𝗯𝗼𝗻𝘂𝘀 𝗽𝗮𝗿𝘁 𝟯.
jamie mikhailova-hacker, pov
─ Ficou maluco? Você não vai entrar!
A comoção me acorda, e eu pulo sentada, desnorteada. Coço os olhos, olhando ao redor.
─ Eu vou entrar sim!
─ Você tá na minha casa, seu pirralho. Eu disse que você não vai entrar, e você não vai entrar. ─ reconheço a voz do meu pai.
Eu me levanto, ainda meio sonolenta, e a discussão continua do lado de fora.
─ Por que não?
─ Porque a porta tá trancada.
─ Não tá, ela nunca tranca a porta.
─ Ah, é? E como você sabe disso?
─ São nove da manhã, pelo amor de Deus! Do que você tá com medo?
─ Eu já fui adolescente uma vez, sei muito bem que não existe hora certa pra... ─ meu pai deixa a frase pela metade assim que eu abro a porta.
─ Eu posso saber que droga tá acontecendo aqui?
Silêncio. Tipo, um silêncio mortal que durou cinco segundos, mas pareceram cinco anos. Até...
─ Feliz aniversário!
Meu pai me trancou em um abraço, onde eu pude ver Callum parado atrás dele, com um sorrisinho divertido, e eu reviro os olhos.
─ Obrigada, pai. Agora, por que vocês, garotos, precisam discutir tão alto na minha porta às nove da manhã?
─ Seu velho e antiquado pai tem certeza de que eu vou, automaticamente, pular em você se eu entrar no seu quarto. ─ Callum diz, andando para ficar do meu lado. ─ Cadê a dona Gigi? Ela é mais legal do que ele.
Eu tampo a boca com as costas da mão para não rir, vendo meu pai semicerrar os olhos na direção de Callum.
─ Garoto, se você fosse meu filho...
─ Eu não seria tão bonito. Entendi, obrigado. Até mais tarde, velhote.
Eu puxo Callum rapidamente para dentro do meu quarto e, com um sorrisinho, fecho a porta na frente do meu pai. Quando me viro, vejo Callum esparramado na minha cama.
─ Você vai acabar mandando ele pra prisão por homicídio qualificado. ─ eu falo, voltando para cama. Cal se mexe e me dá espaço, se deitando para ficarmos frente a frente.
─ Sua mãe não vai deixar. ─ ele zomba. ─ Eu sei que, lá no fundo, ele gosta de mim exatamente por causa disso.
─ Sabe, é?
─ Claro que sei. Quem é que gosta de um engomadinho puxa saco? Deve ser legal no começo, mas eca, não. ─ ele continua. ─ Ele me ameaça, mas sei que ele não se importa.
Não falo nada, mas concordo com ele. Se meu pai não gostasse de Callum, ele jamais entraria na nossa casa - e ele entrou muito aqui no último mês.
Eu bocejo e enfio mais o rosto no travesseiro, ouvindo ele rir baixinho.
─ Nós te acordamos mesmo, né?
─ Uhum. ─ eu murmuro, puxando o cobertor até o pescoço.
─ Vou te dar mais um tempinho, então. ─ ele diz, e ouço o barulho seco de duas coisas caindo no chão, provavelmente os sapatos dele, e ele se ajeita sob o cobertor também.
Eu já estava muito sonolenta para raciocinar, mas acho que Cal não se importou quando passei o braço pelo corpo dele e o abracei como se ele fosse um bichinho de pelúcia. Quando ele me abraçou de volta, tive certeza disso.
Não sei por quanto tempo eu dormi depois disso, mas acordei com uma batida na porta muito, muito alta. Só uma pessoa batia assim, e eu sabia exatamente quem era.
─ Tô dormindo, Mason! ─ eu grito, e congelo quando sinto uma respiração quente no meu pescoço. Demoro alguns segundos para me lembrar que Callum estava comigo quando eu dormi, e aparentemente dormiu também.
─ Eu viria mais tarde mas tenho que estar em Pasadena em uma hora e... Eita. ─ vejo o exato momento em que Mason invade meu quarto e percebe que tem mais uma pessoa na cama além de mim. ─ Ok. Feliz aniversário. Eu prometo que te levo pra festejar amanhã. ─ ele vem e beija minha testa, pisca pra mim e sai do quarto.
Callum e eu, de alguma forma, acabamos deitados de conchinha. O corpo dele embalou o meu, a mão dele parou na minha barriga e o rosto dele na curva do meu pescoço.
─ Cal. ─ eu chamo, tirando a mão dele e me virando para olhá-lo. ─ Callum?
─ Hum? ─ ele se mexe, despertando. ─ Que horas são?
Viro o pescoço para a minha mesa de cabeceira e vejo o despertador lá.
─ Quase uma da tarde.
Ele respira fundo, coçando os olhos, e apoia as mãos na cama para se sentar. Eu faço o mesmo, e dou risada quando ele me olha e suspira.
─ Se arruma, tá bom? Eu vou esperar na sala com a linda e educada dona Gigi. ─ vejo ele pular da cama e calçar o tênis que ele tirou mais cedo. ─ Não demora.
─ Espera! Pra onde a gente... ─ mas ele já correu pra fora.
Eu me levanto e vou direto para o meu banheiro. Lavo o cabelo durante o banho e, depois que saio, o seco parcialmente com uma toalha de algodão. Meu cabelo é ondulado, quase cacheado, mas eu nunca tive paciência para nenhuma dessas coisas de definição; no máximo, eu passo um creme e seco com um difusor.
Aproveitando o clima morno do começo do inverno, eu coloco uma calça jeans rasgadinha e uma camiseta preta, mostrando uma faixa de pele da minha barriga.
No ano passado, eu estava deixando Adora me vestir e desvestir da maneira que ela quisesse. Deixaria ela me encher de maquiagem e me fazer usar salto alto. Há um ano, eu era - como Callum constantemente dizia - a 02; hoje, eu sou só... a Jamie.
Passo um pouco de rímel nos cílios e um gloss de cereja na boca. Borrifo o meu perfume, passo um óleo modelador perfumado no cabelo, um pouco de creme corporal nos braços e, por último, coloco uma correntinha no pescoço e anéis nos dedos.
Quando apareço na sala de estar, vejo Callum no sofá, ao lado do meu irmão, ambos jogando videogame. Eu os deixo lá e vou para a cozinha, encontrando o meu pai mexendo nos armários.
─ Oi. ─ eu falo, abrindo a parte do armário que eu e a minha mãe mais usamos: a cheia de doces. Eu pego um pacote de Oreo e, abrindo a geladeira, pego uma latinha de Pepsi.
─ Às vezes você é tão parecida com a sua mãe que me assusta. ─ papai diz, enquanto eu sento no balcão para comer.
─ Errou de gêmea, pai. A cópia dela é a Dora.
─ Fisicamente, sim. Cabelo liso, olho verde e blá blá blá. Mas ela odeia Pepsi, evita comer doces e morre de medo de filmes de terror.
─ Mas os filmes são mais slash do que assustadores...
─ E foi exatamente isso que a sua mãe me disse quando eu perguntei se ela não era viciada em levar susto. Viu só? Idênticas. ─ eu dou de ombros e tomo um gole do refrigerante.
─ Cadê ela, aliás?
─ Quem? Sua mãe ou sua irmã?
─ As duas, agora que você mencionou.
─ Dora saiu com o Brandon bem cedinho, e sua mãe precisou resolver um problema em um dos estúdios. Ela já deve estar...
Nesse exato momento, ouvimos passos entrando na cozinha, e quase cuspo o refrigerante que acabei de tomar quando vejo Callum abraçado na minha mãe.
─ Como eu estava dizendo, dona Gigi, eu acho que o seu marido não vai muito com a minha cara porque vê muito de si mesmo em mim, sabe? Bonito, engraçado, fantástico no basquete, e a minha habilidade em pegar mulher é simplesmente...
─ Callum! ─ intervenho, lutando para não rir. Eu adoro quando ele provoca o meu pai, e acho que a minha mãe também gosta, se o sorriso no rosto dela indicar algo. ─ Limites.
Mamãe sai debaixo do braço de Callum e contorna o balcão até chegar em mim. Primeiro, ela rouba uma bolacha, depois toma um gole da Pepsi e, só então, me abraça.
Ela diz todas as coisas bonitas que se ouve no seu aniversário. Muitas delas eu não sei como responder, então só digo obrigada e que a amo. Depois que ela beija minha bochecha quase um milhão de vezes, nós voltamos para a realidade.
Realidade essa onde meu pai parece conter uma quantidade avassaladora de ódio pelo meu pobre amigo Callum.
─ Vin, você vai acabar fazendo um buraco na testa dele com esse olhar. ─ mamãe diz.
─ Tenho certeza de que esse é o objetivo, dona Gigi. ─ Cal se aproxima de mim e pega uma bolacha.
─ Jamie, você não poderia ter escolhido companhia melhor? ─ papai pergunta, me olhando.
─ Não foi bem uma escolha. ─ eu respondo, sorrindo. ─ E eu não lembro desse ódio todo com o Brandon, quando ele apareceu aqui em casa da primeira vez.
─ Porque, um: ele veio pedir a minha permissão para namorar a Dora. E dois: ele foi educado. Você conhece essa palavra, Callum? E-du-ca-do.
─ Eu também fui educado! Te chamei de senhor e tudo mais. ─ Cal retruca.
─ Você foi educado nos primeiros três minutos. E hoje me chamou de velho e antiquado.
Acho que minha mãe perde o controle e acaba rindo alto, alto pra caralho. Eu encho a minha boca de bolacha e refrigerante para não correr o mesmo risco.
─ Você acha engraçado, Gina? Por acaso você esqueceu que é só um ano mais nova que eu? ─ mamãe para de rir na hora.
─ Você não é velha, dona Gigi. Você é bem conservada. ─ Callum diz, sorrindo.
Meu pai vai acabar estourando uma veia na testa por causa dele algum dia.
─ Chega, antes que isso vire uma cena de crime. ─ eu me levanto, jogando o papel e a latinha vazios no lixo. ─ Volto a tempo pra maratona de filmes, ok? Amo vocês.
Beijo a bochecha de cada um e puxo Callum para fora de casa comigo. Entro no carro dele, parado no meio fio, e coloco o cinto.
─ Você e o meu pai precisam de uma trégua. É sempre uma guerra quando você aparece.
─ Confia em mim, princesa. Seu pai me ama.
Eu reviro os olhos, mas sorrio. Quando ele entra com o carro na rodovia principal, eu me lembro que não sei para onde vamos.
─ Onde a gente vai?
─ Surpresa.
─ Mas...
─ Nem tenta.
Eu bufo, cruzando os braços, e espero.
Callum e eu nos aproximamos bastante desde o dia em que eu fui atrás dele na quadra da escola, há um mês e meio. Desde então, ele tem sido uma presença constante no meu cotidiano, não tem muito lugar onde não já tenhamos ido.
Não sei exatamente quanto tempo se passa, mas sei que estamos em Santa Monica. Meus avós moram aqui, então as ruas não são estranhas pra mim.
Só percebo onde vamos quando ele passa pelo píer, no maior parque de diversões daqui. Eu já vim aqui umas cem vezes, com meus pais ou meus avós... mas nunca com ele.
─ Nós não vamos embora até termos ido em cada brinquedo. ─ ele diz, saindo do carro, e vejo um sorriso pequeno em seus lábios. ─ Em qual você quer ir primeiro?
Eu olho em volta, caminhando com ele até a bilheteria, escolhendo um brinquedo.
─ Vamos nas barracas menores primeiro, depois nos brinquedos grandes.
─ Você que manda.
É exatamente o que nós fazemos. Passamos pelas barracas de tiro, onde ele ganhou um golfinho de pelúcia; os dardos, os cones, o mini boliche, jogamos tudo isso, mas só tivemos sorte com o golfinho.
O primeiro brinquedo grande foi o carrinho bate-bate. Eu o persegui com o meu carrinho até conseguir atingi-lo, e aí o tempo acabou. Em seguida, fomos naquela xícara dos infernos que gira até você vomitar tudo o que comeu na última semana.
Depois, fomos no carrossel, na torre e na montanha russa, nessa ordem. Quando percebi, já tinham se passado quase três horas.
─ Eu preciso comer alguma coisa. ─ eu falo, antes que possamos ir no próximo brinquedo.
─ Eu também. ─ ele diz. ─ Eu vi um trailer de cachorro-quente por ali.
Acho que gastei energia demais em tão pouco tempo, porque um cachorro-quente nunca pareceu tão gostoso assim antes.
─ Pronta pra continuar? ─ Cal pergunta.
Só haviam mais dois brinquedos: o labirinto e a roda gigante.
─ Totalmente.
Perdemos quase meia hora na fila, mas quando chegou a nossa vez, desejei ainda estar lá atrás.
─ Você não assiste filmes de terror por diversão? Do que você tá com medo? ─ eu reviro os olhos, entrando no labirinto com ele ao meu lado.
─ Uma coisa é ver filmes de trinta, quarenta anos atrás. Outra coisa é saber que a qualquer momento alguém vai pular na minha frente ou correr atrás de mim. ─ eu respondo.
─ Mas é de mentira. Eles não vão te machucar.
─ Você já assistiu qualquer filme que se passa em um parque de diversões? ─ eu questiono, deixando ele guiar o caminho. ─ Começa assim, divertido e tal, eles não podem tocar em ninguém, blá blá blá, até um maníaco aparecer, disfarçado dos personagens, e o banho de sangue começa.
Callum ri, e viramos à direita.
─ Faz bastante sentido, até.
─ Eu sei que faz. ─ retruco. ─ A gente não pode só dar meia volta e sair pela entrada?
─ Nada disso. Já entramos, e vamos sair pela saída. ─ pulo quando sinto algo na minha mão, mas é só a mão dele. ─ Não esquenta, se aparecer algum maníaco a gente corre.
Eu balanço a cabeça, pronta para discutir, mas um filho da puta simplesmente aparece do escuro com o caralho de uma serra elétrica. Eu grito e corro, com Callum rindo alto ao meu lado.
─ Não é engraçado, seu idiota! ─ eu grito pra ele, assim que não ouço mais a serra. ─ Caralho, Callum. Eu jurei que ia morrer ali mesmo.
Ele parece estar tendo problemas para se recuperar da crise de riso. Os cantos dos olhos dele até lacrimejam de tanto rir. Eu bufo e até considero em sair na frente, mas me lembro de onde estamos e desisto.
─ É por esse lado, vem. ─ ele consegue falar, pegando a minha mão de novo e nos levando pelo lugar.
─ Como você sabe?
─ Esse é o meu brinquedo favorito, e eles nunca mudam o caminho. Eu sei de cabeça.
─ Seu brinquedo favorito? Que coisa de psicopata. ─ eu murmuro, olhando ao redor. ─ A saída é muito longe?
─ Mais umas quatro curvas e a gente chega lá.
Na próxima curva, alguma coisa pega o meu pé e eu pulo. Na outra, alguém puxa a minha camiseta. E na última, a porra do Ghostface tá no caminho. Eu passo correndo pelo canto, murmurando "ai meu Deus" a todo momento.
Atravessamos a porta de saída e eu finalmente posso respirar em paz. E Callum me olha sorrindo.
─ Eu nunca mais entro nessa coisa. ─ eu aponto para a porta.
─ Para, vai. Nem foi tão ruim assim.
─ É fácil falar quando você é grande e forte, com um soco a briga acaba. Eu só dependo das minhas pernas pra sair correndo! ─ eu tomo mais uma respiração funda antes de começarmos a ir para o último brinquedo.
─ Claro que não. Você pode usar a sua boca suja, torturar todos eles psicologicamente e deixar eles para trás chorando em posição fetal.
Não consigo evitar. Solto uma risada alta, parando na fila da roda gigante.
─ Você poderia só ter dito "eu uso o meu soco poderoso pra te proteger", sabia?
─ Qual é a graça nisso?
─ Verdade. Tortura psicológica é melhor.
Percebi que Callum, ou conhece o operador da roda gigante, ou o pagou antes disso, porque pegamos a melhor cabine de todas. E, pelo horário, acredito que vamos ver um pouco do pôr do sol lá de cima.
─ Você planejou isso? ─ eu pergunto, quando começamos a subir levantamento.
─ A cabine, sim. Só aconteceu de o horário bater. ─ ele responde e dá de ombros, enquanto eu sorrio.
Espero enquanto subimos, observando toda a cidade, as luzes começando a se sobressair, as pessoas virando pequenas formigas. Nós paramos, a cabine balançando bem no topo, e eu olho para o horizonte, vendo o começo do pôr do sol.
Meu sorriso aumenta e algo dentro de mim queima. O meu coração, por algum motivo, acelera.
─ Isso é tão... lindo. ─ eu murmuro.
Callum demora um pouquinho para me responder, e até imagino que ele possa não ter me escutado, mas ele escutou.
─ É mesmo. Muito.
Eu balanço a cabeça, concordando. Mas quando olho para ele, com o canto do olho, Callum não está olhando o pôr do sol.
Ele está olhando pra mim.
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eu só digo eh uma coisa
eu AMO que o vinnie e o callum sao exatamente assim:
demorei mas postei, amaram???
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