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Capítulo 4

Klodian e Arjan levaram o homem sem memória até o acampamento e o acomodaram em uma tenda, retirando sua armadura e suas botas. O médico foi chamado e após examiná-lo, disse que ele foi envenenado por uma planta que em pequena quantidade podia ser alucinógena e em grande quantidade podia levar a perda da memória e até a morte. O médico deu uma dose de antídoto para seu paciente, dizendo que ele ficaria bem.
— Isso fará com que ele se lembre de alguma coisa? — Morrigan perguntou ao médico.
— Infelizmente, não, mas evitará uma morte agonizante. — Respondeu o médico.
— Arjan, chame o meu pai e fale sobre o homem que achamos. Ele precisa saber disso. — Morrigan disse e saiu da tenda, sendo seguida por Brynan.
— Sim, princesa. — Arjan foi imediatamente atrás do rei.
— Malditos anões! Como conseguiram envenenar um dos nossos? Em qual momento? — Morrigan disse com raiva.
— Eu não acho que isso seja obra dos anões, princesa...
Morrigan se virou e encarou Brynan, esperando que ele dissesse o que pensava.
— Os Ljósalfar... Pode ter sido obra deles. Eles nos odeiam mais que os anões.
— De qualquer forma, está estranho. O que um dos nossos fazia bebendo com o inimigo?
— Talvez, esse ataque tenha vindo daqui. Teria de perguntar aos outros soldados se alguém conhece o albino... Quem sabe, ele não irritou alguém? Não seria a primeira vez que um homem mata outro por causa de dinheiro ou de uma mulher. Vossa alteza tem certeza de que não o conhecia?
— Os meus soldados não seriam estúpidos o bastante para matarem uns aos outros por mim quando sabem bem que eu não toleraria esse tipo de comportamento.
— Um homem apaixonado não costuma pensar direito...
— Ele tem uma aparência difícil demais de se esquecer, se eu tivesse ficado com ele, com certeza, me lembraria.
— Talvez os outros temessem que ele se tornasse o novo preferido por causa de sua aparência...
— Está tentando me deixar maluca, Brynan?
— Oh, você se lembra do meu nome! — Ele parecia surpreso.
— É claro que sim. Não esqueço um rosto bonito.
Brynan deixou escapar um sorriso malicioso.
— Mas não se anime muito, soldado. — Morrigan sorriu e deu dois tapinhas no ombro dele. — Entre te achar fofinho e ir para a sua tenda há uma grande diferença.
— Fofinho? Me acha... Fofinho? Puxa! Você sabe elogiar um soldado. — Ele sorriu sem graça e virou o rosto, abaixando a cabeça.
— Me desculpe? Eu estou nervosa. Só quero as cabeças dos meus inimigos.
— Vossa alteza os terá. Eu garanto. Todos daremos o nosso melhor para vencermos essa batalha.
— Quando não tiver ninguém por perto pode me chamar só de Morrigan, já que seremos amigos.
— Como quiser.
Morrigan sorriu com ar travesso.
— Só por curiosidade, qual é a sua tenda? Caso eu precise de alguma coisa.
— É a última. — Ele apontou a direção, se contendo para não sorrir.
— Hmmm.... Você é casado ou tem algum compromisso?
— Não. Nenhum.
— Não está mentindo? Se estiver, eu descobrirei.
— Não. Eu nunca quis me prender a ninguém.
— Nem eu, mas, infelizmente, um dia, terei de me casar. Tudo seria mais fácil se eu fosse um homem.
Brynan riu.
— Quem disse que a vida é fácil para os homens? Lutar em guerras, ser chefe de família...
— Ser chefe de família te assusta? — Morrigan riu e balançou a cabeça.
— Mais do que qualquer guerra.
— A mim também assusta começar uma família.
Os dois notaram que o rei se aproximava e se afastaram rapidamente. Brynan se curvou diante do rei que fez um sinal para que ele se endireitasse. Brynan obedeceu.
— Por que me desobedeceu, Morrigan? — O rei perguntou, chateado. Ele sentia muito orgulho de sua filha, mas como todo pai, se aborrecia quando ela não o obedecia.
— Me perdoe, pai. Pode me castigar se quiser, mas eu precisava libertar as almas daqueles pobres soldados.
— Se me desobedecer outra vez, a mando para a casa.
— Sim, pai. — Morrigan abaixou a cabeça, envergonhada.
O rei alternou o olhar entre Morrigan e Brynan, desconfiado, mas não disse nada, entrando na tenda para ver o albino.
Morrigan soltou um suspiro.
— O meu pai também era bravo.
— Acho que todos os pais são. Nos vemos. — Morrigan foi para a sua tenda e se trocou, indo se deitar, pois estava cansada e com frio. Mais tarde, ela foi acordada por uma criada que trouxe o seu jantar.
Após comer, ela foi até a tenda do elfo albino e o encontrou sentado na cama, encarando um pingente em forma de um triângulo invertido que trazia em um cordão de prata no pescoço. Ele parecia aborrecido.
— Com licença...
O homem olhou para ela e se levantou rapidamente, se curvando.
— Alteza...
— Por favor, volte para a cama. Não acho que esteja em condições de ficar em pé. O veneno que te deram é muito forte. Você deve descansar. Deve estar confuso.
O elfo assentiu e voltou para a cama.
Aquela era a tenda de um soldado que morrera em combate. Yule. Morrigan se lembrava do sorriso doce e do jeito ingênuo dele. Ela quase se apaixonara por ele, se não o fizera foi só porque ele encontrou uma boa moça e se casou com ela, tendo um filho. Agora, Morrigan sentia pena da pobre mulher que receberia a triste notícia de que seu marido falecera. Era por isso que ela não queria se casar e ter filhos, porque tinha medo de os deixar órfãos.
Morrigan puxou uma cadeira e se sentou, próximo a cama.
— Te deram um nome pelo menos?
— Sim, Eldar.
— Eldar... Combina com você. Realmente não se lembra de nada?
— Um rosto feminino... Uma mulher com o cabelo igual ao meu. Está chorando, mas eu não sei porquê e me angústia não saber. Talvez, seja minha irmã.
— Um amigo vai perguntar aos outros soldados se eles se lembram de você. Recrutamos alguns cidadãos comuns para a batalha, então, talvez, você seja algum nobre. Quero dizer, você não se parece com um camponês. Na verdade, nem com um elfo sombrio.
— Eu sinto que faz algo muito ruim. Talvez eu seja perigoso.
— Não se atormente assim. Todos nós fizemos coisas horríveis nessa guerra, mas isso não nos torna maus, apenas guerreiros que fazem o que tem de fazer e ponto. Se você tem uma família, prometo que vou encontrá-la e devolvê-lo a ela.
— Muito obrigado. É horrível não se lembrar de nada.
Morrigan sorriu para transmitir um pouco de calma e segurança a ele.

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