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CAPÍTULO QUARENTA E QUATRO:
꧁ Coisa de amador ꧂
Dakaria Saint Thomas
Meu sono não vinha de jeito nenhum por mais que eu tentasse. Simplesmente desisti de ficar me remexendo na cama e fiquei imóvel, o que não favoreceu em nada além de me irritar. Cerrei os punhos enfiando as unhas em minhas palmas e respirei fundo.
O problema é que eu notei que não dormiria, principalmente depois de ouvir Pamela se levantando da sua cama em um pulo e uma agitação romper o silêncio mortal do quarto. Rolei na cama e me virei lentamente para ela sem poder enxergá-la no escuro porque está muito tarde. Fiquei confusa ao ouvir o som de zíperes se abrindo — ou fechando. Pensei que ela só iria ao banheiro.
— Lummos.— ela murmurou e antes que a luz viesse, eu fechei os olhos por instinto apurando os ouvidos.
Pamela ficou revirando alguma coisa, talvez uma mochila, mas não demorou nada em sair do quarto abrindo e fechando a porta com muito cuidado. Sentei-me na cama no escuro, franzindo a testa de confusão.
O que é que ela está fazendo?
Talvez não seja da minha conta, mas como eu sinto que é, eu acabo a seguindo depois de pegar minha varinha e prendê-la num coque no meu cabelo.
Com muito cuidado, segui minha irmã de uma distância segura para fora da comunal e ao longo dos escuros corredores do castelo. Dado certo ponto, eu me transformei para voar acima de sua cabeça para que ela não me visse independentemente se olhasse para trás subitamente nem ouvisse meus passos. Fiquei curiosa quando ela se dirigiu para o terceiro piso e parou de frente para a bruxa corcunda de um olho só, Grunhilda. Como está escuro e certamente Pamela não tem olhos de um predador noturno, pousei entre as pernas de uma armadura de soldado logo ao seu lado e me encolhi enquanto esperávamos.
No meio de todo esse silêncio sepulcral, não foi difícil distinguir passos se aproximando. Sem saber se era quem ela esperada, Pamela correu para trás de uma lacuna para se esconder, mas logo eu vi os pés se aproximando. Quatro pares deles. George e Lino iam na frente, sendo seguidos por Fred e Nik. Nikolas está participando? Isso que é intrigante.
— Pamela, pode sair.— George falou calmamente. Pamela deixou seu esconderijo e por mais que eu estivesse bem escondida, se eles olhassem para baixo não ia ter onde me enfiar. Eles estão bem na minha frente.
— Para quem vai sair escondido vocês são bem barulhentos, não?!— a garota censurou se aproximando deles em passos silenciosos. Sair? Para onde vão?
— Culpe seu melhor amigo e os pés de pato dele!— Fred deu um tapa na nuca de Nik que se encolheu.
— Desculpa, eu já falei.— o Black resmunga, ranzinza.
— Tá, que seja, vamos logo, não temos todo o tempo do mundo.— Pamela balançou a cabeça, todos eles ficavam com os olhos cerrados graças à pouca iluminação, não devem estar distinguindo mais do que algumas formas.
— Certeza de que não foi seguida?— Lino pergunta.
— Shh!— George sacode a mão, parece mais estressado do que todos, ele vai para perto da bruxa corcunda e Fred entra na minha frente me impedindo de ver que diabos eles estão fazendo com a estátua. Quando ela começou a se mover foi em minha direção, eu tive certeza que uma passagem estava sendo aberta— Vamos, vamos.— ele empurrou Fred para que ele fosse primeiro, Lino pegou a mão de Pamela e a puxou logo atrás de si, ela fez o mesmo com Nikolas e logo mais os quatro sumiram de minha vista atrás daquela velha. George ficou para trás por um momento, ele olhou para os lados demoradamente e com os olhos atentos, aí ele baixou o olhar e me encarou. Ele sabia que eu estava lá, desgraçado! Como ele sabia? Antes que eu tivesse qualquer reação, George pisca para mim e entra na passagem, fechando-a atrás de si. Alcei voo para tentar segui-los, no entanto, a passagem já era. Voltei para minha forma humana e bufei, encarando a estátua com as mãos na cintura e batendo o pé. O que eles vão fazer? Não tem como adivinhar para onde essa passagem os levará. Tentei puxá-la e empurrá-la, mas foram várias tentativas vãs e fracassadas.
— Ok...— voltei a bater o pé tentando pensar em qualquer coisa com clareza. Eles estão saindo do castelo, mas não acho que compensa sair voando ao redor do castelo essa hora, não estou afim de pegar um resfriado.
Eu devia tê-los parado? Eu sabia que eles não tinham desencanado daquele... desentendimento de alguns dias atrás, mas eu estou bem, juro! Não tem que tramar nada, eles não precisam se vingar. Mas se eu sei o que eles iam fazer, por que não tentei impedi-los antes? Eu poderia ter feito algo, lhes dado uma bronca, tê-los desarmado e os mandado de volta para a cama, sei lá. Eu não insisti porque sei que eles são teimosos e dariam um jeito comigo atrapalhando ou não. É, eu queria me convencer disso, mas simplesmente não consigo.
Eles estão indo atrás de Marla Caroline, disso eu tenho certeza, eu deveria pará-los, não quero que se metam em encrenca e nem gosto de conflito, mas, Deus, parte de mim quer tanto que Marla pague pelo que ela me fez.
Passada a mágoa que era viver aquele pesadelo de novo com meu namorado e meu melhor amigo e apesar de eu ser sincera quando digo que não quero mais ver ou ouvir a respeito dessa garota... eu fiquei com raiva, muita, muita raiva.
Então quem eu estou tentando enganar agindo como se eu não quisesse que ela se ferrasse? Mas eu também não sou assim e a culpa me é avassaladora. Eu não posso fazer esse tipo de coisa nem deixar que façam por mim. Decidida, transformo-me novamente e voo rapidamente para fora do castelo sobrevoando-o a procura de qualquer ser humano onde não deveria estar. Examino minuciosamente, mas não consigo ver nada. Eles não estão perto da Floresta Proibida nem do Lago ou do salgueiro lutador. Preocupo-me com o que quer que eles possam fazer e vou ampliando minha área de caça cada vez mais, indo cada vez mais para o vilarejo de Hogsmead, mas eu não vejo como eles chegariam até lá. Sem me demorar demais na minha voltinha inútil, dou meia volta e entro pela janela do quarto dos rapazes que convenientemente não estava trancada e caio na cama de George ao retornar à minha forma humana. Tiro a varinha do cabelo e a acendo, olhando para todos os lados a procura de qualquer pista sobre seu paradeiro desses sem noção.
Saio da cama sem saber por onde começar. Enfio a mão debaixo do colchão dos rapazes e a única coisa que eu encontro debaixo do de Fred é um pedaço velho e vazio de pergaminho. O deixo sobre a cama do meu cunhado e me sento sobre os calcanhares, frustrada. Eu não faço ideia de para onde eles podem ter ido ou como acharam Marla, mas seria bom se...
Meus olhos param no baú de George, claro, só pode ter alguma coisa ali dentro. Ele vive guardando coisas no seu baú. Prendo a varinha entredentes e rastejo até o baú de meu namorado, abrindo-o e me deparando com uma tulipa roxa plantada no meio das roupas. Isso é estranho. Franzo a testa e a puxo para cima com certa dificuldade e quando consigo tirá-la do meio das roupas, antes de mais nada vejo que na tampa do baú está escrito "peguei você" com uma carinha sorridente de ponta cabeça.
A flor estava amarrada a algum tipo de gatilho não demora a borrifar algo na minha cara. Minha varinha cai de minha boca e eu sinto minha cabeça girando. Largo a tulipa e tombo para o lado como se fosse fugir da letargia rastejando. George Weasley, você me paga!
— Filho da puta...— murmuro antes de minha visão escurecer por completo.
[...]
— Você tem certeza que não exagerou?— aquele tom de voz é preocupado e é o primeiro que eu consigo distinguir. É a voz de Lino Jordan. Eles já estão de volta?
— Que isso, acha que somos amadores? Ela só dormiu um pouco demais, mas ele não a matou, a gente faz isso tem muito tempo. A pequena Kia que está sendo preguiçosa.— Fred diz fazendo pouco caso.— O que me surpreende é que George tenha acertado no palpite dele. Ainda não falou como sabia que ela estaria atrás de nós e iria mexer logo no seu baú para procurar pistas.
— Eu conheço minha garota.— George rebateu pegando minha mão e se sentando do meu lado— E é algo que eu faria.— ele acrescenta após um minuto.
— E lá vem ela.— Lino comenta quando eu me remexo com certo esforço, espantando o sono na força do ódio, eu me sento abruptamente e preciso piscar algumas vezes antes de focar meu olhar fulminante no rosto sorridente do meu lindo e estúpido namorado.
— Bom dia, minha linda— ele cumprimenta e me estende um cupcake sem cobertura— Café da tarde na cama para que você não fique muito chateada.
— Você me nocauteou.— sibilo com a voz rouca.
— Não, querida, não. Eu só... te induzi ao sono sem seu consentimento. Há uma linha tênue de diferença, mas ainda há. E talvez seja uma lição para que você não mexa nas coisas dos outros, não é?— ele sorri de ladino e aposto que meu olhar é tão mercenário que os rapazes de pé logo atrás dele recuaram dois passos.
— O que foi que vocês fizeram?— arranco o cupcake da mão de George e tomo uma postura arisca enquanto mato a fome que nem sabia que estava sentindo.
— Nós te deixamos apagada aqui por umas três semanas porque desconfiávamos que um ratinho estava roubando os lanches que escondemos debaixo da cama do Lino e George teve essa ótima ideia para capturar o nosso ladrãozinho, então acho que você está tremendamente encrencada, mocinha.— Fred debocha e ri quando o olho torto. Encaro George e espero por uma resposta séria, coisa que pelo visto eu não terei, segundo sua cara e pelo jeito que eu o conheço.
— George.
— Ele está brincando, amor, foram duas semanas.
— Weasley.
— Tá! Foi um dia só.
— Você me entendeu.
— Eu acho que não...— ele se faz de desentendido com um biquinho meigo, eu sei que ele está tentando me desarmar.
— O que foi que vocês fizeram ontem a noite, seus pestinhas?— eu cruzo os braços e olho no rosto de cada um. O trio troca olhares e sorriem marotos ao se voltarem para mim.
— Absolutamente nada, Dakaria.— eles dizem ao mesmo tempo em uma sincronia impecável. Levanto-me da cama, estressada, e vou até Fred, lhe agarrando a orelha com força.— Kia! Mas o que foi que eu fiz!?
— Você é o mais propenso a abrir o bico sob pressão, então desembucha!— vocifero e o ruivo começa a rir tentando se soltar inutilmente.
— A gente só foi visitar uma amiga antiga!— ele fica vermelho e começa a falar, comprovando minha acusação— Não fizemos nada demais, eu juro!
— Lino Jordan!— chamo o rapaz que imediatamente corre para fora do quarto.
— Eu que não vou me meter nessa, um beijo!— ele foge como um covarde.
— Fred Weasley, conte-me o que fizeram!
— Tá, tá, a gente foi atrás de Marla!— ele reclama quando puxo mais sua orelha.
— Dakaria, solte ele.— George abraçou meus ombros por trás e eu soltei imediatamente seu irmão que me olhou torto.
— As vezes eu não gosto nadinha de você, garota.— ele resmunga esfregando a orelha como um bebê chorão.
— O que vocês fizeram com aquela garota?— pergunto.
— Ah, só nivelamos o jogo.— George responde calmamente, eu cruzo os braços e me volto para ele em seu abraço restritivo. Recuo quando ele tenta me beijar e o ruivo sorri— Invadimos a casa dela e colocamos umas cinco armadilhas em cada cômodo. Sem rastros, sem contato com os pais ou vizinhos. Não tem que se preocupar com os detalhes, querida.— ele balança a cabeça querendo bancar o enigmático.
— Sem contato com os pais, mas e quanto a ela?— quero saber. Os gêmeos trocam olhares.
— Bem... graças ao fuso horário, chegamos lá, lá pelas oito da noite.— Fred começa— Estamos quatro horas adiantados aqui. Os pais dela tinham saído, aparentemente ido em algum encontro ou sei lá... mas ela estava acordada e meio que assim que chegamos, Pamela a viu.
Afundo o rosto nas mãos não querendo nem imaginar o que deve ter acontecido.
— Me digam que não deixaram Pamela partir para cima da garota.— minha voz sai abafada e eu olho pelas frestas dos dedos a careta de George.
— Você fala como se a gente tivesse tido tempo para impedir...— ele resmunga com um sorrisinho divertido como se tivesse sido algo satisfatório.
— George! Como que a garota está?
— Ela está bem, só tomou uma puta surra, mas como não podíamos deixar rastros significativos para trás, tivemos que curá-la. Isso quando conseguimos tirar Pamela de cima dela.— Fred diz e eu o olho por cima do ombro colocando a mão contra o peito de George— Kia, sua amiga me assusta pra caralho.— ele arregala os olhos e os desfoca para o chão— Acho que estou apaixonado.— ele coloca as mãos nos quadris e eu reviro os olhos.
— Vocês não deviam ter feito nada disso para inicio de conversa!— afasto-me de George, emburrando-me— O perigo no qual se colocaram fora totalmente desnecessário, não ouso dizer que me surpreenderia caso o Ministério venha prendê-los ou algo ainda pior!
— O que, sermos expulsos?— Fred caçoa e bagunça meus cabelos ganhando uns tapas de resposta.
— Também! Nunca mais façam uma coisa dessas! Eu não sei como pude deixar com que vocês fossem tão..
— Dakaria.— George me chama me interrompendo de meu discurso moralista e atraindo meu olhar para si. Ele havia ido se sentar na sua cama e me encarava de um jeito que me deixou desconcertada.— Vem cá, amor.— ele chama com as mãos e eu hesito no lugar, mordendo a bochecha. Fred ri e empurra meu ombro me lançando uma piscadela quando lhe olho torto e deixando o quarto— vem, amor?
Eu odeio quando ele faz assim. Como uma garotinha birrenta, bato o pé e vou até o ruivo, sentando-me de lado no seu colo. Ele me abraçou e eu bufei deitando a cabeça no seu ombro.
— Eu deveria tê-los impedido.— resmungo.
— Devia nada, sabe bem que não faria diferença alguma. E, falando sério, aposto que você adoraria ter visto o primeiro tapa que Pamela deu nela. Foi lindo, teatral.— ele comentou de um jeito tão inocente e animado que eu não pude evitar de soltar uma risada fraca.— Se te consola de algum jeito, eu não fiz nem metade das coisas que eu queria...— ele resmunga, mau humorado.
— Não sei se me tranquiliza, mas é uma tentativa louvável.— ergo o rosto e beijo sua bochecha carinhosamente.— Meu garoto imprudente... se você me nocautear de novo eu juro por tudo que é sagrado que o mato.
— Eu não te nocauteei...— ele começa, porém se interrompe quando dou um tapa forte no seu peito— E você não teria coragem de me matar, porque você me ama.
Parei, me afastei e o encarei.
— Amo?— cerro os olhos para o ruivo, seus lindos olhos, lindo rosto, lindos lábios. Ele me encarou com tamanho apreço que eu senti vontade de gritar, mas é óbvio que me contive. Com muito, muito esforço.
— Uhum. Assim como eu amo você.— e lá estava. Ele disse sem medo, sem o menor receio.
Sem mais nem menos, me joguei no chão.
— Dakaria!— George tentou me segurar, mas ao ver a pose que eu fiquei, começou a rir— O que está fazendo?
— Não fale comigo agora!— eu digo com o rosto contra o carpete, chorosa.
— Você... você está chorando, minha linda?— ele pergunta, divertindo-se. Remexida, vou rastejando para debaixo da cama, porém George agarrou meus tornozelos me puxou de volta para sua visão.— Ah, amor, não chore!— ele se sentou no chão comigo e eu escondi o rosto com as mãos.
— Você me ama.
— É claro que amo. Você já sabia disso.— ele riu passando a mão nos meus cabelos— Não precisa chorar por isso, amor.
— Mas eu tô chorando de alegria, seu idiota!— eu me agarro nele e o abraço com força— É que eu o amo tanto.— e eu começo a chorar porque eu... eu não sei porquê, mas não consigo evitar porque ele admitindo que me ama me deixa muito feliz. Muito, muito, muito feliz— Eu te amo muuuuito, George Weasley!
Digo, nós dois sabíamos que nos amamos, mas dizer em voz alta soa diferente, né?
— Eu sei, eu sei.— ele ri, exibido— Eu também te amo, amora. Também te amo muito.
— Muuuuito?
— Muuuuiitão.
[...]
Nota da autora:
Estranho pensar que estamos perto do fim, né? Você já leu Morgana, vadia?
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