazendo-o rir.

— Fionn, eu vou morrer. — disse o cacheado enquanto os braços do outro garoto pressionavam com força seus corpos. Liam estava rindo disso com um pratinho onde havia meio bolo.

— Meu irmãozinho não é mais um irmãozinho. — passou a mão pelos cachos, puxando-os para trás e fazendo os olhos de Harry se arregalarem. — Ele é mais velho, ele é... merda, não. É meu irmãozinho. Você ainda é mais novo que eu. — se afastou, fingindo minimizar isso.

Harry escovou seus cachos para o lado novamente.

— Por meses. — disse ele, e ficou encantado ao receber um abraço de seu outro amigo, Liam.

— Feliz aniversário, Hazzie.

— Obrigado Li. — ficaram assim por mais alguns segundos antes de se afastarem e sorrirem um para o outro. Novamente o olhar do jovem foi para seu melhor amigo, que olhava em volta, concentrado. — Fi?

Fionn olhou para Harry e balançou a cabeça.

— Oh, eu estava apenas procurando por Stella. Ela vai nos ajudar com sua surpresa. Certo, vamos comer. — colocou um braço em volta dos ombros do mais baixo e o guiou até a mesa.

Havia um bolo decorado muito bonito na mesa onde foram se sentar, só faltava um pedaço e Fionn comentou irritado sobre como Liam não aguentou e começou a comer antes da hora. O de olhos castanhos não parecia se importar, e Fionn continuou a discutir. Harry ficava tão feliz com aquelas conversinhas.

As aulas passaram mais rápido do que o normal, e os três garotos fizeram a diretoria antes de deixar o instituto, caminhando entre conversas e risadinhas em direção à casa de Fionn. O Sr. Whitehead estava lá, assistindo televisão. Deu as boas-vindas a Harry em um grande abraço e o parabenizou antes de deixar os meninos, indo dormir por algumas horas, pois seria ele quem levaria Harry ao local onde Fionn e Liam tinham feito a surpresa.

Os três garotos continuaram conversando, até fazendo o dever de casa da faculdade para ter o resto do dia de folga. Tiveram pais exigentes, que os pressionavam com os estudos e com o futuro de cada um.

Por fim, Liam decidiu que iria até o quarto de Fionn para preparar as coisas que levariam ao local surpresa. Assim que desapareceu da sala, o de olhos azuis se virou para pegar um envelope de sua mochila e entregá-lo a Harry.

— Tenho um presente aqui para você, e é a única coisa que vou lhe dar. — Harry pega, animado e pronto para abri-lo, mas Fionn o impede. — Não, não. Não é para você abrir agora, é para você abrir quando... oh, foda-se. Abra, abra!

Harry começou a rir e antes de pensar em abri-lo, o sacudiu.

— É uma guitarra? — brincou, e os dois riram de novo antes que o jovem terminasse de abrir o envelope e tirar o que havia dentro. — Oh. Uau.

Uau. Uau. Uau uau uau.

Fionn se mexeu no sofá, ansioso e esperando por uma reação.

— E aí, hm? Você acha que poderíamos ir a Londres e chegar a tempo para o show de Frank Sinatra ?

Harry ficou sem palavras. Fionn sabia o quanto gostava daquele artista, como era bom ouvir seu vinil quando estava triste, e agora... agora teria a chance de vê-lo ao vivo, e com seu melhor amigo. Em sua mão havia duas passagens, e duas passagens de trem para Londres em três semanas. Foi o melhor presente do mundo.

— Você, eu... sério? É sério?! Oh, Deus! — riu feliz antes de se jogar nos braços de seu melhor amigo, ambos em um abraço. — Obrigado, obrigado, obrigado.

— Espero que seja melhor que uma guitarra. — brincou o de olhos azuis antes de ambos se afastarem.

Harry olhou novamente para os bilhetes e os colocou de volta no envelope, com um pequeno sorriso e olhos úmidos de emoção.

— Vou cuidar disso com todo o meu ser. — colocou na mochila.

— Pensei que você merecia uma grande surpresa de dezenove anos depois de tudo que passou. — Harry faz uma careta, um sorriso malicioso escondido entre ela. — E eu tenho notado você triste. Como seu melhor amigo, é meu dever vê-lo melhor.

— Não é um dever, você não tem obrigação de me fazer feliz. — já estava começando a fazer beicinho.

— É verdade, me desculpe. Quero te ver melhor. — esclareceu.

Os dois se encararam, e com pequenos sorrisos nos lábios. O amor e apreço que tinham um pelo outro era incrível. Sempre seriam uma família.

— Fionn, você está me fazendo apaixonar por você. — o cacheado brincou, tentando não rir quando seu melhor amigo colocou a mão em seu peito.

— Eu pensei que você já fosse.

— Oh não. Acha que fui tão óbvio assim?

— Não é óbvio o suficiente para levar a sério, mas óbvio o suficiente para não me surpreender. — ambos riem enquanto Harry lentamente balança a cabeça. Ainda queria chorar. — Eu realmente quero ver você melhor.

— Eu vou fazer isso, eu prometo.

É, talvez tentasse fazer isso…

Liam saiu da sala minutos depois daquele papo, carregando uma pilha de quatro caixas e tentando não tropeçar. Fionn ficou de pé imediatamente e o ajudou pegando duas.

— O que estavam falando? — Liam perguntou, sorrindo para Fionn em agradecimento.

— Harry estava confessando seu amor por mim. — e o garoto parecia tão indiferente e realista que os olhos de Liam se arregalaram, observando seus dois amigos.

— Foi com ele que você estava chateado? — perguntou ao cacheado. Este abriu mais os olhos, um tanto atordoado. — Oh. Ah, Merda.

— O que? Do que estão falando? — Fionn perguntou, mas vendo Liam tão sério, seu olhar rapidamente foi para Harry, também arregalando os olhos. — Você está apaixonado por alguém! É por isso que você estava triste! — de repente, a expressão do jovem mudou para uma de pânico quando reafirmou seu controle sobre as caixas. — Ah... ah não. Por favor, não me diga que você está apaixonado por mim e que a piada estúpida que fiz te machucou.

Harry não parou de rir, começando a negar.

— Não é você, não se preocupe.

Fionn pareceu respirar novamente e olhou para Liam antes de ambos sorrirem travessamente um para o outro, vendo o cacheado da mesma forma.

— Então... quem é ele?

Se lembrava de ter perdido o "ele" da pergunta de Liam dias atrás, mas já houve muitas vezes em que seus amigos se referiram a alguém com quem Harry poderia estar como se fosse um menino.

Era momento de admitir, doendo ou não.

— Por que acham que é um garoto? — perguntou timidamente, começando a ficar nervoso e com as bochechas quentes.

— Porque nós não somos estúpidos. — Liam respondeu, e ambos continuaram com aquele sorrisinho travesso.

Harry olhou para baixo, juntando as mãos e entrelaçando seus dedinhos.

— Vocês... vocês estão bem com isso?

Fionn franze a testa, apagando o sorriso.

— O que?

— Não acham que sou doente?

— Doente é quem tem gripe, não quem gosta de outros garotos. E nunca mais pergunte a alguém se ela concorda com quem você é, ou do que você gosta. O único que tem que concordar é você.

Harry engoliu em seco e enxugou uma pequena lágrima que caiu em sua bochecha.

— Obrigado.

— Não diga obrigado, Harry. — disse Fionn, também sentimental.

Após alguns instantes, Liam foi o primeiro a se pronunciar.

— Eu quero abraçar ele.

— Faremos isso assim que ele vier ver a surpresa. Sinta-se em casa, Harry. — sorriu para o garoto encorajadoramente e se dirigiu para a porta. — Liam, vamos.

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Cerca de duas horas se passaram e Harry estava assistindo Tom & Jerry na TV, entretendo-se enquanto comia sobras de bolo e bebia suco de laranja. Foi finalmente quando o Sr. Whitehead acordou de seu cochilo e propôs arrumar tudo antes de sair que Harry se levantou e foi para a cozinha, pronto para lavar seu prato e copo. Voltou para a sala novamente , e colocou a mochila no sofá junto com as outras. Desligou a televisão quando o Sr. Whitehead terminou sua bebida e saiu com ele para ir até o carro.

No caminho eles conversaram sobre o presente que Fionn havia dado a Harry. Falaram sobre Elvis Presley, os Beatles e os Rolling Stones. O cacheado, entre todos aqueles, preferia Elvis, mas também adorava os outros dois grupos.

Finalmente chegaram em frente à igreja da vila, e Harry não pôde deixar de franzir a testa. Teria uma missa? Estava prestes a começar a se decepcionar, mas o pai de seu melhor amigo lhe entregou um pedaço de papel, que era uma espécie de mapa.

— Siga as instruções e você os encontrará. — disse ele.

— Oh. — o cacheado soltou o cinto de segurança antes de sair, agradecendo o "Parabéns" vindo do homem no veículo antes de acelerar e desaparecer pelas ruas desertas de Holmes Chapel.

Harry se dirigiu para a igreja, mas não subiu os degraus, ao contrário, deu a volta por ela, exatamente como dizia no mapa. Podia ouvir música à distância e, quanto mais fundo entrava na floresta, mais audível e reconhecível era. Se viu concordando com a música, era inevitável que não o fizesse.

Ouvia essa música quando tinha que limpar o quarto, porque era muito animada, para ouvir nos dias bons. Continuou em frente, e o som ficou ainda mais alto. Entre os troncos e a escuridão, visualizou um lugar exato na floresta que parecia ter coisas ali. Aproximou-se com um sorrisinho nos lábios: reconheceu uma mesa com comida e o que parecia ser um grande bolo, uma placa que ia de uma tora a outra onde se lia "Parabéns, Harry!" e enfeites rosa e azul, sem falar na vitrola com o vinil girando.

Finalmente chegou e olhou para baixo para dobrar o mapa. Onde estavam seus amigos? Ele olhou para cima novamente, e seu sorriso foi imediatamente apagado quando visualizou Liam no chão, com um pouco de sangue na têmpora e desmaiado... ou assim esperava.

Seu corpo inteiro ficou tenso, tudo esfriou quando sentiu alguém parado atrás de si, esperando o que ele faria. Sentiu um enjôo no estômago, mas não, não era Louis. Era aquele desconforto que sentiu naquela noite quando dormiu enquanto acreditava que o Diabo estava acariciando seus cabelos e não era realmente isso, ou quando tentaram tirar sua vida na banheira.

Respirou fundo antes de se virar bruscamente e se viu cara a cara com Stella, que lhe deu um sorriso lento e misterioso.

— Feliz aniversário.

Sentiu uma pancada na cabeça, seu corpo caiu no chão e ele adormeceu.

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Seus olhos se abriram lentamente, suas pálpebras pesadas enquanto uma forte dor de cabeça o fazia sibilar.

Seus olhos se abriram lentamente, suas pálpebras pesadas enquanto sentia sua cabeça pulsar de dor. Estava com frio, e a música havia sumido. Respirou fundo, tentando parar de ver embaçado.

— Finalmente. — ouviu aquela voz novamente. Era Stella, era a namorada de seu melhor amigo. Finalmente, sua visão clareou e ele a viu caminhando lentamente em sua direção. Tentou se afastar, mas parecia que algo o estava segurando no lugar. Olhou para a garota entre medo e frustração. A garota ergueu as duas sobrancelhas. — Ah, não me olhe assim. Agora vai me dizer que não desconfiou nem um pouco?

Não podia ser que todas as coisas boas durassem pouco para ele. Estava com tanta raiva, e com tanto, tanto, tanto medo.

— Do que deveria suspeitar? — disse, sem vê-la, mas mantendo-a bem perto. Se fortaleceu com coragem. — Que você é uma merda? — nunca havia insultado uma mulher antes, e não o fez. Não estava falando com Stella, estava falando com o demônio que a possuía. Um chute forte em seu estômago o fez ofegar. Ela reclamou de queimaduras, mas fez o possível para permanecer firme. — Onde está Fion?

— Isso é um 'não'. Vamos, Harry, pensei que você fosse menos idiota. — deu outro chute no corpo do jovem no chão, fazendo-o se dobrar e ofegar novamente, mas o demônio se dirigiu para a mesa onde estava o bolo, agarrando uma grande faca afiada, que mais se parecia com um pequeno machado, ao lado do doce. — Você não me reconhece neste corpo? — cortou um pedaço de bolo e o serviu em um pires. — Talvez eu devesse parecer mais triste, mais quebrada e rejeitada. — fingiu um tom triste antes de se virar, ainda segurando a lâmina na mão.

Harry olhou para ela, uma mão em seu estômago e engolindo o gosto metálico em sua boca. Oh, ele realmente tinha sido um idiota. Era tão óbvio.

— Ruby.

Stella deu de ombros inocentemente.

— Sim ,bom. Pode-se dizer que sim, foi assim que nos conhecemos. — começou a caminhar em direção ao corpo do jovem, ignorando o de Liam ao passar, agachando-se para olhar melhor para o cacheado. — Na verdade, isso não importa. A única coisa que importa aqui é que você saiba que não sou o vilão da história. — a garota negou lentamente, encarando os olhos verdes do menor. — Sim, eu realmente não sou… você que é.

Harry tentou não parecer muito óbvio quando Liam se levantou silenciosamente, segurando uma garrafa de whisky em uma das mãos.

— Primeiro de tudo… — o demônio continuou, apontando a lâmina para o peito do cacheado, pressionando levemente para feri-lo. — Foi você quem correu para os braços do Diabo quando nosso querido Brad... — ela fez uma pausa e colocou a mão livre sobre o coração, balançando a cabeça com uma expressão falsamente arrependida. — Que descanse em paz, ele traiu sua família. Foi um castigo simples, apenas algumas queimaduras na pele. Mas é uma grande diferença sangrar até a morte porque seu pênis foi arrancado, certo?

Liam continuou a se aproximar bem devagar, observando onde pisava para não fazer barulho. Felizmente, naquela área da floresta, era terra pura. Não havia tantos galhos nem grama. Harry encarou Stella e lambeu os lábios antes de falar, a boca seca de nervoso.

— Então meus primos ordenaram que você me matasse.

— Olha, eu tentei. Eu realmente queria, mas sempre que eu tentava... lá estava ele. Mesmo com seus corvos. Sempre de olho em você, e não podia arriscar tão rápido, admito que não tenho o mesmo poder que ele, mas sou muito boa em me esconder: primeiro naquela doce menina, depois no namorado idiota da sua irmã. Já estive no pai do Fionn e ah, já estive até no Liam. — levou a lâmina ao pescoço do menino, e a pele ficou mais arrepiada do que o normal. — Sempre estive perto de você, perseguindo… e você nunca percebeu. Mas agora ele se foi. Ele se foi, Harry. — comentou, referindo-se a Louis. Seu sorriso cresceu e ele se aproximou do rosto do mais novo. — Você nunca não para pensar por que todos te abandonam? — suspirou quando Harry começou a chorar. — Acredito que seja a hora de ver a verdade.

Suas palavras foram interrompidas quando a garrafa de whisky que estava anteriormente nas mãos de Liam explodiu contra a cabeça da garota, e o mais assustador é que sua expressão era a mesma, sorridente, embora algo mudasse em seu olhar. Ela estendeu a mão e Liam foi praticamente jogado no ar, batendo em um tronco e caindo no chão.

A mente de Harry viajou mais rápido do que o normal, e em sua cabeça imagens de seu caderno, as páginas correndo até parar em uma página exata, aquela página que ele havia memorizado por precaução.

Exorcizabimus te, omnis iste spiritus immundus.

Não conseguiu continuar devido à forte pancada no nariz, que imediatamente começou a sangrar. Ele soluçou secamente de dor forte, mas mal teve tempo de lamentar quando foi agarrado pelo queixo e dois golpes deixaram seu rosto ensanguentado.

Omnis... omnis satanica potestas, omnis infernalis incursio, omnis legio. — continuou Liam, levantando-se lentamente.

Stella começa a tremer, se contorcendo. Harry aproveitou para tentar se mexer.

— Liam, corre!

Ele o escuta, começando a correr para sair da floresta, em busca de ajuda, mas se vira devido ao forte arquejo do cacheado. O demônio havia introduzido a lâmina sob uma das costelas do menor, que grunhia de dor, lágrimas caindo em meio a todo o sangue de seu rosto.

Omnis congregatio et secta diabolica. — Liam continuou enquanto o demônio queria se mover, mas tudo o que fez foi tremer. Seus olhos passaram de ser como um ser humano normal para ficar completamente preto. — Ergo draco maledicte et omnis legio diabolica adjuramus te. — Liam recuou um pouco quando o demônio se levantou trêmulo, querendo caminhar em sua direção.

Isso era inútil. Precisava fazer alguma coisa! Olhou para o próprio abdômen, onde a lâmina estava enterrada, e segurou o cabo da lâmina, tremendo de dor. Talvez isso fizesse alguma coisa, certo? Embora... morresse no processo.

Não havia tempo para pensar.

Com força e vontade, retirou a lâmina do corpo, sentindo a dor na costela, na carne e o sangue escorrendo pela camisa enlameada. Ele engasgou, inconscientemente alcançando seu ferimento antes de jogar a lâmina na direção de seu amigo.

— Li…

Mas o objeto caiu no chão, sem ser visualizado por ninguém. Mais um problema.

Cessa decipere criaturas humanas, eisque aeternae perditionis venenum propinare. — recitou o menino, e pegou outra garrafa, deixando-a cair e falhando. Merda, merda, merda.

Vade, satana, inventor et magister omnis fallaciae, hostis humanae salutis. — continuou Harry enquanto fazia o possível para se pôr de pé, falando enquanto sentia todo aquele sangue em seu abdômen, em seu rosto. Estava acabando… — Sub potenti manu Dei humiliati, contremisce et fuge, invocatum a nobis sancto et terribili nomine, quod tremit Orcus. — sua voz aumentou.

Stella caiu de joelhos e rosnou antes de gritar, sua voz grossa, distorcida. Dando risadas entre gemidos, alto, assustadoramente.

— Por que você não abre seu presente, hein?! — apontou para uma direção atrás de Harry, mas seu braço quebrou quando Liam continuou, deixando-a tremendo, com os olhos fechados e gritando.

Ab insidiis diaboli, libera nos, Domine. Ut Ecclesiam tuam tibi incolumem facias, te rogamus ut gratis servias, audi nos.

Meio curvado com a dor sob a costela e sentindo que Liam estava no controle da situação, o cacheado se virou para onde o demônio havia apontado. Sentiu um arrepio na espinha ao ver uma bolsa preta, que continha algo dentro.

Não.

Tropeçando lentamente, ele caminhou em direção à sacola e, ao se aproximar, pôde ver uma mão fora dela.

Ut inimicos sanctae Ecclesiae humiliare digneris, te rogamus, audi nos.

Não, não, não, não. Não, não!

Ele balança a centímetros da bolsa. Não pode ser. Seu corpo parou de doer, agora apenas algo queima no fundo de seu peito, algo do qual ele nunca se recuperará em sua vida. Nunca, nunca.

Amedrontado, com a mão trêmula, já sabendo o que era, abriu o saco até o fim. Sua respiração falhou.

Sim, claro.

Harry havia tirado alguém dele, e estava claro que eles fariam o mesmo com ele. Ficou claro que o demônio procuraria a coisa mais próxima que Harry tinha de família, já que estava sendo protegido por Louis.

E ele não entendia como de repente tudo havia parado de doer, como se algo lhe tirasse os sentimentos e a dor física. Choque, frio, perda de sangue, embora provavelmente seja o corpo sem vida de Fionn Whitehead, cortado em pedaços, manchado de sangue, os olhos arregalados, assustados e perdidos em algum lugar da floresta.

Sem vida. Seu melhor amigo...

No mesmo instante ele parou de tremer e se virou lentamente, olhando para o outro amigo.

Terribilis Deus in sancto suo. Deus Israel ipse confortabit fortitudinem et fortitudinem populi sui. Felix dies! Gloria patri! — Liam finalizou aquele exorcismo, e um longo rastro de fumaça preta saiu da boca da adolescente, que tremeu e caiu no chão, inconsciente. O demônio golpeou contra um ponto do chão e o mal estar desapareceu da mesma forma que o mesmo.

Liam os salvou.

Um silêncio ensurdecedor se fazia presente naquela área da mata, apenas respirações agitadas e entrecortadas. Liam parecia lembrar que seu amigo mal estava de pé, e rapidamente caminhou até ele, agarrando seu rosto ao chegar lá. Parecia perdido, desorientado.

— Você está bem, você está bem. Não se preocupe.

Mas apenas Harry estava.

— Estou calmo. — disse calmamente, sua voz quase inaudível. Liam franziu a testa antes de olhar para trás do garoto, e este pôde ver os olhos castanhos do menino se encherem de lágrimas. As mãos de Harry seguraram os pulsos de seu amigo. — O-Ouça-me. — Liam olhou para ele novamente e soluçou, balançando a cabeça e as lágrimas escorrendo pelo rosto. — Você tem que ir agora. Ninguém pode saber disso.

—Harry, é Fionn...

— Ninguém vai acreditar em nós. Liam, por favor. — ambos se encararam.

Eles sabiam que esta seria a última vez que se veriam.

— Adeus, Harry. — sua voz vacilou, tirando as mãos do rosto dele, dando alguns passos para trás e passando ao lado do corpo de Stella. Liam sentiu sua respiração. — Está viva.

— Leve-a embora. — Harry balançou um pouco no lugar, respirando com dificuldade. — Há um hospital próximo. Rápido, Liam. — sua voz falhou, porque por todos os céus e infernos, queria tanto voltar no tempo. Tudo parecia um pesadelo. Por que não pode ser apenas um pesadelo? Por que Fionn? — … rápido.

Liam assentiu e se abaixou, passando os braços por baixo do corpo da adolescente, pegando-a no colo e saindo daquele lugar sem olhar para trás.

O olhar do cacheado permaneceu perdido antes de se voltar novamente, na direção daquela bolsa. Olhou para o corpo de seu melhor amigo, e devido ao profundo vazio em seu peito, suas pernas tremeram, e acabou caindo de joelhos.

Rendido.

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A casa dos Styles estava lotada de pessoas da cidade. A música era calma, todos bebiam e comiam, conversando entre si. Estava tudo perfeito. Gemma estava conversando com seus amigos no sofá, Des estava bebendo com Joffrey e Anne estava correndo, certificando-se de que todos conseguissem o que queriam, conversando com algumas mulheres da igreja ao longo do caminho em sua própria casa.

Uma batida veio da porta da frente, junto com muitos suspiros de horror. Des olhou para cima quando ouviu um vidro quebrar no chão.

— HARRY!

Lá estava seu filho: com o rosto espancado e ensanguentado, pálido, com a roupa suja no chão e uma grande mancha de sangue na camisa. Estava respirando fundo, os olhos arregalados e pânico em sua expressão. Des largou tudo, aproximando-se.

— Não! — exclamou o mais novo, estendendo a mão e recuando, tentando não cair. — Não. N-Não se aproxime.

— Harry, querido! —Anne também queria se aproximar, mas o nomeado não permitiu. — O que te aconteceu? Amor! Por favor.

— N-não... não me toque. Não me toque.

Um homem de todas as pessoas se aproximou.

— Temos que levá-lo para o hospital agora. Ele está sangrando. — disse, chegando mais perto. Era George Griffin, um médico renomado em toda a Holmes Chapel. — Vamos, Harry. Precisa de ajuda. — se aproximou e o pegou pela mão.

Não me toque!

E, como num passe de mágica, o homem foi lançado ao ar, batendo o corpo contra a parede antes de cair no chão. Todos pareciam sentir esse desconforto, que para eles era um sinal ruim, mas para Harry, oh, para Harry era um alívio.

Anne deu um passo para trás, assustada. As pessoas começaram a se desesperar e se dirigiram para a saída do quintal, fugindo daquela situação, todos menos o padre William e a família Styles.

O jovem não sabia se talvez estivesse sentindo falta dele com toda a sua alma, mas podia até sentir onde o Diabo estava. Com esperança, ela correu, instável para as escadas, começando a subir com cuidado. Padre William estendeu a mão, apontando-a para o cacheado.

Não sabia que ouvir alguém orar iria machucá-lo como daquela vez que seu pai fez, e ele sentiu esse fogo correndo por seu corpo. Gemeu de dor, prestes a cair da escada, mas sentiu Louis pegá-lo.

— Oh, por Deus! — engasgou Anne, chorando e muito assustada.

Todos se calaram ao ver aquela figura alta, vestida de preto, com olhos cor de sangue, perfeita, mas arrepiante. O Diabo tornou-se visível pela primeira vez na frente de outras pessoas, segurando em seus braços o marido, seu menino favorito, ferido. A fúria corria por suas veias, mas, mesmo assim, ele olhou para cima e sorriu loucamente.

— Prazer em conhecê-los pessoalmente. — disse ele. Ergueu a mão e, com apenas um leve movimento dos dedos, fez com que todas as portas se trancassem. Agora só tinham o quarto, não havia para onde fugir. — Bem, que comece o show.

Bastou um estalar de dedos para que as coisas começassem a se desfazer e se mover abruptamente do lugar, prejudicando todos que se interpunham entre eles. Todas as lâmpadas se quebraram, mas o Diabo teve sorte, pois podia ver através da escuridão. Se virou graciosamente e subiu os degraus, segurando seu menino contra o peito, ouvindo os gritos arrepiantes dos Styles e das poucas pessoas que restavam na sala.

Harry gemeu em seus braços, contorcendo-se de dor.

Sh, sh. — Diabo parecia assustado pela primeira vez em sua vida. Ela se dirigiu para as escadas para o telhado, aquele telhado onde dançaram sob a lua sangrenta.

A porta se abre sozinha, e Louis apressou-se a se ajoelhar no chão, deixando Harry em seus braços, que o observa entre a dor e o sangue, fraco e com lágrimas caindo dos olhos.

— Lou...

Louis o segurou pelas costas com um braço, e sua mão livre acariciou seu rosto, querendo mantê-lo imóvel para curá-lo. Harry percebeu e fechou os olhos, negando.

— Não...

— Você está muito fraco, não fale. — ordenou. — Abra os olhos.

— Eu… — soluçou, de dor. Foi tudo um pesadelo. — Eu o matei. Eu o matei.

— Quem? Harry, aconteça o que acontecer, não é sua culpa. — o cacheado assentiu. Claro que foi. Nada disso teria acontecido se não fosse por ele. Louis aproxima seu rosto e seus narizes roçam um no outro. — Não é sua culpa. — rosnou. — Eu sei porque conheço você, e você não é capaz de algo assim. — Harry soluçou mais forte, se contorcendo. A queimadura estava o matando, mas ele teve que aguentar. — Olhe para mim. Harry. — chamou, e o pegou cuidadosamente pelo queixo. O jovem negou, de olhos fechados. Estava se recusando a ser curado. — Harry!

— Não!

— Harry, olhe para mim ou eu vou matar a porra da sua mãe. — se Harry morresse, Louis mataria todos eles.

O jovem rapidamente abriu os olhos, acreditando nas palavras do marido e os dois se encararam. Aos poucos, o ardor foi diminuindo e agora só resta um gosto metálico na boca. Ainda sentia o calor do sangue em seu torso, e Louis parecia não perceber aquele corte profundo sob sua costela.

Se olharam por um momento antes de Harry olhar para trás do Diabo e apertar o braço de Louis, que virou o rosto para ver do que seu garoto favorito tinha tanto medo. Viu a Morte de pé, apenas observando.

— Não. — Louis apertou seu aperto em Harry, contra seu peito. — Morte. — soltou um guincho baixo. — Eu disse que não! — ela gritou, e o grito da Morte ficou mais alto antes que ela desmaiasse de medo. Louis cobriu os ouvidos de Harry com o som que poderia afetar sua condição, e então olhou para ele completamente, finalmente percebendo a grande mancha de sangue em sua camisa. Ele o pegou e olhou para o corte e o sangue que escorria dele. — Não. Não. Droga!

— Louis...

— Não, cale a boca. — interrompeu, e pressionou a mão cheia de anéis na ferida, olhando para o jovem, que lutava para manter a sanidade. — Não vou deixar você morrer, ouviu? Eu sou a porra do Diabo, e eu decido isso. Eu decido se você morre ou não, entendeu?

Claramente, sabia que não era assim, não tinha controle sobre as decisões do jovem e, portanto, não era ele quem decidia se ele continuaria vivo. Mas é que ele... ele não...

— Harry, eu não sou nada sem você.

O cacheado soluçou aliviado e estendeu a mão fracamente para puxar Louis para mais perto. Os dois apertaram os lábios em um beijo casto que durou alguns segundos.

— Você tem que me levar para um hospital, e você não pode. — Harry começou, ambos se encarando. Transportar-se poderia causar mais danos, ele não estava em posição. Suspirou e olhou para os lábios do Diabo antes de voltar seu olhar para seu corpo. — Não consigo sentir minhas pernas, Lou.

— Eu posso te curar. — disse desesperadamente. — Por favor. deixe-me curar você

Harry assentiu. Nunca diria não a ele. Nunca.

A mão no abdômen de Harry começou a esquentar um pouco, como se algum tipo de energia a aliviasse. Podia sentir o sangue parar de escorrer da ferida e, quando estava prestes a sentir a ferida completamente fechada, a porta do telhado se abriu e a voz do padre William elevou-se em uma oração latina.

Harry gritou, se contorcendo, e Louis não deu a mínima para isso. Acenou com a mão e aquele homem foi jogado porta afora novamente, caindo escada abaixo. O olhar do Diabo voltou para o rosto de seu garoto e ele congelou ao vê-lo tentar respirar, cuspindo sangue pela boca e tremendo, apenas observando-o.

Louis suspirou.

Só havia uma maneira de salvá-lo.

Acariciou o rosto dele antes de posicionar seus rostos frente a frente.

— Desculpe por isso, pequenino. — disse ele, e os dois se encararam. — Deixe-me salvar você

Harry tentou falar e não conseguiu. Então apenas assentiu, dando-lhe permissão.

Ele sentiu o ar sair de seu corpo e pensou que estava prestes a morrer, mas sua boca se abriu involuntariamente e podia sentir algum tipo de poeira entrando, fazendo sua garganta coçar. Seus olhos se fecharam e, depois de mais alguns segundos, ele respirou fundo.

— Harry! — houve gritos e passos nos degraus, até que finalmente Des e padre William chegaram ao telhado novamente, este último com um pouco de sangue na testa. Anne tentou subir atrás do marido — ... Anne, fique aí! Tire Gemma de casa!

Ele olhou para frente novamente, e seu filho estava de costas para os dois.

— Harry?

O jovem pareceu suspirar profundamente antes de se virar. Seu rosto inexpressivo, um pouco presunçoso com o passar dos segundos e seus olhos completamente tapados.

Um sorriso sedutor, desequilibrado, mas brilhante, tornou-se visível no rosto do jovem.

Isso não era mais humano.

— Errado. — disse ele, e acenou com a mão, desta vez derrubando os dois homens escada abaixo.

Sim, isso curaria seu marido, mas enquanto isso acontece...

... seria muito divertido.

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História original: BooDarkness

Tradução: Hey_Jeez5

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