dancing is a dangerous game | capítulo único
— Pelo amor de Deus, pare de se tremer — ele revira os olhos pela terceira vez em menos de dois minutos, enquanto os dois continuam sentados lado a lado em um dos bancos. — Até parece que é você quem vai se casar.
— Hope vai casar. É como se eu mesma também fosse, de certa forma — ela responde, não parando de batucar os pés contra o piso recém-polido da capela. — Você não entende.
— Eu tento entender, mas você sempre leva essas coisas ao extremo.
— Como assim?
— Você sabe.
— Seja mais específico. Não gosto de enrolações.
— Me arrastou para o casamento da sua amiga como se eu a conhecesse tanto quanto você. Isso é extremo.
— Mas a Hope te conhece, Bucky.
— O suficiente para gostar da minha presença aqui?
Natasha respira fundo, fecha os olhos e conta até cinco. James Buchanan Barnes sempre foi assim, arredio de quase tudo, sempre preocupado com a reação das outras pessoas às coisas que ele faz ou é coagido a fazer. Ela sabe que não é culpa dele; a família Barnes sempre teve uma educação... peculiar, para dizer o mínimo. Sempre restritos, fechados ao mundo, confinados em um ciclo de confiança sanguínea de assustar qualquer um que não entendesse as relações deles.
Sabe que é um pensamento meio egoísta de sua parte, mas ela gosta de acreditar que salvou Bucky de se perder na linhagem Barnes e de não aproveitar a vida por inteiro. E, mesmo que ela não pensasse nisso, ele mesmo faria questão de contá-la essas mesmas palavras. É assim que eles são. Pragmáticos na maior parte do tempo, mas sentimentais nas entrelinhas da amizade que construíram ao longo dos anos.
— Tenho certeza de que ela ficará muito feliz que você veio, Bucky — a mulher de sobrenome Romanoff encara os olhos azuis de seu amigo para falar com ele. — E o Scott também gosta de você. Creio também que você ficará muito mais próximo deles agora que irão se casar e irão compartilhar mais do que uma casa em comum. Os amigos também vem no pacote.
— Você acha?
— Acho. Agora deixe de timidez e abra um sorrisinho que seja. Olha quem vem ali.
Em seguida, ela aponta para as figuras de Steven Rogers, Luis Peña, Anthony Stark, Virginia Potts e Carol Danvers, caminhando para se sentarem no mesmo banco que James e Natasha. O coração de Bucky erra uma batida, não por nervosismo, mas por ansiedade social — um pequeno empecilho na sua vida diária, que o acompanha desde que saiu da casa dos pais. Inábil para socializar com pessoas, ele precisou da ajuda de sua melhor amiga para encontrar pessoas que gostassem dele do jeito que conseguia ser, e acabou desenvolvendo uma relação de camaradagem básica com os próprios amigos de Natasha — ou, pelo menos, o suficiente para dizer que poderia contar com mais alguém.
— Estão bonitos hoje — a ruiva ri, levantando-se para abraçar cada um deles.
— Você é tão engraçada que dói — ironiza Tony, pondo sua mão direita no coração, sem soltar sua mão esquerda do aperto de Virginia.
— Melhor do que você, com certeza, Tony.
— Mas vocês já vão brigar? — Pergunta Luis. — Ainda não tem comida aqui para eu comer de camarote. Esperem os noivos terminarem de chorar.
Entretidos demais com a troca de farpas entre Tony e Natasha, eles, Luis e Pepper mal percebem quando Steve e Carol dão a volta no banco para falar com o Buchanan, visivelmente retraído em sua posição e apenas encarando a cena. Os olhos dele se erguem com rapidez para o lado esquerdo ao sentir uma cutucada em seu ombro.
— Quanto tempo, Bucky — diz Steve, com um sorriso cordial nos lábios e estendendo uma de suas mãos, como uma oferta de cumprimento pacífico. — Como vai?
Vendo-se sem saída, pois sua melhor amiga está focada em outras coisas, ele acaba aceitando o aperto de mão vindo do loiro, passando para cumprimentar Carol logo em seguida. Os dois puxam assuntos relativamente superficiais, como as expectativas para acompanhar a troca de alianças entre Scott Lang e Hope van Dyne, as escolhas de roupas entre os próprios amigos e até mesmo a aparência da igreja escolhida para a cerimônia.
Bucky responde a todos os tópicos de forma lenta, mas concisa, o suficiente para fazê-los acreditar que está de corpo e alma presente no recinto, mas também entrando em modo automático dentro de sua mente. Não é que Scott e Carol não sejam legais — eles são. O problema está nele mesmo e na sua falta de habilidade em conversas fiadas. Natasha Romanoff é quem puxa as trivialidades nas conversas que os dois têm, não ele. É ela, também, quem o convence a fazer coisas fora da curva.
— Meu Deus, olhem quem chegou — o tom de voz da mulher ruiva diminui bruscamente.
Seu olhar é o suficiente para que os olhares do grupo de amigos se direcionem diretamente para Wanda Maximoff.
— A outra ruiva — murmura Luis, ganhando uma aprovação visual de Natasha pelo comentário. Ele adora colocar mais lenha em qualquer fogueira que surja nas conversas. — Por que ela veio mesmo?
— Porque os noivos convidaram. O que você acha? — A resposta concisa de Tony acaba deixando o amigo próximo de Scott mais contido.
— Deve ter sido mais por educação do que por sentimento, não sei — diz Pepper, cruzando os braços e sentando-se ao lado do marido. — Não devemos nos meter nisso.
— Não sei como ela ainda não começou a reclamar em voz alta de cada detalhe da cerimônia — comenta Carol, arrancando risinhos de Steve e de Natasha. — Vocês sabem como ela é. Dá opiniões até demais.
— Como assim? — Pergunta Bucky, mas já se arrependendo de ter aberto a boca no momento em que Natasha e Carol respiram fundo.
É assim que ele acaba ouvindo as histórias mais tresloucadas de como Wanda é meio — não só "meio", como também muito — autoritária com coisas que, às vezes, nem estão na alçada dela. Contam como ela sempre disfarça suas imposições em forma de opiniões mal construídas, motivadas apenas pela força de vontade da própria mulher em querer estar na vida de todos ao mesmo tempo. Sem querer, o Barnes acaba rindo de toda a situação, não só por causa do que elas contam, mas do modo como elas contam essas histórias.
E, obviamente, acaba comprando a antipatia por Wanda por causa delas.
Quando parece que ele finalmente está para se engajar no papo, novas pessoas chegam ao altar para conversar com o padre responsável pelas formalidades. É nesse momento que Bucky reconhece uma das figuras e sente seu corpo todo paralisar. Os pés, que antes batiam contra o chão da mesma forma que os pés de sua melhor amiga faziam antes dos amigos chegarem ao seu redor, param de se mexer. Ele engole em seco.
Tenta desviar o olhar a todo custo da visão que está tendo, mas só consegue fazer isso quando Tony e Pepper se entretém em uma conversa própria, quando Luis sai para procurar Scott em um dos cômodos mais escondidos da igreja e depois Steve se senta no banco de trás com Carol. Em vez de continuar imóvel, no entanto, ele começa a sentir suas mãos tremendo, bem como suas próprias orbes e suas pernas, também.
— Olha só quem está se tremendo agora...
— Não tem graça, Nat — responde, preferindo encarar os próprios pés do que ter que ver o olhar entretido de sua amiga.
— Não é que tenha graça, mas... tem uma ironia por trás.
— Não.
— Que ironia? — Steve pergunta, aproximando-se dos ouvidos de Bucky e de Natasha. — Qual a fofoca?
— Aquela fofoca ali.
Natasha aponta para Samuel Wilson, o padrinho do noivo, de pé ao lado de Sharon Carter, madrinha da noiva, enquanto os dois conversam com o padre. A visão gloriosa que tanto assustou James e que tanto diverte os pensamentos da Romanoff acaba fazendo com que Carol, da sua posição, solte uma risada mais alta que o normal.
— Ah, essa fofoca — o Rogers conclui, rindo também. — Pensei que Sam gostasse de homens. Ele ainda pisa em igrejas?
— É um fenômeno moderno. Gays religiosos ou algo assim — responde Natasha, encarando Steve com certo desdém sarcástico. — Nada impede pessoas como ele de comparecerem a cerimônias religiosas, certo? Bucky está de prova.
— Você me arrastou, Nat.
— Hope vai me agradecer por ter feito isso... e você também deve estar me agradecendo mentalmente agora.
Os pequenos, mas nada discretos, olhares de Bucky para Sam Wilson não são de hoje. Sempre sorrateiros, como se fossem casuais, mas cheios de significado; James sentia uma certa fascinação pelo modo como Sam conseguia ser tão amigável, receptivo e bem humorado com qualquer um que se aproximasse dele. Queria conhecê-lo. Queria saber se todos os rumores sobre a ótima personalidade daquele homem eram verdade, se ele realmente era tão interessante como diziam que ele era.
Natasha, é claro, foi a primeira a perceber, e também foi a primeira a incentivar que seu amigo tomasse alguma atitude para ficar mais próximo do agora padrinho de casamento. O Barnes, no entanto, nunca deu um passo sequer para isso. Tímido demais, problemas demais com socialização, medo demais de levar um fora. Ele usou essas e outras desculpas mais para justificar a sua falta de coragem para chegar no ouvido de — suspiros profundos e nervosos antes de pronunciar o nome — Sam Wilson e sussurrar um mísero flerte que fosse.
Bucky apenas não queria admitir que sua amiga estava certa. Seus olhos se sentem, de fato, abençoados em captarem a figura quase angelical de Sam mais uma vez. Antes que sua boca abra para finalmente se render ao tópico da conversa, no entanto, as portas da igreja se fecham, significando que a noiva já está em sua posição.
Scott Lang surge pela fresta de uma outra porta, caminhando a passos firmes até o altar e mantendo um sorriso cordial, que ele lança para todos os convidados, durante a pequena travessia. Assim que o noivo cumprimenta o padre formalmente, as portas se abrem novamente, para que se revelem os padrinhos e as madrinhas do casamento.
— Segure esse coraçãozinho — diz Natasha no ouvido de James, fazendo-o congelar os olhos em estado arregalado. — Ele vem aí.
Sam Wilson inicia sua trajetória das portas de entrada até a sua posição no altar, acompanhado de Sharon Carter, madrinha da noiva. Bucky engole em seco ao ver os dois rindo consigo mesmos enquanto andam a passos lentos. Sabe que não deveria se sentir minimamente incomodado com a cena, mas ainda há algo que o prende ali, que o prende ao sorriso de Sam, à graciosidade de Sharon, a todos os momentos que levarão ao caminhar de Hope rumo ao seu futuro marido.
— E pensar que Bucky poderia estar praticamente de escovas unidas com a futura estrela do showbiz que vai sair dessa cidade — Tony comenta, baixo o suficiente para não incomodar os outros convidados, mas em um volume audível o suficiente para que chegue aos ouvidos do Barnes.
— O quê? — É tudo o que ele consegue dizer, em uma voz meio falha.
— Ah, você não sabe — Steve ergue as sobrancelhas, aproximando-se dos ouvidos de Bucky mais uma vez. — Uns executivos de fora viram o quão bem ele se dá com a câmera e querem dar um programa de variedades para ele em rede nacional. Sam deve ir para Los Angeles nos próximos dias.
Claro que o Buchanan sabia da fama de apresentador de telejornais que Sam Wilson tinha. Não era inocente e muito menos desavisado; acompanhava alguns vídeos do canal de TV que transmitia o programa dele, e sabia que o homem tinha o talento necessário para isso. Só não sabia que isso estava prestes a acontecer.
Seu coração palpita mais rápido por um momento ao saber que irá perder o que nunca teve por causa da sua maldita timidez e desesperança no amor de todas as maneiras.
— Por que não me disse isso antes? — Ele pergunta diretamente para Natasha, que franze o cenho.
— Achei que você não quisesse ir atrás dele. Não era uma informação relevante... até eu te pegar no pulo agora.
— Merda — resmunga, aquietando-se em sua posição no banco.
Luis Peña passa pelo corredor principal da capela com um pote cheio de pétalas de rosas em mãos. Com Cassie Lang, filha do primeiro casamento de Scott, sendo a responsável pelas alianças, coube ao único padrinho solteiro a tarefa de jogar as rosas vermelhas pelo chão, abrindo caminho para os pés de Hope em alguns instantes. A cena atrai risos de Natasha e seus amigos, mas Bucky só tem olhos — novamente — para a reação igualmente bem-humorada de Sam, parado em um dos extremos do altar, cobrindo a boca com uma das mãos para não soltar um riso alto.
Os primeiros acordes da marcha nupcial são tocados pela banda instrumental da própria capela, e todos os convidados, entre parentes e amigos, se levantam de seus assentos. Sabem exatamente o que está por vir — ou, melhor, quem está por vir.
Hope van Dyne se encontra em seu maior estado de graça. Adornada de um vestido branco sem mangas para cobrir seus braços e com um véu que vai até a altura de seus joelhos, ela esbanja um sorriso que parece nem mesmo caber em seu rosto. O brilho nos olhos de Scott pode ser captado de qualquer pessoa a quilômetros de distância, tamanha a sua excitação com o momento. Hank Pym, por sua vez, fecha a cara como um gesto de pura implicância amigável nos segundos em que entrega o braço de sua filha ao noivo, mas logo abrindo uma expressão mais confortável logo em seguida.
— Aposto como a Hope está gritando internamente como se sente finalmente livre da superproteção do pai — diz Tony, de braços cruzados, mas com os olhos atentos no altar. — Quero dizer, é o Scott. Ela o ama mais do que tudo nessa vida. Hank pode sossegar agora.
— Inocência sua pensar isso — retruca Natasha. — Hank pode ser um tanto quanto insistente quando quer.
— Não mais do que a Wanda será quando ela quiser se intrometer na vida matrimonial desses dois.
Carol Danvers ri ao final do próprio comentário, o que faz a pequena roda de amigos rir também. As atenções, que antes estavam para os noivos, agora se direcionam a Bruce Banner, o padre responsável pela cerimônia. Com sua mente finalmente dissipando os pensamentos acerca de Sam Wilson, o Barnes se permite encarar outros aspectos do casamento, mas acaba pensando, curiosamente, no padre.
— Bonito — sussurra apenas para Natasha, e ela imediatamente captura o que ele quer dizer.
— Pelo amor de Deus, Bucky. Não comece. É um padre.
— Para mim, ele tem uma energia de quem seria um passivo.
— Bucky!
Ela exclama um pouco alto demais, e quando até mesmo Luis, diretamente do púlpito, inclina a cabeça para entender de onde veio o grito, a ruiva se vê obrigada a levantar do banco e caminhar para fora da igreja. James permanece quieto, sabendo que Steve, Carol e Pepper estão o encarando agora mesmo em busca de respostas, mas não se impede de abrir um sorriso vitorioso quando ouve uma gargalhada do lado de fora do recinto.
Sabe que é apenas a sua amiga rindo alto do que ele mesmo acabou de dizer, em um de seus infames acessos de humor ácido. Acontece em alguns momentos; quando sua amiga o faz se sentir à vontade até demais com uma situação, ele acaba permitindo que seu senso de humor tome conta de suas palavras e o faça dizer coisas que, em outros momentos, nunca diria. Seu pensamento falado sobre o padre Banner não escapou dos limites formais da situação.
Porém, não há um pingo de arrependimento. Ele quebrou o clima de tensão. Podia ser ele mesmo a partir de agora até o final do dia.
Quando Natasha retorna ao seu assento, ela o lança um olhar metaforicamente mortífero. Ao menos, é isso o que ele pensa ser: uma mera metáfora.
Provavelmente ela o mataria agora mesmo se tivesse a chance.
— Os padrinhos terão sua chance de falar agora — diz Bruce, dando dois passos para trás e oferecendo espaço para que Sharon e Sam tomem a vez da fala.
O Barnes sente suas bases tremerem quando Sam toma o microfone e força um pigarro.
— Apesar do que muitos pensam, mesmo trabalhando com televisão, eu continuo sendo tímido — Scott ri alto do que seu padrinho diz, arrancando um resmungo baixo de Hope ao seu ouvido. — Mas, como padrinho de vocês, eu sinto que desejar toda a felicidade do mundo não é o suficiente. Porque vocês são maiores do que ela. São maiores que qualquer outra coisa. Foram feitos um para o outro. Conseguimos sentir o amor de vocês a uma longa distância, e até hoje, eu não sei se isso pode ser considerado um elogio ou uma reclamação.
Todos os convidados acabam rindo do último comentário. Bucky se xinga mentalmente por ter feito o mesmo, por motivos que nem ele mesmo consegue compreender, visto que supostamente ele possui sentimentos por aquele homem.
Sentimentos que devem ir embora junto com a partida do Wilson.
— Não quero me prolongar muito, até porque também não preciso fazer isso quando vocês mesmos estão prestes a entregar os votos de casamento mais longos que eu irei ouvir na minha vida, mas... — é a vez de Hope rir das palavras de Sam. — O que eu quero dizer é que isso aqui é uma mera formalidade perto do tanto de provas de amor que vocês dão um ao outro todos os dias e que nós, seus amigos próximos, temos o privilégio de acompanhar de pertinho. Quero estar perto de vocês quando quiserem me contar qualquer coisa que fizerem, quando tiverem sua própria casa, seus próprios filhos, seus próprios negócios, seus pequenos momentos de alegria. Amigo é para essas coisas, e um amor é para a vida toda. Se juntar as duas coisas... dá muito certo.
O Barnes acaba abrindo um sorriso tímido no rosto ao ouvir aquelas palavras serem sucedidas por uma chuva de aplausos dos convidados. Ele também bate palmas, é claro; não gostaria de ficar para trás nas felicitações.
O problema é quando ele mal percebe quando Sharon Carter dá seu próprio discurso, quando o padre prossegue com as formalidades e quando os noivos trocam seus votos de fidelidade. Esteve focado demais em elogiar mentalmente a polidez e o carinho de Sam Wilson ao falar de seu casal de amigos para prestar atenção em qualquer outra coisa.
Seu sorriso se mantém no rosto durante o resto da cerimônia. Isso porque Carol, Natasha e Pepper acabam não controlando as lágrimas no momento do "sim, eu aceito", porque Tony não para de rir de braços cruzados das caretas de choro de Sharon e de Luis, e porque Steve é o único a se manter mais ou menos de emoções controladas durante tal parte do casamento.
Quando Cassie Lang passa pelos portões da igreja e dá seus passos graciosos, exatamente como uma criança da sua idade, rumo à entrega das alianças ao novo casal, Pepper Potts se derrete em lágrimas. Sobra para Tony consolá-la por esse breve momento. Natasha só consegue olhar para a expressão visivelmente chorosa de Hope ao ver sua nova enteada entrar como parte permanente de sua vida. Luis troca uma continência silenciosa com Scott, a fim de fazer com que seu amigo não chore junto logo nessa parte. Até mesmo alguns "awn"'s são ouvidos pela igreja.
Bucky é um dos primeiros a se levantar quando os noivos se beijam, como casados, pela primeira vez, e aplaude com força, surpreendendo até mesmo a Romanoff ao seu lado. Steve solta alguns assobios pela boca, sendo controlado por Carol logo em seguida. Tony apenas aplaude, com um olho no novo casal e outro na própria esposa, que está prestes a abrir o berreiro. Scott e Hope encostam suas testas uma na outra, ignorando todos os sons ao redor. E Sam Wilson, ao lado de Sharon, tem a visão perfeita de todos os aplausos referentes ao matrimônio — incluindo o que veio de Bucky Barnes.
A Sky Full of Stars, da banda Coldplay, toca nas caixas de som do salão de festas alugado especialmente para a festa pós-casamento de Scott e Hope. Steve e Carol se levantaram da mesa assim que ouviram os primeiros toques da música, prontos para dançar ao som dela; Tony e Pepper sumiram de vista poucos minutos após chegarem à recepção, e não seria a música que os traria de volta. Apenas Bucky e Natasha sobraram, sentados à mesa, bebendo vinho e comendo alguns dos quitutes oferecidos pelos garçons.
— Eles são emocionados demais — a ruiva resmunga, entre um gole de vinho tinto e outro. — Dançam com qualquer música. Você vai ver, eles vão voltar para a mesa e ficar aqui por 30 segundos até reconhecerem a próxima canção.
— Não sei como você mesma já não foi para a pista com eles.
— Não estou bêbada o suficiente para chegar nesse nível — dá de ombros enquanto fala. — Esse vinho aqui não vai me ajudar. Preciso de algo mais forte.
— Tudo o que você não precisa é de uma bebida mais forte, Nat — o Buchanan a encara como se ela tivesse dito algo absurdo. — É o casamento de uma de suas melhores amigas. Não faça essa desfeita.
— Ah, ela já veio falar com a gente, e o Scott também. Deve estar preocupadíssima com o resto da família agora mesmo. Aposta quanto?
Nada. Bucky sabe que ela quase sempre está certa, e prefere nem mesmo arriscar dinheiro nessas horas. Sua resposta se torna o silêncio, que faz Natasha sorrir, sentindo-se vitoriosa.
— Pode ir buscar um uísque para mim, Bucky?
— Não, Nat, você não precisa...
— Por favor...
— Eu não vou lá no bar só para satisfazer a sua...
Ele inclina sua cabeça para olhar na direção do balcão do bar, do outro lado de onde a mesa onde eles estão se encontra, e engasga nas próprias palavras. Samuel Wilson ri com alguma coisa dita pelo barman, enquanto segura um copo de um líquido transparente — que o próprio Barnes julga ser vodca. Meu Deus, vodca a essa hora?, reflete — e olha para o próprio relógio logo em seguida. Natasha olha na mesma direção de seu melhor amigo e capta a mesma cena, rindo baixinho com a situação.
— Tem certeza de que você não quer ir pegar uma bebida para mim, James Buchanan Barnes?
Bucky sente sua mandíbula tremer. Se não for agora, então nunca será, o mantra se repete em sua cabeça, mas ele não consegue se mover. Simplesmente não consegue. Quando menos se dá conta, a Romanoff se encontra de pé, ao seu lado, puxando-o para cima, tentando tirá-lo da inércia.
— Nat?
— Você vem comigo, seu frouxo — revira os olhos enquanto arruma o amassado nos ombros dele. — Eu mesma vou fazer isso acontecer.
O paletó preto com o qual Bucky havia ido para a igreja estava estendido na cadeira; ele só estava com a camiseta branca de botões transparentes e mangas longas para cobrir seu torso, enquanto as calças e os sapatos sociais, ambos em cores pretas, fechavam o resto do look. O vestido em tons escuros de roxo usado por Natasha, que nem mesmo tinha alças e só se sustentava ao corpo dela pelo quadril enquanto o pano ia até o chão, continuava reluzente se comparado ao estado cansado do Buchanan.
— Nat, não...
— Você não vai ficar só observando esse homem ir embora dessa cidade e das nossas vidas, Bucky — ela faz questão de olhá-lo diretamente nos olhos, segurando-o gentilmente pelos antebraços. — Você vai tentar alguma coisa.
Não há tempo de respirar fundo. Natasha logo o puxa para perto e mais perto do balcão de bebidas do salão. Ele nem consegue olhar para os outros convidados ao seu redor, de tão nervoso que se encontra. O caminhar de sua amiga é determinado, diferente dos passos arredios, quase arrependidos, que ele mesmo dá rumo ao bar. Quando se dá conta, os dois já estão perto demais para dar meia volta e fingir que não estavam indo para lá.
— Uma dose de uísque e um copo de cerveja puro malte, por favor... — as palavras da ruiva são direcionadas ao barman, um homem mais jovem do que os próprios convidados e com o sobrenome Parker no crachá em seu peito. — Parker.
— É para já, madame — o jovem atendente sorri, virando-se de costas para buscar os pedidos.
— Romanoff — a voz de Samuel Wilson diminui de tom em relação ao nível da conversa anterior dele com o Parker, e seus lábios abrem um sorriso cordial. — Mal nos falamos hoje, não é mesmo?
— Como se você não estivesse feliz em não ter que olhar para a minha cara por mais de duas horas, não é?
— Sempre é uma satisfação enorme encontrá-la.
— Sua ironia é uma doçura, Wilson, mas não posso reclamar dela.
— Por que não?
— Bucky faz caretas piores quando eu chego na casa dele sem avisar — repentinamente, ela abre espaço para enfiar o corpo metaforicamente paralisado de seu amigo no meio da conversa.
— Bucky?
— Bucky Barnes. Meu amigo de anos. Já deve ter ouvido falar dele.
James sente o chão se abrir debaixo de seus pés quando seus olhos encontram os de Sam. As mãos de Natasha, antes em seus ombros, agora já não mais o aquecem. As ações se desenrolam em frações de segundos: o barman de sobrenome Parker entrega o uísque nas mãos de Nat e ela some sem nem mesmo se despedir. Antes que o Wilson possa abrir a boca para iniciar uma conversa, Bucky toma o copo de cerveja que sua amiga pediu e o bebe inteiro em uma única virada.
— Dia difícil? — Sam ri.
— Tenho ansiedade social — o Buchanan responde sem pensar, pondo o copo de volta no balcão e encarando a madeira do mesmo, totalmente incapaz de olhar de volta para o dono de seus pensamentos mais recentes.
Não demora muito para que ele se xingue mentalmente por atirar a primeira informação que veio à cabeça para responder o padrinho do casamento — e por ter sido logo essa a informação que ele achou que seria interessante de pronunciar em voz alta. Logo seu maior problema?
— Deixe-me adivinhar: essa festa está sendo como um inferno na sua cabeça.
Bucky ergue o olhar. Primeiro, para as vidraças de bebidas à sua frente; depois, para as mãos de Sam, que repousam sobre o balcão; em seguida, sobe os olhos para os braços, o pescoço e o queixo de seu interlocutor. Ele só consegue encarar o rosto de Sam por último.
— Meio que é isso mesmo — lança um sorriso torto para ele ao falar. — Muita gente com quem falar.
— E ter uma amiga como Natasha Romanoff não ajuda de maneira alguma, não é?
— Ela é muito mais social do que eu. Praticamente desapareço na sombra dela em situações assim.
— Vem comigo.
Nervoso, mas já com a plena consciência dos movimentos corporais, Bucky se afasta do balcão e segue os passos de Samuel para longe da aglomeração interna. Os dois só param quando se sentam em um dos degraus das escadas que levam à porta de entrada do salão de festas. O Wilson retira um cigarro do bolso interno de seu paletó, acendendo-o com o isqueiro guardado no bolso direito de suas calças.
— Fuma?
— Ah, não, não — Bucky chacoalha as mãos, recusando a oferta.
Por um momento, ele se permite fechar os olhos e respirar. Apenas isso. Inspirar fundo e soltar lentamente o ar preso em seus pulmões. Parece um ato nada notório, mas que acaba fazendo a diferença nas emoções presas dentro de si.
— Eu também tenho pavor de estar perto de muitas pessoas.
A voz que diz tal frase não é a de James. Ele abre os olhos apenas para encontrar Sam olhando para os seus pés, subindo a encarada para o queixo do Barnes logo depois.
— Precisei dar um jeito nisso quando comecei a trabalhar com televisão. As pessoas não gostam de gente tímida, e me forcei a dar a elas tudo o que elas queriam que eu fosse. Um cara com carisma, sempre de bom humor e disposto a tentar qualquer conversa. Mas, às vezes, eu só queria... você sabe.
— Sumir das vistas de todo mundo e recusar todas as ligações possíveis?
— Certeiro.
— Eu não sabia que você era assim, Wilson.
— Por favor, me chame só de Sam — os dois abrem tímidos sorrisos. Bucky olha para a lua cheia, a fim de disfarçar a vermelhidão nas bochechas. — Natasha só me chama de "Wilson" porque é engraçado para ela. E você ficaria surpreendido com o quanto as pessoas podem se esconder da sociedade.
— Acho que não.
— Não o quê?
— Não ficaria surpreso. Eu faço isso na maior parte do tempo.
— Não pareceu isso quando virou aquele copo de cerveja.
— Eu estava nervoso... estou nervoso — se corrige a tempo. — É muito difícil para mim... poder sair e conversar normalmente com as pessoas, como se eu soubesse o que fazer em qualquer situação. Eu nunca sei.
— Ninguém sabe... Bucky. Posso te chamar assim também, não é?
— Claro — James dá de ombros, mas querendo mesmo sorrir mais ainda com a voz contagiante de Sam Wilson o chamando de "Bucky".
— A melhor forma de você se soltar em interações sociais é mergulhando de cabeça nelas. Você não nasce sabendo e nem precisa ser um autodidata. Os olhares das pessoas, as palavras, o modo de agir delas... a comunicação por si só te ensina a lidar com isso. Claro, existem casos mais delicados onde você precisa de uma terapia para encorajar a si mesmo e...
— Eu faço terapia.
— Com que frequência?
— Uma vez por semana.
— Eu também.
— Sério?
— Sério — Sam dá mais um trago em seu cigarro, soltando o ar cheio de nicotina para o lado oposto ao de Bucky. — Meu terapeuta diz que eu estou indo bem.
— Eu não evoluí muito.
— Há quanto tempo você faz?
— Três anos.
— É um tempo considerável, Bucky.
— É.
— Teve algum relacionamento nesse tempo?
— Não consigo.
— O quê?
— Entrar em relacionamentos — Bucky engole em seco antes de voltar a falar, sabendo que, agora que já entrou em seu próprio território perigoso, não conseguirá sair tão cedo. — As pessoas não querem uma pessoa que sofre de ansiedade para, no mínimo, metade das coisas na vida.
— Elas querem algo fácil.
— Acho que todo mundo quer.
— Eu não acredito nisso.
— No quê?
— Que todo mundo quer algo fácil.
— E o que você procura em alguém?
— Acha que eu sou solteiro?
Merda, Bucky, xinga-se mais uma vez em pensamento. Deveria ter previsto isso.
Sam percebe a rápida mudança de expressão no rosto do Barnes e começa a rir, dando um tapinha no ombro direito dele.
— Estou brincando. Não estou namorando mesmo — a respiração que James nem mesmo havia notado que estava dentro de si se liberta em seguida. — Bom, eu procuro alguém que me queira. Do jeito que eu realmente sou. E eu procuro fazer o mesmo com a pessoa. Aceitá-la do jeito que ela é, e ajudá-la a seguir a vida com isso. Um relacionamento é feito por meio disso, de duas pessoas compartilhando seus dilemas e usando o amor para ajudá-las a seguir a vida.
— Ótima escolha de palavras.
— Obrigado, Bucky.
As caixas de som de dentro do salão começam a tocar Cowboy Like Me, de Taylor Swift. As sobrancelhas do Buchanan se erguem um segundo depois — é uma de suas músicas favoritas, e sua expressão se irradia facilmente quando a ouve. O pequeno ato não passa despercebido pelo Wilson, que joga o cigarro para longe e fica de pé. Em um olhar de relance para seu lado direito, Bucky encontra a mão direita de Sam estendida para si.
— Gostaria de dançar, Bucky?
Ele sorri.
— Dançar é um jogo perigoso, Sam — responde, referenciando um dos versos da música.
— Conversar com pessoas também, mas ainda estamos aqui.
Vencido pelo seu desejo interno e pela curiosidade de saber como Sam Wilson pode ser bom em mais alguma coisa, James se ergue do degrau onde estava sentado e aceita o gesto do homem. Eles sobem para a parte plana das escadas, e o braço esquerdo de Sam toma conta da região inferior das costas de Bucky, enquanto sua mão direita eleva o braço de seu novo parceiro de dança para o lado. Eles dão passos comedidos, a fim de não pisarem no pé um do outro; um passo para a direita, um para a frente, um para a esquerda, um para trás. Círculos de dança feitos sob pressão para impressionarem.
— Por que me convidou para dançar, Sam?
— Seu rosto mudou quando a música começou a tocar. Imaginei que gostasse dela. Acertei, Bucky?
— Sim.
— E é bem melhor dançar aqui fora.
— Ninguém para interromper.
— Ninguém para achar graça.
— É realmente uma pena que você esteja deixando New York por Los Angeles.
— Então você já soube.
— Os rumores voam por aí — Bucky se sente convencido o suficiente para rir na cara do Wilson, que ri de volta em concordância.
— Eu ainda vou ficar mais um tempo.
— Quanto tempo?
— Tempo o suficiente para terminar esta dança e, quem sabe... marcar uma outra data para dançar outra vez.
— Está me chamando para sair, Sam Wilson?
Eles param de se mover. A testa de Samuel toca a de James com delicadeza.
— Eu seria burro demais se não fizesse isso, Bucky...
— Barnes.
— Bucky Barnes — o coração de James palpita mais forte ao ouvir seu nome saindo dos lábios de Sam. — Aceita sair comigo antes que eu vá embora?
— Eu seria burro demais se não aceitasse isso, Sam.
Não há mais tempo para respirar, mas Bucky não se importa. Ele apenas deixa seu corpo inteiro se arrepiar quando a boca de Samuel Wilson se choca contra a sua. O beijo é facilmente retribuído, claro — como ele poderia recusar os avanços de um homem que o tratou bem desde a primeira palavra trocada? Não poderia. O que ele pode, neste momento, é agradecer aos céus por ter tomado apenas um copo de álcool, porque a vontade de lembrar de todos os acontecimentos dessa noite o invade com força, conforme ele sente as mãos de Sam se concentrarem em sua cintura e seus próprios dedos alcançarem as costas do Wilson.
Com a quebra do beijo para poderem respirar, os dois terminam a dança abraçados. As mãos de Sam passam por cima dos ombros de Bucky, que apenas o agarra pela cintura. Um passo para frente, um para a direita, outro para trás, um último para a esquerda. Dançar parecia ser um jogo perigoso há menos de cinco minutos — agora, parece ser o ato mais natural do mundo para dois homens que encontraram conforto em si mesmos.
Peço perdão por todos os possíveis traumas que causei com esta LOUCURA de história. (E que a inspiração por trás dessa ideia nunca descubra essa palhaçada.)
- HEITOR LOBO.
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