Becky ajeitava o cabelo enquanto lançava olhares rápidos para a porta da sala de aula. O plano precisava funcionar. Ela virou-se para Anya, que estava distraída rabiscando algo no caderno.

"Ei! Você já viu aquele novo mural no pátio? Ouvi dizer que o professor Henderson colocou desenhos novos!" Becky disse, puxando Anya para outro corredor.

"Mural? Mas... o pátio tá do outro lado da...."

"Exatamente! Caminhada é bom pra circulação. Além disso, preciso te contar umas fofocas!" Becky soltou uma risada exagerada, tentando esconder o nervosismo.

Anya hesitou. "Mas eu ia falar com o Arnold..."

"Vem logo!" Becky puxou com mais firmeza, sem dar chance para que Anya resistisse.

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Enquanto isso, no outro lado do corredor, Damian assistia de longe, tentando parecer casual enquanto Emile e Ewen discutiam sobre o próximo jogo de futebol.

Emile notou o silêncio de Damian e deu um empurrãozinho em seu ombro. "Ei, tá com cara de quem viu um fantasma! Algum problema, chefe?"

"Não é nada," Damian respondeu, seco, tentando disfarçar enquanto seus olhos seguiam Becky e Anya desaparecendo no fim do corredor.

Ewen riu. "Ah, eu sei o que é! Aposto que tá pensando na rosa laranja. Quem será que colocou aquilo no armário da feiosa da Anya, hein?"

Damian fechou os punhos, sentindo o rubor subir. "Cala a boca, Ewen!"

"Viu? Ele tá todo nervoso!" Emile provocou, rindo ainda mais.

"Eu disse que não é nada!" Damian cortou, virando-se de costas para os dois. "Tenho coisas mais importantes pra fazer."

Ewen franziu a testa. "Outra coisa?

Eu tenho dever de casa acumulado, tá bom? E, sinceramente, não quero que meu pai me encha por causa das notas outra vez," Damian respondeu, tentando soar convincente.

Os dois amigos trocaram olhares, claramente duvidando, mas deram de ombros. "Tudo bem, então...

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"Becky, sério, onde a gente tá indo?" Anya perguntou pela terceira vez, agora mais impaciente.

"Você vai ver, já tá chegando," Becky respondeu, sem diminuir o passo. Ela lançou um rápido olhar para trás, certificando-se de que estavam sozinhas.

"Mas o que é tão importante assim?" Anya insistiu, franzindo o cenho.

"É aqui, Anya!" Becky anunciou, empurrando a porta de uma sala vazia.

Anya olhou ao redor, confusa. "Mas.."

"Já que estamos aqui, por que não aproveita pra descansar um pouco? Já volto!"

Antes que Anya pudesse perguntar mais alguma coisa, Becky saiu, fechando a porta atrás de si. Lá dentro, o ambiente era silencioso, e Anya franziu a testa, tentando entender o que estava acontecendo. Foi então que ouviu passos no corredor.

Damian apareceu na porta, um pouco ofegante, mas com um ar determinado. "Anya...", começou ele, hesitante, enquanto fechava a porta atrás de si.

Ela inclinou a cabeça, confusa. "Damian? O que você está fazendo aqui? Foi você quem armou isso com a Becky?"

Ele passou a mão pelos cabelos, claramente desconfortável. "Sim. Quer dizer, mais ou menos. Eu só... Eu precisava falar com você. A sós."

Anya cruzou os braços, esperando. "Então fala."

Ele respirou fundo, sentindo o coração acelerar. Abriu a boca, mas as palavras simplesmente não saíam como havia planejado.

"Eu... Eu queria pedir desculpas," começou ele, desviando o olhar para o chão.

"Desculpas?" Anya repetiu, inclinando a cabeça.

"Sim. Por... Por ser grosso hoje de manhã. Você perguntou sobre a rosa e... e eu fui rude," Damian disse rapidamente, como se quisesse acabar logo com aquilo.

Anya piscou, parecendo surpresa. "Oh. Tá tudo bem. Eu só achei estranho mesmo. Você ficou todo vermelho e saiu andando."

"Eu não fiquei vermelho!" Damian rebateu automaticamente, antes de perceber que estava se exaltando. Ele suspirou, tentando se recompor. "Enfim... Eu fui um idiota."

Anya abriu um pequeno sorriso. "Bom, você tá pedindo desculpas, então acho que isso significa que você não é tão idiota assim."

Damian sentiu o rosto esquentar."Também queria dizer outra coisa," ele disse, cruzando os braços em uma tentativa de parecer mais confiante.

"Outra coisa?" Anya repetiu, curiosa.

"Sim. Eu..." Damian engoliu em seco. As palavras estavam na ponta da língua.  Eu gosto de você, Anya. Muito. Mas a coragem parecia escapar a cada segundo. Ele respirou fundo novamente, tentando afastar o nó na garganta.

"Eu acho que... nós... deveríamos tentar ser..."

"Ser o quê?"

Damian olhou para ela, o coração martelando tão alto que parecia ecoar na sala. Ser mais do que amigos. Ser algo especial.

"Amigos," ele soltou de uma vez, a palavra escapando como uma rendição.

Anya piscou novamente, surpresa, antes de abrir um sorriso radiante. "Amigos? Sério?  ... Era só ter falado. Não precisava de tudo isso."

Damian assentiu, desviando o olhar. "É. Amigos. Nada demais."

"Eu adoraria ser sua amiga, Damian!" Anya disse, animada, estendendo a mão para ele como se fosse selar um acordo.

Damian olhou para a mão dela, hesitou por um momento e, com um suspiro, apertou-a rapidamente antes de soltar. "Tá. Amigos, então."

"Bom, acho que já vou indo"Anya disse, sorrindo enquanto caminhava em direção à porta. "Tchau, amigo!"

Damian apenas acenou, sem conseguir responder. Assim que a porta se fechou, ele deixou escapar um longo suspiro, encostando-se na parede.

"Idiota," murmurou para si mesmo, passando as mãos pelo rosto.

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Becky saiu da sala com um passo apressado, tentando encontrar um momento para observar Damian antes que ele fosse embora. Ao vê-lo na porta da escola, seu coração apertou. Ele estava parado, os ombros caídos, com a cabeça baixa, como se o peso do mundo estivesse sobre ele. Nada da confiança de antes, nada do semblante arrogante. Damian parecia mais leve, mas uma leveza triste, derrotada.

Ela se aproximou cautelosamente. "Damian," chamou ela, e ele levantou o olhar. Algo na expressão dele fez Becky parar por um instante. Não era raiva, não era alívio. Era... desistência.

“Você conseguiu?” Becky perguntou, mesmo sabendo a resposta.
Ele se afastou um pouco da porta. “Sim. Viramos amigos.”

Becky deu um passo à frente, a mão balançando levemente ao lado do corpo, sentindo o desconforto de ver a derrota estampada no rosto dele. "Você não vai tentar algo mais? Não vai dizer o que sente? Dizer a ela o que você estava esperando para falar?"

Damian deu um suspiro profundo, quase como se fosse a última coisa que ele conseguisse fazer antes de explodir. “Eu tentei, Becky. Eu realmente tentei... mas eu não sou o tipo de cara que pode ter o que quer. Eu... Eu não sou assim, entende?” Ele parou, tentando se convencer, ou talvez se desculpar, enquanto evitava o olhar dela.

Becky franziu a testa, um pouco irritada. "Era só ter se declarado. Era só ter falado! Você não precisava disso tudo. Não precisava de todo esse medo.”

“Eu sei...” Ele murmurou, agora parecendo ainda mais perdido. “Mas... não sou livre para fazer isso, Becky. Não sou como os outros. Meu pai... minha família... Eles esperam mais de mim. Esperam que eu seja o que todos esperam, não o que eu realmente sou.”

Becky sentiu um calafrio. Ele não estava falando só sobre o medo da rejeição, estava falando da pressão. E isso era muito mais pesado. Ele estava se rendendo a algo que nem ele mesmo queria.

“Você está... renunciando a isso. A ela, a si mesmo...” Becky falou, mais para si mesma do que para ele.

Damian levantou a cabeça, um pouco mais sério agora. “Não é só sobre ela. Eu não posso fazer isso. Eu não posso me arriscar. E, se fosse para isso, nem ela merecia alguém como... eu.”